28- EU POSSO TE PROVAR (LAYSLA)


Deitada com a cabeça no peito do caçador, acordei ao escutá-lo ronronar feito um gato.

— Droga! — xinguei, pois me dava conta de que escurecia. — Luigi vai me matar...

Retirei o braço pesado de Kairon que envolvia a minha cintura. Ele caiu para o lado feito uma pedra. O caçador devia estar tão cansado que nem percebeu, então me sentei e comecei a sacudi-lo.

— Acorda, você tem que ir! Anda, acorda!

Ele abriu um olho, depois o outro, em seguida sorriu preguiçosamente, apresentando as covinhas nas bochechas. Era fascinante, como uma pintura de arte. E por mais que eu estivesse nervosa por ficar estagnado feito uma estátua, eu o admirava literalmente como se fosse uma. O caçador colocou os dois braços para trás da nuca e mordeu o lábio.

— Para, não me olha assim! — reclamei dengosa.

— Assim como?

— Você sabe, como se eu fosse a sua refeição.

— Infelizmente agora você quer voltar e ser a refeição do outro, então me resta ficar aqui com água na boca, esperando chegar a minha vez.

— Não! Você vai embora! Tem que...

Rápido, ele se sentou e me calou com o beijo mais gostoso daquela tarde. Ai, como aquilo era bom e irresistível.

Toquei o seu peitoral e, apesar de cética que conseguiria, empurrei-o para longe de mim. Depois que admiti amá-lo, ele estava mais confiante, era como uma fera que não largaria facilmente a sua presa. Ele vinha para cima de mim e era impossível esquivar. O toque dos seus lábios pelo meu pescoço, o hálito quente em minha pele, as suas mãos apertando a minha bunda... Difícil, insuportável, doloroso, mas precisava abandoná-lo.

— Coloque já a sua roupa! — ordenei, me referindo a blusa e couraça. Ele tinha permanecido de calça, apesar de desamarrada e frouxa.

O caçador se arrumava e eu observava o céu ficando negro. Ofegante, andei de um lado ao outro.

— Luigi deve estar louco, talvez preocupado... — Eu sentia meu coração pulsando na garganta. Tinha vontade de chorar. — Eu devia ter voltado antes...

— Eu esperarei você entrar — falava, colocando a blusa por dentro da calça. — Ficarei bem perto do castelo e aguçarei os meus ouvidos. Se eu perceber que precisa de ajuda, eu entrarei para te socorrer.

— Isso não será necessário. O rei não é como você pensa. Não comigo... — arfei, olhando-o prender as fivelas da sua couraça. Cheguei mais perto dele e o ajudei. Assim que terminamos, enquanto ainda tocava a sua armadura, ele me puxou pela nuca e me beijou.

— Tem certeza que não está em perigo? — perguntou, mordiscando os meus lábios.

— Por favor, cumpra o nosso combinado. Não volte, se o meu aviso não chegar até você.

Ele assentiu um pouco chateado, mas se distanciou. Teria que encontrar uma forma de sair do castelo sem que fosse pelo portão da frente.

Virei-me e me apressei, corri o mais rápido que uma mulher trajando um vestido num tecido pesado, coberto por um colete rendado e um corpete cheio de pérolas conseguiria. Eu ficava lenta a cada vinte segundos, porém quando o Sol sumiu na íntegra do céu, vi o vampiro apontar pela porta e marchar feito um alucinado surtando em minha direção.

— Onde você estava? — Ele berrou, portando umas folhas de papel em sua mão. Perdi a fala, minhas pernas enfraqueceram. Tinha vergonha de olhar em seus olhos vermelhos furiosos. — Isso aqui é verdade?! — Luigi me sacudia pelo braço. — O que está escrito aqui é verdade? Me diga, Laysla!

Perdi o equilíbrio e caí sentada no gramado. O rei se abaixou e levantou os papéis em frente aos meus olhos. Foi então que visualizei os detalhes. Eram as minhas anotações. Um manuscrito que ninguém devia ter lido. Eu os daria como uma despedida antes de finalizar o nosso acordo. Não era a hora, nem o dia certo.

— Quem mandou mexer nas minhas coisas? — Empurrei-o para trás e ele tombou no chão. Subi sobre ele, tentando tomar as folhas, mas o vampiro idiota não deixava. Trocava numa velocidade estarrecedora entre suas mãos, me levando ao ódio profundo. Logo, dei um soco no seu olho.

Ouvi o seu rosnado, antes do solavanco. De repente me girou e parou em cima de mim.

— Estava com ele? — perguntou com um grito. Devolvi no mesmo tom.

— Sim!

Os seus cabelos loiros caíam sobre minha face, enquanto me olhava com um semblante de desgosto.

— Eu devia... — Luigi socou o chão ao lado do meu rosto. O pó de terra, por baixo da grama, soltou, senti entrar um pouco dentro da minha orelha. Havia um sentimento muito ruim de sua parte, no entanto, eu continuei o provocando, pois não me via completamente errada dos meus atos.

— Devia o quê? Vai me matar? Então vai me fazer um favor!

Ele deu uma risada sarcástica, ao mesmo tempo que seus olhos se enchiam com lágrimas. As gotas de sangue caíram sobre meu rosto, frias, grossas, eram a expressão da sua dor.

— Eu devia...

— Você não consegue nem dizer...

— Devia te dar pelo menos umas chicotadas.

— Isso é uma piada. — Revirei os olhos e gargalhei. — Sai de cima de mim — pedi e, desolado, fez na mesma hora. Sentado, com os antebraços apoiados nos joelhos, me assistia levantar. Estendi as mãos, a fim de pegar o que era meu por direito. No entanto, ele ignorou. Com um bico imenso nos lábios e as sobrancelhas tensionadas, me fitava desafiadoramente, enfiando os meus papéis no bolso da sua calça. — Então faz o que você quiser, seu reizinho mimado! — Dei meia volta e saí andando para dentro da casa.

O vento repentino e gelado dedurou que já tinha me ultrapassado. Investiguei minha retaguarda de relance e não encontrei ninguém. Luigi tinha entrado. E pelo barulho de coisas quebrando, descontava a vontade de me punir em objetos inocentes.

Entrei, marchando revoltada. Passei por um armário no corredor, antes de subir as escadas, procurei os guardas que eu tinha deixado ali e tirei o feitiço sobre eles.

— Dùisg, a bhalaich! Dùisg bho aislingean milis! Acordem!

Eles me olharam sem compreender nada. Todavia, os larguei gemendo com o desconforto por estarem dobrados por horas num espaço pequeno. Não dava para esperar, quando o rei destruía toda a residência. Eu tinha certeza que após não sobrar mais nada, os funcionários seriam os próximos.

— Faça o rei feliz — murmurei, me recordando dos conselhos matrimoniais que recebi. Isso era ridículo, encontrar um modo de agradá-lo para salvar o meu povo. — Bom, mas por enquanto sou a rainha, é o meu dever...

Ao chegar no corredor do segundo piso, encontrei a porta do meu quarto aberta. Era de lá que vinha o barulho, Luigi quebrava as minhas coisas. Isso era inadmissível.

Rumei, sentindo a minha barriga endurecer conforme os passos que eu dava e quando cheguei no portal todo arrebentado e vislumbrei a porta no chão, o dossel e espelho quebrados, minhas roupas rasgadas, espalhadas por cima dos objetos que nem dava para serem decifrados de tantas partes diferentes que se encontravam... Ao fundo, sobre a mesa, ainda intacta, a flor que me deu no dia anterior dentro do jarro cheio de água estava murcha. O vampiro era quem trazia a má energia que eu tentava me proteger com o lírio. Luigi me encarava, com as mãos ensopadas de sangue, ele se cortava com os cacos dos objetos, porém nem ligava.

— Você é um monstro! — gritei e uma fumaça preta escapou da minha boca, rodopiando pelo ar foi se transformando em um corvo. Com a janela aberta, ele alçou voo e desapareceu. Comecei a chorar compulsivamente, porque eu gostava do meu quarto, era o lugar onde me sentia mais confortável naquele castelo imenso, algo que ele mesmo preparou para me agradar. Só faltava descontar a raiva também no meu jardim. — Não devia ter feito isso!

— Por que se importa? Não vai embora?

— É isso que pensa que eu vim fazer?— Limpava as lágrimas com as mangas do meu vestido.

— Escolheu ficar com o outro.. — disse por entre os dentes, com um timbre de voz medonho, vindo rapidamente ao meu encontro. — Ainda por cima no nosso casamento, Laysla! — O rei agarrou o meu pescoço e me encostou na parede do corredor. Fiquei imóvel no primeiro momento até entrar numa crise de estresse e começar a bater contra o seu peito.

— Você devia saber que eu não resistiria! Você sabe tudo a meu respeito!

— Não, eu não sabia que sentia falta de mim!

— O que leu não é verdade! — menti, continuei o agredindo, mas ele não me soltava. — Isso é liberdade criativa. Se fosse escritor de livros, saberia!

O vampiro se afastou e me fitou de cima a baixo, as suas lágrimas me constrangiam, escorrendo pelo rosto sem mais nenhuma cicatriz de queimadura.

— Está imunda... Toda cheia de folhas, terra... Sua tarde deve ter sido incrível, diferente da minha...

— Foi sim! — rebati, porque não sabia quando parar de afrontá-lo. Eu me sentia errada, porém estava magoada.

— Não vou deixar isso estragar a minha noite de núpcias — O vampiro se virou, caminhando para o seu quarto. Não compreendi e saí atrás dele.

— E o que vai fazer? Vai se masturbar? Porque essa seria a melhor solução, mesmo se eu não tivesse desaparecido. Nunca aconteceria nada entre a gente...

Ele se manteve calado até chegarmos de frente para o seu aposento. Os dois guardas parados no final do corredor nos olhavam sem graça.

Luigi abriu a porta, me olhou e debochado lançou a pergunta: — Vai entrar?

— Não! — rebati automaticamente. — Eu... Eu...

— Já que veio até aqui, devia assistir a masturbação.

Cruzei os braços e bufei.

— Eu... Eu tenho que ir embora... Talvez esteja na hora de por um fim nessa nossa história doentia.

— Tudo bem. Então... Adeus!

Semicerrei os olhos, estranhando o seu comportamento. Aquilo era consequência do que estava nas folhas? Era claro que sim. Ele sabia o quanto era importante para mim. Droga!

— Adeus! — Teria que dormir do lado de fora hoje. E encontrar no dia seguinte alguma forma de consertar tudo. Virei-me, indo para a escada.

— Guardas! — exclamou o rei. Olhei de esguelha, acreditando que mandaria eles me prenderem. Continuei andando vagarosamente e esperando a conclusão. Aqueles homens não me deteriam, não depois de eu lembrar da bruxa que eu era. — Vão até o quarto das prometidas e as tragam aqui.

O quê?!

Não me reconheci. O ciúme queimou minha pele ao ponto de me fazer suar instantaneamente. Olhei para trás e vi Luigi entrando no quarto, nem me olhava, agia como se nada demais tivesse acontecido. Apressei-me e travei a porta com o pé, enquanto a empurrava com as mãos, e pela fresta estreita o vampiro me observou.

— Por que elas estão no castelo? Por quê, seu maldito!

Era o que desejava, me ver desesperada. Apesar de não querer dar esse gostinho a ele, perdi o controle. O rei se quer fazia força na porta, me permitiu invadir o seu quarto e ver aquele cenário ainda montado para a consumação do casamento. A minha túnica já estava ao lado da sua, haviam pendurado no cabideiro, durante a festa.

Fiquei triste em saber que as três mulheres invejosas voltariam a frequentar o quarto e desfrutar os lençóis macios da sua cama.

— Por que elas estão aqui, se você me encontrou? Pensei que tinham voltado para suas casas e... — Não consegui concluir, o choro excessivo me pegou.

Luigi se aproximou, arrumou os meus cabelos para atrás do ombro. Retirando os fiapos de grama seca dos fios, o vampiro falou calmamente: — Estamos em guerra, Laysla. Você é o que tenho de mais valioso. Precisava manter elas por perto para ganhar tempo, usando o mesmo tipo de roupa, o mesmo perfume, a mesma aparência... Eles sabem que você é a minha força, mas também, a minha fraqueza. Morreria por você. E Michel sabe disso. Essas mulheres estão aqui para te proteger, apenas isso.

— Luigi — Encostei a minha testa em seu ombro. Eu tremia e ele me confortava, alisando os meus cabelos. — Não aconteceu o que imagina entre mim e Kairon.

— É difícil acreditar, sabendo que sumiu por horas. Sinto o cheiro dele entranhado no vestido que era da minha avó. Eu confiei esse vestido a você porque é a pessoa mais importante da minha vida — Sua voz oscilou no mesmo momento em que apertou a minha nuca, tentando segurar o pranto.

— Eu posso te provar. Ainda sou virgem — disse, afastando a minha cabeça do seu peito e olhando dentro dos seus olhos azuis. — Eu estive tão perto de não resisti-lo, mas os seus votos não paravam de se repetir na minha cabeça. Eu via o seu rosto... Não podia te magoar. Eu não queria. Luigi, eu decidi me guardar para você... Eu quero ser sua nessa noite... 


E assim eu deixo vocês nesse domingo... kkkkk 🤯🤯🤯🤯🤯🤯🤯

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