Capítulo 21💕

Charlote

Eu me lembrava perfeitamente de suas feições duras e insatisfeitas a cada vez que a decepcionávamos. Recordava de seus cabelos, loiros, assim como os meus, presos em um coque apertado, começando a ser preenchidos por fios brancos e o rosto marcado pela idade. Lembrava de cada tom de seus olhos que cada vez mais perdiam o brilho a medida que os anos se passavam.

Às vezes, ela me dava pena.

Eu jamais esqueceria de seus gritos rancorosos, de sua fúria, de nossas brigas… da rejeição. Depois de certo momento em minha infância, sua imagem tinha sido manchada a ponto de não haver mais volta. Na adolescência, comecei a me conformar, tentei não odiá-la. Depois que saí de sua vida, tentei ao máximo não me importar com isso. Deus sabe que sim. E, por um tempo, consegui. No começo haviam momentos em que a vontade de chorar superava minha força de vontade e o muro de indiferença se reduzia a poeira, me levando as lágrimas. Depois, sua ausência se tornou algo comum.

Eu não exatamente a odiava. Ao menos não por completo. Aquela quem eu odiava era a pessoa que ela tinha se tornado. Mas haviam coisa maiores que isso. Coisas que tanto Nick e eu, quanto ela estávamos de acordo em tratar como sendo um tabu. O que poderia ser considerado um milagre, de fato.

Minha mão, rígida, começou a tremer de leve, mas soltei o ar devagar, aliviando a tensão, procurando a calma. E por mais que houvesse em mim o ímpeto de encerrar aquela ligação — estava mais para um instinto de sobrevivência —, atendi. Eu não era tão covarde.

Silêncio. Um silêncio oco e prolongado foi o que ouvi vindo do outro lado. Era como se nós duas estivéssemos prendendo a respiração.

Eu odiava isso.

Precisei ensaiar umas poucas palavras em minha mente antes de ter confiança para dizer qualquer coisa.

— O que você quer? Aconteceu alguma coisa? — esses eram os únicos dois motivos plausíveis que vinham a minha mente capazes de obrigar minha orgulhosa mãe a me ligar depois de tanto tempo me evitando. Não foi ensaiado, no entanto, o tom de voz gelado que acompanhou minhas palavras.
Ela, é claro, percebeu isso.

— Acredite — seu tom era tão oco quanto seu silêncio —, estou gostando de fazer isso tanto quanto você.

— Então não ligue — repliquei antes mesmo que pudesse pensar direito.

Não saia do sério, Charlote.

— Me respeite! Há coisas maiores que nossas brigas, Charlote. Se não quiser me ouvir, diga de uma vez e desligarei agora mesmo, mas você irá se arrepender depois.

O que senti ao ouvir o que ela disse — aquilo que combinava tão perfeitamente com meus pensamentos —, não foi apenas um mal pressentimento. Algo dentro de mim borbulhava com o inicio de uma compreensão que eu não desejava.

Sem dúvidas, há algo maior que nós. Maior que os sentimentos negativos que nutríamos uma pela outra. Aquiles sentimentos que faziam com que meu irmão, ela e eu ainda tivéssemos algo em comum; A mágoa. O ódio.

— Aquele homem… — falei, meio rouca. — Por acaso é sobre ele?

Ele ainda sequer está vivo?

Minha mãe permaneceu sem nada dizer por alguns segundos e aquele silêncio foi resposta o suficiente para mim.

— Sim — meu estômago afundou com sua declaração. — Alessandra me ligou dizendo que ele apareceu lá. E que perguntou sobre vocês. Se ele os procurar…

Eu não precisava ouvir suas ordens.

— Obrigada por ligar — encerrei a ligação, incapaz de ouvi-la por mais um segundo sem ter vontade de atirar o celular no outro lado da sala.

E eu sabia que ela não ligaria de novo. O recado estava dado, e por mais que eu tenha desligado em sua cara, ela sabia que eu tinha entendido.

Cerrei os dentes com força, recordando de vários momentos de quando eu era menor.

Sua voz arrastada, seu cheiro de álcool, seu odioso comportamento. Minha ilusão infantil de que ele era melhor do que aquilo em dias bons.

A súbita ausência de um pai e a mudança de comportamento de uma mãe podem impactar de forma bastante negativa o amadurecimento de uma criança. Mas ao menos se o abandono tivesse sido o único sentimento com que tive que lidar… talvez tivesse sido bem mais fácil. Quem eu seria agora sem meu irmão sempre lá por mim?

Minha mão se fechou, apertando o celular com força.

Aquele desgraçado… Como ele achava que podia voltar agora?

💕💕💕

Só fiz uma correção por cima, então me desculpem se houver erros, ok?

Enfim, o capítulo foi curtinho mas cumpriu seu papel de começar a introduzir esse novo personagem.

Se vocês acham que odeiam a mãe da Charlote, esperem pra saber sobre o pai dela, kkkk.

Até o próximo, gente.😘😍

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