41- ELE ESTÁ AQUI (LAYSLA)
- Laysla? - Luigi tocou meu rosto com o indicador, me sacudiu, e eu fingi estar acordando.
- O-O quê... O que... Ah, você está aqui... Eu estava te procurando... E peguei no sono. - Engoli em seco.
- Me procurando? - Luigi franziu a testa. - Eu estava te procurando... Cheguei e não te vi. Fiquei desesperado... Com medo... Está aqui há quanto tempo, Laysla?
- Não sei... Quando acordei, você não estava mais no fundo do quarto... Andei pelo castelo, te procurei pela... - A mentira se tornou desnecessária quando percebi o olhar fixo de Luigi em algo. Segui sua linha de visão. A porta estreita, coberta de trepadeiras, chamava sua atenção. Eu me calei, o observando.
Seu semblante atordoado, demonstrava que sua mente não estava ali. Uma das mãos ainda repousava sobre meu ombro e a outra, apertava com força a chave presa no cordão ao redor do pescoço. Era como se o metal fosse a única coisa que o mantinha no presente.
O esconderijo... a chave de acesso...
Sentei, tocando o rosto dele suavemente, tentando fazê-lo acordar de um pesadelo.
Então ele se levantou, de costas para a porta, e estendeu a mão para mim.
- Venha... Vou te levar de volta.
Vi as lágrimas começando a se formar nos seus olhos. Ele as escondeu rapidamente, mas não o suficiente para eu não notar. Enxugou os olhos com as costas das mãos enquanto me ajudava a levantar.
Caminhamos em silêncio pelo labirinto. Eu com as revelações martelando na cabeça, e ele provavelmente revivia os fantasmas de seu passado. Culpava-me por isso, por tê-lo levado a eles.
Chegamos ao quarto e a tensão ainda pairava no ar.
- Onde você esteve? - perguntei.
- A gente precisa conversar, Laysla... - A voz dele saiu baixa, mas firme, o que me deixou inquieta.
- Eu sei... Não quero que fique chateado... Eu só... Só...
O rei me olhou, intrigado, como se não soubesse do que eu falava. Não era sobre o que eu fiz, ele estava distante, por isso não reparou antes que eu mentia para ele. Havia algo mais. O rei também tinha errado.
- Luigi? - Eu dei uma pausa, receosa. Mas era necessário descobrir. - O que você fez?
Ele me olhou, tentando evitar a resposta, mas os olhos dele não conseguiam esconder.
Saí andando pelo quarto, procurando alguma coisa que me indicasse o seu paradeiro daquela noite. E passando pela mesa, achei uma grande espada prateada.
Estranho... Muito estranho...
- A espada do seu pai... Como ela veio parar aqui? - Olhei para ele de rabo de olho, esperando uma reação.
O vampiro se virou de costas, notoriamente sem saber como me dizer.
- Luigi, a espada ficou na vila dos lobisomens... Onde Kairon vive... - - Eu o observei, desconfiada. - Ou talvez seja outra, não é? - Ele permaneceu em silêncio. Arfei, com receio de que não tivesse respeitado a minha decisão. - Me diz logo, Luigi. Não vou perder meu tempo te provocando.
- Mas esse é seu talento, fazer isso com tanta graça, minha rainha... - Ele sorriu, debochado, com os olhos vermelhos.
- Está na defensiva, meu rei? - Me aproximei dele. Ele colocou as mãos nos bolsos e me encarou. - Você fez uma besteira, não fez?
- Besteira, eu? Claro que não - Arqueou a sobrancelha. - Só o que era preciso...
Ele só podia estar brincando! Minutos atrás estava frágil, precisando do meu colo. Agora, parecia um... Um... Um adolescente irritante e rebelde.
- Que ódio! O que você fez, seu idiota? - explodi. A raiva tomou conta de mim.
- Por que tanto ódio? Eu não fiz nada de errado, Laysla.
- Você foi até Kairon, não foi? É isso que fez. Porque essa espada não está aqui por acaso.
- O caçador estava vindo me entregar. Já era o destino... Existe uma profecia, e ela precisa ser cumprida, Laysla. Cassandra te disse para deixar a criança vir ao mundo. O equilíbrio, a ordem... O mundo precisa disso.
- Cale a boca! Vai mesmo confiar nessa bruxa?
- Não tem como voltar no tempo mais, Laysla. Essa é a última chance de sermos felizes.
Eu o olhei, incrédula, e perguntei:
- Voltar no tempo ainda passava pela sua cabeça?
- Laysla...? Claro que não... Agora tenho você.
Revirei os olhos, frustrada e irada.
- Do que você sabe? Conhece o peso dessa profecia?
- Não temos escolha. Se não tivermos ele, vamos todos morrer. Foi o que a velha disse.
- Você quer um filho, e é só isso que importa para você. Não interessa quem nós temos que usar e o que tenhamos que passar... - Acusei, balançando a cabeça, tentando controlar meu choro. - Perder um filho é pior do que nunca tê-lo tido. Cassandra também disse isso.
- Eu sei... Imagino que seja.
- Desde quando isso virou sua obsessão, Luigi?
Ele ficou em silêncio, com a expressão confusa e perdida. Nem ele sabia.
- A batalha... A bruxa disse que será maior do que imaginamos.
- Por isso mesmo! Quer mesmo colocar o nosso filho no meio dela? Não consegue ver o que estão fazendo? Os deuses estão nos usando de novo. Eles desejam que o nosso filho venha ao mundo agora, e você está permitindo isso!
Luigi caminhou até a cama e se sentou, com a cabeça baixa e um olhar de negação.
Ajoelhei-me entre suas pernas, segurando seu rosto molhado pelas lágrimas de sangue. Envolvi-o em um abraço apertado.
- Hoje à noite, algo aconteceu - falei baixinho em seu ouvido, sentindo sua tensão aumentar, através do enrijecer do seu corpo. Ele parou de chorar, esperando o pior. - Eu encontrei uma divindade... Flidais...
Ele se afastou, arregalando os olhos, alarmado.
- Sei que você deu ordens para ninguém entrar no quarto da sua mãe, mas...
- Desobedeceu?
- Me desculpa... - Baixei a cabeça, as lágrimas escorrendo pela vergonha de tê-lo decepcionado.
Luigi ergueu meu rosto pelo queixo. Não havia raiva em seus olhos, apenas uma seriedade que parecia pesar mais que o mundo.
- Nunca te dei essa ordem, Laysla... Sabia que entraria. Sabia que precisava me conhecer por completo... Já que eu mesmo não consigo me abrir...
- Mas agora você tem que enfrentar o seu passado, Luigi. Temos que entrar no esconderijo.
- Não dá... Não dá... Eu não quero me lembrar. É tão difícil...
- Você não vai estar sozinho... Eu estou contigo. Sempre vou estar contigo.
O olhar que ele me deu, carregado de alívio e uma ponta de esperança, quase me fez acreditar que ele diria sim. Mas então ele fechou os olhos e sussurrou um forte "não".
Ele bateu o pé e se levantou, deixando-me ajoelhada no chão.
- O que Flidais fazia no quarto? - ele perguntou, interrompendo o silêncio. - Ela foi bondosa com você? Pareceu estar do nosso lado?
Suspirei profundamente antes de responder:
- Com tudo que ouvi hoje, não sou mais capaz de confiar em deuses.
Luigi franziu a testa, foi até a cama e pegou minhas anotações debaixo do travesseiro.
- Me diga o que ela revelou, para que eu possa anotar - pediu, sentando à mesa, no fundo do quarto.
- Eles querem o nosso filho para derrotar um grande inimigo...
O vampiro virou-se rápido, a sobrancelha arqueada. Não conseguiu esconder o espanto.
Cheguei por trás dele e esfreguei seus ombros. Apoiei minha cabeça na sua e, escorregando os braços ao redor do seu pescoço, murmurei com tristeza:
- E ele ainda nem nasceu...
- Será que teremos tempo suficiente para prepará-lo?
- Luigi? - Afastei-me, perplexa. - Você concorda com isso? Colocará o nosso filho em um campo de batalha?
- Meu amor, vivemos em guerra. Ele será o próximo rei. Terá que lutar pelo que é dele.
Minha respiração se tornou ofegante.
- Não... Não pode ser! - gritei, recuando alguns passos. Lágrimas quentes escorreram enquanto a raiva tomava conta de mim. - Você sabe quem você é? Sabe quem foi o seu pai?
Luigi franziu a testa, confuso.
- Eu sou o rei. E ele foi um rei... Um rei traído pela sua esposa.
- Flidais disse que nem podemos culpá-la. Há algo mais profundo que não sabemos.
A confusão tomou conta do rosto dele, mas logo se endireitou, decidido.
- Me conte tudo o que ela revelou. E decidiremos juntos o que fazer.
Assenti.
Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente preocupado, antes de dizer, naturalmente:
- Mas, Laysla, não podemos demorar muito... Kairon precisa voltar para casa no fim da tarde...
- O quê?! Kairon está aqui?! Mas por quê? - Minha voz reverberou no quarto. Nervosa, me aproximei de Luigi e bati em seu peito. - Luigi, você o chantageou? Prendeu ele? Você o machucou de novo?! Por que fez isso a ele?
- Calma, Laysla! Calma! - Ele segurou meu rosto com as duas mãos. Suas palmas frias contrastavam com a minha pele em brasa. - Meu amor, Kairon está bem... Ele está no meu château no campo. Veio por vontade própria. E... Ele aceitou o meu acordo.
Acordo?!
Hummmm... Queria colocar um emoji de mãos se esfregando de ansiedade, mas não existe. Rsrsrs
Alguém tem ideia do que está por vir?
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