Capítulo 1.2


Bem, não era assim um cassiiiiiino, mas o nome pegou. Um salão de uns cento e cinquenta metros quadrados, com algumas mesas de poker sob luzes das clássicas luminárias cônicas.

Observei em qual das mesas sentaria, mas não fui eu quem escolheu, foi ela. Aquela criatura do sexo feminino me encarando. Uma daquelas! Que faria a calça de qualquer marmanjo ter o conteúdo alterado. Como fizeram o favor de deixar uma cadeira vazia ao seu lado...

Desabotoei o terno branco, de forro tão negro quanto a camisa.

- Senhores! Posso me juntar a vocês?

Os dois homens da mesa concordaram sorridentes.

- Moça? - Olhei-a nos olhos.

- E quem sou eu para negar. - Abriu um sorriso de transformar trevas em luz. Os olhos acinzentados vacilaram um pouco quando encontraram meu lado cego, de cinza opaco.

- Sou feio, mas não mordo!

Ela ruborizou e disfarçou com um risinho.

- George, muito prazer! - Sentei.

- Ângela. O prazer é todo seu!

Parei uns dois segundos, encarando-a. Explodimos numa gargalhada ao mesmo tempo.

- Brincadeira! Imagina que falta de educação! Prazer é meu, George.

O lugar também contava com três roletas, três mesas de craps (nunca soube como se joga aquilo, mas há quem goste, então...) e um bar. Cada modalidade tinha sua própria iluminação, o que deixava alguns pontos com uma penumbra agradável e sutil.

Acenei para o garçom.

- Um uísque cowboy, e para a moça...?

- Ah! Não precisa se incomodar.

- Faço questão.

- Um champanhe, então.

- Você ouviu a moça, Régis.

- Senhores, posso dar as cartas? - Era o dealer falando.

- Ah, sim! - estalei os dedos. - Hora de jogar.

Recebi minhas cartas. Eram boas. Comecei com apostas moderadas e fui dançando ao ritmo das várias partidas que se seguiram.

À medida que jogávamos, reparei mais em Ângela. Cabelos numa tonalidade mel, soltos, cascateando sobre os ombros nus. Pele branca e adornada por sardas na região do trapézio, seios fartos dentro do decote, coxas sensacionais escapando pela lasca do vestido azul...

- Há! Essa é minha. - Alguém da mesa gritou e arrastou as fichas.

Ela olhou para mim com cara de "pois é, que sorte!". A coitada não ganhava a várias rodadas.

Muito bem, nada como uma forcinha. Uma pequena leitura e estudo rápido de jogadas para quatro pessoas.

Cartas dadas, todos veriam o que eu quisesse a partir daquele momento. Cada um olhou para o que veio em suas mãos. Um deles pulou logo fora. Na mesa, um Rei, uma Dama, um Oito; todos de ouro.

Começaram as apostas. Ângela confiou e apostou alto, o outro, não deixou por baixo e cobriu, eu saí da rodada. Ela igualou a aposta, ele de forma audaciosa cobriu, ela bateu duas vezes, passando a jogada, o que também foi feito pelo homem. O dealer descartou a primeira carta do monte vermelho e virou as últimas duas cartas: um Dez de ouro e um Nove de ouro. Hora de mostrar as mãos.

- Straight Flush! Eu tenho um Straight Flush! Háháhááááá... - comemorou o otário, exibindo um Seis de ouro e um Sete de ouro, montando a segunda maior jogada do Poker Texas Hold'em.

- Ã-Ãham! Sinto muito, senhor, mas acho que essa é minha. - Ângela mostrou suas cartas.

Um Valete de ouro e um Ás de ouro. Royal Straight Flush, também conhecido por Royal Flush, a jogada mais alta daquela modalidade.

- Woooow! Que virada, hein, garota!!

E bem falsa, diga-se de passagem.

- Ah, não! Que merda! Que mer... - O homem sacudiu a cabeça em negação. Bufou, o rosto ficou vermelho, bateu na mesa. - Bom, pra mim, deu por hoje!

Ângela sorriu e arrastou o monte de fichas.

- Você viu, George, que sorte?

- Pois é! Às vezes é preciso acreditar.

- Vou trocar minhas fichas! Parei! - Ria como um menino de oito anos que acha a coleção de playboys do pai.

- Posso te fazer companhia pelo resto da noite?

Não! Já vou avisando! Não pense que era mero flerte, ou que me apaixonara por pessoa tão linda, de cabelos dourados e pele de princesa e essa baboseira toda de filmes de vampiro mela cueca! Queria mesmo era cravar os dentes naquele pescocinho de cheiro maravilhoso. A necessidade da alimentação infelizmente não se foi com a vida, beber não era opção, e a fome batia nas paredes do estômago. Tá! Ainda existia o lado humano que desejava aquela delícia!

Ângela olhou para o relógio sobre o bar, marcava uma e meia da manhã.

- Acho que já está na minha hora.

- É uma pena. Olha, nem preciso dizer que esta cidade é um verdadeiro inferno, então, se não tiver de carro, posso te levar.

Ela apoiou o queixo sobre os dedos cruzados e respondeu:

- Eu adoraria!

Enquanto ela retocava a maquiagem e sei lá mais o quê que as mulheres fazem no banheiro feminino, entrei no masculino. Parei frente ao espelho, minha pele estava mais pálida e um pouco mais afundada na região das bochechas, os anéis de prata dançavam com certa folga nos dedos.

Fome!

****

Parei a picape em frente à casa dela. Mesmo com um muro alto, revestido de cerâmicas, dava para ver que era um casarão.

- Senhorita! Sinta-se entregue.

- Obrigada pela gentileza!

Mordeu o lábio, olhando de canto.

- Bem, apareça mais vezes na boate. - Saquei o telefone do bolso e abri a agenda eletrônica. - Posso anotar seu número?

- Vai querer agora ou depois de terminar a noite como merecemos?

Pisquei lentamente e abri os olhos já voltados em sua direção, sobrancelhas arqueadas.

- Como?

Ela abriu o portão da garagem com um controle que sacou da bolsa.

- Você tem um minuto pra decidir se vai colocar a picape na garagem hoje à noite!

Minhas roupas caiam pela sala, os beijos estalavam. Ângela nem parecia se importar com minha palidez e frieza de pele. Abraçou minha cintura com as pernas. Afundei os dedos naquele traseiro carnudo, apertei e mordisquei um dos seios.

Ela desceu, passou a mão pelo volume em minha calça, caminhou em direção à escada, abrindo o zíper do vestido. Deixou-o cair e começou a subida, exibindo as curvas maravilhosas, enaltecidas por um conjunto de lingerie negro.

Mal entramos no quarto ela me jogou na cama e me montou. Colou o corpo no meu, roçou o pescoço em minha boca, em meu nariz...

O estômago revirou. O cheiro de sangue. O cheiro!

Meus olhos arregalaram-se, um deles brilhava em amarelo, as presas cresceram. Nem ponderei antes de cravar os dentes na jugular.

Ângela gemeu de prazer, num orgasmo sobrenatural.

Porém, ao segundo gole, senti as entranhas queimarem como se houvesse engolido carvão em brasa. Gemidos involuntários saiam de minha boca fumegante. Aos poucos fui endurecendo como um epiléptico bem antes da convulsão.

Quando os espasmos atacaram de vez, Ângela saltou de cima de mim e encolheu-se num canto, apenas observando. Meu olho encontrou os dela; eu teria xingado a cachorra não fosse o fato de não conseguir falar. Senti as forças se esvaindo, anestesiado por sei lá o quê! Até que paralisei.

Nenhum esforço que tentei obteve resposta do corpo. Concentrei uma ilusão para assustá-la. Não funcionou. Fosse lá o que fosse, ela possuía no sangue algo de muito nocivo contra mim.

Ouvi quando catou o celular e discou.

- Está feito!

O quê?! Aaaah, George, sua anta!

Ela apareceu à minha frente, vestida, os cabelos presos em um rabo de cavalo. Em seu pescoço, uma tatuagem preta minimalista, de cinco dedos segurando uma lança.

Aquilo era familiar.

Ouvi a porta de entrada abrir, vários passos pesados subindo as escadas. Um grupo de cinco homens me rodeou, Ângela se mantinha afastada, os dedos entrelaçados junto ao peito. Os olhos tinham um brilho aquoso. Não sei se alucinei, mas por um momento li seus lábios trêmulos formarem a palavra "desculpa"?

Um sexto homem apareceu em meu campo de visão, aproximou-se dela e apertou suas bochechas com força, formando um bico de peixe.

- Bom trabalho, Ângela!

Os olhos da mulher tremiam ao encará-lo e desviaram algumas vezes neste curto intervalo. Depois voltaram-se à mim de novo.

O loiro, que parecia ser o líder, largou a mulher e veio a mim, inclinou o tronco até quase colar o rosto ao meu, sacou uma faca de combate e pressionou o bico da lâmina contra a ponta do meu nariz até que escorresse um filete de sangue.

- Boa noite, senhor vampiro! Espero que aproveite bem a estadia que fará em nossas acomodações. - Fez um giro rápido de lâmina, ergueu o braço e cravou a faca através do meu crânio tão fácil quanto se a mergulhasse num copo de geleia. Bem no meio da testa. - É o que lhe deseja a Lança!









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Abraços.

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