N o t a F i n a l

A nota inicial, que não teve pretenção de ter esse segundo nome, pois achava ser uma nota única, me impulsionou a terminar isso do mesmo jeito que comecei, embora, saiba, que depois de onze meses, o tom da nota seria outro, e é outro. Não sei se termino com mais ou menos honestidade do que quando comecei, ou se ainda continuo a dar voltas e voltas ao redor das coisas só para poder falar sobre elas.

O processo desse projeto foi marcado por não-padrões que se transformaram em padrões claros e depois foram por fim retomados ao seu não-padrão inicial, mesmo que esse não padrão signifique aleatoriedade. Ele não significa isso. Muito embora, meu plano nunca fora manter uma constante, o que eu sabia que não alcançaria nessa, ou em quase nenhuma outra circunstância.

Se você chegou até aqui no momento presente, ou em um outro agora, que não é o meu, eu te agradeço enormemente. Pela paciência e pela conversa. Saiba que deixei nesses escritos toda a minha verdade e toda a minha mentira, coube a você separar. E se achar que está confuso, sempre posso falar outra vez, desde o INÍCIO.

Não sei se deveria deixar de sobreaviso que o meu objetivo com essa obra não é claro. Estou jogando com a sorte e portanto tenho 50% de chance de obter êxito, seja lá em quê. Mas se todo texto é resposta para mil textos do passado e pergunta para mil textos do futuro, a Literatura é uma grande conversa entre o mundo todo e talvez meu objetivo seja criar um diálogo que não se limite em mim e se estenda até o INFINITO.

O tempo parou. Nunca achei que o tempo pararia, mas ele parou. Ou alguém o fez parar. O tempo que não passa é um tempo inexistente. Então acho que não há mais tempo. Sem tempo não há dia, não há noite. Há um período de incerteza, um estado de crepúsculo. Eu diria crepúsculo eterno, mas o eterno marca o tempo e tempo não há.

A falta de tempo confunde as pessoas. Algumas se comportam como se fosse dia, outras como se fosse noite e você não pode simplesmente culpá-las. Elas estão confusas. Agora imagine só: Você é uma pessoa de hábitos noturnos e que agora está nesse estado de nem dia nem noite. O que você é agora? É um pensamento bobo, eu também sou uma pessoa de hábitos noturnos...

Você prestou atenção no que leu? Você é uma pessoa de hábitos noturnos e que agora está nesse estado de nem dia e nem noite. Não há tempo. Como o agora pode ser agora? Como o agora pode não ser o ontem e o ontem não ser eras atrás? É, a falta de tempo confunde as pessoas. Sem o tempo, tudo vira uma coisa só. A partir de agora, tudo é agora e nunca mais terá amanhã e nunca mais terá outro dia e o ontem, logo ficará distante demais, abstrato demais... Nunca mais terá amanhã até o tempo voltar.

Já que não há mais tempo, decidi que vou assistir a todos os filmes do mundo hoje! Eu posso começar em ordem, com os filmes mudos, depois ver os primeiros preto e branco falados, ver os primeiro em cores... Ou talvez eu posso fazer o oposto: ver o último filme de quando o mundo ainda tinha tempo, até chegar ao primeiro, quando a falta de tempo parecia a todos nós impossível. Decidi começar pelo meio, já que a antiga ordem do mundo, ordem que agora me era negada, me assombrava.

O filme era bonito. O assisti sem sentir tédio. Então assisti outro, depois outro e mais outro, até que fui ficando cada vez mais incomodada. O tempo passava nos filmes. Claro que o tempo passava nos filmes. Imagine um filme em que o tempo não passa? Será que agora que o tempo não passava fariam mais filmes? Como iriam informar a duração de um filme sem o tempo? Esse filme possui nenhuma hora e nenhum minuto. Isso não existe!

Com o tempo parado eu teria todo o tempo do mundo para assistir a todos os filmes mundo, mas quando eu terminasse, não haveria mais filmes para se ver e nenhum segundo haveria se passado.

Eu colocava mais um filme e mais um e mais um e mais outro e ficava terrivelmente incomodada... O tempo passava nos filmes e isso me dava uma angústia! Eu tinha a eternidade para contemplar a antiga existência do tempo, a prova de que um dia ele havia passado. Que angústia! Talvez fosse melhor nunca ter tido tempo para nada.

Tempo, Tempo, Tempo, Tempo...

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