25- MEU CAÇADOR E EU 2 (MANUSCRITO DA LAYSLA)

Manuscrito de Laysla

"O coração de Loren ardia intensamente por Kaleb. Suas almas estavam ligadas a ponto das palavras nem precisarem ser ditas, embora ainda fizessem questão de falarem um para o outro ao mesmo tempo e comemorar o que não era coincidência. Era quase como se soubessem o que o outro pensava, mesmo sem o poder da leitura de mente.

Na companhia de Kaleb, a bruxa exalava alegria e paixão. O caçador extraía dela o que ela tinha de melhor e tudo ao redor deles florescia naturalmente. Era a vida sendo vivida como em um paraíso. Tudo se encaixava como numa engrenagem perfeita que não engasga, que não quebra. Os seus sentimentos cresciam e transbordavam. E assim foi gerado o fruto dessa união, o filho que os dois dariam a vida para proteger do mal.

Eles tinham tudo. O amor, as risadas em meio aos beijos intensos, o momento selvagem na cama onde o fogo queimava como se fosse nas primeiras vezes... Eles tinham um ao outro. Mas com o tempo, não pareceu o bastante.

Às vezes de noite, depois de colocar o filho para dormir, Kaleb parava na porta de casa e observava Loren do lado de fora. Ele não entendia o que se passava com a sua esposa, o porquê de tempos em tempos, ela gostava de ficar sozinha deitada na grama admirando o céu.

Por mais que já tivesse ouvido toda a história que a bruxa contou sobre a outra vida que viveram juntos e tivesse a certeza de que o seu amor por ele fosse real, Kaleb, nessas horas, se sentia inseguro. Era como se toda a habilidade de conhecê-la se desestruturasse, porque o seu comportamento não era previsível. A bruxa parecia que se tornava outra pessoa. Isso o assustava. Loren se deixava levar pelo que aconteceu no passado. Os bons e maus sentimentos ficavam à flor da pele.

— Você precisa se livrar deles. Não estão te fazendo bem. Não existe algum feitiço para esquecer tudo? — Kaleb de vez em quando sugeria ao vê-la triste. Não era constantemente que isso ocorria. Como eu disse antes, viviam bem, eram perfeitos um para o outro.

Todavia, nesses dias de profunda depressão, sua esposa não media as palavras: — É fácil falar. Saber do passado é completamente diferente de reviver os traumas, os lutos, as dores... Existiram também as paixões, Kaleb... Nem tudo foi ruim.

Loren não contestava o amor que tinha pelo caçador. Porém, alguma coisa a incomodava, porque embora feliz, ela sentia-se incompleta.

Numa madrugada, enquanto estavam deitados na cama, Kaleb escutou sua esposa soluçar. Ela, vendo que não daria para conter o choro, se levantou, saiu de casa e entrou na floresta que cercava onde viviam. Ele a seguiu e a encontrou em prantos sentada junto às raízes de uma árvore, com o rosto enfiado no meio dos joelhos.

— Loren? — chamou baixinho. Mas sua esposa permaneceu escondendo a face inchada e avermelhada, estava envergonhada.

Kaleb já sabia que ela só voltava ao estado normal após passar um tempo isolada, no entanto, tinha medo de deixá-la sozinha e o perigo a pegasse desprevenida e vulnerável. Nessa época, estava cheio de caçadores, não achavam bem-vindos os seres sobrenaturais vivendo nesse mundo com os humanos. Por isso tinha pressa em retornar para a casa, também precisava proteger a criança híbrida que dormia, seu filho, um lupino-bruxo de apenas 4 anos.

— Loren, meu amor... Me diz... Não me ama mais? Por acaso está pensando em me deixar?

Atordoada, sua esposa ergueu o olhar indignado e disse com rispidez: — Mas que pergunta absurda! Eu sempre te amarei. Não vou a lugar nenhum sem você. Está louco? Vocês são a minha família.

Kaleb respirou fundo, queria acreditar, entretanto, necessitava de uma certeza que ela não demonstrava quando estava nesse estágio de angústia.

— Então por que às vezes eu sinto que não sou suficiente? Por quê, Loren? — exaltou-se.

A bruxa ficou calada, com os olhos esbugalhados, pois esse era o mesmo questionamento que se fazia, por isso vivia se culpando. Todavia nunca chegava a uma clara conclusão.

Kaleb suspirou e, negando com a cabeça, um gesto que seu corpo fazia ao implorar mentalmente que a sua hipótese estivesse incorreta, ele lançou de repente: — Aquele homem... Aquele que te abordou no dia em que estávamos fugindo... O cara alto de cabelos longos e loiros... É por causa dele?

Sua esposa soube a quem se referia, mas ficou impactada demais para sair qualquer coisa de sua boca. Nem mesmo ar.

— Loren — A voz firme e grave do caçador a intimidava. — Esse homem é o vampiro que me falou? Ele é o rei Lambert?

Rapidamente a bruxa se levantou, permaneceu encostada na árvore e sem encará-lo fez que sim com a cabeça.

— É por causa dele, não é mesmo? É dele que sente falta.

— Não, eu não... — retrucou, confusa. Ela não mentia para o seu marido porque queria. Ela mentia para si mesma, tentando se convencer do contrário.

— Você o ama?

— Não, claro que não! Eu amo você — Voltava a chorar.

— Eu sei que me ama. Mas também ama esse.. Esse vampiro que arruinou a nossa outra vida... Eu não sei porquê, mas...

— Não, Kaleb, é só você... — Ela se aproximou dele e tentou abraçá-lo, mas ele segurou-a pelos pulsos.

— Seja sincera... — Com a voz embargada, soltou as suas mãos e segurou o seu rosto. — Meu amor, acha que se não tivesse uma maldição sobre ele... Acha que estaria livre de amá-lo? Nós dois nos amamos como no outro tempo. O que sente por ele, também permanece igual.

Loren retrocedeu alguns passos e se virou de costas: — Mas eu odiava ele na outra vida...

— Você sente falta dele... — afirmou Kaleb. Estranhamente, embora enciumado, não a julgava.

— Não... — A bruxa arfava, relutante. E Kaleb insistiu, puxando-a pelo braço, tentando fazê-la enxergar o que não queria.

— Olha para mim, Loren... Me diga a verdade. É com as memórias que tem dele que eu divido você, quando vem aqui para fora ficar sozinha?

Loren refletiu sobre o que seu marido falava. Seu sentimento por Lambert nunca foi definido. Não era um amor convencional, isso ela sabia, porque não podia amá-lo, devido a maldição. Comparava-o a tudo que a ciência e as religiões descreveram no decorrer da história, todavia, em nenhuma delas encontrou o significado exato.

Ela desfrutava de algo forte que de vez em quando a fazia sorrir, mas também chorar compulsivamente. As emoções que tinha ao lembrar dele, deixavam seu instinto protetor em alerta, porque vivia com medo de que Lambert fizesse algo de errado e não estivesse por perto para salvá-lo. Sentia falta das discussões, das risadas que a irritava, do seu jeito arrogante de dizer que era a melhor opção, do azul dos olhos contritos, os quais jamais permitiram que qualquer raiva dele permanecesse no seu coração. E do seu olhar vermelho intenso, os quais mostravam o seu monstro interior, porém verdadeiro.

Loren às vezes o odiava, isso era fato. Mas o odiava mais, por ele deter parte do seu eu, mesmo sem saber. Ela tinha a convicção de que era errado, mas sentia a sua alma se dilacerando por não tê-lo ao seu lado.

A bruxa, com a ajuda do marido, enfim, chegou a conclusão mais insana da sua vida. Então assentiu. Não eram apenas as memórias do rei Lambert que ela buscava. Inconscientemente também desejava encontrá-lo em sonhos. Entretanto, o vampiro não a procurava, pois respeitou o afastamento que pediu quando se despediram na floresta.

A bruxa demorou a aceitar os fatos, pois doía profundamente saber que ela tinha tudo o que sempre quis, tinha o seu filho, tinha Kaleb, o homem da sua vida. Porém, precisava de mais. Ela também queria o seu vampiro."

É, minha gente! O que pensar depois desse capítulo?😱

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