Charlote

Ninguém é perfeito, e sei que não sou uma exceção.

Meu egoísmo é minha característica mais forte, e se por vezes odeio isso, há momentos em que não me importo. Um ser humano tem que saber conviver com seus erros e consigo mesmo, caso contrário, seria realmente triste.

Depois de Hilary me mostrar todo o enorme apartamento, quase não senti surpresa. Stephan é obviamente exagerado e só faz as coisas da maneira que lhe agradam, porquê seria diferente em algo como isso? Mas se tinha algo que eu não esperava, era entrar nos planos de decoração. Tiago estava tão animado que já tinha decidido me arrastar para as compras no fim de semana. Eu não o culpava; como um dos donos da Egoist, eram raras as vezes que ele fazia algo que sua verdadeira formação, a de arquiteto, era necessária. Me deixava feliz vê-lo se divertindo com aquilo. Era uma boa quebra de rotina.

O pouco que restava daquela tarde foi preenchido por planos, e, no dia seguinte, um tempo depois que cheguei ao trabalho, meu celular tocou com o alerta de mensagens.

“Aqui está meu número novo, satisfeita?”

Respondi com um emoticon sorridente e voltei a colocá-lo sobre minha mesa.

“Se tem dinheiro o suficiente para comprar um apartamento que é o dobro do nosso, compre um chip novo também, ok? Nem todo mundo pode ficar pagando ligação internacional sempre que quiser falar com você, senhor riquinho.”

Isso foi o que eu disse em tom sarcástico para Stephan ontem, depois que Hilary me mostrou tudo e nos encontramos na sala. Não perguntei de sua conversa com Nick. Suas expressões eram suficientemente óbvias e eu podia deduzir, pelo olhar de Nícolas, quem tinha levado o melhor na conversa.

— Algo bom aconteceu?

Olhei para Evandro, sentado a minha frente com Tavinho no colo.

— Porquê?

— Você está sorrindo.

— Ah… digamos que Hilary e Stephan tem sido uma adição bem interessante à família.

— Você se apegou bem rápido a eles.

— A Hilary é um amor. E o Stephan ganha bastante pontos comigo por tudo que está fazendo por ela. Ele me lembra o Nick, quando éramos crianças. Se não fosse meu irmão, eu não sei que tipo de criança eu teria sido — dei de ombros. — Tudo tem acontecido bem rápido, mas fico feliz que as mudanças sejam pra melhor.

Evandro inclinou a cabeça me observando e um sorriso cansado tomou seus lábios. Apoiei o rosto na mão, esperando que ele falasse.

— Pra melhor… Eu não tenho tanta certeza disso.

— Tenha paciência. O tempo resolve tudo — falei, esperando que fosse verdade.

— Eu não acho que vá ser tão fácil. Tenho esperado por tanto tempo… e depois de tudo as coisas ficaram desse jeito. Não consigo ser otimista se ela nem mesmo quer ver minha cara.

Tomei uma respiração trêmula.

— É compreensível que Elisa não consiga ser mais a mesma depois de uma experiência tão traumática.

— Eu sei. Mas nós precisamos conversar em algum momento. Ela não foi a única que mudou, Char. Eu não acho que posso cobrar algo dela agora, não depois de tudo, mas ainda assim…

Desviei os olhos de seu olhar intenso. Eu sei. Eu entendo.

O tempo pode até resolver as coisas, mas apagá-las… nem sempre é possível. O meses que passamos juntos não podem — não devem — ser esquecidos. Otávio foi o presente que ganhamos, o resultado do que sentíamos um pelo outro, e sua existência jamais nos permitiria esquecer por um segundo o que tivemos. Eu estava bastante ciente disso quando decidi aceitar a responsabilidade do que quer que pudesse originar daquela nossa última noite.

Mesmo que meu egoísmo desse um ponto final a tudo.

Ergui o olhar novamente, recomposta.

— Você deveria voltar pro escritório. Camila já deve estar se descabelando de raiva, daqui a pouco ela vai começar a ligar pra cá gritando.

Evandro sorriu e no mesmo momento Tavinho começou a choramingar.

— Acho que alguém discorda, não é, filho? — disse se levantando, olhando para Otávio com um carinho que sempre me encantava. — Quem gostaria de ficar trancado em uma sala enquanto se pode ter aventuras por aí?

— Cuidado para não encontrar o Dragão Camila em uma dessas aventuras, Van — sorri irônica. — Ela não gosta que você fique brincando pelo prédio.

— Camila realmente vai adorar saber do novo apelido.

Ri.

— Não ouse contar a ela.

Evandro piscou para mim, brincando, e neguei com a cabeça observando-os sair da sala. Seu humor estava mais leve, o que era ótimo, mas ele ainda parecia bem triste. Eu esperava que passar o dia com Tavinho pudesse tirar um pouco mais desse peso que ele carrega nos ombros.

Mais cedo, assim que cheguei, Evandro me disse que seus pais estariam o dia todo com os tios de Elisa, sendo assim, com minha chefe longe, não havia muito que eu pudesse fazer sozinha no escritório. Comecei a ler uma das revistas de Tiago que eu tinha trazido, sendo interrompida no processo poucas vezes por algumas ligações — inclusive de Camila —, e quando terminei a revista, já estava entediada até a morte.

Ah, ele tinha razão. Ficar trancada numa sala não era nada legal. Ainda mais se não tinha ninguém aqui para conversar ou ouvir ordens.

Peguei o celular para checar se faltava muito para a hora do almoço e quase pulei da cadeira quando ele começou a tocar e vibrar em minha mão.

Apesar do susto, meu corpo enrijeceu por completo quando vi o nome em letras grandes na tela. Faziam quase dois anos…

Mãe… todo meu egoísmo é culpa sua.

💕💕💕

Tem bomba vindo por aí.

Obrigada pelos 50k de leituras, suas lindas!

O grupo do WatsApp vai voltar a ser usado, tá bom? Achei a Hilary perfeita de cabelos cacheados, logo postarei lá com um spoiler bem legal pra vocês.

Ah, e comentem por favor. Não tenho tempo para responder os comentários agora então deixarei para o fim de semana (junto com os antigos), mas se puderem, não deixem de comentar, tá bom? Escritora carente precisando de incentivo...

Até o próximo, amores! E leitoras novas, sejam muito bem-vindas!