Capítulo 5❄
Stephan
Ela era apenas uma adolescente da última vez que a vi. Agora, dois anos depois, era uma mulher.
Talvez Nícolas estivesse cogitando quebrar minha cara por olhar sua irmãzinha daquela maneira, mas era impossível não fazê-lo. Talvez estivesse tão divertido com a confusão e constrangimento de Charlote que a ideia sequer tenha passado pela sua mente. Mas se ainda não tinha acontecido, aconteceria em breve, eu sabia, a raiva também estava presente.
Eu já tinha conhecimento do fato de aquela garota ter mudado muito após se tornar mãe, é claro. As fotos que Tiago postava nas redes sociais com ela e o afilhado pareciam ser infinitas, mas ver algo por fotografia e ver ao vivo eram coisas completamente distintas. A partir do momento em que ela abriu a porta e entrou, vestida naquela saia apertada e desfilando em saltos altos, a última coisa em minha mente era o assunto que estava discutindo com Nícolas antes.
Ter me abraçado e beijado o rosto com total inocência acreditando que eu fosse meu irmão também não tinha me ajudado a deixar de vê-la como uma bela e desejável mulher, era difícil não pensar como um homem nesse momento. Mas Nícolas já tinha me avisado pouco antes de conhecê-la que ela era inacessível para homens como eu e por mais que eu tivesse rido aquele dia dizendo que não representava perigo nenhum para uma pirralha como ela, não podia deixar de sorrir para seu rosto corado, cheio de confusão e vergonha. E agora que observava melhor, talvez uma pontinha de raiva.
Sua expressão se transformou num instante. Estreitando os olhos, Charlote pegou uma almofada as suas costas e a atirou em mim, sequer tive tempo para erguer a mão e parar sua trajetória. Diferente do irmão ela não teve o bom censo de não me acertar no rosto. Outra veio a seguir, mas a agarrei e logo ela estava de pé a minha frente com ambas as mãos na cintura.
— Toda essa violência por acaso é um gene de família? — perguntei a Nick, erguendo uma sobrancelha. O desgraçado parecia bem satisfeito.
— Ah, Deus, isso virou uma bagunça — Tiago resmungou, afastando-se da outra garota loira que tinha vindo com Charlote e se aproximando de nós.
Camila. Eu sabia quem ela era porque vez ou outra estava presente nas fotos também, já que era a madrinha de Otávio. Ela se vestia como Charlote: uma blusa branca elegante e uma saia preta e justa. Mas seus saltos eram bem mais altos e a maquiagem mais provocante. Era realmente uma mulher muito bonita que sabia usar muito bem as armas que tinha. As duas não poderiam ser mais diferentes vistas por esse lado.
— O que ele está fazendo aqui? — Charlote perguntou apontando o dedo para mim. — Por Deus, até essa manhã esse cara nem atendia o celular!
— Aconteceram algumas coisas — falou Nícolas. — E antes que você me pergunte, ele já teve o que mereceu por nos fazer de idiotas por mais de um mês.
Charlote franziu o cenho, mas pareceu perder todo o interesse no assunto quando o homem que tinha vindo com ela voltou para a sala carregando um garotinho de cabelos castanhos claros no colo.
— Já vai? — ela perguntou.
O olhar do pai de Otávio analisou a todos nós antes de voltar para Charlote.
— É melhor, parece que vocês tem o que discutir por aqui — respondeu sério. — Tenho que estar no aeroporto às nove amanhã, mas passo aqui antes de ir.
— Ok.
— Hã… eu deveria ir também? — a amiga dela perguntou.
— Não, sem mudança de planos. Você fica pro jantar.
Charlote acompanhou o ex até a porta e beijou a cabeça do filho com carinho, parecendo dizer algo para ele, mas foi baixo demais para que eu pudesse ouvir. Desviei minha atenção dos três, achando a cena familiar muito íntima.
— Cadê a Hil…? Ah…
Hilary estava parada na porta do corredor, meio escondida. Seu olhar ansioso parecia pular de uma pessoa a outra na sala, mas sempre voltando para o ex-casal e seu bebê.
Era sempre assim quando ela via a interação entre pais e filhos. Hilary não conhecia o pai e a única família que tinha era sua mãe e os amigos mais próximos dela, onde eu estava incluso. A pequena garota parecia nutrir uma grande curiosidade e provavelmente até anseio por uma família completa. Mas agora ela só tinha a mim e eu teria que fazer valer a confiança de Alice.
Tinha que fazer essa garotinha feliz e o primeiro passo seria fazê-la se soltar um pouco mais.
— Ei, querida, vem aqui — chamei em inglês, sorrindo.
Hilary apareceu completamente à porta, e apertando a pelúcia em seus braços fez seu caminho com passos curtos até o sofá.
— Gostou dele? — perguntei quando ela se sentou.
Hilary abriu um sorriso e seus olhos brilharam, ela sabia que eu estava falando de Otávio. Se tinha algo que ela se apegava facilmente, ainda que hesitasse às vezes, era em outras crianças, principalmente se fossem menores que ela.
— Ele é fofo — disse feliz. Como sempre, sua linguagem era bem melhor em inglês que em português, então eu já estava acostumado, mas o que me impressionou foi ouvi-la dizer uma frase completa.
— Quer vê-lo de novo amanhã? — continuei, querendo que falasse mais.
— Sim — assentiu empolgada.
Isso era bem mais do que qualquer um tinha conseguido arrancar dela no começo. Levá-la ali assim que chegamos tinha sido uma ótima ideia.
— Ela é filha dele? — a voz de Charlote me fez voltar a olhá-la. Ela nos observava com curiosidade.
— Eu pareço ser pai de uma criança de quatro anos? — questionei, voltando para o português.
— No momento, sim — foi direta.
— Não se engane como eu me enganei, irmãzinha. Esse cara tem a idade mental de um adolescente imaturo, não pode ser pai de uma menina linda como ela — Nícolas se meteu.
Revirei os olhos.
— Agora me digam se essa gracinha americana não parece com uma mini-Charlote — disse Camila, sentando no braço do sofá perto de Hilary.
Franzi a testa. Era verdade. As duas tinham cabelos loiros, pele clara e olhos azuis.
Hilary fitava Charlote com fascínio, como se as palavras de Camila tivessem ativado algo nela.
— Qual é o nome dela? — indagou Charlote, sorrindo amavelmente, claro que para Hilary e não para mim.
— Hilary — respondi. — E ela fala português.
Seu sorriso se iluminou ainda mais.
— Vocês vão ficar pra jantar?
— Não, ele não vai — Tiago respondeu por mim. — Esse irresponsável vai trabalhar com a gente hoje, isso sim — seu tom era o de alguém que não queria discussão.
— Eu não vou deixar a Hilary, nós acabamos de chegar — afirmei.
— Ela pode ficar com as meninas — disse Nick.
— Não decidam isso por ela — repliquei, mas o toque da pequenina mão de Hilary em meu braço me acalmou. — Quer ficar com elas essa noite? — perguntei suavizando minha voz.
Seus olhinhos se apertaram um pouco, pois aquela era uma decisão que precisava tomar seriamente, mas logo ela assentiu.
— Posso?
Pressionei os lábios por um momento.
— Pode sim, princesa, se é isso que você quer.
— Não faça essa cara, Hilary vai estar mais segura com elas do que com qualquer babá que você poderia contratar — Nícolas falou.
Eu parecia odiar a ideia ou algo assim?
Não é que eu odiasse, de modo algum. Mas pela expressão iluminada de Hilary, eu diria que ela ficava bem mais feliz com aquelas pessoas que tinha acabado de conhecer do que comigo.
Minha promessa com Alice parecia estar longe de se concretizar. Ao que parecia, eu era um péssimo pai postiço.
❄❄❄
Tadinho do Stephan, nunca vai entender as mulheres... (nem se a mulher em questão for uma garotinha de quatro anos de idade, heheh).
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Obrigada por continuarem lendo e votando pessoal! E pra quem comenta... sinta-se abraçado! 😍
Comentem e votem se acharam que mereço, tá bom? Em breve volto aqui, só não vou prometer datas porque as vezes não consigo cumprir (hoje eu consegui, yay!)
(É sério, se puderem comentar, comentem. Quero saber o que estão achando, de que personagens estão gostando e se tem algo que acham que devo melhorar. Também é a opinião do leitor que molda o escritor e o faz melhorar, sabiam?)
Perdoem-me caso tenha erros.
Até o próximo capítulo! ❤
Bjoks!
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