Seon de Hallanta
Dizem que a mais tenra juventude de Seon fora manchada pelo terror que representou a chacina de seu povo pelas tropas de Kolen e que a seguir, testemunhou o saque das cidades geladas do norte pelos imperiais. As casas, os muros, as oficinas, tudo foi destruído pela fúria e pela insensatez daqueles de que detinham o poder...
Tanto que, se mais alguém havia sobrevivido além de Seon, isso ele já não tinha como saber.
Assim vagou muito tempo sem encontrar com outro hallanti e apenas assumiu que todos de sua raça haviam morrido ou se alguém lograra sobreviver, provavelmente se escondia do resto do mundo.
Ele mesmo teve que se esconder, afastara-se das cidades, conhecera a fome, a doença, o desprezo de outros povos...E em relação a todas estas coisas não tinha nenhum conhecimento precedente e foi por isso que acreditou que tudo isso era normal.
O mundo era uma lástima, o sofrimento existia por todos os lados, a morte se impunha à vida como o maior poder do mundo de Aldoren e tudo isso era simplesmente a verdade de seu mundo, pensava Seon.
Ele era um sobrevivente, porque talvez nem mesmo a morte o quisesse por perto, como os homens que conhecera, como os imperiais que lograram dar um fim a toda sua raça.
Um dia, Seon pensou que a única solução para não sofrer mais seria se entregar aos braços da morte. Ele a desejou como se esperasse a visita de uma antiga amiga, mas na sua imaturidade ele imaginou que ela lhe viesse naturalmente de encontro, sem suspeitar que havia meios de ele mesmo dar cabo de sua existência.
Ele estava com fome, sede e frio, como nunca havia sentido. Estava cansado também, porque percorrera por anos e anos longas pradarias, vales rochosos, estepes quase sem vida, desfiladeiros entre montanhas inexpugnáveis. Apenas caminhou desejando a escuridão de seu próprio fim.
Mas em meio as sombras do desterro, encontrou um farol, uma luz que brilhava no alto de uma das mais altas montanhas de Aldoren, o monte Ethron, um lugar que não constava nem sequer das lendas, mas que num futuro distante seria objeto do desejo de muitos.
Por certo, que outros seis o haviam precedido. Provavelmente atraídos pelo misterioso poder que se ocultava ali. E ele mesmo nunca havia ouvido falar daquele lugar estranho, mas, quando voltou ao mundo, depois de tê-lo descoberto por acaso, ele mesmo, já inelutavelmente transformado pelo poder, encontrou um mundo diferente, um mundo onde muitos tremiam perante a menção ao poder de Ethron. O poder que agora era dele.
Muitos também desejavam aquele poder e muitos que já o possuíam ambicionavam por mais. Mas o que sabia o inocente Seon sobre as ambições e disputas dos poderosos de seu mundo?
Kolen Varko já estava morto, soube assim que chegara a Albelungen. O império não era mais o império do Grão-leitor Varko e os imperiais que destruíram Hallanta já haviam morrido e forma substituídos por outros. Alguns deles eram humanos excepcionais, mas, ainda assim, humanos.
Foi por isso que Seon se convenceu de que o império daquele tempo não era seu inimigo, apesar da ligação com o destruidor do povo hallanti. Sendo assim, tudo o que tinha a fazer era usar o poder que conquistara no monte Ethron para derrotar aqueles que, como ele, haviam recebido sua parte na força que vinha daquele lugar.
O poder de Ethron era perigoso, porque poderia facilmente cair em mãos erradas, como caíra inclusive nas mãos dele, um ninguém, um ser falho e fraco... Mas poderia cair também na mão de seres poderosos como o do antigo Grão-leitor do império, que o usaria indiscriminadamente para dominar o mundo.
Por isso considerava que naquele momento, os verdadeiros continuadores da obra de Varko eram Ludgard Sharz e Rilfren Amantis e não o Império, por mais que seu poder viesse também de Ethron.
Com efeito, todos os etéreos, como herdeiros da maldição, traziam somente desequilíbrio ao mundo e, como consequência, seu legado só poderia ser o sofrimento e a degradação de Aldoren.
Que os homens, com sua própria ordem e união, pudessem superar o poder das aberrações de Ethron era, deste modo, um motivo de esperança.
Uma esperança que fora negada a Hallanta, mas que poderia ser restaurada caso Albelungen se salvasse dos ataques insanos de Ludgard e Rilfren. Assim pensava Seon antes da primeira batalha contra eles.
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