Nós não escolhemos por quem vamos nos apaixonar, nem quando isso vai acontecer, simplesmente não temos controle sobre isso, não sabemos nem se vamos ter a chance de nos apaixonar. O amor é isso, uma incógnita inexplicável.

Admitir para mim mesmo que estou apaixonado por Lucia não foi fácil, tentei esconder isso mas não consigo mais, esta garota louca, complicada e com os olhos mais azuis que já vi em minha existência mexeu comigo desde a primeira vez que a vi.

Lucia sai de repente do nosso beijo e começa a me olhar de uma forma intensa parecendo se sentir... culpada?

- Eu... Eu preciso ir. - ela diz se levantando rapidamente.

- O quê? - pergunto mas ela me ignora, Lucia anda a passos rápidos e eu a sigo.

- Lucia espera! - a chamo tentando me desviar de todos os corpos bêbados dançando na minha frente, ela estar praticamente correndo para ficar longe de mim.

-Lucia. - toco no seu braço quando eu a alcanço, e ela vira-se bruscamente para mim.

- CHARLIE ME DEIXA EM PAZ! - ela grita, atraindo alguns olhares para nós.

Então ela vira-se e vai embora sem nem ao menos olhar para trás, me deixando parado que nem um idiota no meio da sala com vários olhares bêbados em cima de mim. Eu quero ir novamente atrás dela perguntar o porquê dela agir dessa forma, mas não o faço, não consigo.

Permaneço um tempo parado no mesmo lugar, estou confuso e magoado com a forma que Lucia reagiu depois do nosso beijo pensei que ela quisesse também, já que correspondeu.

- Charlie? - Nathan aparece na minha frente interrompendo meus pensamentos.

- Vou embora. - digo saindo finalmente do lugar onde estava.

- O quê? Charlie ainda é cedo. - Nathan tenta me fazer ficar mas isso não vai acontecer, não fico mais um segundo nessa festa que pelo visto nunca deveria ter vindo.

- Nathan, essa festa já deu. - digo e ele bufa.

- O que a maluquinha fez? - ele pergunta e eu olho para ele. Está tão óbvio assim?

Suspiro e fecho os olhos, não quero falar de Lucia, não agora não depois que ela me deixou e saiu correndo para longe de mim. De todas as reações que ela poderia ter, com certeza eu não esperava por aquela.

- Não quero falar disso, vou embora agora você vem? - pergunto mas antes que ele possa responder algo, Joe se aproxima da gente mais bêbado do que antes. Era só o que me faltava.

- Charlieee! - ele diz rindo. - Não acredito que já vai embora no melhor da festa. - diz ele fingindo está desapontado. Idiota.

- Sim, essa festa já deu para mim. - digo tentando sair de perto dele, e do cheiro horrível de maconha e vodka que está nele.

- Qual é cara! Olha o tanto de vadia gostosa aqui, não se interessa por nenhuma? - ele pergunta dando um trago no seu cigarro, ignoro a forma nojenta que ele se referiu as garotas e tento não arranjar outra briga.

- Toma. - ele oferece.

- Eu não fumo. - digo firme e ele tenta segurar o riso. Nathan não diz nada, apenas fica parado ao meu lado como se quisesse apenas observar.

- Tudo bem então, você que perde. - ele revira os olhos, e vira-se para ir embora.

- Eu não estou perdendo nada. - digo mas Joe está bêbado demais para ouvir alguma coisa.

Começo a andar em direção a porta, tudo que mais quero agora é ir embora e voltar a respirar ar puro.

Nathan voltou comigo mesmo não gostando de ter saido cedo da festa. Não digo uma palavra desde que sair da casa de Joe e meu silêncio começa a incomodar Nathan este que ainda resmunga baixinho.

- Vai me dizer agora o que houve? - ele pergunta e eu permaneço calado olhando para minhas mãos. Não quero falar de Lucia e nem do nosso beijo, pode parecer idiota mas quero que aquele momento permaneça somente entre nós, ninguém precisa saber.

Mesmo que tenha sido importante somente para mim.

Nathan respira devagar como se quisesse se acalmar e medir suas palavras.

- Muito bem, você não quer falar sei que tudo tem haver com a Lucia e se você ainda não quer falar sobre o que houve ou falar sobre qualquer outra coisa eu irei respeitar. Eu sei que você se deixou encantar por aqueles olhos azuis e que provavelmente deve está apaixonado, mas cara... A Lucia é o problema em pessoa, aquela garota é um verdadeiro mistério. - como não digo nada ele continua. - Olha não vou começar a dizer para você se afastar ou qualquer coisa do tipo porque não sou seu pai e você já é bem grandinho, mas de verdade, se não é recíproco não vale a pena. - Ele termina o seu monólogo como se tivesse a certeza que ela nunca irá me corresponder e revira os olhos para o meu silêncio.

Tudo o que Nathan disse me faz refletir sobre quem Lucia realmente é, mas no fundo eu sei que não importa o que ele ou a Liv venham a dizer, pois estou completamente apaixonado e não me importo se o universo resolver gritar que ela é a pessoa errada. Eu vou continuar apaixonado, então foda-se o mundo e seu conceito de "pessoa certa".

Agradeço ao Nathan por me deixar em casa ignorando novamente os seus resmungos e vou direto para o meu quarto, estou cansado demais para tomar banho então me jogo na cama encarando o teto ainda sem entender o que aconteceu esta noite, ainda sem entender a Lucia.

Acabo dormindo imerso em minha confusão, nos meus sentimentos e no medo de ter pesadelo.

Acordo com o barulho irritante do meu despertador e levanto-me rapidamente quando percebo que estou atrasado. Ótimo, não tem jeito melhor de começar esse dia.

- Charlie o café! - Rose diz enquanto desço as escadas correndo, tive que me arrumar em 5 minutos.

- Não posso estou atrasado tchau. - digo sem parar e vou direto para o carro.

Chegando na escola me dou o desfrute de ficar 5 minutos dentro do carro mesmo estando atrasado. Tenho que colocar meus pensamentos em ordem antes de encarar a Lucia, se é que ela veio hoje.

Começo a pensar no que dizer a ela e assim que me preparo para sair do carro eu a vejo andando de skate e neste momento todo o meu preparo psicológico e emocional foi por água abaixo.

Muito bem Charlie respire, é só a Lucia... Que por acaso é a garota que tem seu coração nas mãos dela e que você beijou e depois ela saiu correndo, só isso.

Cada passo que dou meu coração parece que vai sair da minha boca a qualquer momento. Muito bem eu vou chegar, falar com ela a sós e perguntar porque ela saiu daquela forma.

Lucia está conversando com Nathan e ela parece ótima, sem qualquer resquício da Lucia bêbada e drogada de ontem a noite.

Muito bem, eu consigo. Enquanto me aproximo não paro de pensar em qual será sua reação.

- Finalmente Cooper. - ela diz revirando os olhos, pelo visto ela também quer conversar sobre o que houve. E isso é bom, certo?

- Me dar as respostas de matemática antes que comece a primeira aula. - o quê?

- O quê? - pergunto incrédulo. Nathan olha para mim e apenas dar de ombros.

- As respostas Charlie. - ela insiste. Bem talvez ela não queira falar do nosso beijo na frente do Nathan.

- Claro, vamos para sala assim já ficamos esperando a primeira aula que por acaso começa em 5 minutos. - digo e olho para Nathan este que entende e sai dizendo que vai ao banheiro.

Lucia e eu entramos na sala praticamente vazia e ela senta-se ao meu lado e começa a escrever.

- Lucia acho que temos que conversar. - digo baixo procurando a melhor forma de começar essa conversa.

- Sobre? - ela pergunta calmamente sem olhar para mim.

Ela não pode está falando sério.

- A festa. - insisto. Neste momento o professor entra na sala e Lucia devolve meu caderno agradece e vai para sua sala.

Não posso acreditar que ela está agindo como se nada tivesse acontecido. Eu esperava alguma reação ou explicação, sei lá, agora agir como se não tivesse tido a menor importância ou fingir que não lembra é bem pior do que se ela tivesse dito que me odeia.

Depois disso eu só a vi na saída ela se despediu de mim naturalmente e saiu andando como se não estivesse esmagando meu coração a cada passo que ela dava.

Quando chego em casa vou direto para o meu quarto e passo o restante do dia na cama Rose estranhou meu comportamento mas disse a ela que não queria conversar sobre isso ainda, então ela disse que não iria insistir.

A reação de Lucia ou a "não reação" dela me deixou com uma mistura de raiva, mágoa e mais confuso do que eu estava. E são em momentos assim que eu precisava do meu pai ou da minha mãe para conversar, pedir conselhos ou apenas desabafar. Mas isso não é possível.

Logo anoitece e eu adormeço pensando na Lucia e na conversa entre pai e filho que nunca irei ter.
                          ***
- Charlie suba, não há nada para ver aqui! - minha mãe diz chorando enquanto Richard puxa seu cabelo.

Permaneço parado chorando vendo essa cena e sem poder fazer nada.

- Não ouviu sua mãe pirralho?! Suba agora ou você vai se arrepender. - Richard diz enquanto puxa seu cinto.

Naquele momento eu queria ser grande e corajoso, mas infelizmente eu ainda era uma criança fraca e com medo.

- Eu avisei. - ele começa a andar em minha direção e eu subo as escadas correndo.

- NÃO ADIANTA SE ESCONDER!
                          ***

Acordo com o barulho do meu celular tocando então atendo sem nem olhar o nome.

- Alô? - digo sonolento.

- Charlieee. - ouço a voz de Lucia e levanto rapidamente da cama, logo percebo que ela está bêbada de novo.