Aquele dos imãs e a tempestade

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Ainda me sentindo tonto e ofegante pelo beijo inesperado, eu levantei da cama com um sorriso sem graça estampado no rosto e fui até Somin para ajudá-la com a bandeja que estava repleta de comida. Coloquei-a em cima da escrivaninha junto com a bolsa de gelo que estava ali para tratar do machucado de Jungkook.

- E-eu vou tomar banho. - Disse, sem conseguir olhar diretamente para nenhum dos dois.

Segui em direção ao banheiro e ainda consegui escutar um pedido de desculpas vindo de Somin antes de fechar a porta completamente.

"Não vá por esse caminho, Park Jimin.", era o que meu consciente gritava e mesmo sem perceber, acabei sussurrando essas palavras que se repertiam dezenas de vezes na minha cabeça.

Eu vim aqui à trabalho, ou seja, tudo o que estamos fazendo aqui não passa de mais uma das tarefas que ele me dava, e eu não deveria confundir as coisas, nós dois não deveríamos. Não é?

Mas o que realmente me perturbava era o fato de que eu beijei meu chefe e gostei!

A música da Kate Perry nunca fez tanto sentido quanto agora! Tirando o fato de que ele não é uma garota.

Se me perguntassem o que se passa na minha cabeça nesse exato momento seria: a sua pegada, a sua boca, o seu gosto, a sua mão na minha cintura, na minha nuca...

Céus, Jimin... Foco, homem!

[...]

Um silêncio constrangedor prevaleceu no quarto desde que saí do banho, o relógio marcava 23:45pm e Jungkook tinha se enfiado no notebook desde o acontecimento horas atrás. Ele estava sentado no sofá, provavelmente achando que me enganaria em fingir estar fazendo algo relacionado ao trabalho, mas eu sou seu secretário, nada chegava a ele antes de passar por mim, tanto que, antes de virmos para cá me certifiquei e aprontei tudo para não haver nada interrompendo-o em seu tempo livre.

Então cheguei a conclusão de que ele estava, sim, me ignorando.

Depois que terminei de jantar, ainda no quarto, segui até a varanda pequena e permaneci ali, sentindo o vento forte bagunçar meus cabelos e torcendo para que ele levasse todos os pensamentos intrusivos que invadiam minha mente.

Tentava esquecer o ocorrido, mas era mais forte que eu. Quando fechei os olhos revivi mais uma vez o selar dos seus lábios nos meus, sua respiração se misturando com a minha, seu toque firme, tudo somado, resultando no melhor beijo da minha vida. Balançando a cabeça, eu amaldiçoei novamente minha mente imprópria.

Disfarçadamente, eu coloquei minha cabeça para dentro do quarto, só para constatar que nada mudou, Jungkook continuava a digitar no computador em seu colo.

Impassível, sério, sem nenhuma expressão, nenhum sentimento em relação ao o que aconteceu aqui. Meu chefe é um poço de serenidade e nesse exato momento isso me incomoda.

Enquanto eu estava surtando, tentando não pensar no melhor beijo da minha vida, meu chefe estava parecendo um peixe morto de tão inexpressivel.

Porque enquanto eu era um turbilhão de sentimentos e pensamentos inapropriados, ele era exatamente o oposto.

- Tenho uma teoria para o que aconteceu entre nós dois. - Invadi o quarto olhando-o, observando ele parar de trabalhar os dedos e me olhar sob os cílios. - A minha culpa - Confuso, Jungkook ergueu uma das sobrancelhas quando concluí. - É, eu te machuquei e, reforçando, foi sem querer, mas machuquei... e me senti culpado..

- Está dizendo que me atacou por pena? - Se arrumou no estofado quando perguntou.

- Não... - Respondi imediatamente. - O que quer dizer com "atacou"? - Indaguei, ultrajado, aumentando minha voz em algumas oitavas. - Eu não ataquei o senhor, foi apenas uma coisa do momento, foi como dois imãs, estávamos perto demais, pareceu certo naquele momento e BOOM, aconteceu. Foi isso o que eu quis dizer. - Tentei explicar, ainda inconformado com o fato dele achar que eu o ataquei.

- Dois imãs? - Ele disse irônico, ainda me olhando.

- Sim.

- Isso é ridículo, Jimin, foi um beijo, eu senti vontade, você também e aconteceu. Não existe essa coisa de imãs. - Disse, presunçoso.

- Ah, então quer dizer que o senhor sentiu vontade de me beijar? - Perguntei, levantando a
sobrancelha e satisfeito com o que ouvi.

- Não foi exatamente isso que eu quis dizer...

- Mentiroso. O senhor realmente me acha atraente, não é? - Cruzei os braços, convencido. Vi ele fechar a cara e me direcionar o seu famoso olhar que já conhecemos. - Eu posso denunciá-lo por assédio sexual.

Naquele momento, o clima constrangedor de antes já não se fazia presente, dando espaço para um ar mais leve.

- Assédio? - Ele perguntou, com sua expressão numa mistura de confusão e espanto. - Que eu me lembre foi você que me beijou primeiro. - Acusou, e eu fiquei vermelho ao lembrar do beijo, ele não estava errado.

- Foram eletricidades invisíveis e magnéticas que saíram de nossos corpos, como imãs. - Inventei, sem olhá-lo nos olhos e ainda com as bochechas avermelhadas, tentando desconversar e fugir da culpa que eu sabia que era minha.

E então aconteceu.

Fazia um pouco mais de dois anos que trabalhava para Jungkook e essa era a primeira vez que eu o via sorrir abertamente. Sem atuação para tentar confortar ou tranquilizar seus parentes, sem ironia. Naquele momento eu via Jeon Jungkook como ele realmente era: uma pessoa com uma essência pura e límpida; um âmago majestoso, quase celestial.

Eu tinha certeza, que em toda a minha vida, nunca tinha presenciado algo tão lindo e genuíno como aquele sorriso. Ele, que era perfeito, mas estava escondido por trás daquela máscara de mágoas e ressentimentos.

Apesar de eu sempre frisar seus defeitos, Jungkook era um homem de muitas qualidades, mas dentre os seus atributos, o seu sorriso estava à frente de todos, nada se comparava àquilo.

Me senti como ícaro fascinado pelo sol, Van Gogh admirado por seus girassóis, e como Moana enfeitiçada pelo mar.

Eu o olhava com um sorriso de lado sem nem perceber, inconsciente de tudo o que acontecia ao meu redor, só para focar nele e no seu espetáculo, que era particular, só para mim.

Acho que nunca presenciei algo tão lindo na minha vida. Meu chefe sorria instantaneamente e eu acompanhei tudo, admirado.

Mas como todas as coisas boas da minha vida antecedem algo ruim, um trovão estrondoso cortou o céu, fazendo-me soltar um grito fino quase que instantemente e pular na cama, assustado, abraçando minhas pernas e protegendo meus ouvidos de qualquer barulho que viesse após àquele.

Em seguida o som da chuva caindo forte lá fora foi ouvido. O segundo estampido machucou meus tímpanos mesmo com a barreira que minha palma fazia sobre ele. A consequência do barulho foi a luz acabando e o quarto se tornando em um mar de escuridão.

Em estado de choque, era exatamente assim que eu me encontrava, incapaz de me mover, incapaz de pensar por conta própria.

- Jimin? - Ouvi a voz de Jungkook distante mesmo estando perto, as batidas do meu coração altas foram o suficiente para abafar o seu timbre.

Independente dos meus olhos fechados, uma claridade excessiva ultrapassou minhas pálpebras, só então me permiti abrir os olhos, vendo Jungkook curvado sobre mim ao meu lado, com a lanterna do celular acesa em minha direção.

- Jimin, o que foi? - Tentei falar, eu juro que tentei, mas tudo o que saía eram ofegos de angústia.

As lembranças perturbadoras.

Vozes se misturando como e água e óleo, semelhante a várias músicas de diferente gêneros tocando ao mesmo tempo em um mesmo lugar.

Minha mente me confundindo sobre o que era realidade ou não.

...

- Essa chuva é um saco! - Papai falou, impaciente, enquanto dirigia com atenção na pista, uma chuva muito intensa caía lá fora.

Busan sempre foi uma cidade chuvosa, mas meus pais, prezando por nossa segurança, evitavam sair com o carro durante tempestades vigorosas como aquela, porém dessa vez era uma ocasião especial. Estávamos na estrada a caminho da formatura de meu hyung, meu único irmão. Como se não bastasse o orgulho que nos dava por ser um homem maravilhoso, ele também estava se formando na universidade, no curso de administração.

No banco de trás eu estava fervendo de felicidade, animado por vê-lo realizar seu grande sonho. Logo, logo seria eu, são apenas dois anos até me formar no ensino médio, até lá tomarei minha decisão de que papel exercerei no mundo. A única parte ruim de tudo, é o fato do meu irmão ir embora para capital, Seul, devido o seu trabalho em uma famosa corporação.

- Querido, vá devagar. A chuva deixa a estrada molhada, é perigoso. - Mamãe falou, preocupada, ela estava inquieta desde que saímos de casa.

- Não se preocupe com isso, ainda está para nascer um motorista melhor do que eu. - Abri um sorriso bobo ao ouvir meu pai se gabar, amenizando o clima tenso. - Estou carregando ouro, atenção redobrada.

- Não seja brega. - A mais velha disse, sorrindo abobalhada enquanto olhava para o papai. Ew.

- Estou falando apenas a verdade. - Ele deu de ombros, com a mãos no volante. - E você, meu pequeno? Está calado demais, você costuma falar tanto. - Brincou, me olhando pelo retrovisor.

- Não é nada, papai. Só estou pensando no hyung, ele está se formando, então não vai demorar para se mudar e ir trabalhar naquela empresa idiota. - Reclamei, fazendo bico sem nem perceber.

Não sabia se sobreviveria sem o hyung, ele sempre estava comigo, me ajudando, me aconselhando, me fazendo companhia e nunca deixava eu me menosprezar, não importava o motivo. Eu não o amava apenas pelo que fazia por mim, mas também pelo seu ser, além de ser meu porto seguro e relembrar-me o quão importante eu sou para o mundo. Eu não o quero longe, mas sei que ele está seguindo seu caminho, e vê-lo feliz também me deixa feliz.

- Não é uma empresa idiota, Jimin, é o sonho do seu irmão trabalhar na Jeon's Enterprise. - Mamãe falava tudo o que eu já sabia, mas estar ciente daquilo não impedia que eu me sentisse frustrado. - Além do mais, você vai ter um lugar legal para passar as férias. Hyuna disse que adoraria tê-lo lá nas suas férias de verão.

Hyuna e meu irmão estavam juntos há cerca de 4 anos, os dois estavam embarcando juntos nessa, ela porque ia ingressar na faculdade de moda e ele porque ganhou a tão sonhada vaga. Ver duas pessoas que amo apenas nas férias seria um droga, mas era alguma coisa.

- Fora que se seu irmão ficar muito rico, vamos poder viver as custas dele. - Papai brincou, arrancando uma risada de todos nós antes de levar um tapa fraquinho da mamãe.

- Aí, eu concordo papai, vamos arrancar dinheiro do hyung. - Entrei na brincadeira.

- Vocês são dois interesseiros. - Mamãe disse, ainda entre risadas.

- Interesseiros não, como que eu digo, filho?

- Apenas aproveitamos a oportunidade. - Repeti a frase que meu pai disse tantas vezes, vendo seus lábios se moverem com os meus, mas sem sair nenhum som.

Ele sorriu, orgulhoso. Mamãe apenas balançava a cabeça de um lado para o outro, sem deixar de sorrir.

Então meu celular vibrou em minha perna, exibindo o nome grande "meu hyung" na tela.

- Oi, maninho. - Atendi, animado.

- Oi, onde vocês estão? - Sua voz pelo telefone parecia preocupada.

- Estamos na estrada a caminho daí. Por que? - Vi mamãe me olhar, prestando atenção na conversa.

- Por nada, docinho. - Algo como uma ventania soou e eu entendi que ele tinha suspirado. - Pode passar para mamãe? Preciso fala com ela. - Pediu, carinhoso.

- Ok, mas só porque você me chamou de docinho. - Ele riu. - Manda um beijo para Hyuna, a gente se vê daqui a pouco.

- Ok, docinho, te amo. Agora passe para a mamãe.

- Te amo também. - Sorri, logo esticando o celular para que mamãe o alcançasse.

- Oi, querido. - Ela disse, animada. - Amor, ele está mandando um beijo e um "oi". - Tirou brevemente o celular da orelha para transmitir a mensagem.

- Manda outro. - Disse, concentrado na pista.

Então deixei de prestar atenção nos dois, deixando meus pensamentos falarem mais alto.

Estava ansioso demais para chegar o mais rápido possível e receber aquele abraço de urso que só meu irmão tinha, depois da cerimônia iríamos comer no nosso restaurante preferido e pedir o frango frito que costumávamos comer. Era um grande dia.

A chuva ainda continuava forte, parecia não cessar; os trovões eram estrondosos, e eu consegui ver através da janela os raios cortando o céu no horizonte. Agora, mais preocupado com a estrada, eu olhei para frente.

- Papai, cuidado! - Gritei, desesperado, vendo a imagem de uma caminhão perder o controle e invadir a mão contrária da pista molhada.

Ainda vi papai se esforçar para jogar o carro para o acostamento e não atingir o caminhão, mas foi em vão. As batidas errantes do meu coração dominaram todo o meu corpo quando assisti, quase que em câmera lenta, nosso carro desgovernado atingir em cheio a lateral do veículo á frente, a batida nos tirou do chão.

Com o impacto, senti minha cabeça bater forte na janela ao lado, deixando minha visão turva. Então, vi vagamente os pedaços de vidro da mesma janela voarem no ar dentro do carro, minhas mãos tentando inutilmente agarrar algo em que me segurasse e me mantesse no lugar, meus pais sentado à frente, com seus cabelos e mãos, ora para cima, ora para baixo, seguindo o ritmo em que o veículo capotava.

Ouvia o barulho ensurdecedor da lataria amassando contra o chão, dos gritos desesperados de todos nós, misturados à melodia que a chuva fazia ao bater no asfalto. A última coisa que escutei foi a voz estridente da mamãe, chamando por mim num grito de desespero, dor e angústia, que se calou quando batemos em algo, parando de maneira súbita.

Preferia acreditar que o que molhava minha cabeça naquele momento era a chuva que entrava pela janela estraçalhada; que a dor imensa em meu braço era o incômodo que o terno apertado me causava; que meu coração doendo era pelo susto do acidente e o frio que consumia meu corpo era apenas pelo clima da cidade gelada.

Não acreditava que iria morrer ali, sem ver o sonho do meu maior exemplo se tornar realidade. Naquela rodovia, que além de sem graça, era fria e monótona. Que a última imagem que veria era a daqueles que um dia me deram a vida, agora sem ela.

Meus ouvidos zumbiam e alguém do lado de fora gritava. Meus olhos sendo a única parte do meu corpo que se movia, procurando alguma forma de socorrer meus pais. O frio, vindo ainda mais forte, fazendo todo o meu corpo tremer.

Fiz uma força sobre-humana para tentar me mexer, mas foi inútil. Meu coração ainda doía a cada batida, e todas as inúmeras vezes que minha cabeça latejava de dor, minha visão escurecia junto. Nunca tinha sentido a sensação de ter uma barra de ferro enfiada em meu crânio, mas a dor e a agonia era tão grande, que imagino que fosse exatamente assim.

Quem gritava de forma tão descontrolada?

Meus pais... O painel do carro sobre eles...

O cheiro de gasolina invadiu meu nariz fortemente, e eu tentei gritar, não sei se pela dor ou por ajuda.

Nada saiu.

Minha vista escurecia cada vez mais.

Uma tontura intensa me deixando sonolento.

O ecoar distante das sirenes.

A chuva impiedosa ainda caindo, como se não estivesse me assistindo padecer, aos poucos.

Por último, antes de perder os sentidos, vi o raiar da descarga elétrica cortar no céu, e só então ouvi trovão, o mais alto de todos.

Gravando seu som em mim como uma tatuagem.

Onde estavam meus pais, onde está meu irmão?

...

- Jimin, calma. - Junkook disse, tentando compreender a situação.

Abrindo meus olhos brevemente, me vi abraçado ao seu corpo, o apertando contra mim.

- A c-chuva. - No impasse de soltá-lo ou me agarrar mais a ele eu tentei falar, gaguejando no processo.

- Calma, respira. - Ele segurou meu rosto com ambas as mãos, me olhando nos olhos. - É só água, já vai passar. - Sua voz mansa, como nunca vi antes, se empenhou em me tranquilizar.

- Meus pais... - Eu sentei na cama com o coração saindo pela boca e as mãos trêmulas, não na intenção de fugir de seu toque, mas sim da sensação terrível que me assolava.

A água ainda caía e a energia até então não tinha voltado.

- Eu sei. - Jungkook sentou ao meu lado, dando início a um afago suave em minhas costas. - Está tudo bem, você...

- Você sabe?! - Perguntei, choroso.

- Você fala dormindo. - Explicou, puxando-me para o seu colo, acolhendo-me em um abraço enquanto ainda estávamos sentados. - Não precisa se segurar, estou aqui com você.

- Eu... Eu... Jungkook, meu pais, meu irmão. - Então eu desabei novamente.

Meu rosto já estava molhado por lágrimas que nem notei estarem ali.

Eu soluçava, agora consciente, tentando de alguma forma amenizar o medo, a dor e a saudade.

Naquele momento não tinha espaço para vergonha, eu me sentia seguro para mostrar minhas fraquezas, o meu 'eu' que deixei escondido sob um sorriso, nem sempre sendo verdadeiro.

- Fecha os olhos, vai ficar tudo bem.

Jungkook me puxou para deitar, aninhou meu corpo em seu peito e nos protegeu do frio com o edredom.

Meus soluços e o barulho incessante da chuva lá fora eram os únicos sons que se ouvia no quarto.

Permiti mostrar minha vulnerabilidade pela primeira vez, e não me senti mal com isso.

Eu estava exposto, mas não desprotegido.

[...]

Autora pov's

Passar toda a noite em claro era algo normal para Jungkook quando se tratava de trabalho. Entretanto, aquela noite tinha sido diferente, Jimin passou horas chorando, e quando dormia logo acordava assustado com algum trovão, ou às vezes por algum pesadelo que o aflingia.

Nunca foi bom em dar conselhos ou consolar alguém, sempre fugia e nem mesmo fazia questão de se prestar a esse papel quando uma pessoa precisava. Entretanto, sair dali e deixá-lo sozinho nunca passou por sua cabeça, era imperdoável, seu peito até doía com a hipótese do loiro sofrendo sozinho. Aquilo era perturbador, se colocando no lugar de Jimin, Jungkook se perguntou se teria sido tão forte ou sobrevivido a tanta dor.

Apesar de seguir todas as orientações que o médico deu sua perna ainda não havia
melhorado. Entretanto, por todo o tempo que passou ali, velando o sono do outro, sua lesão ficou completamente esquecida, mas preferiu acreditar na funcionalidade da pomada e da compressa de gelo.

Jimin dormia agarrado ao seu corpo como se fosse o único bote salva vidas em meio ao mar, seu rosto escondido em seu pescoço, a sua respiração agora lenta e calma se chocando contra sua pele, em outras circunstâncias estaria arrepiado com tamanha proximidade, mas só sabia se sentir aliviado.

A mão pequena agarrava sua camisa com força, e suas pernas estavam enlaçadas, com uma das coxas do loiro no meio das suas, estavam quase dando um nó, mais um pouco e seria impossível diferenciar as pernas de cada um.

Jungkook nunca imaginou que seu assistente exageradamente animado, na verdade era alguém reprimido, cheio de traumas, lembranças amargas e dores. Embora por fora parecesse muito feliz e cheio de energia, por dentro não era bem assim.

O mais bizarro para Jungkook era a necessidade de lhe reconfortar, de cuidar de todos os machucados na sua alma, porém, sabia que Jimin precisava de uma ajuda profissional acima de tudo. Estava ali caso o loiro precisasse de sua ajuda, de um consolo ou um simples abraço, mas estava nítido que não era de um curativo que Jimin carecia.

Apesar de se dispor caso o outro precisasse, Jungkook tinha o discernimento de que o beijo entre os dois não poderia se repetir.

Não era arrependimento, jamais, tinha adorado a sensação e se sua mãe não tivesse os interrompido não sabia se iria conseguir segurar-se. O queria, até mais do que imaginava, mas não podiam.

A questão é que Jungkook, após Mark, achou melhor permanecer sozinho, porque não sobreviveria a outra mágoa daquela magnitude.

Não deu certo com Mark, e se não fosse ele, não seria ninguém.

Suspirou com a visão do garoto adormecido ainda agarrado a sua camisa, quis abraçá-lo, mas se conteve. Não ia fazer isso consigo mesmo, muito menos com o outro, Jimin não merecia isso.

Não merecia estar com uma pessoa que tem outro em mente.

Se soltou lentamente de Jimin e tomou cuidado para não acordá-lo. Depois de uns dez minutos lutando para se levantar, viu-se livre, de pé ao lado da cama. Cobriu o loiro de maneira adequada e ficou o observando respirar calmamente, em um sono profundo, até que depois de um bom tempo se deu conta do que estava fazendo.

Depois de despertar completamente de seus pensamentos, Jungkook seguiu para tomar um banho e fazer sua higiene pessoal. Após se vestir adequadamente saiu do quarto, dando de cara com sua mãe quase em frente a porta.

- Querido...

- Mãe, que susto... - Jungkook fechou os olhos com força, suspirando.

- Desculpe, eu ia chamá-los para o café. - Somin abriu um meio sorriso, acompanhado de um olhar preocupado. - Eu sei que não é da minha conta, mas não consegui dormir bem essa noite. A casa inteira ouviu os gritos do Jimin a cada trovoada, ele está bem?

- Está, ele tem medo, um trauma para falar a verdade. - Sem dificuldade, ele continuou andando, com sua mãe em seu encalço.

- Pobrezinho... Isso me lembra de quando você era pequeno e morria de medo do escuro. - Desceram as escadas, até pararem no último degrau. - Mas você cuidou dele, né?

- Por que a pergunta? - Indagou, confuso.

- Oras, é nessas horas que a gente costuma contar com quem mais amamos. - Fez um carinho suave no rosto do filho.

- Se eu falar que cuidei e passei a noite em claro por ele, você vai parar de fazer perguntas sobre essa noite? - Encarou a mais velha. - Não quero mais comentários, mãe. Pelo Jimin, ok? - Somin sorriu, orgulhosa de Jungkook.

- Pode não perceber, mas até neste momento você está cuidando dele. - Declarou, deixando Jungkook sem graça. - Não se preocupe, filho, com você ao lado Jimin ficará bem.

- Espero que sim. - Disse, torcendo para que Jimin se livrasse de tudo o que o atormentava.

- E sua perna, como está? - Perguntou sua mãe, preocupada.

- Bem. - Respondeu simples, após o banho gelado a dor tinha amenizado.

Ambos seguiram até a sala de jantar onde a mesa já estava posta, a família já estava se fartando da diversidade de opções que as funcionárias preparam. Assim que perceberam a presença de Jungkook no ambiente, todos se calaram, e o tatuado viu o olhar de todos sobre si, mas preferiu ignorar.

- Bom dia. - Saudou, sem demorar para se sentar de frente para Yoongi.

- Bom dia, filho, está tudo bem? - Seu pai perguntou, e Jungkook já sabia do que se tratava.

- Sim, por que não estaria? - Perguntou, se fazendo de desentendido.

- Será que é porque ninguém conseguiu dormir ontem á noite com seu noivo berrando feito um louco?

- Junghyug! - A voz alarmante de Somin o repreendeu.

- Junghyug... - Jungkook suspirou, se segurando, enquanto apertava os punhos de baixo da mesa. - Eu só não levanto daqui e arrebento sua cara porque tenho respeito aos meu pais e a minha família, mas de você eu só sinto nojo. - Travou o maxilar. - Então eu sugiro que pense duas vezes antes de falar qualquer merda no meu ouvido, porque da próxima vez que eu ouvir você falar qualquer coisa a respeito de Jimin, vou me certificar pessoalmente da perda de alguns dos seus dentes. - A despeito das palavras agressivas, o timbre do tatuado se manteve calmo.

Apesar de irritado, Junghyug continuou na mesma posição que estava, querendo evitar qualquer tipo de discussão corporal com o irmão.

- Jungkook, tenha calma. - Hana disse, assustada.

- Irmão... - Yoongi já estava alerto.

- Calma, Jungkook. - Mark se pronunciou pela primeira vez. - Ele não falou por mal... Apenas foi uma noite difícil para todos nós, seja lá o que aconteceu com o Jimin, eu não sei do ocorrido no geral, só espero que ele esteja bem agora. - Tomou a frente pelo noivo, recebendo um olhar agradecido dos sogros em seguida.

- Eu estou bem, obrigado por perguntar, Mark. - Jimin apareceu repentinamente na sala.

- Jimin, bom dia. - Sana que estava um pouco nervosa com o que havia presenciado, se acalmou ao ver o loiro bem e não demorou muito para ir abraçá-lo.

Jungkook, por sua vez, só conseguiu reparar no sorriso de Jimin e em como ele aparentava estar bem. Perguntando-se como. Como ele conseguia esconder tão bem as dores? Como ele conseguia sorrir depois de uma noite como aquela?

Sentiu inveja porque todos percebiam quando lembrava-se do passado e se sentia mal por aquilo. Não por sua expressão, mas pelo seu jeito de agir e até de falar.

Jimin estava lindo como sempre, seus cabelos estavam úmido, ele usava uma calça jeans de tom claro e um moletom preto, em seu rosto um óculos de grau discreto que o deixava ainda mais fofo.

- Bom dia, pessoal. - Disse baixinho, após se soltar do abraço de Sana, ele seguiu até a cadeira ao lado de Jungkook e sentou-se, sorrindo pequeno para o chefe. - Oi.

- Oi. - Não sorriu de volta, mas piscou os olhos devagar em direção ao loiro. Viu uma maquiagem suave enfeitando seus olhos, os deixando ainda mais bonitos.

Sentiu vontade de agarrar sua mão e perguntar como ele se sentia, mas se Jimin estivesse confortável para conversar sobre o ocorrido, ele mesmo o faria.

- Eu queria pedir desculpas se atrapalhei o sono de vocês... Tempestade e eu somos como gasolina e fogo. Eu prometo que não vai acontecer de novo...

- Bobagem, não se sinta mal, querido. Todos nós temos algo a temer, senão não seríamos humanos. - Woori sorriu, tranquilizando Jimin.

Jimin se sentiu menos constrangido e sorriu grande. Aquela família sem dúvidas era extraordinária, novamente sentiu inveja de Jungkook por ter e pertencer àquele lar, ele tinha muitos com quem contar.

Essa era uma sorte que nem todos tinham.

E Jimin não se considerava um cara sortudo.

Do outro lado da mesa Somin observava como o tatuado se comportava perto do loiro, sempre com cautela e cuidado. No primeiro dia não acreditou na ideia de que o filho o amava, mas vê-los se beijando na cama, e a maneira como Jungkook tomava conta e defendia Jimin reacendeu em seu peito a esperança de um dia o vê-lo feliz com uma pessoa tão incrível quanto seu genro.

- Então, Jimin, hoje nós vamos ter um dia de spa. - Somin deu início a um novo assunto.

- Sério?

- Sim, vamos às compras primeiro, depois iremos passar na estilista que está cuidando do terno de casamento do Mark e por último ficar o resto do dia relaxando no spa. - A cada frase, a mais velha parecia cada vez mais animada.

Jimin viu a cor do seu chefe mudar e até sua postura endurecer na cadeira ao lado. Se sentiu incomodado ao constatar o quanto o ex ainda o afetava.

- Espero que se divirtam. - Jimin falou, alegre com a felicidade da sogra.

- Mas você vai junto com a gente, se você quiser, é claro. - Mark foi quem falou.

- Ah, claro. - Respondeu, sem saber como negar.

- Aproveitamos para ver um terno para você também. - Somin acrescentou.

- Para mim?

- Sim, nossa festa de noivado será hoje à noite, aqui em casa. O casamento será ainda essa semana na fazenda da nossa família, não fica muito longe daqui. - Junghyug explicou, parecia verdadeiramente animado com o casamento, mas ver o irmão de cabeça baixa enquanto ouvia tudo o fazia vibrar de satisfação por dentro.

- Mas eu e Jungkook ficaremos só até terça feira, não sei se...

- Isso mesmo que eu queria falar com vocês. - Somin interrompeu. - Que tal estender a viagem para mais dias? Assim vocês conseguem acompanhar o casamento e quem sabe o próximo será o de vocês...

Yoongi que apenas assistia a cena quase engasgou com o café que estava bebendo, aquela definitivamente não era uma boa ideia.

- Eu vou ao banheiro. - Jungkook se levantou de maneira brusca, o barulho alto da cadeira indo para trás ecoou e ele ao menos se deu ao trabalho de colocá-la em seu devido lugar, apenas se foi, deixando um silêncio constrangedor na mesa.

Todos ali sabiam, não era muito difícil identificar o porquê dele agir daquela forma.

- Bom, ele fica muito nervoso quando falamos sobre nosso casamento. - Jimin desconversou, envergonhado.

Ao mesmo tempo estava chateado com a atitude de seu chefe, mas o que ele esperava? Não é como se um beijo fosse mudar todo o cenário daquela viagem, afinal.

Tentou não se aborrecer com aquilo, sabia que não tinha o direito.

- Bom, o dia de spa está de pé? - Jimin retomou o assunto inicial, mas com a cabeça ainda em Jungkook.

O tatuado estava no último andar da mansão, no terraço mais especificamente, observava vagamente as colinas de Busan ao longe enquanto curvava-se sobre o parapeito, apoiado em seus cotovelos.

Seus pensamentos estavam em outro lugar. Se perguntou em como permitiu que sua vida virasse uma bola de neve de confusões e sentimentos ridículos.

Se sentia um adolescente, de volta aos treze anos, mas pensou melhor quando lembrou que essa tinha sido sua melhor época. Tinha essa idade quando beijou Mark pela primeira vez..

Aos dezesseis tiveram sua primeira vez e foi com dezessete que tudo desabou, pois foi quando Mark disse nitidamente preferir ficar seu próprio irmão.

- Essa vista é sem dúvidas a minha predileta. - Mark chegou de repente, se colocando ao lado de Jungkook. - Oi. - Disse quando o olhou nos olhos.

- O que está fazendo aqui? Se o Junghyun pega você falando comigo sabe o que vai acontecer...

- Não vai acontecer nada, ele saiu com o Woori e seu Saem. - Voltou a olhar o horizonte, sendo observado por Jungkook.

- E você não vai ter seu dia de noivo? - Perguntou, ressentido.

- Sim, Somin está ajudando seu noivo a procurar uma roupa que não seja preto. - Mark riu, mas Jungkook não o acompanhou. - Sabe... - Hesitou.- Fiquei surpreso quando soube do seu noivado.

- Por que? Achou que eu não era capaz de te superar? - Indagou, tentando não se perder nos olhos castanhos do outro.

- Não, claro que não é isso. Eu fiquei feliz... Mas... Para falar a verdade, eu também fiquei com ciúmes. - Confessou, ansioso pela reação de Jungkook.

- O quê? - Arregalou os olhos, surpreso.

- Fiquei com ciúmes de você, eu achei que ainda me amasse, sei lá.... Eu sei que é egoísmo meu, sei que tem que seguir sua vida e você merece ser feliz, mas há uma parte em mim que não consegue esquecer você, que não consegue superar nós dois. - Confessou, olhando o ex nos olhos.

Jungkook não conseguia acreditar no que ouvia, eram essas as coisa que ele esperou por anos ouvir dos lábios de Mark.

Não sabia o que devia estar sentindo naquele momento, se era para ficar feliz ou desesperado. Mas de uma coisa tinha certeza, em outros tempos estaria soltando fogos junto com o coração saindo pela boca.

Porém, tudo o que ele sentia era o gosto da insignificância; um grande nada, zero, completamente diferente do que imaginou que iria acontecer ou sentir.

Agora, uma grande incógnita se fez presente em seu interior. Deixou de amar Mark?

Jungkook não queria admitir, mas o x da questão estava mais do que explícito. Que a resposta para a sua pergunta estava evidente a muito tempo antes dele se questionar.

- Jungkook eu ainda te a...

- Jungkook. - Cessando a voz, Mark se afastou repentinamente do tatuado, dando de cara com um Jimin sorridente na porta encarando os dois. Estranhando o silêncio de ambos, o loiro manifestou: -Desculpa, estou atrapalhando algo?

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capítulo betado pela maravilhosa smoll_jinjin

Olá, o que acharam do capítulo?

5k+ de palavras pra vocês 😮‍💨

finalmente o Jungkook percebendo que o Mark é um pé no saco 🗣️

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twt: nyslua

divulguem a fanfic e me marquem no insta 🫂

usem #mact no twt 💜

até próxima semana

amo vocês ❤️

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