09- NÃO MINTA! (LUIGI)

Laysla estava deitada de frente a mim, a alguns centímetros de distância, porque eu exigi dessa maneira, embora visse em seus pensamentos o quanto queria ser abraçada, confortada. Era torturante, tê-la por perto e continuar sonhando com o dia em que nossos lábios se tocariam novamente. Ah, como queria... Queria tocá-la da maneira mais simples a mais carnal possível. Sentir os seus dedos percorrendo a minha nuca, apertando meus ombros, quando os meus conhecessem a umidade e o calor no meio de suas pernas. Eu só queria pelo menos deitar a minha cabeça em seu peito, mesmo que ouvir seu coração batendo significasse fragilidade. A minha Laysla ainda era mortal.

- Luigi... - Ela suspirou e me olhou com ternura. - Não vou te julgar pelo que fez a criada. Eu sei... Só queria me proteger... Então me diz o que você é? É muito ruim, por isso tem vergonha de me contar?

Soltei uma risada e ela franziu a testa sem entender a graça.

- Eu não tenho vergonha. Só esperei que estivesse pronta, o seu momento... Mas, bem, depois do que aconteceu... Acho que já é hora de saber. Eu sou... Sou um vampiro, sou o primeiro de uma espécie que não existe em nenhum outro lugar. Que se alimenta de sangue, é veloz, forte, que consegue rastrear pelo cheiro qualquer ser, ouvir as vozes mais distantes, inclusive pensamentos...

Não pode ser... pensou ela se sentando. Engoliu em seco, pois lembrava do plano que tinha de me matar e depois fugir. Em seguida me ergui levemente, com os cotovelos apoiados no colchão e a fitei com um olhar incisivo.

- Não tem para onde correr, Laysla. Nem onde se esconder. Eu te acharia.

Ela arregalou os olhos amedrontada. Apesar de ser uma verdade, a intenção foi brincar com um assunto tão familiar para antiga Laysla. E quando me viu gargalhar, no impulso tentou me empurrar, mas me esquivei rapidamente, caindo no chão. O barulho foi tão alto e humilhante. Eu, o rei, parecendo uma criança desajeitada. Levantei imediatamente e a encarei sem jeito. Laysla desviou o rosto, apertava os lábios, disfarçando a risada que já me constrangia, mesmo não tendo sido ouvida.

Estalei a língua e a instiguei:

- Vai! Pode rir, eu mereço!

- Eu não estou rindo... - disse, soltando ares por entre os dentes, buscando se conter. Ela ria. Eu sei que ria. - Está bem, Alteza... Admito... Estou rindo só um pouquinho. Mas me perdoe. Talvez se pudéssemos ficar mais perto um do outro, sobrasse mais espaço na beirada da cama. Com certeza assim não cairia - debochou, exibindo um sorriso provocante naquela boca naturalmente vermelha. Fiquei com cara de bobo, hipnotizado, pois jamais pensei que veria um desses para mim. Ela percebeu e complementou: - Só estou pensando na sua proteção, como faz comigo.

- E sempre farei - sussurrei e me ajeitando ao seu lado.

Laysla se deitou novamente. Colocou as mãos entre o rosto e o travesseiro e suspirou, bastante reflexiva.

- Mesmo? Mesmo se eu for realmente uma bruxa?

- E você é... - soltei inesperadamente e ela me olhou receosa. - É a bruxa mais linda que já vi nos meus longos anos. - completei.

Laysla, mordendo o cantinho do lábio inferior, ficou com o olhar perdido, se voltou de barriga para cima e encarou o teto. Vi que se sentia insegura.

- Ei, não tem com que se preocupar, não vou deixar que te façam mal... - prometi, mas ela me fitou de forma triste. Eu poderia ter procurando em seus pensamentos o que a afligia, no entanto, deixei que minhas palavras sinceras a confortassem. - Você é a bruxa que faz os meus dias caóticos e sombrios terem vida... Me abdicaria de tudo... De todos os reinos, todo o meu poder se me pedisse. Laysla, eu morreria por você, se fosse preciso.

- Lui...

- Laysla, espera... - interrompi, chegando mais perto, porém me mantendo a uma distância segura. - Eu tenho tanto a dizer... Não sabe o quanto sofri, o quanto esperei por esse momento... Eu... Eu... Eu amo você - falei, num tom de angústia.

Ela não pareceu surpresa, também não retrucou com uma declaração recíproca, o que era óbvio, pois não me amava. Mas mesmo assim, algo dentro de mim, tinha esperança que fizesse.

Laysla, com os olhos marejados se virou de frente para mim e, como se contasse um segredo, me perguntou baixinho:

- Foi você, não foi? Você me visitou na minha casa... Você, de alguma forma, me encontrou naquela noite. Eu senti que me amava, que me venerava... Senti tudo o que descreveu, que eu era a coisa mais importante para você, por isso me entreguei... Senti que devia ser sua e você devia ser meu... Mas doeu quando soube que troquei a vida da minha mãe por poucos minutos do seu amor...

- Laysla, não... - Fiquei indignado.

- Não minta para mim! - interrompeu-me de repente, se posicionando para frente, me mantendo acuado nos cinquenta centímetros que sobraram do colchão.

- Não foi culpa minha... - defendi-me como podia. Porém ela tinha os olhos compenetrados nos meus, e pareciam me dissecar, procurando por respostas que a convencessem. E o que eu faria, se dessa vez eu era mesmo inocente?

- Luigi... - Ela desceu da cama, revoltada. Então fui ao seu encontro.

- Laysla, não foi minha culpa, eu juro...

- Então me diz o que sabe! - Ela gritou, me congelando inteiro por dentro. Eu nem achei que isso era possível. - Você sabe tudo sobre mim, sabe meus passos antes mesmo que eu dê, vive vigiando a minha mente... Não é justo. - Ela arfou e suas lágrimas escorreram, partindo meu coração. - Me sinto no escuro... Não sei nada sobre você... Me diz o que sabe sobre a morte da minha mãe. Me dê isso como prova de que me ama. E te darei o que quiser.


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