Capítulo 5 - Tour
Koda não sabia por onde estava indo, para que direção ou lugar, só queria ficar o mais longe possível da casa grande, longe de seu pai, longe da responsabilidade que ele colocou para si.
Sentia seu coração saltar em seu peito, um sentimento de estar sendo apertado num lugar minúsculo o impulsionava, o fazendo correr cada vez mais.
O suor frio começou a sair do seu corpo, o cansaço o pegou, fazendo o que ficasse ofegante, e parou abruptamente com Sheldon em seus braços. O ruivo respirou fundo e tentou ver se conseguia voltar ao normal.
Ofegante, lambeu os lábios e fez careta ao sentir sua garganta seca, mas o pior de tudo foi que a sua barriga se rebelou. O contador soltou o gato e se virou de costas, com as mãos no joelho e com a cabeça baixa, colocou todo o café da manhã para fora.
Após vomitar, Koda passou a mão na boca e endireitou a coluna. Depois de tomar fôlego, olhou ao redor.
— Estamos perdidos, amigo! — falou com o olhar atento no campo. — Quer dizer, não perdido. Estou vendo a casa daqui, mas perdido pela situação que Thomas me colocou. — o gato escolheu àquela hora para miar, o que fez direcionar seu olhar para ele. — Que situação? Pois bem.
O ruivo se escorou na cerca e suspirou. — O meu suposto pai me fez uma proposta sem pé e nem cabeça. Ele simplesmente me colocou para decidir o destino deste rancho, o meu destino, tudo emparelhado. — ele sorriu de lado ao ver Sheldon virando a cabeça olhando para ele, era como se o gato estivesse entendendo tudo que falava, o que o confortava.
— Ele quer que eu fique aqui por seis meses. Seis, porra, meses! Alô, eu tenho uma vida em Nova York, um trabalho, uma casa. Não posso deixar tudo para viver aqui, não posso... E nem venha, Sheldon! — apontou para o felino. — Sei que reclamo de tudo lá em casa, mas é força do hábito. Só porque tenho colegas de trabalho insuportáveis, um lugar onde moro é desagradável... Tá, minha vida não é lá boa, mas já estou acostumado com ela.
Ele suspirou e se escorou na cerca branca. — O que farei? Sinto que estou sem saída.
Sheldon caminhou entre suas pernas e ronronou. Koda sorriu e pegou o gato em seus braços de novo e andou para longe de seu vômito.
— Você sempre esteve ao meu lado, sabe do que passo em Nova York, sabe que odeio trabalhar naquela empresa, amo números, mas por mim trabalhava em casa. Porém, eu também não gosto do meu apartamento... é mais como um refúgio para mim. Mas desde que Jason me traiu com o meu vizinho que não me sinto confortável vivendo lá.
Koda fez uma careta ao recordar da cena.
— Lembra-se dos primeiros meses quando o prédio e eu descobrimos que Jason estava com Patrick? Foram os piores meses da minha vida, o povo olhando para mim com pena, com repúdio e riso. Foi daí que fiquei mais trancado em casa. Você e os filmes foram e ainda são a melhor companhia que tenho.
A sua cabeça estava cheia, pensando em sua vida, de como era triste e desconfortável, pois viu que daria de tudo para ficar o longe de lá, por isso que quando tinha férias suficiente, viajava o mais longe possível. As únicas coisas que o faziam feliz em Nova York eram os seus filmes, os eventos geek, o seu gato e seus Kigurumis.
— Será que é uma boa aceitar a proposta dele? Mas... por seis meses? E o meu trabalho? Principalmente, o ultimato que deu junto com a proposta me fez querer fugir, e bem, eu fugi. — deu de ombros revirando os olhos.
O felino lambeu seu rosto e se aconchegou em seus braços, Sheldon parecia muito relaxado, alheio ao seu desespero por uma resposta, mas o gato não era tão frio ou normal, pois começou a alisar a sua camisa, ganhando a atenção do contador.
Koda olhou para ele, e em seus olhos negros parecia ter uma sabedoria escondida.
— O que faço, meu querido amigo? Não quero ser o motivo do rancho ser vendido e também não quero ser dono de um rancho ou ser vaqueiro. Eu não sei como funciona, além de que se tentasse, certeza que tudo iria por água abaixo e arruinaria isso tudo. Não sou bom em nada, a não ser em números, e gostar de filmes e músicas, as outras coisas sou um total imbecil. Um inútil.
Não sabia o que fazer, qual seria o seu próximo passo, mas um sentimento e pensamento sobre ficar despertou uma curiosidade de como seria sua vida aqui e de se aproximar de seu pai. Se eles poderiam mais para frente frente serem amigos ou até mesmo serem como pai e filho de verdade, coisa que sempre sonhou, ter um pai que o amava e estivesse ao seu lado.
— Sabe de uma coisa, Sheldon? Estou perdendo meu tempo aqui, pensando e pensando de como seria ficar, de como minha vida é a coisa mais sem graça do mundo, quando tenho a oportunidade de saber realmente como é viver na fazenda e ter um pai, sair daquele lugar por um bom tempo.
Ele levantou o gato e abriu um enorme sorriso.
— Nunca tinha feito algo tão radical desde as minhas tatuagens. Estava precisando de uma mudança e essa é a melhor proposta. Não vou pensar no ultimato, mas sim em conhecer meu pai, conhecer essas pessoas e ver no que vai dar, ir com o fluxo.
Sentindo-se mais confiante, começou a andar de volta para a casa grande. — Sempre quis uma vida igual o seriado e agora tenho a oportunidade perfeita. Só que em vez de guerras, de fantasmas e demônios, alienígenas, blogs de fofoca, um chantagista misterioso, lobos e vampiros, estreará um novo, em um rancho e com um capataz muito do gostoso.
Após se decidir, o ruivo sentiu uma energia diferente e viu que era pura euforia junto com felicidade, estava ansioso para contar a Thomas, a Maria e ao Devon que decidiu aceitar e ver no que iria dar. Mas primeiro, antes de anunciar, queria contar de primeira mão para o seu pai, pois com a sua fuga do escritório, com certeza deixou o homem mais velho decepcionado e triste, queria logo acabar com isso.
Com passos apressados, voltou para a casa, passou pela porta da frente, nem se importando de fechar, e foi na direção do escritório. Porém, quando chegou em seu destino, viu o lugar vazio, sem sinal de Thomas ou Devon.
O ruivo parou um pouco para pensar onde o seu pai poderia estar e ao ter a ideia, voltou a andar e dessa vez foi para a cozinha, pois era outro lugar que conhecia da casa. Quando chegou lá, visualizou seu pai de cabeça baixa encostado à mesa e Maria tinha sua mão em seu ombro.
Em silêncio, ele os observou.
— Calma, Thom! Não se desespere!
— Como não? O meu filho simplesmente fugiu de mim. Eu não devia ter pedido aquilo, mas o quero aqui, do meu lado.
— Oh mi amigo, você fez o que estava ao seu alcance para fazê-lo ficar, mas bem que poderia fazer com calma e não assustar o pobre menino.
— Eu sei, mas...
Vendo a tristeza ao redor do vaqueiro mais velho, Koda achou melhor interromper e acabar com o sofrimento.
— Concordo com Maria, poderia pelo menos ir com calma na sua sugestão. — falou entrando no recinto junto com Sheldon, que estava tranquilo em seus braços.
Thomas e Maria se viraram surpresos para o contador.
— Filho? — murmurou o rancheiro surpreso.
— Mas eu perdoo por ter feito daquela maneira, eu só não gosto quando me colocam na linha de fogo, em pressão, e digamos... é muita responsabilidade para arcar sozinho.
— Eu sinto muito, até entendo que queria ir...
— Ainda não terminei. — Koda o interrompeu. Ele aproximou-se mais e puxou uma cadeira pra ficar mais próximo do outro.
Maria afastou-se um pouco para dar espaço, mas ficou observando a cena se desenrolar, ela estava com o coração na mão, pois não suportava ver seu amigo sofrer.
— Como disse, não sei reagir bem nessas situações, então quando dou de cara com algo parecido, entro em pânico e fujo. Sei que é bobagem e criancice, mas não consigo me livrar disso, infelizmente. Mas...
— Mas, o quê?
— Mas eu aceito sua proposta, ficarei aqui por seis meses. Não quero pensar em seu pedido, quero só ver no que vai dar estando aqui por esse tempo.
Thomas olhou surpreso para o homem mais novo, seus olhos brilharam por lágrimas e um sorriso apareceu, revelando pequenas rugas ao redor do rosto. — Sério, filho? Você vai aceitar?
— Sim. — o ruivo foi surpreendido, pois o vaqueiro pegou em suas mãos e o puxou para um abraço meio desajeitado, por causa da cadeira de rodas. Ele o abraçou de volta. — Quero estar aqui, quero te conhecer, conhecer o pessoal, conhecer o rancho e aproveitar esse tempo. Sei que tenho que dar uma resposta depois dos seis meses, só não crie expectativas, por favor.
— Eu sei. — Thomas suspirou e se afastou. — Mas não importa qual vai ser sua resposta daqui a seis meses, já estou feliz, pois sei que terei você do meu lado todo esse tempo, meu querido filho.
Os dois se entreolharam emocionados, mas não foram únicos. Maria que estava observando a cena, fungou limpando o rosto, o que ganhou a atenção deles.
— Não acredito. — Koda murmurou a vendo. — Maria, espero que isso seja lagrimas de felicidades e não de tristeza por eu aceitar ficar. — disse o ruivo os fazendo rir.
Com os olhos vermelhos, ela negou com a cabeça sorrindo e ao mesmo tempo chorando. — Claro que não, seu bobo! Estou feliz, pois não sabe o quanto o seu pai queria ter você aqui e eu também. Sei que serão os seis meses mais felizes para ele, e com certeza, para todos nós.
— Vocês vão me fazer chorar. — disse abanando o rosto tirando mais risadas deles. — Sei que vai ser bom ficar aqui por seis meses, mas antes de vir aqui, pensava que ficaria só cinco dias, tenho que resolver umas coisas por telefone, me demitir é uma delas, e dizer ao síndico que irei ficar seis meses fora.
— Você vai precisar trazer suas coisas? Pedirei ao Devon para te ajudar. — sugeriu Thomas.
— Oh não! Eu tenho um contrato de um ano e meio, toda vez renovo, renovei faz pouco meses, tenho mais um ano de contrato. Os meus móveis podem ficar lá, mas só que tenho que pegar mais roupas, as que trouxe acho que não vai dar.
— Bem, se você quiser, você pode ir à cidade comprar, até mesmo ir nas cidades vizinhas ou em Oklahoma, que faz fronteira com Wichita Falls. Com certeza Devon pode ir com você.
— Pensarei nisso logo. E falando em Devon, onde ele está? — indagou olhando para janela.
— Ele tinha que trabalhar, mas você pode falar com ele, dizer que vai ficar e pedir para te mostrar todo o rancho!
— Mas e o senhor? Porque não me mostra? — Koda olhou em seus olhos e viu o desejo do vaqueiro e também certa fragilidade.
Thomas desviou o olhar e deu de ombros. — Devon é melhor, vá lá, mas se ele estiver ocupado, eu mesmo levarei.
— Certeza?
— Sim. E mais uma vez, agradeço por ficar, estou feliz em te ter aqui, meu filho.
O ruivo abriu um enorme sorriso. — Eu também, Tom! — ele estava se coçando para falar a palavra pai, mas não se sentia totalmente pronto, pois ainda era estranho aquela situação.
Após se despedir, Koda deixou o seu gato com eles e saiu pela porta da cozinha atrás do capataz.
Ele rondou a casa e foi até o campo, sem sinal do vaqueiro. Quando estava quase desistindo de procurar, foi até um galpão, pois tinha começado a escutar vozes, e ao sair do lado do prédio, avistou Devon montado em seu cavalo, e viu que Marcus e Davi o faziam companhia.
Eles estavam conversando do lado da cerca que ficava em frente do enorme galpão. O contador parou abruptamente e se escorou, tentando ficar fora da vista dos três, pois não queria ser pego babando, principalmente no que tinha lindos olhos cinzentos e um físico de dar inveja a qualquer um. Porém logo sua atenção foi redobrada ao escutar o seu nome vindo de Marcus.
— Não acredito que o chefe vai deixar as rédeas para esse moleque da cidade. — bufou. — Você tem que fazer alguma coisa, Devon!
— Isso! — concordou Davi. Ele fechou a mão em punhos e fitou o capataz. — Simplesmente esse barril em forma de gente não vai saber cuidar do rancho, juro por Deus, tenho sentimentos que isto vai virar uma bagunça.
— Infelizmente posso fazer nada. Thomas já está decidido, mas concordo com vocês, ele não saberá ser um vaqueiro, não vai dar certo, mas o patrão está cego e doido para tê-lo aqui.
— Que merda! — exclamou Marcus. — Davi, acho que temos que procurar outro lugar para trabalhar, pois este rancho vai falir na mão daquele suburbano gordo.
Koda suspirou e fechou os olhos, se escorando na parte de trás do galpão. Seu coração martelava e sua garganta apertou, controlando para não explodir em lágrimas ou gritar, ele respirou fundo umas três vezes.
— Estar errado é uma merda, sabia que não seria flores, mas...
Pensava que pelo menos poderia ser amigo de Devon, mas teria que se acostumar, já que viu em primeira mão o que o capataz achava delei, um inútil gordo, um moleque da cidade que não sabe fazer nada, e para completar, tinha mais dois que tinha essa opinião.
Achando que era melhor ir, pois se aparecesse, tinha certeza que seria linchado, principalmente agora que aceitou ficar. Com passos pesados, o contador voltou para a casa grande com a expressão neutra e o olhar distante, o que ganhou a atenção de seu pai que ainda estava na cozinha conversando animadamente com Maria.
— Filho, houve alguma coisa? — indagou preocupado. Ele afastou-se da mesa e dirigiu a cadeira na direção de Koda.
O geek piscou os olhos, assim saindo da sua mente. — O quê? Oh não, não é nada. — disse abrindo um sorriso hesitante.
— Uhm... Onde está Devon? Ele vai te mostrar o rancho?
— Oh não, ele está muito ocupado, sabe como é, mas também confesso que quero que você seja o meu guia, quero ver o rancho como você vê. — Koda pulou mentalmente ao visualizar o enorme sorriso do homem mais velho. — Então, pronto para uma ventura? Serei o motorista hoje, mas você vai me guiar, que tal?
— Ok! Maria, voltaremos para o almoço.
— Se divirtam, queridos!
Maria abriu a porta e esperou Koda empurrar a cadeira de rodas, e com o último aceno os dois saíram da casa grande em busca do campo.
Nos primeiros momentos da pequena aventura deles, Thomas explicou onde estava cada coisa e animal do rancho, apontou para onde ficava as casas dos seus outros funcionários e também como realizava as inseminações artificiais nos gados e nos cavalos, que era o que eles mais trabalhavam no rancho, além de vender excelentes gados de raça nos leilões.
— Você sabia que a maioria dos gados que tem nos rodeios veio diretamente daqui? — informou Thomas.
Koda admirou o sorriso no rosto dele, era confortante, havia orgulho e felicidade em cada palavra, tom, olhar quando era dirigido ao rancho, e esta mesma expressão vinha em sua direção, o que fazia esquentar o seu coração.
— Caraca, então vocês são os maiores reprodutores do Texas?
— Não o maior, mas um dos maiores! — apontou. — Ah, e este lugar é onde ficam os galos e as galinhas, também fazemos outra criação de animais: aves, porcos, cabras, mas só para o nosso consumo. E falando em cabras, você precisa tomar leite de cabra, é maravilhoso!
— Acho que não. — Koda fez careta. — Prefiro só leite de vaca mesmo...
— Mas você não vai dispensar o queijo. — o vaqueiro sorriu.
— Queijo? Epa, vocês produzem queijo? — o ruivo olhou surpreso e saiu de trás da cadeira de rodas, ficando de frente para o seu pai, para assim ter como conversar melhor.
— Os melhores queijos da região. — falou orgulhoso. — As esposas dos vaqueiros produzem, pois é mais uma renda para eles, e claro que uma porcentagem fica para o rancho, porém não é algo grandioso.
— Acho que entendi e sinto que por você, não ficaria com esse dinheiro que vem das vendas dos queijos.
— Isso, mas sei o quanto que essas pessoas são orgulhosas, sou texano, conheço meu povo. E esse dinheiro que vem, faço que vire comida de qualidade para cada animal que futuramente dará leite para fazer os queijos.
Thomas pegou nas rodas da cadeira e dirigiu para o lado de Koda. O contador viu que quando andaram ao redor do rancho, se sentiu com muita dificuldade de comandar a cadeira de rodas, não tinha rampa, ou um chão liso, o que fez pensar e viu cada lugar que precisava serem feitos coisas de fácil acesso para a cadeira.
Além disso, pensou na Casa Grande, tinha certeza que o banheiro de seu pai não estava com os acessórios certos para ele, além do resto da casa, o que o fez começar a pensar cada vez mais em tomar a iniciativa e fazer com que Thomas se sinta em casa, pois sabia que o homem mais velho estava perdido e triste, pois via naquela cadeira de rodas sua prisão, a sua invalidez. Queria poder mudar isso.
— Então é aqui que vive os carinhas que me acordaram de madrugada. — disse um tempo depois quando viu uma galinha com vários pintinhos saindo do galpão, ciscando atrás de comida.
— Eles te acordaram? Era para ter previsto isso, mas tenho certeza que logo se acostuma.
— Olha, não confio muito nisso, é que qualquer barulho me acorda, então... Mas confesso que eles são fofos quando pequenos. — disse admirando os pintinhos ao redor da mãe.
— Então você vai adorar ver os filhotes de cavalo, quer ir ver agora?
— Onde é que fica? — indagou animado. — Me diga o caminho, capitão! — disse quando se pôs atrás da cadeira.
— Naquela direção, marujo! — os dois se entreolharam e caíram na gargalhada.
Logo eles chegaram num pequeno campo separado dos outros. O que o diferenciou foi que no lugar de ter grandes cavalos ou gado, Koda viu lindos filhotes de cavalos cercado por algumas éguas.
— Ai meu Deus, que fofos! São lindos potros.
— Vamos, aproxime-se mais, tenho certeza que eles apreciam carinho.
— Mas a mãe deles? Elas não são ciumentas com as suas crias? — indagou hesitante ao se encostar-se à cerca que separava o campo da estrada.
— Só se você não distribuir carinho para ela também. — disse sorrindo.
— Certo, vamos lá, Batman!
Como era baixo e a cerca grande, ele teve que se apoiar na primeira tábua e se inclinar. Com medo de que a madeira se rompesse, o ruivo colocou sua força nos braços e quando deixou uma mão livre para dentro do campo, um pequeno filhote de cavalo marrom com manchas brancas veio em sua direção, batendo a cabeça em sua mão, o que o fez rir.
— Que lindo! Ei amiguinho. — ditou encantado. — Olá para você também. — e segundos depois Koda foi cercado por vários filhotes querendo atenção.
— Vejo que estão bem ocupados. E pelo sorriso do chefe, acho que tudo se resolveu.
Koda paralisou ao escutar a voz profunda de Devon, um arrepio subiu em sua espinha. Seu corpo queria se aproximar do dono da voz, mas as palavras ditas pelo capataz soavam em sua cabeça. Sua expressão se fechou e seu sorriso morreu.
— Devon! — Thomas sorriu. — Sim, a melhor notícia do mundo. — Porém, parecia que ele não podia resistir a alegria que emanava do vaqueiro mais velho. — Agora em diante você tem um novo patrão e claro, um aluno.
É o quê? Pensou Koda. — Aluno? — indagou descendo da cerca e ficando de frente para os outros dois. Seu pai tinha um enorme sorriso no rosto e Devon uma enorme linha de expressão na testa, mostrando a sua curiosidade e confusão.
— Thomas? — Koda insistiu.
— Sim, aluno! Vaqueiros e rancheiros não nascem de um dia para o outro, quero dizer, mais ou menos, você possui sangue de vaqueiros, mas para ser, terá que aprender a ser um, o que fazer e como ser um rancheiro chefe. Terá que fazer as principais responsabilidades do rancho, e Devon é excelente para ser seu tutor, pois ele é o melhor vaqueiro que conheço, e sei que futuramente, em seu próprio rancho, será o melhor.
Devon arranhou a garganta, desviou o olhar e mexeu em seu chapéu, tentando disfarçar o quanto que aquelas palavras do mais velho mexeram com ele, porém Koda viu e olhou curioso, mas deixou passar.
— Entendi. Então, o Devon terá muito trabalho, posso ter sangue de vaqueiro, mas sou um cara da cidade, um suburbano, completamente alheio ao mundo daqui, espero que ele esteja pronto para me aguentar. — Koda ao falar estreitou o seu olhar no capataz e por último sorriu.
O Capataz franziu o cenho sem entender pela fala ríspida do contador, mas desviou sua atenção para Thomas. — Estou honrado que pense de mim assim. Pode deixar, prometo ensinar tudo o que sei para o seu filho.
— Espero que a falsidade e a ignorância não estejam na lista. — Koda murmurou baixinho, mas não tão baixo como era para ser, pois o cowboy olhou para ele.
— Como? — franziu o cenho.
— Não disse nada, estava falando comigo mesmo. — sorriu de lado e logo em seguida foi até seu pai. — Acho que já está na hora de irmos almoçar, com certeza Maria está aprontando a mesa. Vamos?
— Mas não quer ir até os filhotes? — indagou Thomas confuso.
— Agora não, depois, talvez! Estou morrendo de fome, preciso manter minha aparência, se manter nessa forma é trabalhoso. — disse apontando para o seu corpo volumoso.
Koda se surpreendeu, pois era poucas vezes que fazia comentários ácidos com indiretos, mas sorriu ao ver Devon totalmente confuso. Ele queria enfrentar o cowboy e falar poucas e boas, mas por respeito a amizade dele com seu pai, se manteve em silêncio, e só queria ficar o mais longe possível do vaqueiro, mesmo que gostasse de admirar sua aparência.
— Vou com vocês, acabei de terminar o que estava fazendo e como Koda disse, já é a hora do almoço.
E assim Devon se pôs do lado deles e os acompanhou. Koda revirou os olhos e manteve sua atenção na estrada, em silêncio. Logo mais, chegaram na cozinha e viu que já tinha pessoas esperando para comerem, o pior de tudo era que Davi e Marcus estavam lá. Tentando ignorá-los, o contador ajudou seu pai na pia, assim ambos lavaram as mãos e se aproximaram da mesa.
Como Maria tinha dito ontem sobre os vaqueiros, das pessoas que tinham vindo ontem, só três apareceram e mais quatro pessoas que não tinha visto ainda estava ali, sendo que mais uma vez Koda foi apresentado a eles. Porém o geek só fez sorrir e acenar, ficando em silêncio em seu canto e escutando a conversa que rodeava a mesa.
Porém nem tudo o que a pessoa quer é realizado.
— Koda, né? — Davi indagou após mastigar. — O que está achando do rancho? É bem diferente do seu habitat creio eu, vai ser difícil se acostumar com esta vida do interior.
O contador assentiu e abaixou os talheres. — É bem diferente, mas tenho certeza que logo ficarei a vontade, pois tenho um grande motivo para ficar, que é conhecer o meu pai. E não se preocupe, logo estarei sendo um de vocês, anote o que vou dizer. O garoto da cidade não foge da responsabilidade, principalmente agora que o suburbano vai se tornar um rancheiro. Devon está com as mãos cheias, não literalmente, mas como um professor que vai me ensinar cada passo de como o rancho funciona.
Koda mordeu o lábio para tentar não rir da face de Davi. Ele não sabia da razão do rosto vermelho, se era de raiva ou de vergonha. Se ele tinha acabado de soltar um duplo sentido? Sim, ele às vezes amava quando tinha coragem para tal coisa, mas não tão corajoso para ver a expressão do rosto de Devon após seu comentário malicioso.
— Estou feliz em escutar isso, filho! — Thomas falou logo depois. — E tenho certeza que logo você vai aprender tudo o que sabemos. É bom ter você aqui.
O ruivo olhou para o seu pai e sorriu. — Obrigado. — murmurou ele e logo voltou a sua atenção para o seu prato, não queria mostrar aquelas pessoas o seu lado emocional, então focou em comer.
Quando terminou, o pessoal ainda estava a comer, ele levantou pedindo licença, colocou o prato na pia e foi lavar, porém Maria o enxotou da pia, fazendo toda a mesa rir. Mas insistindo, ela finalmente o deixou lavar, o que surpreendeu todos da mesa, principalmente pelo sorriso da governanta, parecia que ninguém tinha tentado rebater e ajudá-la.
Após lavar o seu prato, ele deixou a cozinha e foi atrás de Sheldon, onde o encontrou no sofá, olhando para a TV, o que fez lembrar que fazia dois dias que não tinha assistido nenhuma série.
— Não creio, você deve estar com abstinência. — disse após sentar-se no sofá. — Vamos para o quarto, estou precisando distrair-me.
Pegando o seu gato no colo, verificou se ele tinha comido e após ter a confirmação de Maria, ele rapidamente foi para o seu quarto e se trancou, assim passou o resto do dia lá e só saiu para pegar alguma comida.
E na terceira vez que voltou para pegar uns cookies que Maria estava fazendo, foi quando soube que seu pai estava reclamando de algumas dores e também de que o médico já estava a caminho. No lugar de voltar para continuar sua maratona, ele largou tudo e correu para onde Thomas estava.
— Toc, toc! — disse após abrir a porta em uma brecha, o que fez Thomas sorrir. — Ei, posso entrar?
O vaqueiro mais velho fez uma careta ao se mexer. — Claro que sim, mas o que faz aqui?
Koda fechou a porta e foi até ele. — Soube que o senhor estava com dor.
— Ah, Maria já foi fofocar? Não é nada demais. — ele tentou mostrar que estava bem, mas não adiantava, pois fazia careta algumas vezes.
— Você não é o Superman, Thomas! — afirmou o ruivo. — E além do mais, você ainda está todo roxo do acidente, é propício sentir algumas dores.
— Você não é médico! Estou bem!
— É aí que você se engana. — Koda sorriu e piscou. — Sou formado em 12 temporadas de Grey's Anatomy.
Thomas riu. — Você e suas séries.
— Claro! O que Koda Harris seria sem a maravilha dos seriados e filmes? Seria um completo idiota.
— Oh filho, não me faça rir! — falou tentando se manter sério.
— Desculpe. — pediu ao vê-lo com dor. — Será que esse médico vai demorar a chegar? — indagou olhando o relógio no pulso.
— Sim, o rancho fica muito longe da cidade.
— Então até lá eu serei o enfermeiro. Maria disse que você tomou ibuprofeno, mas a dor não quer passar. Onde você sente dor?
— A maioria é nas minhas costas, quebrei um monte de costelas, fiz muitas cirurgias.
— Então é melhor ficar deitado. E enquanto esperamos, poderíamos conversar, ou jogar... Esse quarto é um tédio, desculpe, mas você precisa de uma TV. — disse olhando ao redor.
— Eu não assisto muita televisão, filho.
— Que blasfêmia. — ele pôs a mão no coração fazendo um ar dramático. — Precisamos resolver isto. Convertê-lo para o mundo cenográfico. Será que existe outra TV por aqui, sem ser a da sala?
— Aqui só tem duas TV's, a da sala e uma no quarto de Maria.
— Então espere aí. Volto já!
Deixando seu pai sozinho, ele correu para fora do quarto e foi chamar Maria.
— Maria, você pode me ajudar a tirar a televisão da parede? Pois quero colocar no quarto do meu pai.
A governanta estava varrendo a sala parou e olhou para a tela de plasma que estava colada na parede. — Não sei se vai ser possível, quem a instalou foram os caras que vieram entregar e os únicos que sabem é Thomas e Devon, e Devon saiu para o campo leste, para mudar o gado de lugar e só volta a noite.
— Ah, que coisa! Mas você sabe onde esta as ferramentas e onde foi colocado os pés da TV? Pois assim coloco em cima de um móvel.
— Sorte a sua que não deixei Thomas jogá-la no lixo. Volto já.
Maria não demorou muito e logo ele estava usando uma pequena máquina para tirar os parafusos das buchas e em seguida colocou os pés da TV. Após tudo pronto os dois carregaram o objeto até o quarto do vaqueiro, que riu ao ver os dois empenhados em mudar a TV para o seu quarto.
E usando uma cômoda para apoiar a televisão, Koda pegou os controles e reprogramou. Logo os canais apareceram. Ele procurou entre vários canais algum filme ou série interessante, e ao colocar na NBC, se surpreendeu ao ver que estava começando uma maratona de Friends, umas das suas séries favoritas.
— Te apresento a minha turma preferida, você vai amá-los. — ele voltou para o lado de Thomas. — Maria, venha assistir com a gente. — a chamou.
— Obrigado, querido! Mas vou ficar em alerta para quando o Doc chegar, e aproveitarei e farei algumas guloseimas para vocês.
— Não se preocupe conosco. — Thomas disse em seguida.
— Tenho cookies com gotas de chocolates frescos, irão negar?
— Nunca! — falaram juntos. Os dois se entreolharam e riram, o vaqueiro com alguma certa dificuldade.
— Foi o que pensei. — sorrindo, ela acenou e saiu do recinto os deixando.
Entre algumas risadas e conversas, o tempo passou e no segundo episódio da primeira temporada de Friends, Maria apareceu e junto com ela um senhor de idade de pele negra entrou carregando uma maleta.
Koda rapidamente ficou em pé e desligou a TV.
— Olha o que vejo, o fujão que deixou o hospital sozinho. — falou o senhor sorrindo.
— E olha o que vejo, o médico sádico do hospital. — os dois sorriram.
— Amigo, mesmo todo quebrado você ainda tem humor. Vejo que está com um convidado... Que parece muito com você na adolescência, não vai me dizer que é seu filho?!
Koda se sentiu exposto, mas sorriu.
— Você está certo, cabeça de bagre. Koda, este é o médico principal do hospital de Wichita e também o médico da família.
— E também melhor amigo, companheiro de escola, companheiro de birita... E o quê mais? Ah sim, o cara que te consertou. Chamo-me Daniel Turner, pode me chamar de Daniel. — ele ergueu a mão na direção de Koda, que rapidamente aceitou.
— Koda, Koda Harris! Pode me chamar de Koda e sim, sou filho dele e pelo vejo que são bem amigos, certeza que existe muita história aí.
— Qualquer dia desses te conto o que seu pai me fazia passar. Foi cada vexame.
— Os melhores da sua vida, quem seria de você sem o Thomas para te ajudar?
— Com certeza eu seria são e normal. Mas deixando o papo de lado, me conta o que está sentindo. — disse se aproximando.
— Não é nada demais, só que Maria leva a coisa para outro lado.
— Não ligue para esse rabugento. — Maria disse firme. — Ele está reclamando de dores ao redor das costelas, já dei ibuprofeno como você recomendou no telefone, mas parece não funcionar.
— Teimoso como sempre. Vamos olhar mais de perto. Espero que esteja de repouso e também não era para ter saído do hospital sozinho, sei que tinha dado alta, mas sair sem avisar não é legal, principalmente em seu estado.
— Estou bem! Estando vivo e é o que importa.
— Sabemos disso, Thomas! — falou Daniel. — Mas o seu estado era grave, ficou em coma por um mês e ficou paralítico, não é bom se esforçar agora, tem que se tratar enquanto as suas feridas se curam sozinhas, pois já fizemos tudo o que era para fazer.
— Acho que a culpa foi minha. — Koda se intrometeu. — Eu o levei ao redor do rancho hoje de manhã, foi muito esforço para ele. Não sabia que iria prejudicá-lo.
— Não filho, você não fez nada. Só que o meu corpo é um inútil e se cansa rápido.
— Na verdade, Koda não teve muita culpa e estou feliz em saber que o está levando para fora de casa, pensei que o senhor rabugento iria ficar trancado após tudo isso. É bom que saia de casa, mas por poucas horas, para não cansá-lo e evitar que bata as costas ou algo do tipo, elas ainda estão sensíveis.
Após examinar, Daniel tirou alguns remédios da mala que estava aberta.
— E então doutor? — indagou Maria.
— Como disse, o corpo de Thomas não é mais o mesmo, ainda está frágil, e fazendo esforço, fez com que suas costas reclamassem. Passarei alguns remédios um pouco fortes para aliviar a dor. Recomendo que use bolsas de água quente e que fique em repouso até os ferimentos se curarem, mas não o deixe preso em casa. E até lá, vou marcar uma fisioterapia para suas pernas.
— Não, nada de fisioterapia! Não preciso disso, estou bem aqui, sei que sou um inválido. Já me deram um ultimato e você escutou, não tenho chances de voltar a andar, para que irei fazer isso?
— Você sabe muito bem do por que, Thomas! Sim, sabemos que você possui bem poucas chances de voltar a andar, mas não precisa desistir, e fazer a físio vai ser bom, assim as pernas não se atrofiam e quem sabe, um milagre aconteça, então, por favor, não negue isso. — ele olhou sério para o velho amigo de infância.
— Não, não irei para nenhuma fisioterapia. — determinou Thomas. — Não quero ter esperanças e no final ver que não adiantou nada, estou bem aqui. Odeio o meu estado, a cadeira, mas agora é meu próprio inferno particular e daqui ninguém me tira.
— Oh Thomas, não diga isso! — Maria disse com o tom triste. — Não se negue a isso.
— Basta! Ninguém vai me convencer do contrário. Se Deus quis que eu ficasse paraplégico, assim que irei ficar! Obrigado Turner por vir, aqui está o cheque da consulta.
Daniel suspirou resignado. — Ok, se é assim que você quer, então vai ser assim! Você é adulto, sabe o que faz. Tenha uma boa tarde, foi um prazer te conhecer Koda.
— O prazer foi meu também.
— O Doutor não quer ficar mais um pouco e comer alguns cookies com leite? — indagou Maria ao abrir a porta do quarto para o médico.
— Bem que eu queria, mas tenho que chegar em casa. Minha filha Dara está lá com minhas netas.
— Como ela está? — indagou Thomas ao escutar a conversa. — Diga a minha afilhada para aparecer por aqui, quero que ela conheça meu filho.
— Está bem e também esteve muito preocupada contigo, direi a ela para vir.
Thomas sorriu e assentiu.
— Doc, já que você vai me explicar sobre os remédios, aproveito e arrumo alguns cookies para as crianças.
Daniel assentiu rindo. — Oh Maria! Agradeço muito, as crianças irão amar.
E assim os dois saíram os deixando a sós.
Koda ficou um pouco surpreso ao ver a relutância de seu pai em buscar tratamento, mas viu que ele ainda estava ferido psicologicamente, o que fazia negar qualquer ajuda por medo de que não fosse dar em nada depois, e isto o fez ficar feliz em aceitar ficar, assim poderia pelo menos ver se mudaria os pensamentos dele.
— Quer voltar a assistir? — indagou puxando a cadeira novamente para perto dele. — Ou quer descansar?
— Desculpe pelo que falei, mas quero assistir sim. Gosto da sua companhia e tenho certeza que já já Maria estará aparecendo com os remédios. E se forem fortes como Daniel disse, irei dormir que nem um urso no inverno. Melhor aproveitar! Vem, suba aqui!
— Melhor não. — disse negando com a cabeça.
— Não se preocupe, tem espaço para três. Vamos.
Thomas insistiu e Koda acabou aceitando.
Assim os dois voltaram para Friends, começaram a rir e a conversar entre as cenas. Aquele momento foi um início para a relação deles, pai e filho, e já se sentiam confortáveis com a presença um do outro, felizes por estarem dando o pontapé inicial e ansiosos para ver o que iria dar aqueles seis meses.
Koda estava curioso sobre a sua vivência de meio ano no rancho e com receio, mas profundamente em seu coração sentia que iria dar tudo certo, agora restava esperar.
Agora queria aproveitar a companhia de Thomas, seu pai.
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