Capítulo 1 - Carta

E estou aqui de novo com mais um romance, espero que apreciem.

Boa leitura.

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Devon estava no pasto, em cima do seu cavalo pastoreando as diversas cabeças de boi. Ele olhava afiado para cada animal e comandava todos eles. Era o seu trabalho e também uma espécie de diversão. Nascido e criado no Texas, digamos que ele já nasceu em cima de um cavalo e iria morrer em cima de um.

Aquele pensamento o fizera sorrir e alisar o seu cavalo, o Noite já tinha dez anos e ainda era forte e bravo.

— Senhor Devon! Senhor Devon!

O capataz ajeitou o seu chapéu e com habilidade fez o cavalo girar para o outro lado. Ele franziu o cenho ao ver Maria acenar e gritar o chamando. Maria era a cozinheira do rancho e uma espécie de mãe para todos eles.

— Vamos lá, garanhão. Vamos ver o que a senhorita quer.

Ao se aproximar da cerca, ele parou o cavalo e a cumprimentou com um leve puxar do chapéu, gesto comum de vaqueiros. — Sim, Maria?

— Oh Devon, o senhor Thomas já está chegando a casa. O médico o liberou hoje cedo, ele nem esperou a gente ir buscá-lo. — ela disse exasperada.

O capataz rapidamente saiu de cima de Noite e pulou a cerca com maestria. — Jesus! Esse homem é teimoso. O médico falou o que mais?

— Que Thomas pediu ajuda a uma enfermeira para arrumar as suas coisas e chamou ao filho do dono do armazém para trazê-lo. Esse homem ainda vai nos matar do coração. Por isso vim aqui correndo avisá-lo.

Devon assentiu. — Obrigado por dizer. — ao terminar de falar, eles escutaram barulho de buzina. — Acho que o Sr. Teimoso e Independe acabou de chegar.

Os dois se entreolharam e sorriram de alívio, pois pelo acidente que Thomas sofreu, era para ter sido morto.

— Vamos recebê-lo.

Os dois se apressaram e correram para a entrada do rancho. Ao chegarem à frente do enorme portão de ferro eles visualizaram Isaac, o filho mais novo do dono do armazém e amigo de longa data de Thomas. O jovem estava cursando graduação de veterinário e atualmente passava as férias na cidade.

— Bom dia. — disse Isaac enquanto limpava a testa. — Trouxe um passageiro para vocês, um dos mais resmungões que já vi na vida.

— Se eu pudesse levantar daqui, te daria um pé na tua bunda, Isaac!

Maria e Devon acabaram rindo das falas de Thomas.

— Sorte minha que isso não é possível, Senhor Tom. — Isaac voltou para dentro do carro quando o portão foi aberto e assim ele atravessou. — Entrem ai. — ele acenou.

— Deixe-me fechar o portão. — o cowboy declarou.

Depois que terminou de trancar o portão, Devon andou até o carro e abriu a segunda porta de passageiro. Ao se encolher, visualizou Thomas, o seu sorriso se abriu ao ver o seu patrão bem e com uma expressão rabugenta.

— Hey. — ele entrou e se pôs ao lado dele, acenou para Isaac e olhou para Maria pelo retrovisor, viu que a mulher olhava preocupada para o seu chefe. — O que deu em você para querer vir sozinho? Nem nos avisou.

— Você acreditaria que era para fazer uma surpresa para vocês?

— Se eu tivesse nascido ontem, Thomas.

Ele acabou soltando uma pequena risada, porém na mesma hora sentiu uma dor em seu peitoral. — Sabe, cada vez que faço algum esforço, parece que ainda sinto as patas daquele boi me pisoteando.

— Nem me fale umas coisas dessas. — exclamou Maria.

Thomas ao ver que aquelas palavras afetaram sua amiga, inclinou-se o quanto pode e apertou seu ombro. — Eu sei, mas foi o que aconteceu. Aquele desgraçado me deixou sem andar, coisa boa hein?

— Oh Senhor Thomas. — Maria suspirou e lançou um sorriso para ele. — Dê graças a Deus por ele ter te poupado.

— Eu sei. Então, como vai o rancho?

— Bem, mas o senhor não precisa se preocupar com isto. — Devon falou sério. — Obrigado Isaac por ter trago ele, quanto deu? — ele indagou ao ver que já estavam em frente à Casa Grande.

— Não precisa se preocupar com isso. — disse Isaac dando de ombros. — É um favor para um amigo do meu pai!

— Vou tirar a cadeira de rodas. Devon você poderia tirá-lo do carro?

— Ah não, essa cadeira de novo não. Bem que vocês podiam me puxar pelos braços e me arrastar até no sofá.

— O quê? — exclamou Maria. — Só se estivemos loucos, Senhor Thomas. Você vai na cadeira sim e a partir de agora ela é seu meio de transporte.

— É o que vocês pensam. — ele resmungou.

Devon reprimiu o riso. Ele abriu a porta onde estava Thomas, e o ajeitou para assim colocá-lo na cadeira de rodas, que logo Isaac a trouxe. — Segure em mim. — mandou.

A contragosto, Thomas colocou seus braços nos ombros do capataz e sem ter nenhuma força para ajudá-lo, Devon fez sozinho e colocou na cadeira. Em seguida eles se despediram de Isaac e na mesma hora o capataz pediu a um dos vaqueiros para abrir o grande portão, eles vieram ao encontro deles ao ver o seu patrão de volta ao lar.

Os vaqueiros que ali estavam o cumprimentaram dando boas-vindas, porém Thomas foi um pouco seco e não observava ninguém em seu rosto, o que preocupou Maria e Devon. Rapidamente Thomas pediu para entrar, pois disse que estava cansado, assim eles despediram dos outros vaqueiros e entraram em casa.

— O seu quarto está pronto. — Maria ditou. — Os rapazes trouxeram os seus móveis do quarto principal e estão aqui em baixo agora.

— Agradeço muito. Agora só quero minha cama.

— Devon o leve e enquanto isso irei preparar algo, pois tenho certeza que ele não comeu nada que preste naquele hospital.

— Olha, você acertou em cheio, Maria. A comida do hospital era horrível.

— Agora vão. Daqui uns dez minutos estou levando um lanchinho para esperar o almoço.

O capataz assentiu. Assim ele dirigiu a cadeira de rodas para outro corredor e Maria foi para a cozinha, que ficava do outro lado da casa. Ao chegar ao quarto, Devon colocou a cadeira ao lado da cama e pegou em Thomas para deitá-lo. Ao ver que seu chefe estava em uma posição confortável, se afastou e dobrou a cadeira, deixando-a perto do móvel.

— E aí, como está?

— Como se estivesse perdido no meio do Texas. Ainda estou confuso pelo que aconteceu, porém só uma coisa me vem à mente.

Devon o olhou curioso. — O quê?

Thomas lambeu os lábios e respirou fundo. — Preciso de um favor seu.

— Pode falar, chefe.

— Depois desses anos todos você ainda me chama disso? Somos amigos.

— Eu sei, é força do hábito. O que você quer que eu faça?

Thomas sorriu e acenou. — Você sabe do meu filho, né? Pois bem, quero que vá para Nova York buscá-lo, quero conhecer o meu filho. Esse acidente me fez refletir, eu poderia ter morrido sem tê-lo conhecido.

— Nova York? Eu numa cidade grande?

— Eu sei que a ideia não te agrada, mas é por meu filho. Quero vê-lo e falar com ele. Sei que já era para eu ter feito isso, mas o medo e a falta de coragem de ir encontrá-lo, além de temer a reação dele de saber que tem um pai, me impediram.

— Thomas, esse seu menino não vai rejeitá-lo. Claro que vai ficar em choque, pois passou a vida toda sabendo que não tinha pai, mas sei que vai adorar conhece-lo.

O homem mais velho sorriu. — Sei que está querendo aliviar a situação, porém não sabemos bem o que meu filho fará, por isso quero que você vá considerando. Sei que é de confiança, meu segundo no comando do rancho e meu amigo. O que me diz?

Devon sabia que ir para a cidade grande era um obstáculo, pois nunca andou numa metrópole e a única que pisou foi em Austin, a capital do Texas, mas isso foi há muito tempo. Agora, sair de seu estado para ir para a cidade que nunca dorme, em um lugar onde nunca pisou, para encontrar um cara que nunca viu na vida, era um desafio. Mas para o seu amigo ele iria, principalmente ao ver esperança nos olhos azuis de Tom.

— Eu vou. Quando?

Thomas arregalou o sorriso. — Hoje mesmo, aqui está a passagem e isto é o endereço dele. Passei no aeroporto antes de vir para cá.

— Passagem?

— Avião. — respondeu animado.

— Er, será que não posso ir com o meu caminhão?

Thomas franziu o cenho e estreitou os olhos. — Não me diga que você tem medo de andar naquilo?

— Não tenho medo. — Devon respondeu rápido. — Só que não confio naquele pássaro de metal. Prefiro ficar na terra.

— Sinto muito, Devon, mas se for de carro vai demorar e temo que não aguentarei de ansiedade.

Ele relutante concordou. — Ok. E ah, qual é o nome do seu filho mesmo?

— É Koda Harris, ele é ruivo e usa óculos.

— Koda. Ok, certo. Então é isso aí, estou indo para Nova York. — Ele estava com medo, mas não voltaria atrás, não quando via a alegria no rosto envelhecido de seu amigo.

— Você é um bom homem, Devon. Triste daquele que o deixou.

O capataz se levantou e deu de ombros. — Não importa. Mais alguma coisa, Tom? — perguntou, desviando o olhar.

Thomas suspirou e deixou passar, era uma situação complicada, mas infelizmente ele não podia fazer nada para consertar, corações partidos era uma dor na bunda para curar. — Ah, essa carta. Quero que você entregue a ele.

Ao pegar a carta a porta do quarto foi aberta por Maria que carregava uma bandeja, rapidamente ele foi em direção a ela para ajudá-la, porém acabou sendo rejeitado e foi expulso do quarto, pois ela dizia que Thomas precisava de descanso e de sua comida para curar logo.

Vendo que o seu amigo estava em boas mãos, Devon saiu do quarto e foi para o seu alojamento fazer as malas, pois tinha uma viagem para ir.

[...]

Suas costas doíam pela posição que estava, mas não podia fazer nada, ao menos se ajeitar na cadeira. Seu peso não ajudava, mas tentava se manter confortável. Koda estava ansioso para chegar em casa, assim poderia se deitar no seu sofá e se aconchegar com Sheldon, fazer mais uma vez maratona de séries. Só de pensar nisso o fazia relaxar.

Pensando em seu apartamento, ele se ajeitou e tentou olhar as planilhas rapidamente, porém com extremo cuidado. Sendo um contador não podia deixar nada passar, senão estaria ferrado. Duelando seu olhar com o relógio, quase vibrou ao ver que eram duas horas da tarde, fim do expediente de sábado.

Sem perder tempo ele ajeitou sua mesa, fechou os arquivos abertos e enviou dois e-mails com algumas planilhas. Com tudo feito, desligou o computador e rapidamente se levantou. Ao sair de sua cabine, sem querer, acabou prendendo a perna em um fio que estava ao lado da porta, que o fez trombar com um homem, seu colega de trabalho. Este estreitou os olhos ferozmente para ele, fazendo-o se encolher.

— Tome cuidado, não quero ser morto por uma tonelada de gordura.

— Des-culpa. — ajeitou os óculos e rapidamente saiu de perto de Peter, seu vizinho de cabine. — Até segunda.

Sem esperar resposta, Koda foi para o elevador, mas antes mesmo de poder entrar, foi empurrado. Observou chocado Peter entrar e acenar para ele. Em segundos a porta do elevador fechou, o deixando em pé sozinho.

— Ah não, escadas.

Koda odiava pegar as escadas e sempre as pegava, pois os seus colegas pareciam achar divertido o fazer de bobo. Ele mordeu o lábio e apertou sua maleta com força. — Sem estresse, hoje é sábado. Dia de passar a noite em frente a TV.

Aquele pensamento o fez se acalmar e se dirigiu para as escadas. Ainda bem que trabalhava no segundo andar, era pouco lances, mas por causa de seu peso o fazia suar feito uma mula e ficar cansado em questão de segundos. Dito feito, ao descer quase todos os degraus da primeira escada, Koda se escorou na parede e respirou fundo.

— Odeio! Arg, odeio meu trabalho. Odeio minha vida, odeio ser gordo.

Além de ser esteticamente feio, aquela banha toda o fazia suar bicas e ficar mais cansado do que uma pessoa normal e ele odiava aquilo tudo. Depois de recuperar o fôlego, continuou a descer as escadas, agora sem parar e foi diretamente para o seu carro, um velho uno.

Ele nem tentou respirar fundo, o ar poluído o fazia engasgar e era como fumar dez cigarros, e Koda nunca fumou na vida, porém isso não fazia odiar Nova York. Não, ele gostava de sua cidade, um pouco das pessoas, mas gostava de ir a alguns pontos turísticos, quando tinha tempo, trabalhava a semana toda e quando saia do trabalho ficava enfurnado em casa, por questão própria.

Deu partida em seu carro e enfrentou o trânsito da cidade. Demorou quase duas horas para chegar e deu graças a Deus ao parar em seu prédio que ficava no subúrbio. Deixou seu carro onde ficava de costume e levou sua maleta, fez uma careta ao tirar o paletó, viu manchas de suor em sua camiseta rosa.

— Preciso de um banho. — gemeu e andou depressa. — Boa Tarde, Senhor Jaron. — Koda cumprimentou o porteiro antes de ir para o elevador.

— Senhor Harris, o elevador quebrou.

Koda paralisou e fechou os olhos. — Como?

— O elevador... parou de funcionar. — Jaron disse cauteloso. — Algum problema?

O contador balançou a cabeça e tirou os óculos do rosto, passou sua mão e tirou o excesso de suor. — Não, nenhum problema. Acho que o mundo está conspirando para eu fazer exercícios, acho que eles estão cansados de me ver imitando uma baleia.

— Oh senhor...

— Obrigado por avisar, estou subindo. Alguma correspondência?

— Nenhuma e ah, sua mãe passou aqui. Disse que ia fazer uma viagem com seu marido e passaria seis meses fora. Também avisou que o celular dela não pega.

Koda gemeu. — Ah, ok. Obrigado, Senhor Jaron.

Sem esperar respostas ele foi para o outro corredor, que dava para as escadas e gemeu ao ver os lances. Ao contrário de seu trabalho, Koda morava no quinto andar.

— Eu já disse o quanto odeio minha vida? Sheldon, espero que você esteja acordado, pois só você pode me fazer feliz nesse mundo conspirando contra mim.

Quase dez minutos depois, ele finalmente chegou ao seu apartamento, quando fechou a porta, Koda colocou a maleta no canto da parede e começou a se despir.

— Finalmente em casa. Sheldon, cheguei! — avisou e foi para o seu quarto, passou direto e levou sua roupa para o cesto de roupas sujas e se dirigiu para o chuveiro.

Koda não se demorou muito e voltou logo para o quarto. Pegou sua roupa de final de semana, um dos vários pijamas, dessa vez era o seu pijama do Batman.

Ele poderia ter 26 anos, porém nunca deixaria de usar aquelas roupas, sendo um amante do cinema. Sua casa era rodeada de produtos desse gênero, canecas, roupas, meias, óculos e até mesmo algumas preciosidades. Autógrafos de autores de seus filmes e séries favoritos eram o seu tesouro.

Depois de escolher o seu pijama da vez, ele calçou as pantufas e saiu do quarto. O contador olhava procurando o seu amigo, Sheldon, e sorriu ao encontrá-lo dormindo no parapeito da janela.

— Hey amiguinho. Cheguei, pronto para comer e apreciar mais uma noite de televisão? Hein?

E como esperado, seu gato se levantou, espreguiçou e pulou da janela para o seu encontro, passou seu corpo entre suas pernas. Sorrindo, Koda o pegou e acariciou a cabeça peluda do seu amigo Sheldon.

O gato ronronou e deitou em seu peito. Sheldon era diferente dos outros gatos, além de ter oito anos, era um amante de televisão como ele, carinhoso e preguiçoso, adorava um cafuné e pedaços de pizza, e ninguém poderia mudar quando o seu canal favorito começava. Por Deus, era The Big Bang Theory. Koda tinha duas teorias de por que seu gato amava assistir a série:

A primeira era porque seu gato amava escutar o seu nome durante a série. E a segunda, era porque seu gato na vida passada foi um nerd, por isso, ao assistir, se sentia em casa.

E ah, como poderia esquecer? Sua mãe dizia que o gato era um folgado, e ele, um idiota por deixar gastar energia. Sua mãe, o seu coração apertou ao pensar nela. Ele a amava, mas confessava que ela não era uma mãe das melhores. E lá estava ela numa viagem lá se sabe onde com o seu quarto marido rico.

— Vamos, Sheldon. Vamos procurar algo para comer e ver alguns filmes. O que tem em mente, gatito? — o gato miou. — Uhm, ok. Comida primeiro.

Domingo, 5 horas da manhã

Koda sentiu algo bater em seu rosto sonolento. Ele afastou e voltou a se aconchegar, mas segundos depois, acordou quando algo perfurou sua pele, o que o fez abrir os olhos assustado e sibilar pela dor. Ao olhar ao redor da sala percebeu de onde veio a perfuração, de Sheldon, que agora estava sentado na parte de escora do sofá lambendo a sua pata calmamente.

— Sheldon, o quê? Porra! A sua caixa de areia está ali, porque me acorda? — Koda resmungou e coçou os olhos. Ele estava vendo tudo embaçado, o que fez procurar os seus óculos e paralisou ao escutar batidas na porta. — Que horas são? Quem é?

Desorientado e enxergando quase nada, Koda se levantou do sofá e desligou a TV, que ainda estava ligada, pegou seus óculos onde os encontrou no chão e por pouco que não pisava em cima. — Calma, estou indo. Seja quem for.

Sonolento e desajeitado, caminhou para a porta e antes de chegar nela, Koda tropeçou em quase tudo, bateu a canela no centro da sala, esbarrou no sofá e quase que batia a cara na porta quando a abriu.

Depois de se certificar que não ia bater em mais nada, ele se escorou na parede, balançou a cabeça para ver se despertava e em seguida direcionou seu olhar para cima, paralisando na mesma hora.

— Estou sonhando? — O contador sussurrou perplexo.

Agora vocês devem estar se perguntando do por quê do seu assombro. Bem, não era todo o dia que você tinha em sua porta um cowboy muito gostoso. Koda olhava embasbacado para tal monumento em forma de homem.

Como sabia que era um Cowboy? Bem, o cara usava uma velha calça jeans, botas de cano alto, camisa de flanela e um chapéu. Muito Cowboy para ele.

— Koda Harris? — O Cowboy delicioso ergueu uma sobrancelha e mexeu com o seu chapéu. Quase que Koda desmaiava. Puta merda, ele sabe meu nome e porra, que sotaque filha da mãe. — Você está bem? — O homem se aproximou e olhou preocupado para o contador.

Koda na mesma hora se despertou e ficou sem jeito, suas bochechas queimaram e viu que estava com o seu pijama do Batman de frente para o Cowboy. Mais vergonha o pegou, era por isso que ainda não tinha arranjado um namorado.

Primeiro que ele era feio feat gordo, e segundo, era que ele ainda se vestia como um menino de sete anos. Mas porra, ele amava seus pijamas.

Depois de surtar em sua mente, Koda arranhou a garganta e sorriu sem jeito para o homem.

— Sim, eu sou Koda. E você, cowboy? Por que bate na minha porta às... — Olhou para dentro do apartamento e estreitou os olhos para conseguir ver a hora de seu relógio de parede em formato de gato. — Cinco e quinze da madrugada? — Agora sim ele estava curioso.

— Não é madrugada, o sol já está no céu.

— Ah, você é daquelas pessoas que acorda quando o galo canta. — Koda apontou.

O Cowboy sorriu de lado. — Quase isso. Eu sou Devon, Devon Collins.

Devon, então o Cowboy tem nome, e era um nome digno desse monumento.

— Devon, desculpe, mas por que está na minha porta a essa hora da matina? Não que estou reclamando, longe disso.

Devon soltou uma pequena risada e Koda quase teve um derrame. — É, sei que é um pouco cedo, contudo é urgente. Vim por causa do seu pai.

Ao escutar a palavra pai, Koda fechou a cara. — Ah não, por favor. Não me diga que um dos maridos da minha querida mãe quer reclamar pelo dinheiro que gastou com ela ou por que ela a chutou. Não tenho nada ver com isso, pode dizer isso a ele... certeza que é o James, aquele cara é uma desgraça em pessoa. Ameaçou-me uma vez, quase que batia em mim, mas é estranho que ele tenha te mandado aqui, um cowboy, James tem mais cara de mandar um mafioso ou um assassino de aluguel. E agora eles estão recrutando um assassino cowboy. — depois de devanear ele olhou para Devon pensativo. — Você é um assassino?

Devon não sabia se achava graça, fofo ou assustador. O cowboy negou com a cabeça. — Não, não sou assassino.

— Bem, se você fosse não diria. É como um agente secreto, não diz o que fazem, entretanto, se for me matar, sei que não conseguiria correr. Olh para mim e para você. Então, se for me matar, por favor, leve Sheldon e dê a uma senhorinha para cuidar dele, e me mate na minha cama. É melhor.

— Olha, Koda. Eu não vou te matar. — Devon prendeu a risada ao ver a cara de alívio do outro. — E nem conheço esse tal de James, estou aqui por causa de Thomas Robinson Moore.

— Esse nome não me diz nada.

— Bem, é porque você não o conhece, ainda. Ele é seu pai.

Koda olhou sério para Devon. — Pai? Eu não tenho pai.

— Bem, você tem. Olha, será que posso entrar? Te explico tudo com calma, sei que a situação é inusitada.

— Entra. — Koda se afastou e entrou no apartamento. — Coloca inusitado nisso. Passei a minha vida toda sabendo que não tinha pai. Minha mãe deixou bem explícito dizendo que eu fui feito num banheiro de um bar qualquer por um estranho qualquer. Ela nem sabe quem é o sujeito e agora você bate na minha porta dizendo que tenho pai.

— Sinto muito em lhe dizer, mas sua mãe mentiu.

Koda se virou e cruzou os braços. — Por que eu me sentiria surpreso? Ela tem cara de fazer isso, principalmente desse assunto. Ah, pode se sentar. — apontou para o sofá. — E ignore a bagunça.

— Sem problema. — O Cowboy colocou a mochila que carregava no chão, próximo do sofá, Koda não tinha visto antes, e se sentou no lado esquerdo do sofá.

O contador arregalou os olhos e no mesmo segundo seu gato miou de longe e quase que o derrubava ao passar entre suas pernas. — Devon, er... então, você sentou no lugar do Sheldon. — O Cowboy o olhou confuso. — Você sabe. O lugar esquerdo do sofá é do Sheldon... você não entendeu?

— E era para entender?

Koda sentiu seu coração quebrar. — Você não pegou a referência? Uma referência bem viva e única? Jesus Cristo amado.

— Estou me sentindo retardado depois desse comentário.

— Ah, não se ofenda. É que eu tenho que parar de achar que todo mundo assiste tudo o que eu gosto. O que acabei de falar é sobre uma série que se passa na CBS. The Big Bang Theory. O personagem Sheldon interpretado pelo lindo e maravilhoso Jim Parsons, ama lugares esquerdos do sofás, e o meu gato, Sheldon, também ama. Acho melhor você se levantar e mudar de lugar antes que seja atacado por um gato ciumento.

— Se eu não tivesse vendo esse gato me olhando assim, diria que é mentira, contudo parece que ele vai me matar. — e rapidamente Devon se afastou e logo em seguida Sheldon, o gato, pulou e se deitou no sofá como se dissesse: Isso é meu e ninguém toma. — Então, onde estávamos mesmo?

— Na parte que você dizia que eu tinha pai. Eu não sei o que pensar a respeito. Não sei se acredito. A única pessoa que pode confirmar ou negar isto está numa viagem por seis meses, sem celular ou qualquer meio de contato.

— Sua mãe? — Koda assentiu. — Certo, então. Fico feliz em ver que não está surtando ou coisa do tipo.

O contador riu e se escorou na parede da sala. — Não se preocupe, eu escondo bem. Estou surtando por dentro e está uma bagunça. Mas me conte isso direito, quem é Thomas? E porque você diz que ele é meu pai?

— Acho melhor você ler essa carta e qualquer dúvida eu falo.

Koda pegou o envelope que o cara deu e se sentou na poltrona. — Então aqui está todas as repostas que eu preciso?

— Espero que sim, não li, então não sei o que tem aí.

O contador assentiu e respirou fundo. Ele estava nervoso do que viria a seguir, estava com medo e receoso, porém uma pequena luz de esperança brilhava bem no fundo.

Com cuidado, abriu o envelope de cor rosa salmão e pegou o que tinha dentro, um papel dobrado e um mini-álbum. Koda queria abrir o álbum, mas sabia que devia ler a tal carta. Com isso em mente, desdobrou o papel e visualizou uma caligrafia trêmula feita com tinta preta.

Oi Koda,

Eu nem sei por onde começar a escrever, meu filho. Você deve estar confuso, com raiva e curioso para saber porque você só está sendo informado agora que existo. Que você tem um pai.

Para começar, por mim você saberia da minha existência desde que nasceu, mas sua mãe não deixou. Você a conhece e sabe muito bem como ela é. Kate é uma boa mulher, todavia, de temperamento forte e muito teimosa. O que ela põe na cabeça, ninguém tira.

Conheci sua mãe desde que éramos duas crianças, crescemos juntos e fomos o primeiro namorado um do outro. Bem diferente da história que ela te contou, que disse que eu era um estranho. Nunca fomos e não foi em um bar quando concebemos você.

Como estava dizendo antes, éramos namorados e íamos nos casar, tínhamos planos de sair de Wichita Falls – Texas e ir para outro estado. Sair dessa vida de interior. Porém, não foi bem assim, meu pai na época ficou gravemente doente e eu não podia deixá-lo, deixar o rancho e ir embora. Sua mãe não gostou nada disso, mas ficou e a ideia de ir embora foi deixada de lado, porém não por muito tempo.

Kate estava cansada de ter que ficar no rancho, rodeada de animais e estrume, ela me colocou contra a parede e me fez decidir, ir com ela ou ficar no rancho, e eu disse que não ia embora, pois já não queria deixar o rancho...

Ser um cowboy está no meu sangue e aquele tempo de ficar como chefe, acho que ativou isso. Sua mãe ficou com raiva e na madrugada seguinte, fugiu sem deixar rastros.

Soube de Kate seis meses depois, estava em Nova York e grávida, quando me disseram, deixei o rancho e fui encontrá-la, no entanto, ela não me recebeu muito bem, brigamos e ela declarou que aquele filho eu não tocaria e que o bebê não saberia que eu existia. Tentei de tudo fazer com que ela cedesse, porém não deu certo, então fizemos um acordo, que acompanharia a gravidez e seu crescimento, mas que ficaria longe, pois se não, ela fugiria novamente e nunca mais iria vê-la. E eu não podia deixar, não podia perder você, então concordei.

Passei esses anos todos longe de você, mas sabia tudo sobre você. Eu sabia que tinha um filho maravilhoso, do que ele gostava, do que fazia, mas o meu filho não sabia de mim e tinha em mente que eu era um bêbado estranho. Foram os melhores e piores anos da minha vida, Koda. O que sua mãe fez foi horrível, mas era a única maneira, então fazia de tudo de tentar entrar em sua vida, com atitudes pequenas.

Eu paguei tudo para você, desde ir para viagens, brinquedos que você queria: shows das suas bandas favoritas, seus estudos e até mesmo o seu gato, o seu primeiro gato. Lembra-se do Pernalonga? Fiz com que você o achasse. O coloquei dentro de uma caixa ao lado do seu quarto sem que sua mãe percebesse, foi uma luta, mas você o encontrou e amou aquele gato laranja como um amigo. Doeu até em mim quando ele faleceu.

E o seu novo gato também teve uma parcela de culpa. Ele nasceu no galpão do rancho, todos os outros filhotes morreram, ficando só ele. Então eu peguei o filhote e cuidei, dele e da mãe, quando começou a deixar de mamar, vi que você poderia gostar de um novo amigo e lá fui eu com um gato na caixa para Nova York e fiz com que você o achasse, dessa vez foi na sua formatura, como um presente, e o gato se tornou o seu melhor amigo.

O que eu estou querendo dizer aqui é que fiz de tudo para participar da sua vida, de estar com você, só que não é a mesma coisa de estar pessoalmente contigo, de escutar você me chamar de pai.

Então, Koda, por meio desta carta quero lhe dizer que você tem um pai que te ama muito e tem orgulho de você. Sei que Devon está contigo, ele é o único que confio para fazer isso, de ir até você. Koda, quero te convidar pra você vir para o Texas para que me conheça. Quero ter você aqui. Meu sonho seria ter você morando comigo, comandando o Rancho Dois Corações, mas sei que tem sua vida em Nova York e não quero estragar isso. Por motivo de saúde, eu não pude ir falar pessoalmente, por isso quero que você venha até aqui. Devon vai trazê-lo em segurança, pode confiar nele, ele é um bom homem.

Com amor,

Thomas Robinson Moore, seu pai.

Koda se sentia emocionalmente instável. Sua garganta estava apertada e seus olhos ardiam, sua barriga parecia que estava em festa e seu coração acelerado.

Ler aquela carta foi como levar um tapa, um tapa da verdade e da situação.

Ele tinha um pai, um que se importava com ele e cuidava dele, mesmo de longe.

Koda guardou a carta e pegou o álbum. Nele viu fotos suas quando criança, com o seu gato Pernalonga, na escola, na formatura, e por último, viu uma foto de um casal e reconheceu sua mãe mais nova ao lado de um homem jovem. A fisionomia do rapaz era igual a dele, ruivo, de olhos azuis. Era o seu pai.

— P-Por que ele não veio antes? — disse limpando o rosto.

— Por medo. — Devon respondeu. — Ele tinha medo da sua reação e que o rejeitasse.

Koda balançou a cabeça. — Nunca faria isso. Na carta diz que ele está doente, não fala muito... o que ele tem?

Devon arranhou a garganta e coçou a cabeça, ganhando a atenção do contador. — É delicado. Seu pai, Thomas, sempre participa de rodeios e diga-se de passagem, ele é o melhor. Ganhou em primeiro lugar cinco vezes consecutivas e em segundo sete vezes, porém há dois meses, teve o rodeio de Houston e durante a Bull Riding, onde se monta um touro, Thomas caiu do animal e acabou sendo pisoteado, o que o fez ficar gravemente ferido.

— Oh meu Deus. — Koda entreabriu a boca. — E o que aconteceu?

— Thomas ficou em coma por causa que o boi acabou batendo em sua cabeça, porém faz uma semana que acordou. Só que ao acordar, ele não sentiu mais as pernas, os médicos fizeram exames e concluíram que estava paralítico. Depois de fazer uma bateria de exames e viram que não estava mais em perigo, ele foi liberado e já está em casa, e a primeira coisa que pediu foi para que eu viesse aqui te buscar, pois quase morreu e nunca tinha falado pessoalmente contigo.

Naquele momento Sheldon pulou em seu colo e na mesma hora Koda o abraçou. Ficou grato pelo gesto do felino, o seu amigo parecia saber quando estava precisando de um apoio. Com a mente em um turbilhão, ele decidiu.

— Acho que estamos indo para o Texas, Sheldon. Vamos conhecer Thomas, o meu pai, o cara que me deu você.

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Espero de coração que vocês tenham gostado desse primeiro capítulo.

O cronograma das postagens vai ser todo domingo, assim espero vocês no próximo domingo. Agradeço por lerem, muito obrigada. Beijos e abraços.

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