Chapter 2

- Alicia Ferreira. – Fábio mencionou ao recepcionista. – Preciso muito falar com ela... é urgente.

- 3º andar. Ela deve estar voltando agora... Olha ela ali! Dona Alicia! – O recepcionista a viu de relance. Desesperada, ela olhou em volta, procurando qualquer lugar para se esconder.

Observando uma porta a direita, entrou. Protegida e fora de vista, fechou os olhos com um suspiro.

- Querida, poderia me dar licença? – Uma senhora com uma bandeja nas mãos a tirou do transe fugitivo.

A cozinha. Ela estava na cozinha do prédio. Nas suas costas, fogões industriais estavam espalhados, com dúzias de pessoas cozinhando. Um cheiro de bife acebolado e especiarias rondavam o ambiente.

- Desculpe... – ela saiu do caminho – Ah...senhora, sabe dizer há alguma outra saída por aqui?

A senhora de cabelos grisalhos pendeu a cabeça, analisando.

- Acredito que tenha sim. Siga por aqui e saia na última porta à direita. – Ela murmurou apontando o longo corredor - Se eu me lembro bem, isso vai te deixar na frente das escadarias.

- Ótimo! Obrigada.

Alicia correu pelo corredor, e virou à direita no lugar informado. Antes de sair na porta, abriu uma fresta e observou. Nem sinal do traíra. Correu de novo, abrindo a porta da escadaria e disparando para seu andar.

Caramba. Precisava volta à forma urgente. Dois lances de escada e já derretia feito manteiga na frigideira.

Ela saiu no terceiro andar. Mas se Fábio tivesse vindo de elevador, com certeza já teria chego. A passos cautelosos, ela foi até um grande armário, e somente com os olhos por cima da superfície, observou seu nicho vazio, sem sinal algum do homem.

Soltou um suspiro de alívio.

- Por que está se escondendo?! – A voz da amiga surgiu. Alicia deu um pulo com a mão no coração.

- Ah, é você! Beth, nem sei como dizer isso...Mas eu acabei de voltar da cartomante. A consulta foi terrível, tinha um barco e a deusa Afrodite... – Ela lamentava meando a cabeça. - Você estava certa, ela falou nada com nada e... – Alicia falava de maneira atabalhoada.

- Alicia, desembucha logo. Você está me assustando! – a expressão de Beth era indecifrável. Alicia respirou algumas vezes, chamando o fôlego e a calma. Era mais fácil se ela resumisse, então murmurou num fio de voz:

- Mercúrio está retrogrado.

- Hein? – A amiga perguntou com o cenho franzido.

- É, eu sei. É muito estranho. Mas quando esse planeta faz um movimento retrógrado, algumas coisas do passado voltam e a comunicação não fica legal... – Alicia gesticulava de maneira nada explicativa. As sobrancelhas de Beth se arquearam, como se não tivesse acreditando no que estava ouvindo.

- Mas o que esse movimento astrológico tem a ver com você, Alicia?

- Eu também achei que nada...até encontrar Fabinho da padaria lá embaixo.

As órbitas da amiga quase pularam pra fora.

- Jesus, me dê paciência! – Beth ralhou. – Se eu ver esse homem aqui, nem sei que crime sou capaz de cometer. Alicia assentiu, ainda preocupada que o ex pudesse surgir de uma porta qualquer.

- Maria Alicia?! – Vanessa surgiu ao lado delas novamente. Alicia suspirou. Ela simplesmente não conseguia entender o porquê de a gerente de coque grisalho cismar em chamá-la de Maria Alicia. – Um rapaz deixou uma coisa pra você na recepção.

As duas amigas se entreolharam antes de ir até a recepção do terceiro andar.

- Alicia, você tem muita sorte! – Eleanor, a secretária, ia dizendo. Logo depois de Alicia devolver um sorriso nervosa, Eleanor se abaixou no balcão e surgiu com um lindo buquê de rosas. – Olha que lindo. – A mulher parecia que ia chorar olhando para as flores. Até o coração de Alicia ia se abrindo.

- Estou impactada com a cara de pau desse cara. – Beth cortou o repentino amor torcendo o nariz. A secretária se assustou, mesmo assim, Alicia pegou o buquê e cheirou as rosas.

- Pode não ser dele, sabia? – ela tentou animar a amiga.

- Duvido muito. – Beth comentou descrente. Ela abriu o bilhetinho que estava entre os caules das rosas. A amiga se arqueou para ler também.

São rosas, mas eu te devo mais que presentes. Te devo desculpas.

Fábio

- Na verdade ele deve mais que desculpas, deve sossego ou quem sabe alguns meses de penitência? – Era Beth. Eleanor chegou a pigarrear, assustada.

- Tadinho, Beth! Eu não o perdoei ainda...Mas, vou ficar com essas rosas. Elas não tem culpa por quem as compraram.

Alicia voltou para o nicho com o buquê, ainda que Beth insistisse para jogá-lo no lixo. A tarde passou rápido. Por mais que ela tivesse tendo um dia não muito legal, de alguma forma, olhar para aquelas flores lhe dava mais ânimo.

Naquela sexta-feira, elas voltaram para casa que moravam juntas, e quando estavam prontas para dormir, escutaram alguém gritando na rua.

- Será que é assalto? – Alicia perguntou, se levantando furtivamente da cama e indo até a janela do apartamento que dava para entrada do prédio.

- Não é não. Assalto dá correria... – Beth mencionou, a acompanhando. Quando abriu a janela, Alicia soltou um arquejo. Ela não conseguia acreditar no que estava vendo.

Embaixo da janela delas, no primeiro andar, Fábio e a Maria Padaria estavam abraçados e encostados no carro, olhando para janela dela.

- Alicia! – Ele gritou quando a viu.

- Fábio?! – A expressão de Alicia era puro espanto.

- Você recebeu as flores? – Ele perguntou, dando um passo à frente. – Eu quero muito que você me perdoe! Estou tão arrependido do mal que lhe fiz... E o pastor disse que tenho que resolver isso...

- Pastor? – Alicia estava incrédula.

Não podia ser. Se Fabio não tinha ido na mesma cartomante que ela, Mercúrio retrógado deveria estar literalmente a seguindo.

- Eu não acredito que esse cara tá aqui. – A amiga estava começando a bufar do lado dela. Alicia a segurou pelo antebraço, e tentou mais uma vez.

- Fábio, pelo amor de Deus. Segue a sua vida...

- Mas Alicia, você não entende? Eu preciso de sua benção para casar!

- Minha o quê?! – Ela quase berrou. Todos os vizinhos do prédio já olhavam pela janela, como se aquilo fosse uma serenata em plena madrugada. Alicia perdeu a cabeça. – Ah, quer saber, Fabio! Eu não tenho que te dar benção nenhuma...Vai a merda! – Ela gritou para ele, fechando a janela com um solavanco.

- Gente, isso não pode estar acontecendo! Nem os meus ex-namorados são tão chatos assim – Beth estava perplexa. – Eu acho que aquela cartomante deve ter feito alguma macumba pra você...

A amiga mal terminou de falar, e alguém já batia sucessivamente na porta delas. Alicia olhou pelo olho mágico. Era a Maria Padaria.

- Vai embora, garota! Não entendeu da primeira vez?! – Alicia gritou através da porta.

- Alicia, você tem que perdoar a gente. Nunca quisemos fazer mal a ninguém...

- Eu acho que transar com um cara que era comprometido é um modo de fazer muito mal a alguém!

- Verdade... o que lhe fizemos foi horrível. – Maria Padaria admitiu do corredor. Logo após, um soluço estranho começou. Beth abriu os braços, boquiaberta com a situação. – Mas olha só... – A chorona continuou. Alguns papéis foram empurrados por debaixo da porta. – Por favor, aceite esse presente como uma oferta de paz.

Alicia revirou os olhos. A amiga dela pegou os papéis do chão.

- Você não vai comprar a gente com presentes, sua... – Alicia gritava para a porta.

- Alicia, são duas reservas para um resort em Balneário Camboriú. – A amiga balbuciou incrédula. No mesmo instante Alicia parou o xingamento da mulher. – Está tudo pago...

- O quê? – Alicia perguntou em um sibilo.

- Alicia, por favor, aceita. Foi um presente antecipado de casamento. Mas se deixarmos de ir para que você nos perdoe... – Maria padaria ainda suplicava. As duas se entreolharam, sem saber o que dizer. – Alicia?

- Ah...eu...Eu vou pensar.

- Acho que isso já é um começo. – Maria padaria falou do outro lado da porta, parando o choro com mais um soluço. Elas ouviram um barulho se esvaindo, finalmente a mulher ia embora.

- As passagens aéreas também estão incluídas? – Alicia sussurrou a pergunta para Beth.

- Sim! – Beth exclamou animada. Alicia foi até a janela e observou o carro que levava embora o traíra e a Maria padaria. Ela se virou para a amiga novamente, as duas com as mãos na boca.

- Isso é muito bom e estranho pra ser verdade – Alicia ainda não conseguia acreditar.

- Mas é, Lícia! Olha só – Beth repassou os papéis para Alicia – São quatro dias! Tem massagem e sauna...A gente já tem que pensar no biquíni, e eu...

- Ué, vai largar o trabalho para passar quatro dias num resort?

- Claro! Já vai fazer um ano e meio que nunca faltei, quatro dias não vão me levar a demissão. – A amiga deu de ombros. – Quando vamos?

- Só marcar! – Alicia respondeu, desimpedida. Depois daquele dia ela não tinha nenhum compromisso mesmo.

- Você com essas marcações... Já estou traumatizada com a cartomante. 

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