Hipócrisia

Mais um dessa delícia de Kamijirou
(◡ ω ◡)
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Kyoka observou atentamente o chá de camomila ser depositado na xícara branca de porcelana. Assim que foi servido ela recolheu a xícara de modo educado, bebericando o chá em seguida. 

A empregada então foi servir o pai da garota, esse que a encarava com um olhar um tanto quanto animado. Ela sabia o que era. O pai de Iida tinha vindo conversar com o pai dela..em breve ela seria proposta. 

—Alias..—A mãe continuou o que estava conversando com Anya. — Acredita que o Masaru realmente veio até aqui nos pedir um empréstimo? — Riu. — Isso que dá ter um filho pecador. — Kyoka revirou os olhos. Não precisavam falar de Katsuki daquele modo. 

—Existe cheiro pior do que o do desespero masculino?— O pai comentou rindo antes de tomar o chá. 

Todos estavam sentados na mesa do jardim, saboreando um chá e a brisa da primavera. 

—Pai..—Kyoka chamou, determinada a falar o que queria. —Quero lhe pedir um favor. — O homem a olhou sério e sorriu.

—Já sei o que é, quer livros para sua biblioteca com Iida, não é? Está com sorte, estou contente que conseguiu encantar ele, então acho que posso ceder alguns mimos a você. — 

—Eu quero que me ensine a controlar nossos investimentos e terras. — Pediu. 

O livro realmente a fez perceber a sociedade patriarcal em que vivia. Sim, a bíblia falava para as mulheres sempre obedientes, mas era em outro sentido completamente diferente. Era no sentido de não ser infiel ou maldosa e carinhosa. E aquele mesmo trecho também falava para os homens "Amais as vossas esposas assim como Cristo amou a igreja" e isso significava para os homens também serem fiéis, respeitosos e amaveis com as esposas. Mas é claro que essa parte da Bíblia não era usada, ou ensinada. Ela não era menos inteligente do que lida, e tinha total condição de administrar tudo. 

—Não precisa disso, Iida é inteligente o suficiente para isso. 

—Eu também. Devo lembrar ao senhor que sou ótima em números? E que sei álgebra como ninguém. Me deixe cuidar das finanças, meu pai. 

—Kyoka, mesmo que eu lhe ensinasse não adiantaria. Em breve estará ocupada cuidando da educação de seus filhos e da decoração da casa, também terá que controlar as empregadas da casa e ajudar na igreja. Sua vida de casada terá afazeres o suficientes, não precisará ajuda Iida com finanças. — Kyoka respirou fundo. 

—Não pretendo aceitar a proposta. — A mãe imediatamente se intalou com o chá, e todos a olharam. — Não tenho afeto por ele, ele é desengonçado e bobalhão, e não o vejo como um bom marido. Ainda estou nova, e creio que terei tempo suficiente para achar alguém interessante e me relacionar, isso pode esperar. Porém, nossas economias não, estão cada vez piores e precisam urgentemente de um investimento. Já fiz as contas. Se o senhor me der meu dote eu posso investir nas nossas terras francesas, fazendo assim o elas valerem mais, a venderemos e depois investiriamos 70% nas fazendas que possimos aqui. Em torno de 3 a 4 anos teríamos retorno. — Todos ficaram boquiabertos com a explicação. — Não preciso de um marido para administrar nossas economias.

—Realmente..ficou claro que você foi bem educada. — O pai disse. —Mas a resposta é não. Seu lugar não é em frente a finanças, é no máximo em frente a uma pia de louça. — Ele disse e riu, como se tivesse contado a melhor piada do mundo. — E acredito que irá sim se casar com Iida.

—Não pode me obrigar a aceitar. — Ela disse e o pai a olhou como se estivesse lidando com uma criança.

—Não, mas sei que você não é burra ao ponto de ficar solteira e levar a família a falência. Kyoka, suba e vá tricotar ou tecer, e deixe de ser ridícula. — A roxeada se levantou com a cara nada boa.

—Sabe..eu conheço um cheiro pior do que o desespero masculino. A hipocrisia masculina. — Ela disse antes de se virar e sair em passos fortes e determinados.

[...]

—O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA?— o homem gritou enquanto segurava o braço de Kyoka. Realmente Iida foi la pedi-la em casamento recebendo um belo não como resposta, pra piorar a irá de seu pai Anya achou o livro falando sobre feminismo e entregou ao homem. —QUER NOS LEVAR A FALÊNCIA? SUA INGRATA! — Sem a menor dó ele puxou o braço dela, fazendo ela se aproximar dele. Ela chorava em puro pânico.

O plano dela ia somente até ali. Dizer não e tentar convencer ao pai a deixá-la administrar os negócios, e em futuro ela admistraira as finanças com a irmã caçula. Onde Denki entrava nesse plano? Nem ela sabia.

O homem ainda repleto de ódio acertou um tapa na bochecha dela, deixando a marca da mão grande e pesada certinho no rosto dela.

—ONDE VOCÊ CONSEGUIU AQUELA PORCARIA? EM? QUEM INFLUENCIOU VOCÊ? EM? PORQUE UM ABSURDO DESSES NÃO VEIO DA NOSSA FAMÍLIA. 

—Ninguem pai..— Respondeu chorando.

—ENTÃO ESSA LOUCURA VEIO REALMENTE DE VOCÊ?

—…..

—É MELHOR VOCÊ RESPONDER! NÃO INTERESSA AGORA! AFINAL EU VOU TER QUE RESOLVER A SUA BURRADA! É MELHOR VOCÊ NÃO SAIR DESSE QUARTO ATÉ SEGUNDA ORDEM! — Ele largou o braço dela a deixando cair sentada no chão. Saiu andando para a porta onde a mãe dela estava. —QUE BELA MENINA PRODÍGIO VOCÊ CRIOU!— Cuspiu as palavras pra mulher que chorava inconsolável.

Kyoka passou a mão pela bochecha chorando. O que iria fazer agora? A segurança de se casar com Iida já tinha ido pro ralo. Ela não sabia como se sentir. Passou a vida inteira achando que esse era seu dever se casar. Derrepente percebeu que aquilo era errado, que era extremamente errado ela ser um peão em um jogo de passar negócios. Sim, os negócios e condição financeira eram importantes, mas ela era perfeitamente capaz de levar tudo adiante. 

A mãe saiu fechando a porta e a trancando. Kyoka respirou fundo se levantando e indo para a cama. O que iria fazer?

Se sentou na cama esfregando a bochecha que ardia. Já estava acostumada com a dor da mão pesada do pai, mas ainda doía. Olhou pra janela vendo o jardineiro ruivo, Kirishima, cuidar das plantas. Se pelo menos pudesse conversar com o amigo. 

—Ok Kyoka! Precisamos decidir o que fazer.— Conversou consigo mesma. — Opções? Que opções temos? Bom, o pai vai arranjar outro pretende. Sendo assim, opção 1: ignorar isso e se casar...Acho que não. Ok, segunda opção: Negar todos os pedidos e virar uma solteirona, mas..o pai provavelmente vai passar os negócios para o marido da Kira (irmã) e não pra você. Opção dois fora de questão. Opção três: ignorar tudo e ir embora com Denki. — Sorriu ao imaginar com ele. — Não posso..se eu for com ele e tivéssemos filhos eles iriam passar fome. Não quero colocar uma criança no mundo para isso. Opção quatro?— Se perguntou se deitando na cama. 

Tinha que ter um meio termo. Tinha que ter. Ela não iria se casar com um homem que não queira. Talvez, conhecesse outra pessoa e ficasse com ela, né? 

Um sentimento ruim se apossou dela só de imaginar em amar alguém além de Denki. Queria ele, apenas ele. 

A cabeça começou a doer ao tentar imaginar as possibilidades. Se deitou tentando pensar melhor. Uma solução, um modo. Tinha que ter algo. 

Talvez houvesse uma forma dela gerenciar algo e viver com Denki. Poderia disfarça-lo de um homem rico e enganar o pai. Não, ele iria investigar Denki antes de permitir o casamento. E se se casasse com ele sem permissão? Não, Denki não tinha dinheiro pro casamento e se o pai descobrisse que ele era pobre iria passar os negócios pra Kira.

—Ah! — Exclamou se virando na cama. Porque aquela sociedade tinha que ser assim? Porque? 

Sem perceber as lágrimas caíram. Tinha que pensar em um modo, um jeito. 

[....]

Kirishima até podia ser lerdo, mas burro não era. Ele percebeu a movimentação na casa e ouviu a conversa dos patrões. Ele era a única pessoa que sabia do relacionamento de Kaminari e Jiro. O ruivo era vizinho do amigo loiro e trabalhava na casa de Jiro desde pequeno. A mãe era uma ex escrava, mas ainda trabalhava em situações nada boas na casa dos patrões. 

Eijirou era filho dela e provavelmente de um dos irmãos do pai de Kyoka. A mãe não sabia dizer, afinal ela havia ficado com os três tios de Kyoka. Por sorte o ruivo nasceu branco e dos cabelos vermelhos. O que lhe proporcionou uma vida melhor e sem preconceito. 

O ruivo percebendo que a amiga havia sido trancada no quarto deu um jeito de pegar a chave para poder ir até lá. Entrou vendo ela deitada chorando. 

—Kyoka..— Chamou fechando e trancando a porta atrás de si. Jiro o olhou e se sentou na cama, abrindo os braços em seguida. — Oh, jiro...— disse indo imediatamente até ela e a abraçando. 

—E-eu não sei o-oque fazer Kiri..e-eu não acho uma solução. — Confessou chorando. — E-eu quero ficar com o Kaminari, do fundo do coração. Eu amo ele, e quero casar, ter filhos e en-envelhecer com ele. Ma-mas...droga! Porque tão complicado?— Perguntou chorando. Kirishima era seu confidente, não tinha medo nenhum de conversar e desabafar com ele. Sabia que nada sairia dali. 

Eijirou acariciou as costas dela de modo carinhoso. Afinal, eles eram primos de algum modo. E ele verdadeiramente a amava como uma prima, na verdade talvez até como uma irmã. 

—Jiro, se acalme, vou te ajudar a pensar em algo. Vou te ajudar antes de ir embora. — A menina arregalou os olhos e o olhou. 

—Como assim ir embora?— Perguntou claramente desesperada. O ruivo respirou fundo.

—É crime ser como eu...sou. Eu e Katsuki vamos embora com Denki semana que vem. Ele te disse que tem uma terra pequena no interior. Eu, Katsuki, Hanta e Mina vamos ir com ele e juntar dinheiro pra construir algo lá. 

—Eu..vou perder você também?— Perguntou chorando. 

—Desculpa, mas é a minha chance de ter uma casa e depois voltar pra buscar a minha mãe. — Kyoka fungou. Ele estava certo, completamente certo. 

—Você tá certo..— sorriu. — E que bom que deu tudo certo pra você e pro Katsuki. — sorriu saindo do abraço. Eijirou a encarou e limpou as lágrimas.

—Se tivesse um jeito de você ir com a gente..o que te impede?

—Se eu for..e passarmos dificuldades? Eu não quero ter um filho que tenha que trabalhar desde pequeno. Já viu quantas crianças morrem por terem que trabalhar? Eu não quero isso, mas eu quero ficar com o Kaminari, de verdade. —

—Calma, tem que ter um jeito de vocês dois viverem bem juntos. Nós poderíamos abrir um negócio. Você é muito inteligente e pode comandar os negócios, junto do Katsuki. E aí vocês ensinaram a gente. 

—Mas...qual negócio? E com qual investimento? E ainda tem a minha irmã. Se eu for embora esse pesadelo cai nas costas dela. — fungou. Eijirou suspirou. 

—Verdade...mas, deve haver um jeito de ficar com o Kaminari e cuidar dos negócios. — Parou e pensou. — e se...você casasse com o Bakugou? Aí a gente destroca depois. Eu posso fingir gostar do Denki tranquilamente. — Disse rindo sendo acompanhado pela arroxeada. 

—Olha, seria um ótimo plano se o meu pai não detestasse o Bakugou. Acho que...talvez eu tenha que aceitar que não tem como ficar com o Kaminari.

—Hey, temos uma semana até irmos. Vamos pensar em algo até lá. Tenho certeza. — Disse sorrindo para a arroxeada. 

—Duas mentes pensando é melhor que uma, né?—

—Uma e meia, eu sou tão lerdo que minha mente deve valer meia da sua. — Ele disse rindo

—Hey! Não fala assim! Você é inteligente sim! Já conseguiu ler um livro todo.— Ela disse. Por ser filho de uma mulher negra, ele nunca aprendeu a ler, não até Bakugou o ensinar. 

— Então vamos ver se essa inteligência nos ajuda agora. — Disse respirando fundo e pensando no que podiam fazer para resolver aquilo.

Um silêncio melancólico se instalou enquanto os dois pensavam. Não tinham tanto tempo, em alguns minutos Eijirou tinha que voltar pro jardim para poder continuar o trabalho.

—Ja sei!— Kyoka já disse animada. O ruivo a olhou. —Meu dote!—

—Seu dote?

—Sim! Meu dote! Se eu pegar ele posso usar como investimento!—

—Investimento?— 

—Meu Deus Eijirou! Olha, o plano que você sugeriu não era eu e o Katsuki abrirmos um negócio e ensinarmos a vocês? Se eu pegar o meu dote que é grande podemos usar como investimento para abrir o negócio. Tenho certeza que eu e o Katsuki saberemos administrar bem. E até a Kira casar eu tenha uns 5 anos. Tempo o suficiente para estarmos em uma situação boa financeiramente, e eu e o Denki casarmos. Eu estando casada e com uma empresa em desenvolvimento meu pai não teria porque não deixar eu e Denki administramos a nossa parte dos negócios e terras. 

—Assim o peso não cai na sua irmã. Kyoka! Que genial meu Deus! — Ele sorriu pra ela. —Mas...seu pai não vai te dar de bom grado.

—Vou ter que roubar então. Mas vai ser por um bom motivo. Avise o Denki que eu irei pra estação encontrar com ele semana que vem. — Ela sorriu feliz da vida.

—Você vai ver, vamos abrir um baita negócio, vai dar tudo certo. — Ele disse se levantando 

[...]

15 de Fevereiro de 1856, uma semana após a proposta de Iida.

O plano não podia ter dado mais errado. A filha da mãe da Anta ouviu a conversa entre Eijirou e Kyoka e contou tudo ao pai da menina. O homem ficou tão enfurecido que decidiu resolver a situação. Com uma espingarda na mão ele saiu pra ir atrás do sobrinho bastardo e do loiro do trem. 

Se não bastasse a vida de Kirishima e Denki estar em perigo a roxeada estava em uma outra situação complicada. Estava na casa de um homem chamado Touya, trancada no quarto com ele. O pai decidiu que ela casaria por bem ou por mal. Ela não poderia ser louca de dizer não a proposta do homem se não fosse mais virgem, não é? 

—Não...por favor..— Ela pedia chorando enquanto via ele desabotoar o terno. Ela dava passos para trás tentando arrumar um jeito de sair da situação. Tinha que sair dali. 

—Relaxe, isso que você está sentindo é a típica rebeldia das virgens. — A voz dele era tão calma e fria como alguém que estava prestes a realizar uma simples tarefa. — Vocês mulheres são seres próximos dos Demônios. Precisam ser montadas e cavalgadas para ficarem sob controle. Você verá, quando terminamos você estará mansa e dócil, assim como deve ser. 

Kyoka se viu nas profundezas do desespero. O trem de Denki partiria em uma hora. Eijirou estava prestes a ser morto e tudo ia desandar. Se tivesse só seguido as coisas como elas eram, se tivesse apenas abaixado a cabeça e agido de modo submisso não estariam nessa situação. Seu amigo, seu primo, seu confidente do sorriso de tubarão não estaria em risco agora. E seu Kaminari paspalhão também não.

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Confiem na mãe 🙌🏼

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