Capítulo 6💕
Charlote
Eu não sabia de onde raios Camila tinha tirado a ideia de que eu deveria fazer lasanha caseira naquela noite, mas ela não aceitou minha proposta de cozinhar uma comida mais leve e ficou no meu pé até que eu cedesse, principalmente depois que Stephan disse que Hilary também gostava e não teria problemas em comer. Mila podia ser infantil, birrenta e insistente quando queria algo, e sabia que poderia conseguir dessa forma, levando as pessoas ao limite, mas como era minha melhor amiga e tinha o coração mais maravilhoso que eu conhecia, hoje eu deixaria passar.
Mais ou menos.
Depois de sua comemoração infantil, e de Stephan ter voltado com Hilary ao hotel para pegar o que ela precisaria para passar a noite, tínhamos perdido um pouco de tempo discutindo os prós e contras de dar aquele tipo de alimento para uma criança de quatro anos no jantar sem chegar a lugar nenhum e por isso eu a tinha arrastado para a cozinha comigo, mas não para me observar como fazia sempre e sim para me ajudar. Mandei que ela picasse as verduras que serviriam no preparo da carne, porque em todo resto ela era um perfeito desastre, enquanto fiquei responsável pelos outros ingredientes e por isso quando Stephan voltou, minha amiga estava chorando copiosamente no balcão, agora descalça, vestindo o avental azul de Tiago — coisa que ele aprendeu a usar depois de muitas tentativas de dar comida a Otávio ser se sujar e que vivia esquecendo de tirar depois — que por um acaso ficava ridiculamente grande nela e com uma pequena pilha de seus anéis ao seu lado.
— Não se preocupe com ela — falei ao ver suas sobrancelhas erguidas. Hilary estava ao seu lado, segurando a mão dele com a sua mão pequena e olhando para tudo com uma curiosidade inocente.
Liguei a torneira da pia e ouvi Camila resmungar enquanto lavava minhas mãos.
— Isso, não se preocupe. Essa é a ideia de castigo da Char, não foi a primeira vez que aconteceu e nem será a última!
Ainda bem que você sabe…
Sequei minhas mãos e larguei o pano de prato sobre o balcão. Stephan me olhava com um meio sorriso. Imediatamente notei o que não tinha enxergado antes. Camila e Stephan eram bem parecidos. As emoções cruas e sem retoques que eles não se incomodavam em demonstrar deixava clara sua semelhança. Minha amiga geralmente usava isso ao seu favor para dobrar a mim — como naquela noite — e aos outros, e se algo a deixava feliz ou a desagradava, qualquer um poderia perceber isso. Eu esperava que Stephan não fosse tão esperto quanto a dona Camila, pois caso contrário eu poderia estar me colocando em maus lençóis ao me aproximar dele.
Se bem que essa tipo de personalidade tem seu lado bom. Camila pode ser caprichosa, briguenta, infantil o que quer que seja que a ocasião pedir no momento, por ser tão livre e segura de si mesma, era verdadeira, alguém que se podia confiar sem medo, uma amiga com quem eu poderia contar sempre que precisasse.
Por minha escolha, foi ela quem esteve ao meu lado na noite em que confirmei estar grávida de Tavinho. Foi ela quem me abraçou, dando-me conforto enquanto eu pensava no milagre de ter uma vida crescendo dentro mim e no que eu faria dali para frente. Ela se emocionou e chorou comigo. Cuidou de mim. E também foi ela quem ameaçou arrancar os olhos de Evandro caso ele me pressionasse com a ideia de um casamento que eu não queria, mesmo que se sentisse um pouco mal com isso.
Sorri involuntariamente ao me lembrar do fato, mas disfarcei voltando meu olhar para Camila.
— Isso é o que ganha por agir como a criança que não é. Aprenda a se comportar como adulta.
Camila me mostrou a língua e logo tentou limpar as lágrimas dos olhos com as costas das mãos, por mais que eu já tenha lhe explicado que aquilo só fazia piorar por causa da ardência da cebola.
Revirei os olhos ainda não podendo deixar de sorrir e me aproximei de Hilary, me curvando de frente a ela.
— Trouxe tudo que precisa?
Ela assentiu. Me mantive sorrindo, pois sabia que seria preciso agir com toda cautela possível já que ela praticamente tinha acabado de me conhecer, o que não era difícil olhando para aquela carinha linda.
— Ok. Vou deixar suas coisas no meu quarto agora, então depois de pôr o nosso jantar no forno eu posso te ajudar a tomar um banho, pode ser? — Voltou a balançar a cabeça positivamente, fazendo seus cachinhos se remexerem e roçarem seus frágeis ombros.
— Vem aqui com a tia Camila, docinho — minha amiga chamou, contornando o balcão.
Hilary foi até ela e Mila a ergueu, sentando-a numa banqueta. Me virei para Stephan e peguei a mochila em formato de coelhinho em suas mãos, erguendo-a na altura do meu rosto.
Sorri.
— Ela gosta mesmo disso, não é? — passei por ele, saindo da cozinha e continuei: — Nick e Tiago saíram já tem um tempinho, é melhor você ir antes que venham te arrastar pra lá.
E é claro que antes de eles saírem, fiz com que Nick explicasse aquela situação de uma vez por todas. Ele disse que Stephan tinha se tornado o responsável legal de Hilary após a morte da mãe dela. Stephan não tinha explicado direito as circunstâncias que o levaram a aceitar a guarda da menina, mas ninguém aqui estava na posição de cobrar-lhe os motivos. E preciso admitir que admirei seu gesto. Não seria qualquer um a abandonar a carreira para cuidar de uma criança que sequer tem seu sangue.
Chegamos a sala e olhei para Stephan. Ele ainda não parecia confortável com a ideia tirar Hilary de suas vistas tão cedo.
Ergui uma sobrancelha.
— Eu pareço uma pessoa suspeita? — perguntei e um olhar de confusão apareceu em seu rosto.
— Por quê?
— Porque a sua cara é a de quem está jogando sua filha aos lobos. Imagino que esse último mês esteja sendo difícil e sei muito bem que Camila e eu não passamos de estranhas para ela, mas eu acho que seria bom distraí-la um pouco.
Stephan levou uma mão a cabeça, passando-a entre o cabelo cacheado, e quando falou, era como se estivesse fazendo uma pergunta a si mesmo.
— Eu não sou o suficiente?
Inclinei a cabeça, perguntando-me seriamente se ele era um idiota. Abri a porta e o puxei comigo para o corredor.
— Você tem consciência de que Hilary é uma garota, certo? — questionei-o fechando a porta atrás de mim e me recostei nela.
Mudando de incerteza para sarcasmo, seu olhar me dizia que eu não iria querer escutar o que quer que ele estivesse para dizer. Falei novamente antes que ele abrisse a boca.
— Ainda que seja uma criança, ela é uma garota. Pelo que Nícolas me disse, você contou que ela só tinha a mãe. Agora me diga, como raios você acha que uma menina que vivia principalmente em companhia feminina vai se adaptar a estar com um homem o tempo inteiro? E não importa que ela já te conhecesse. Eu tinha dezoito anos quando vim morar com os meninos e mesmo que eu sempre estivesse com eles, viver aqui não deixou de ser constrangedor no começo. Perder a presença de uma mãe é difícil na vida de qualquer um, ponha-se no lugar dela. Não sei como funciona a mente daquela criança, mas já chegou a pensar que talvez ela ache que está dando trabalho demais a você? — respirei fundo, recuperando o fôlego por ter falado tudo de uma vez. Nem sei dizer se tudo que falei tinha sentido, mas Stephan suspirou e sua expressão se tornou mais suave.
E talvez ele soubesse um pouco que eu tinha me baseado mais em mim mesma do que gostaria ao dizer tudo isso, revelando coisas das quais não costumo falar, porque dessa vez quando ergueu a mão foi para bagunçar meus cabelos, como se eu fosse uma criança que precisa de consolo.
Estreitei os olhos, me esquivando de seu toque, um pouco irritada com o tratamento. Seus lábios se curvaram um pouquinho e eu soube que o peso de seus próprios pensamentos tinham aliviado um pouco em sua consciência.
— Tudo bem, Loirinha, conto com você está noite — seu tom era quase um murmúrio, uma provocação.
— Cala a boca e vai trabalhar! — disparei, já abrindo a porta.
Depois que entrei, fechando-a sem cerimônia em sua cara, pude ouvi-lo rir baixinho ao se encaminhar ao elevador.
💕💕💕
Eu queria ter postado mais cedo, mas a tonta aqui gastou todo dinheiro que tinha à mão em livros e acabou esquecendo de colocar créditos, huehuehueh. Como geralmente só vou para a cidade uma vez por semana, tive que ficar sem. Bom, peguei o chip do meu irmão emprestado, mas parece que ele tem alguma coisa contra mim porque a rede de internet tem estado ruim aqui em casa a semana inteira (e a operadora não ajuda), então não deu pra postar antes, sorry :(.
Espero que tenham gostado, não ficou bem como eu queria, mas acho que está bom assim. Eu estava planejando terminar a noite nesse capítulo, mas iria ficar muito grande, então no próximo eu continuo com o ponto de vista da Charlote.
Obrigada por estarem votando e comentando e também pelo 1k de leituras!
Se acharem que mereço, continuem votando e dando suas opiniões, isso é muito importante para o desenvolvimento da história.
P.S.: Alguém aqui gosta de histórias de fantasia com lutas, mistérios e romance? Se sim, deem uma olhadinha no meu (nem tão novo, porque comecei a escrever faz um tempão, mas só estou postando nessa conta agora) livro: "Coroa da Loucura."
Se quiserem ler sobre um príncipe sendo salvo/ameaçado por uma princesa de 15 anos de dar medo, ela é história certa. :)
Beijos, leitoras queridas e até a próxima! 😘
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