Capítulo Oito

Miguel Martins:

— Fique tranquila, Miguel. Minha intenção é genuína. Apenas quero ajudar. — Alisson disse isso, mas seus olhos se desviaram dos meus.

Mark mordeu o lábio para evitar rir, o que me levou a chutar a perna dele. Ele me olhou e simplesmente deu de ombros.

— Então, sobre o que estávamos conversando? — Alisson perguntou.

— Apenas analisando umas papeladas — Respondi.

Alisson franziu a testa, como se estivesse tentando decifrar algo nos meus olhos. A atmosfera na sala estava carregada de uma tensão sutil, e eu podia sentir que havia algo mais nas entrelinhas da conversa.

— Papeladas, huh? Parece algo mais sério do que você está deixando transparecer. — Alisson cruzou os braços, e sua expressão séria me fez questionar se deveria confiar nela totalmente nele agora que estava me encarando.

Mark, ainda tentando conter o riso, inclinou-se para a frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— É verdade, Miguel? Alguma coisa que você não está compartilhando conosco? — Mark lançou um olhar cúmplice para Alisson, aumentando ainda mais minha desconfiança em como ele parece ser muito maluco.

Eu suspirei, percebendo que não poderia evitar uma explicação mais detalhada.

— Bem, é sobre um projeto novo que estou desenvolvendo. Não posso entrar em muitos detalhes ainda, mas é algo que poderia ter um impacto significativo em nossa empresa. Queria garantir que tudo estivesse nos trilhos antes de compartilhar com todos. — Falei, isso não era mentira pois era algo que estavam nesses papéis e também havia começado a desenvolver quatro meses atrás.

Alisson pareceu relaxar um pouco, mas ainda mantinha um olhar atento em cima de mim como se eu fosse falar algo na cara dele.

— Entendo. É bom saber que todos estão trabalhando na mesma direção. Se precisar de ajuda ou conselhos, estou aqui. — Ela sorriu, desta vez sem desviar o olhar.

Mark, agora mais sério, assentiu em concordância. Mas seus olhos tinham um brilho divertido entre mim e Alisson. Novamente chutei a perna dele.

— Concordo. Estamos vendo isso da melhor maneira. E falando em estar junto, já pensou em como vocês tem que me contar especialmente como se conheceram, afinal pelo que me contou foi muito por cima da história real — Mark disse. — Deve ter ficado com um momento fantástico para ficar na memória!

Novamente, quis chutar a perna dele; essa, com toda certeza, era uma proposta para que ele analisasse alguma coisa que, no final, trouxe um sorriso ao seu rosto. A ideia de contar meu primeiro contato com Alison era algo que me deu uma certa leveza ao falar com ele sobre qualquer assunto que me mantivesse longe dos meus pensamentos sobre o hospital, comigo vendo a família Dawson me olhando com pena, que chegava a ser sufocante.

Percebi que compartilhar minha história com o Alison era uma maneira de escapar das preocupações do hospital. Era como se cada palavra que eu dividia com ele fosse um pequeno alívio, afastando momentaneamente a sombra da tristeza que pairava sobre minha estadia.

Ao descrever meu primeiro encontro com o Alison, pude reviver momentos que tinham uma atmosfera diferente da realidade hospitalar. Sua reação positiva e o sorriso que se formou em seu rosto tornaram-se uma fonte de ânimo para mim.

Enquanto eu me afundava nas histórias e lembranças, era como se a família Dawson e os desafios do hospital se dissipassem, pelo menos por alguns momentos. Conversar com o Alison era um escape necessário, uma pausa na dura realidade que eu enfrentava diariamente.

Entendi que, mesmo diante das adversidades, encontrar pequenos refúgios emocionais era essencial. E naquele momento, compartilhar minha história com o Alison tornou-se um bálsamo para a alma, proporcionando um breve alívio em meio às preocupações que pairavam sobre mim.

Com o tempo, Alison tornou-se meu refúgio, um abrigo para tudo o que eu guardava nas profundezas do meu coração. A gratidão crescia em mim a cada encontro com ele, pois percebia o valor de tê-lo encontrado naquele momento da minha vida.

Contei a Mark como me senti no primeiro momento em que conheci Alison e como ele conseguiu despertar emoções profundas em mim. Expliquei a Mark a intensidade das emoções que tomaram conta de mim no instante em que conheci Alison. Descrevi como cada palavra dele foi capaz de ressoar em meu coração, criando uma conexão que transcendia as palavras. Ao compartilhar esses sentimentos com Mark, senti um alívio ao dividir a complexidade da minha experiência, como se estivesse descarregando um peso que carregava há muito tempo. Mark ouviu atentamente, oferecendo apoio e compreensão, o que fortaleceu ainda mais a importância desse novo capítulo em minha vida, centrado em Alison e nas emoções que ele despertava em mim.

Alison me olhou enquanto suas bochechas começavam a esquentar a cada detalhe que eu compartilhava. Posso afirmar que isso adicionou um charme especial a ele, deixando-me verdadeiramente encantado.

— Ele me estendeu a mão quando eu mais precisava — concluí. Ambos ficamos em silêncio até que Mark finalmente abriu a boca.

— Parece que você encontrou um verdadeiro amigo em Alison. — Mark comentou, com um sorriso gentil. — Às vezes, é surpreendente como a vida nos coloca no caminho de pessoas especiais nos momentos certos.

A observação de Mark ressoou em mim, e concordei com um aceno de cabeça. Alison realmente se tornou mais do que apenas um conhecido; ele era um apoio fundamental em meio aos desafios que enfrentava. Essa reflexão fez com que eu valorizasse ainda mais a conexão que havia se formado entre nós.

— Alison é um daqueles raros presentes que a vida nos oferece quando menos esperamos. — mencionei, lembrando-me de como ele esteve lá nos momentos mais difíceis. — Sua empatia e amizade têm sido como uma luz constante, dissipando as sombras que nos cercam nos últimos dias em Los Angeles.

Alison sorriu, mas suas bochechas estavam vermelhas, e suas orelhas ainda mais.

— Digo o mesmo em relação a você. Você foi a luz que surgiu no meu caminho quando mais precisei. — Alison expressou, revelando uma gratidão mútua que fez com que sorrisse

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Mark saiu do escritório com uma expressão emocionada, deixando Alison e eu sozinhos em silêncio. O ambiente parecia carregado de emoções não ditas, e um olhar compartilhado entre nós transmitiu uma compreensão mútua do valor da amizade que havia se formado. O silêncio, por si só, falava sobre a conexão especial que compartilhamos naquele momento.

— Tenho algo para te contar — Alison disse, mas sua expressão tornou-se pensativa. — Na verdade, preciso da sua opinião sobre esse assunto.

O clima no ambiente mudou ligeiramente, agora carregado de expectativa enquanto aguardava para ouvir o que Alison tinha a compartilhar.

— Pode ir em frente — Falei.

Ele me olhou em silêncio, parecia que estava lutando contra seus próprios pensamentos até que suspirou, abrindo a boca;

— Me ligaram de madrugada do hospital psiquiátrico, informando que minha irmã está internada, me contando que ela está grávida, quase completando nove meses — Alison disse, e meu queixo caiu.

A revelação de Alison trouxe uma reviravolta inesperada à conversa, me deixando surpreso diante dessa notícia inusitada.

— Ela está mentindo — falei.

— Não, o enfermeiro me enviou os resultados, e também pedi para o pessoal de Los Angeles investigar; tudo é verdade, até a parte sobre o médico e a equipe dele é 100% verdade — Alison disse, passando as mãos sobre o rosto. — Ele disse que ela não quer a criança, falando para jogar quando nascer.

O peso da revelação pairava no ar, e eu sentia a seriedade do momento. Alison compartilhava uma situação delicada, e eu ponderava sobre como poderia oferecer apoio.

— Sinto muito que você esteja passando por isso, Alison. Se precisar de alguma coisa, estarei aqui para ajudar da melhor forma possível. — Ofereci minhas palavras com sinceridade, reconhecendo a complexidade da situação.

Alison assentiu, agradecendo com os olhos marejados.

— Eu estou perdido no que fazer! — Alison disse. — Eu não culpo essa criança pelo que a mãe fez, mas ser abandonado por tudo isso é demais.

Então, consegui entender o porquê dele querer minha ajuda.

— Você quer minha opinião sobre cuidar dessa criança? — Falei. — Está com medo de que eu possa odiar essa criança pelo que a Vânia fez com o Marcos?

— Não só por isso, mas de tudo que ela fez com inúmeras pessoas seria um peso enorme. — Alison disse.

A complexidade da situação se desdobrava diante de nós, e eu sentia a gravidade das escolhas que Alison enfrentava. A discussão sobre cuidar da criança, que era inocente na situação, tornava-se um dilema moral e emocional.

Alison olhou para mim com olhos cheios de incerteza, e em seu rosto, eu vi a angústia de alguém que se via dividido entre o amor por uma criança inocente e o peso das ações tumultuadas da mãe.

— Eu não quero que a vida dessa criança seja marcada pelos erros da mãe. Mas, ao mesmo tempo, é difícil não sentir a carga de tudo o que a Vania fez. — Alison confessou, sua voz ecoando a batalha emocional que travava.

Senti um aperto no peito, compreendendo a profundidade do dilema que ele enfrentava. Era como se estivéssemos diante de um teste de compaixão, uma oportunidade de redenção em meio à escuridão que envolvia a situação.

— Alison, cuidar de uma criança é um ato de amor e coragem. Não importa o que a mãe tenha feito, essa criança merece uma chance de ter uma vida diferente. Se você decidir assumir essa responsabilidade, estarei ao seu lado para apoiar no que for preciso. — Minhas palavras saíram carregadas de sinceridade e empatia, porque naquele momento, eu não conseguia imaginar a complexidade da decisão que Alison enfrentava. Sei que seja qual for a decisão que você tomar, será feita com o coração, e o melhor caminho será escolhido. Você não está sozinho nisso. — Afirmei, oferecendo um apoio incondicional.

O silêncio que se seguiu foi preenchido pela compreensão mútua e pela promessa de que enfrentaríamos juntos o desconhecido que se desdobrava diante de nós.

O suspiro de Alison ecoou no silêncio que pairava entre nós, enquanto ele dirigia seu olhar para as próprias mãos.

— São momentos como esse que nos mostram a força que carregamos, não é? — Comentei suavemente. — Vou estar do seu lado se precisar.

Alison assentiu, e em seus olhos, vi a coragem necessária para enfrentar o desconhecido. 

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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