Ganância


Alguns anos atrás.

O barulho das árvores causado pelo chacoalhar dos galhos trazia boas sensações para seu corpo.

Itachi sentia-se privilegiado pela visão da mata escura e sombria, ao mesmo tempo tão misteriosa. As árvores ao redor da aldeia eram enormes, como se protegessem aquela terra, escondendo Konoha de inimigos e curiosos. Em tempos de inverno, os alfas se aventuram no labirinto daquela floresta, caçando e trazendo pele para cortejar seus ômegas.

Para ele, a caçada não tinha tanta importância já que não tinha um ômega para cortejar, nenhum havia chamado a sua atenção. Até aquele momento.

Desde muito novo foi criado à base de regras, ouvindo todos os dias que em breve seria responsabilidade dele cuidar do povo, pois logo se tornaria o líder da alcateia. Por nascer um Uchiha, Itachi nunca teve muitas escolhas, sempre seu pai tomava as decisões e a conversa acabava por ali.

Cresceu amargurado e sem amigos, sem diversão.

Quando Sasuke nasceu, Itachi soube que tinha mais uma responsabilidade e que essa pesaria nas suas costas. Treinar o irmão mais novo era uma ordem, mas não que desgostasse do tempo que passara com o menor. Sasuke finalmente havia trazido um pouco de felicidade para ele, arrastando-o para brincar e caçar perto da floresta. Itachi amava seu irmão com todas as forças, entretanto, o alfa só queria viver sem todas as regras e obrigações, ser uma criança normal e não carregar o fardo de que teria que liderar uma alcateia sem a própria vontade. Ouviu muitas vezes Fugaku gritar que não tinha tempo para ser o mocinho e se divertir, Itachi precisava ser o mais forte antes mesmo de tomar o posto.

Foram poucas as vezes que conseguiu fugir das garras do pai, e Mikoto, sua mãe, tentava o possível para deixá-lo livre. Porém, ela acreditava que Fugaku tinha lá seu senso de razão e que sabia o que era melhor para o menino.

Itachi tinha dezoito verões quando foi caçar sozinho durante uma noite considerada fria até para os alfas, mas isso não o impediu de seguir. Trilhou pelo caminho mais longo apenas para ganhar mais tempo longe de casa que, de certa forma, era muito pior do que enfrentar um inverno sem abrigo.

Ouviu um barulho não muito longe dali, sua presa estava por perto. Segurou firme a flecha na mão enquanto andava em passos seguros e cautelosos com medo de espantar o animal. Era forte e certeiro o suficiente para não precisar de um arco, embora estivesse carregando um já que sua mãe insistira que o levasse. Novamente ouviu o chacoalhar dos arbustos e algo loiro capturou sua visão, antes que pudesse fazer qualquer movimento, ouviu um resmungo frustrado.

Não era um animal ou fantasma. Era um humano, e não só isso, era um ômega.

Itachi achou que aquela pessoa estava preparada para atacar, por isso, sem muita força ou com a intenção de machucar o ser, atirou a flecha perto o suficiente para amedrontar quem quer que fosse. E para sua sorte, isso funcionou.

— O q-quê? — ouviu a voz suave e aterrorizada. — Eu não fiz nada, eu juro.

O ômega saiu detrás dos arbustos com as mãos erguidas para cima em sinal de redenção, balançando a cabeça negativamente.

Sentiu o cheirinho de jasmim adentrar suas narinas dilatadas por já ter conseguido sentir levemente o cheiro minutos atrás. Mas agora era diferente, estava mais forte, provavelmente pelo medo. Apesar do escuro, o Uchiha conseguia ver perfeitamente os olhos azuis como o oceano brilhando, o cabelo desgrenhado e o rosto vermelho causado pelo frio na pele sensível.

A camisa suja tinha um rasgão feito pela flecha afiada, Itachi temeu ter machucado o ômega.

— E-Eu só queria p-pegar o coelho q-que fugiu... Eu só...— O rapaz olhava assustado para o moreno, principalmente para a outra mão que segurava mais uma flecha.

Consequentemente, Itachi abaixou o objeto.

— Desculpe, eu não sabia que era um ômega. — Itachi o olhou com atenção, os farrapos de roupas ainda que quisesse negar, não tirava sequer beleza do menino. — O que você está fazendo na floresta tão tarde? Hoje está frio até para os alfas.

Itachi colocou a flecha na mochila que carregava, mas deixando facilmente acessível caso algum animal aparecesse.

— Não tenho casa. — Ele deu de ombros e saiu andando.

O moreno seguiu com o cenho franzido.

— Quantos verões você tem? Onde estão seus pais? — Questionou, preocupado. Embora sua expressão continuava séria. — É perigoso ficar na floresta, principalmente à noite, muitos alfas caçam essas horas ou fogem para cá quando estão no cio.

— Tenho doze e bom, meus pais não podem me ajudar e nem cuidar de mim. — A voz do belo soou triste e baixa, mas ainda assim ele não parou de andar. — Não lembro muito deles, era muito novo quando foram para a guerra e nunca mais voltaram. Eu sei o que vai dizer: "eles já devem estar mortos e que não tem por que esperar", mas eu sinto que eles estão vivos. Só sinto.

— Não diria isso. — respondeu. — Por que não foi para a vila? Lá o pessoal pode lhe acolher.

O garoto olhou para trás sorrindo. O coração do Uchiha quase parou com as batidas fortes, nunca tinha visto um ômega tão lindo como aquele. Ele não lhe temia, talvez por não saber o nome que carregava.

— Eles me odeiam. — Cabisbaixo, o loiro se virou a fim de esconder o rosto novamente triste. — Olhe lá, é um bode! Leve ele como sua presa. — O loiro apontou para o bode e depois encarou Itachi. — Peço desculpas por espantar sua presa, em troca leve o bode.

— E você?

— Eu me viro com os restos de comida. — O alfa não gostava de como soava tão normal comer restos de comidas, provavelmente do povo da aldeia. Seu coração apertava dolorosamente.

Mas quando voltou a si, o rapaz já estava longe. Por tanto, gritou:

— Qual seu nome?

— Naruto.

Naquela noite, o Uchiha seguiu discretamente Naruto até uma tenda minúscula. Ao longe parecia uma caixa por causa da cor marrom da lona, que estava um pouco rasgada. Itachi odiou como Fugaku não ligava para o povoado e nem para a fome que começava a atingir a aldeia, Sasuke com seus dezesseis verões repudiava tanto como o pai cuidava de Konoha.

As pessoas não eram tão felizes já que o líder Uchiha sempre se metia em guerra, levando alfas, ômegas e betas para a batalha. Naruto era uma vítima dessas guerras assim como seus pais, a culpa caiu fortemente em seus ombros.

Tirou da mochila o lanche que Mikoto preparou antes de sair de casa e colocou em frente à barraca de Naruto.

— Meu nome é Itachi.

Disse, alto o suficiente para que o ômega ouvisse e em seguida foi embora.

Dois dias depois o alfa voltou a tenda do ômega. Embora Naruto não estivesse lá no momento, Itachi deixou uma cesta com frutas, bebidas e pães, a fim que pudesse ajudar o loiro. Algumas vezes não conseguia segurar a vontade de ver o sorriso incrivelmente lindo no rosto alheio, ficava horas esperando o ômega voltar para casa de seja lá onde estivesse.

Quando Naruto voltava para a tenda, o ômega segurava a cesta cheia de comida e quase a espremia de tanta felicidade. Um misto de satisfação, como se sua alma fosse lavada por glória e bem-estar. Era bom saber que o menino estava vivo e bem, o alfa estava a todo momento preocupado e com medo de que algum indivíduo o encontrasse.

Passaram-se oito meses e todos os dias Itachi ia ver Naruto. Embora não tivesse contato com ele, apenas de vê-lo saudável e feliz já era o suficiente. E em mais um dos dias reiterativos em que seguia Naruto até que ele estivesse seguro, enquanto andava sem causar barulho — o que era uma tarefa fácil devido aos treinamentos —, tentava criar confiança e falar com o ômega. Não queria assustá-lo, aparecendo de repente como se fosse um obcecado, também não queria que Naruto se sentisse desconfortável com a insistência em dar-lhe comida. O loiro parecia um ômega forte e capaz de conseguir o próprio comer, porém o Uchiha queria ajudá-lo.

Queria ser amigo dele.

Seu primeiro amigo.

Ainda que não fosse o líder da aldeia, proteger aquela criança era o mínimo que podia fazer com o sistema fraco, corrupto e cruel que sua família impôs. Perdido em pensamentos, o alfa sequer percebeu que Naruto finalmente tinha parado e agora olhava diretamente para ele.

As bochechas ficaram levemente rubras, quase impossível de ver. Ele havia sido descoberto e pela feição brava, Itachi esperava o pior.

— Ya! Por que está me seguindo? — dando um passo para trás, o moreno escondeu as mãos no bolso da calça antes de encarar as árvores, desviando o foco no menor.

— Não estava te seguindo.

— Claro que estava! Você sempre faz isso, mas nunca fala comigo. Por quê? — tentando fingir que estava bravo, o Uzumaki cruzou os braços enquanto o batia um dos pés, deixando claro sua irritação. Embora, ele não estivesse nenhum pouco chateado.

Demorou alguns segundos para que o filho do líder percebesse o que fora dito. "Então, Naruto já sabia sobre estar seguindo-o?". Em uma fração de segundos, se perguntou inúmeras vezes como ele havia percebido sua presença, pois se lembrava bem de ser o mais cauteloso possível e de manter uma distância segura.

— Como soube que eu estava te seguindo? Quando percebeu? — ignorou a pergunta que ele o fez pela curiosidade de saber como Naruto, um ômega sem treinamentos e olfato tão sensível quanto de um alfa, conseguiu o que poucas pessoas da aldeia tinham conseguido.

Para Sasuke, era difícil achá-lo ou notar sua presença. Quando brincavam de esconde-esconde, o mais novo dos Uchihas demorava horas para achá-lo.

— Os Uzumaki são sensíveis com cheiros de alfa.

— Uzumaki?

— Hm. O clã Uzumaki foi praticamente dizimado pela família Uchiha anos atrás, mas o meu avô me contou pouco antes de falecer, que nosso clã era tão poderoso quanto os Uchihas e por isso, nos viam como ameaça. Portanto, o líder Uchiha iniciou o massacre contra o Uzumaki, fazendo uma emboscada para o clã e envenenando nosso líder. — O ômega suspirou. — Meus pais lutaram e ajudaram alguns a fugir, mas o clã Uchiha era insistente em querer a morte dos Uzumaki's.

Itachi sentiu como se um raio tivesse o acertado. Seu corpo arrepiou-se por inteiro, a ânsia de vômito foi um chute no estômago. Não conseguia acreditar que o Clã Uchiha era tão asqueroso para chegar a esse ponto; massacrar um clã por ganância. Infelizmente, pelo histórico horroroso que ouvira do povoado de distintos clãs, os Uchihas eram de longe os mais inocentes.

Por consequência, deu alguns passos para trás. Embora não tenha mencionado para Naruto que carregava o nome que lhe causara dor e angústia, também que quase aniquilou o clã. Itachi sentiu as pernas tremer. Pensou em fugir dali o mais rápido possível antes que o menor desse conta que estava diante de um Uchiha.

Era vergonhoso e repugnante a dor que a sua família causava e como seu pai conduzia a aldeia.

— Nunca vi um Uchiha de perto, eles parecem arrogantes. — Ele mordeu o lábio antes de deixar um sorriso bonito iluminar os olhos do alfa. Naruto não merecia todo o sofrimento que passou, muito menos o clã a qual pertencia. — Você, por outro lado, foi legal comigo.

— ...

Se alguém o visse agora, no estado em que estava, jamais diriam que ele era um alfa. E um Uchiha também.

Um alfa com medo de um ômega. Com medo não, apavorado.

As mãos do mais velho tremiam desesperadamente no bolso da calça, suavam como uma cachoeira. Embora estivesse pronto para ouvir xingamentos e acusações, percebeu como Naruto estava ridiculamente calmo. Notou segundos depois, quando seu corpo relaxou, que não havia odor de medo — além do dele. O jovem loiro não o temia quando se aproximou sem receio, mas com audácia.

Enquanto rodeava o alfa, Naruto olhava atentamente para ele como se além da curiosidade, procurasse algum defeito. De repente, ele inflou as bochechas indignado com seja lá o quê.

— Hmmm, não é como eu imaginava. — Ele disse chateado, antes de voltar ao rumo da própria cabana.

Seguiu o baixinho, dessa vez, sem medo.

— Você vai ficar bem? — Naruto encarou-lhe com o cenho franzido. — Vou para caçada em breve, não poderei trazer comida e roupas quentes.

— Agradeço por tudo que tem feito, Itachi, mas eu sei me cuidar.

— Devia ir comprar comida na aldeia, trouxe dinheiro suficiente para um mês inteiro. Antes da caçada, vá até a loja da vovó Choye e compre o necessário para se manter no inverno.

O loiro negou com uma expressão estranha no rosto, parecia medo.

— Não irei!

— Se você não for vai morrer de fome ou de frio. Essa cabana não tem proteção e não é estruturada o suficiente para deixá-lo aquecido. — argumentou. — Não poderei te ajudar, meu pai irá me forçar a treinar antes da caçada.

— Já disse para não se preocupar comigo! Eu sei que está tentando me ajudar pelo o que sua família fez com a minha, mas não quero que tenha pena de mim. Me virei todo esse tempo, vou saber me cuidar.

Para Naruto, o sentimento de que estava incomodando o rapaz aflorava cada vez mais. Itachi fazia o impossível para ajudá-lo e o loiro agradecia muito, mas se a família dele descobrisse sobre um Uzumaki nas terras alheias, com toda certeza o fim dele seria miserável.

Seria melhor e mais fácil se cortasse os laços.

[...]

Não gostava da sensação de afastamento que sentiu quando Naruto negou a sua ajuda. Ficara chateado, mas deu espaço para que o ômega pensasse um pouco.

Tinha que agir com cautela quando se tratava do Uzumaki, tinha medo de machucá-lo ou que alguém descobrisse a existência dele. A única pessoa em quem podia confiar era Sasuke, pois o irmão mais novo apesar de jovem era inteligente o suficiente para odiar como o pai conduzia a aldeia.

Embora o dono dos olhos azuis quisesse distância, a preocupação não o fez descansar desde que voltou para casa. Casa... Tinha uma residência para se manter aquecido, tinha comida e trajes quentes. Enquanto o outro vivia naquela situação deplorável. Na verdade, algumas pessoas da aldeia viviam em circunstâncias como aquela, mas felizmente era dentro da área movimentada pelos guardas que patrulhavam entre as ruas trazendo mais segurança para todos, principalmente para os sem tetos.

Por outro lado, a floresta não era uma opção de proteção, mas era vista como preocupante. A área obscura era somente frequentada por alfas para treinar ou no momento de calor, estar naquela parte era estar vulnerável a ataque de terceiros. Em tempos de caçada, o patrulhamento diminuía quase que drasticamente já que os alfas se empenharam em buscar pele para os ômegas.

Conforme os dias foram passando, o filho do líder esteve "focado" em suas atividades. O treinamento diário era como uma lei, acordar cedo para fazer exercícios para obter os resultados perfeitos e ter êxito em trazer uma pele de qualidade. Enquanto corria atrás de um coelho como treinamento, se assustou quando viu a figura do irmão mais novo se aproximando.

— O que faz aqui, Sasuke? Você não devia estar no treinamento infantil?

O menor bufou, irritado.

— Treinei a noite e o dia inteiro, minhas pernas doem. — Sasuke reclamou antes de se sentar na grama. — Papai disse que tenho que aprender a caçar o mais rápido possível, me disse para procurar um modo de ficar mais forte.

Irritado, o mais velho franziu o cenho. Odiava a forma que seu pai os tratava, não eram como filhos e sim como soldados. Não era de agora que esse incômodo o perturbava, mas ver o pai falhando e fazendo o mesmo que fez consigo era cruel; já não bastava o fardo de que em breve teriam que liderar uma aldeia. O tratamento ríspido acumulava uma súbita vontade de fugir, de ser livre.

Encarou o irmão enquanto ele se deitava e descansava confortavelmente no chão, nítido do quão estava sugado pela pressão familiar.

Talvez uma amizade com um ômega arisco trouxesse a Sasuke um alívio longe dos jovens que se aproximavam apenas por interesse.

— Hoje a noite você vai caçar.

O caçula arregalou os olhos, surpreso.

— Onde vamos?

— Você vai. Quero saber se posso confiar em você ao fazer uma coisa para mim, se você é realmente capaz de proteger alguém.

Se ele não pudesse proteger Naruto enquanto estava fora, ele confiaria a Sasuke essa tarefa. Confiava no irmão, mas precisava testar sua valentia e até onde estava disposto a ir.

(...)

Quando a escuridão tomou conta do céu, trazendo a noite fria porém embelezada pelas estrelas, o caçula dos Uchihas já se encontrava trajado com roupas quentes e eficientes para caça. Uma capa preta cobria as roupas, assim como seu capuz também dificultava a qualquer pessoa de tentar saber sua identidade, embora o cheiro de alfa o denunciasse.

No quarto ao lado, Itachi já estava preparado. Seu plano era deixar o irmão na entrada da floresta e fingir que foi embora, segui-lo de longe para que ele não soubesse seu paradeiro. O resto seria com Sasuke. O caminho o levaria até Naruto e dali em diante ele quem devia escolher entre proteger ou condenar a pessoa ferida pela linhagem Uchiha.

Quando a porta do quarto do caçula bateu, o prodígio sabia que ele estava pronto. Ambos saíram de fininho para que o chefe da casa não soubesse da fuga, embora uma pessoa já soubesse.

— Você vai me dizer onde vamos ou isso é segredo também? Por que tem que ser escondido do papai? É um treinamento, afinal.

— Não é só um treinamento, Sasuke. — sussurrou, guiando o irmão para a rua deserta. — Você já deve ter percebido a mudança do nosso pai com a chegada da caçada. Ele tem nos pressionado para sermos os melhores, para que a aldeia veja os filhos do líder como sucessores sem defeitos para a liderança. Você pode não saber, mas nossa família varreu muita coisa para debaixo dos tapetes; não se importaram se estavam ou não machucando pessoas inocentes. Espero poder reverter essa situação. Eles não merecem tanto sofrimento gratuito, muito menos... — Nesse momento, o rosto de Itachi se tornou mais rígido, mesmo que tenha sido coberto pelo capuz. — Eu quero proteger uma pessoa vítima do nosso pai.

— Você tem razão e eu acredito! Quando nosso pai voltou da guerra anos atrás, lembro-me vagamente de uma criança chorando na entrada da aldeia. Apesar de anos terem se passado, não consigo tirar da cabeça. — Sasuke era muito novo quando um garoto, provavelmente mais novo que ele, chorava desesperadamente chamando pelos pais. Não lembrava do que aconteceu em seguida, era muito novinho na época, mas ainda assim era tão doloroso quanto. — É possível que ele tenha matado os pais dele?

O Uchiha mais velho se manteve calado por um tempo, mas não tinha dúvidas que era bem capaz do pai ter feito uma barbaridade dessas. O clã Uzumaki era a prova da crueldade da realeza Uchiha, Itachi não esperava bondade de um homem como seu pai.

— É possível.

O silêncio entre os irmãos caiu. Ambos se mantiveram calados até avistarem a floresta, pois não precisavam confirmar o que era nítido. Embora Sasuke já soubesse das ações negativas de Fugaku, ele não podia fazer muito no momento. Por isso, o desejo de seguir os passos de Itachi era importante para se tornar mais forte e no futuro ser alguém diferente do seu pai.

Quanto mais avançavam para a floresta, o moreno mais novo sentia-se cada vez mais ansioso, mas não menos confiante. O frio parecia se tornar mais forte e gélido conforme o breu da mata passava a acolhê-los. Um movimento vindo de dentro da área escura fez o rapaz parar quase que imediatamente, segundos depois novamente aconteceu, mas dessa vez os olhos atentos conseguiram captar uma sombra de pé em um galho. Quando Sasuke se preparou para avançar, Itachi tocou seu ombro.

— Ele não é sua presa. — sussurrou. Um rapaz pulou do galho e parou na entrada da floresta, como se estivesse os desafiando. — Shisui.

Shisui? O Uchiha mais novo percebeu o carinho escondido atrás das palavras frias. Se lembrava de ouvir seu irmão chamando esse nome enquanto dormia, embora não soubesse qual a ligação deles, mas Itachi nutria um sentimento caloroso pelo rapaz.

— Precisava ver você, Itachi. — falou calmo, os passos tão lentos quanto a voz aveludada e cuidadosa. Quando finalmente a figura expôs-se sob a pouca luz do último poste da rua, Sasuke se surpreendeu com o jovem à sua frente. Ele tinha quase a mesma altura de Itachi, os olhos vermelhos de alfa e o odor dominante incrivelmente forte.

O filho mais velho do líder suspirou.

— Vá na frente, Sasuke. Não se esqueça, traga uma presa muito boa e assim não precisaremos ouvir nosso pai furioso. — Em parte isso era verdade, mas por outro lado queria ganhar mais tempo com Shisui.

— Tem certeza? — questionou, olhando para ambos alfas.

Sasuke não estava preocupado. Apesar de novo, sabia bem distinguir os cheiros traiçoeiros, porém a essência de Shisui era agradável e sem malícia. Confiança pura.

— Hm. Encontro você pela manhã.

O menino fez uma careta, emburrado quando notou que seu irmão não acreditava que pegaria a presa tão rápido. Deixou-os para trás, não antes de olhar chateado para o sucessor do líder.

Apesar de não transparecer facilmente, o prodígio estava muito orgulhoso do irmão mais novo. Em breve Uchiha Sasuke se tornaria um homem honrado e digno do posto de líder.

— Achei que não fossemos nos ver antes da caçada...

O peito do alfa estufou, preenchendo de ar para depois murchar conforme suspirava apaixonado. Itachi era um homem completamente bobo quando se trava de Shisui, não importa se eram alfas e que o romance entre eles era proibido. Realmente não importa. Shisui estava certo em pensar que era possível que não se vissem antes da caçada, pois Fugaku pressionou o filho para treinar que pouco tinha tempo, e o que restava, Naruto ocupava.

— Eu daria um jeito, sabe disso. — soou firme, mas no fundo tinha medo.

Medo de estar fazendo Shisui perder tempo com ele. O medo de Fugaku descobrir e o pior acontecer com o amante, e mesmo que custasse sua vida, protegeria Shisui. Estava disposto a lutar pela felicidade ao lado do namorado. E como se soubesse o que estava pensando, o outro alfa pegou a sua mão, entrelaçando os dedos em seguida.

— Eu sei... Você sabe que precisamos conversar, sim?

Itachi assentiu.

Ainda que a obscuridade não fosse de fato um incômodo para alfas, as ruas solitárias se enchiam de graça com o casal que caminhava entre elas cautelosamente. As mãos entrelaçadas sendo presenteadas pela resta das mãos unidas; aquilo arrancou um sorriso breve e aprazível do filho do líder. Shisui se aproximou sorrateiramente, quase se aconchegando no rapaz. Um misto de timidez e vergonha o fez querer se afastar ao que ao mesmo tempo queria beijá-lo ali mesmo.

Caminhavam para um lugar tão bem conhecido por eles, a cabana era afastada das demais e construída atrás de rochas grandes para que pudesse acobertar o casal da aldeia. Ninguém ousara falar nada, se bem que não precisavam. Sentir sua presença já era o suficiente para ele. O silêncio também não era um incômodo; na verdade, era agradável.

Quanto mais se afastavam da área povoada, mais se aproximavam da residência, e era impossível não sentir um frio na barriga. Atravessaram sorrateiramente as rochas perigosas, soltando as mãos no processo. Quando Itachi alcançou a porta, ele olhou para trás e depois para os lados antes que pudesse abri-la. Shisui seguiu o namorado entrando na casa, trancou a porta em seguida, ainda que a mesma não fosse forte o suficiente para impedir um alfa caso a forçasse.

O sucessor da liderança tirou a capa, deixando-a sobre o sofá velho e relaxando o corpo ao que se sentou. Consequentemente, seu corpo se tornou mais leve e só então percebeu como precisava daquilo. Esteve tenso nos últimos meses, e com a caçada tão próxima, relaxar não era uma opção.

— Por onde esteve? — Itachi indagou, referindo-se aos meses sem ver o amado.

— Estive em lugares que você nem imagina que existem, e se soubesse, tudo na sua vida iria mudar. — Após abandonar a capa em algum lugar da sala, Shisui se aproximou do parceiro, sentando-se rente a ele. — Você sempre esteve certo sobre o seu pai. As mentiras, as falsas promessas de proteção para com seu povo. Itachi, é tudo mentira.

O moreno franziu o cenho, confuso. Não duvidava do namorado, mas estava receoso com o que vinha a seguir.

— Do que está falando?

— Lembra de quando conversamos sobre a liderança do seu pai e o quanto ela é um tanto... suspeita? — O outro rapaz acenou. Claro que ele lembrava, exatamente há um ano, quando as dúvidas sobre Fugaku ficaram terrivelmente mais fortes. Ambos alfas ouviram histórias aqui e ali de soldados sobre um clã que fora massacrado. Todavia, ninguém ousara tocar no nome do clã. — Um dos guardas me contou sobre um dia tenebroso em Konoha, o dia que o clã foi enganado e sangue foi derramado; sangue de inocentes. De primeira, não acreditei na conversa de um soldado bêbado querendo colocar medo nos novatos, mas essa não foi a primeira vez que ouvi sobre. A senhora Chiyo, eu pedi para que ela me contasse essa história e ela só disse que, para encontrar a resposta, eu precisava sair da aldeia.

— Você não pode está falando sério! — Itachi o segurou pelos ombros, procurando indícios de que ele tinha se ferido. — Sabe quantos inimigos temos lá fora?

— E é justamente sobre isso, Ita. Não é sobre eles nos odiarem, é sobre o que os Uchihas fizeram com os outros clãs. — A viagem de longos meses serviu para abrir os olhos sobre o próprio clã. O que vira era muito além do ódio. Viu pessoas sofrendo pelo o que o império de Fugaku e o pai dele fizeram com quem ousou negar qualquer coisa para eles. — Você sabe o motivo de Konoha ter pessoas de diferentes clãs?

Como um relâmpago, o alfa se lembrou da mãe contando histórias para ele antes de dormir, e uma delas era sobre como Fugaku resgatou um grupo de pessoas de distintos clãs, incluindo eles em Konoha, como se fossem família.

Como se fossem Uchihas.

— Meu pai resgatou um pessoal, você sabe. Eles agora residem em Konoha como nossa família. — disse, como se fosse óbvio. Era o que todos sabiam, afinal de contas. Se havia outra, infelizmente ele desconhecia.

— Eles mentiram para você, ela mentiu. Sua mãe sabe sobre as pessoas que estão lá fora e a situação em que se encontram, não foi fácil encarar a verdade nua e crua. — De repente, a imagem carregada de tristeza apareceu em sua cabeça, fazendo-o recordar da angústia que sentiu. — Os Uchihas conspiraram contra o clã Uzumaki, aniquilando-os quando sentiram que eram uma ameaça. Eles eram inteligentes o suficiente para não confiar na nossa linhagem, tinham ômegas e betas fortes. A líder deles, Kushina Uzumaki, além de comandar o clã, também era uma guerreira formidável. Ela conseguia fazer encantamentos para lá de fortes, fora isso, conseguia domar a raposa que todos os clãs tinham dificuldade em conter.

Há muito tempo, o próprio Fugaku já tinha mencionado sobre uma guerreira, mas as descrições eram muito diferentes. A líder era sanguinária, tentava as outras lideranças em busca de poder. O clã Uchiha foi o único a conseguir deter a mulher destemida.

O filho do líder apoiou os cotovelos nos joelhos enquanto enterrava o rosto nas mãos, suando frio.

— Quando seu pai soube sobre a força esplêndida do clã Uzumaki e que a mestre era uma ômega, ele tomou a decisão de excluir a aldeia deles e tudo relacionado ao mesmo. Embora isso não tenha abalado de fato a Kushina e seus seguidores. Na verdade, isso fez com os clãs formassem uma aliança com outro clã, abandonando o império de Fugaku. — Shisui suspirou, logo em seguida se levantou, caminhando de um lado para o outro enquanto voltava a explicar a história. — Isso não pegou bem para os Uchihas, que na época tinham uma linhagem enorme de alfas, contendo também um número maior de lúpus comparado aos outros clãs. Isso fazia os outros temerem. Seu avô e seu pai lideraram uma guerra contra o clã raposa, porém tiveram cidadãos que se recusaram a fazer isso. Esse grupo, que rejeitou a ordem do patriarca, foi banido de Konoha e jogado para fora dos muros da aldeia.

Para o sucessor da liderança, as informações eram como bombas explodindo cada momento feliz preso em uma bolha frágil. As memórias do seu pai sorrindo e contando histórias em ocasiões específicas não faziam sentido.

As histórias talvez fossem verdadeiras, mas distorcidas. Estava começando a ficar difícil saber no que realmente acreditar.

— Você tem certeza disso? — Não esperava mentiras de Shisui, conseguiu sentir verdade nas palavras dele. Mas era algo tão... surreal. O namorado balançou a cabeça confirmando. — O que aconteceu com as pessoas banidas?

— Foram aniquiladas pelo atual líder.

Dessa vez, Itachi olhou espantado para o outro. Aquilo não surpreendeu Shisui, pois já teve a oportunidade de presenciar outras expressões do rapaz, mas aquela parecia miseravelmente quebrada.

— Foi na época que seu avô faleceu, no seu leito de morte pediu para que o líder achasse os traidores e matasse todos. E assim seu pai fez. Ele passou meses para achar o esconderijo do grupo exilado, e para aumentar a fúria de um filho que perdeu um pai e braço direito, descobriu que o clã Uzumaki ofereceu ajuda a eles e cedeu um pedaço de terra ao monte perto do clã do deserto.

De fato, o clã da raposa era muito gentil. Foram traídos pelos Uchihas e sentenciados à morte, mas ainda assim, ajudaram os refugiados.

— Os soldados mataram todos, porém os poucos que conseguiram fugir foram achados em uma vila da aldeia do vento, liderado pelo clã Byakugan. Mas pelo o que sei, houve um sobrevivente naquele dia sangrento, o filho do líder daquele pequeno grupo. O nome dele é Uchiha Madara.

[...]

O breu demorou para dar lugar a luz. Naquele dia, ventos fortes atravessavam Konoha, como se dissessem que novos tempos viriam, mas sabe-se-lá se eram bons ou ruins.

Os olhos de Itachi estavam fundos, revelando a noite mal dormida. Infelizmente, os pesadelos insistentes fizeram com que passasse boa parte da noite acordado, velando o sono de Shisui, que parecia tão cansado quanto. A conversa se estendeu por mais de três horas, tantas informações o deixaram tonto, porém ainda não eram o bastante para fazer a ficha cair.

Necessitava ver com os próprios olhos.

O amante também contara sobre os riscos que sofreu quando foi infectado por uma planta quando tentava atravessar o rio que dava caminho para o clã Uzumaki. Em seguida, alguém o levou para uma espécie de cabana onde ficou por quase uma semana em uma cama velha. Isso fez com que seu coração parasse por um momento, porque esteve a ponto de perder Shisui mas nem mesmo saberia se isso viesse a acontecer.

Ainda sonolento, ele disse:

"— Sabia que a guerreira Kushina teve um filho? — O moreno murmurou para que o namorado continuasse. — Ela teve um filho ômega antes de ser mandada para uma guerra falsa juntamente com o marido. E você não vai acreditar, — riu no tempo que tentava manter os olhos abertos. — O filho deles é o ômega que você encontrou na floresta."

Não sabia como ele havia descoberto sobre Naruto, mas o alfa era mestre em se esgueirar pelos cantos sem que ninguém percebesse sua presença. Shisui era mais forte, mais veloz e mais inteligente que si, se ele o seguiu pela floresta quando esteve com o loiro ômega, ele fez de forma cautelosa. Provavelmente também cobriu o cheiro e evitou emoções intensas, fazendo com o bálsamo fosse impossível de farejar.

Um pensamento rápido acendeu a mente confusa... Shisui estava lhe testando?

Era uma possibilidade já que ele sabia dos pecados de Fugaku. De acordo com o que ouviu, era um crime explícito. Pela sinceridade nas palavras, o alfa não pretendia fazer algo mal para o ômega, pelo contrário, talvez ele estivesse ali para protegê-lo.

Naruto é um Uzumaki, mas não esperava que ele fosse filho da líder Kushina. Uma surpresa, no entanto, era um risco mantê-lo no mesmo lugar que o homem que assassinou sua família. Se Fugaku varreu para debaixo dos panos os crimes e enterrou o assunto sendo silenciado com a aniquilação dos Uzumakis, o que ele faria quando descobrisse que nas suas terras habita o que ele mais abomina?

Ainda era cedo quando Itachi e Shisui vestiram o casaco; saíram da casa quando decidiram ir ao encontro de Sasuke. Depois da noite e dos conhecimentos, tão pouco a fome se fazia presente. Itachi não tinha comido quase nada antes de sair com o irmão, mas queria convidar Shisui para comerem juntos em uma barraca qualquer, porque não lembrava quando foi a última vez que fizeram isso. Por alguma razão, os encontros eram quase que péssimos. O tópico vez ou outra era sobre eles, muitas vezes quando se sentavam no sofá ou deitavam na cama, reclamavam de várias comos.

Portanto, lhe doía pensar que algo entre eles estava morrendo, e o diálogo era uma delas.

— Combinei de encontrar o Sasuke na entrada da floresta, mas vou dar uma olhada neles antes. — comentou.

— Está preocupado com Sasuke ou com o ômega?

— Os dois.

O moreno assentiu.

— Apesar da pouca idade, seu irmão é bastante forte. Tenho certeza que ele cuidou do Uzumaki, embora o ômega seja difícil de lidar. — Quando Itachi ouviu a risada debochada do parceiro, bufou irritado e em seguida o deixou para trás. — Ei, não fique bravo! Você que não conseguiu lidar com um ômega, ficou até sem palavras quando ele disse que não tinha ficado perto de um Uchiha.

— Tsk. Você é um idiota.

Voltaram para o lugar onde Naruto e Sasuke estavam. Ambos alfas foram pela floresta, tomando cuidado para não esbarrar com algum soldado da fronteira. Os galhos chacoalharam quando os pés tocaram a madeira, logo depois empurraram para melhor o impulso e pousaram no próximo galho. Aos poucos foram se aproximando do local. Pela velocidade, os pés quase não tocavam a madeira, fazendo o barulho diminuir e o odor ser esquecido pelo vento.

Shisui foi o primeiro a avistar a pequena tenda de Naruto, um sorriso escapou dos seus lábios ao ver a cena icônica. Logo atrás de si, o namorado também não pôde deixar de sorrir. Quando parou de pé no galho da árvore, Itachi observou o irmão mais novo dormindo na frente da tenda do ômega. A cena não parecia nada demais para quem visse de longe, ao forçar a visão, podia enxergar-se Uchiha sentado em uma posição desconfortável enquanto uma das mãos estava para dentro da cabana, curiosamente entrelaçada com a do loiro.

Naruto dormia com a bochecha sobre as mãos grudadas, a boca entreaberta e o cabelo bagunçado com algumas folhas enfeitando o cabelo. Ele não parecia incomodado com o fato de um Uchiha estar tão perto, assim como também não ficou quando conheceu Itachi.

Um pouco distante deles, o animal caído chamou a atenção do casal. O boi não estava morto, mas estava deitado próximo a tenda, preso com uma corda folgada. O boi podia sair a qualquer momento ou se libertar da corda, pois a mesma não estava nem sequer amarrada na árvore. Seja lá como foi que eles conseguiram manter o boi quieto ali, Itachi já estava orgulhoso.

Guardou bem essas imagens na memória, felizmente seria difícil esquecê-las. A jornada a seguir faria com que ele estivesse longe de Konoha por muito tempo, quebrando a promessa que fez para si: proteger Naruto e Sasuke.

Esperava que o ômega lhe perdoasse futuramente e que Sasuke pudesse cumprir a promessa que ele não pôde.


*

Anos depois e sem vergonha na cara, oi pessoal

primeiro gostaria de deixar algumas explicações (um meio spoiler?);

0.1:  Nesse capítulo tentei passar uma pequena parte do passado dos personagens. Não tem romance, incluse sobre o itachi. Lembrando que o sasuke tem uma ideia distorcida sobre o naruto e itachi, então a maneira como ele pensa e o que realmente aconteceu são bem distintas.

1: Os ômegas do clã uzumaki's são diferentes de outros, mas isso vou deixar para que possam entender pela história. Por isso que o sasuke, itachi e outro personagens de clãs diferentes vão falar sobre. 

2:  não confie muito nos personagens. Principalmente a forma como eles pensam nas coisas, nem tudo é o que eles pensam e conforme os capítulos for passando, tudo vai entrar nos eixos.

Capítulo betado por @ustuckwithme te amo parabatai 💗🛐

espero que tenham gostado, um beijo 😘
até o próximo capítulo bbs ❤️


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