xiv. l i m
atenção: este capítulo contém gatilhos, se não se sentir confortável, não leia! saúde mental em primeiro lugar.
***
"in the end, we always die."
ooo
Desci as escadas calmamente, olhando para os lados, vendo a sala vazia.
Me direcionei a porta, olhando para o aparelho de medicação. Eu não pretendia toma-lo, não naquele dia.
– Jungkook? Não vai tomar café? – ouvi a voz da minha mãe e me virei, observando a mesma sair da cozinha e parar perto da mesa.
– Eu já estou atrasado para as aulas com o senhor Bonhwa, mãe.
– Entendo. – ela assentiu. – E está gostando do seu cargo?
– Estou sim, é bem interessante o que aprendo por lá. – disse simples, não querendo prolongar aquela conversa.
– E o que você aprende? – senti um tom pretensioso em sua pergunta, me fazendo perceber sua curiosidade repentina apenas sendo o reflexo de alguma coleta de informações.
– Eu não posso dizer o que aprendo lá, é algo sigiloso e só se diz respeito a mim e ao senhor Bonhwa, desculpa. – finalizei, andando até ela.
– Aceito sua desculpa. – seu tom frio ecoou pela sala, me fazendo temer por um momento o que a mesma poderia fazer. Desde que soube sobre o que faziam com os bebês e que os superiores estavam por trás daquilo tudo, eu passei a sentir algo ruim com relação a minha própria mãe.
Eu ainda a amava, mas isso não anulava o caos que ela ajudava a instalar.
– A líder Sook quer conversar com você. – ela falou calmamente, enquanto eu pegava uma maçã na fruteira em cima da mesa de jantar.
Gelei.
O que ela queria comigo?
– A senhora sabe o porquê?
– Só perguntas rotineiras, apenas para conhecer o seu desempenho no novo cargo. Ela gosta de você, Jungkook, só quer te conhecer melhor.
Concordei com a cabeça, um pouco desconfiado, mas não me opus àquilo, eu não tinha medo da líder Sook, nem deveria teme-la.
Caminhei até a porta, vendo minha mãe voltar para a cozinha. Após me ver sozinho, olhei pela segunda vez naquele dia para o aparelho de medicação. Estava tentando achar um jeito de não toma-lo sem que ninguém saiba, já que deduzi brevemente que ele havia um controle de doses certas para o número de pessoas que residem dentro de cada residência.
Olhei para a maçã em minha mão, que em um ápice de ideia, foi pressionada no local onde ficaria o meu pulso, e após o leve sino da máquina se instalar em meus tímpanos, eu soube que havia dado certo.
Sai de casa, pronto para o que viria pela frente.
– – –
Sons agudos.
Graves.
Gritos.
Desesperados e fortes.
Tiros.
Estávamos em guerra.
Dentro de uma mata fechada.
Eu me rastejava por entre o solo.
Ultrapassava as raízes grossas das árvores.
Pessoas jogadas no chão ao meu redor.
Elas não se moviam.
Eu tentava não olha-las.
Estava apavorado.
Mas me mantive forte, rastejando.
Encontrei meu pelotão escondido por entre as árvores.
Outros deitados como eu.
"Jeon, posição."
Ouvi alguém gritando, e por algum motivo, eu soube que era comigo.
Rastejei até perto dos outros soldados, me colocando ao lado deles.
Peguei o que estava em minhas costas, imitando a posição dos mesmos.
Era uma coisa grande, preta.
Pesada.
Uma metralhadora.
Aquele objeto me assustava.
Me assustava muito.
"Não é hora de ficar apreciando a arma, Jungkook."
Olhei para o lado.
Taehyung?
O mesmo tinha uma roupa camuflada.
Igual a minha.
Seu rosto sujo de terra e algo semelhante a tinta verde.
Seu capacete tampava grande parte de sua face.
"Presta atenção, será a nossa vez."
Assenti.
Eu não sabia do que ele estava falando.
Imitei sua posição e me mantive atento.
Via ao longe pessoas correndo em direção a nós, as vezes se mantendo abaixados por segundos.
Sabia que eram inimigos.
"Atenção."
Ouvi.
"Preparar."
Segurei a arma firmemente em minhas mãos.
"Apontar."
Fechei um dos olhos, mirando em algumas pessoas.
"Fogo!"
E então, uma enxurrada de tiros ensurdecedores.
Eu não havia conseguido apertar o gatilho.
Me mantive parado vendo os inimigos se esconderem.
"Avançar."
"Levanta, Jungkook."
Taehyung me puxou.
Passamos a andar por entre as árvores.
Nos escondíamos atrás das mesmas.
Taehyung sempre avançando e atirando.
Eu estava com tanto medo.
Aquilo parecia não ter fim.
Uma sensação tão terrível.
Um tiro no meio de tantos ecoou.
Fui empurrado para o lado.
Cai na terra.
Olhei para os lados.
Taehyung havia caído.
Me rastejei até ele.
Sua roupa estava molhada na altura do peito.
"Você sempre tão desligado, quase leva um tiro."
Sua voz fraca ficando cada vez mais baixa.
"Tae, não dorme, eu vou salvar você."
Eu estava desesperado.
Tentava pressionar o ferimento.
Ele estava sangrando muito.
Senti sua mão pesada pegar a minha.
"Deixa Jungkook, não vai adiantar."
Olhei para o mesmo.
Ele estava desistindo?
"Guerras são assim mesmo, no final, a gente sempre morre."
Morrer?
"Obrigado por tudo, amigo."
"Tae, não."
"Seja um herói."
E finalizando, seus olhos se fecharam.
"Não, não, não, não."
"Tae, acorda, por favor."
Sua cabeça pesou para o lado e seu último suspiro foi dado.
Ele havia ido.
Partido.
Morrido.
Morte.
Apenas isso que guerras trazem.
Seu rosto embaçado foi a última coisa que vi.
Fechei meus olhos molhados e deitei em seu peito.
Senti minha mente esvaziar.
O corpo mais leve.
Mas não era uma sensação boa.
Parecia que eu estava morrendo também.
No final, a gente sempre morre.
. . .
– Me desculpe por tê-lo mostrado isso. – senhor Bonhwa disse baixo, segurando minhas mãos. – Mas eu precisava lhe mostrar que a vida antiga também não era o mar de rosas que você provavelmente estava pensando ser.
Mantive minha cabeça abaixada tentando processar as cenas em minha mente. Meu peito doía extremamente, pressionava meu pulmão e me deixava sem ar.
– As pessoas eram egoístas, movidas ao ódio, a sede de poder, elas matavam quando não seguiam suas regras, condenavam aqueles que se desviava de seus caminhos.
Cada palavra do mais velho se alojava na minha cabeça, marcava a minha mente como ferro quente queimando a pele de um animal. E era muito doloroso.
Ver Taehyung morrendo em minha frente foi a pior coisa que eu poderia ter visto. Aquilo foi corrosivo, me destruiu por dentro, me deixou em pedaços, quase impossível de juntar novamente.
Como as pessoas poderiam ser ruins a esse ponto? Como elas matam milhares de pessoas apenas por prazer próprio? Nenhuma necessidade justifica você tirar a vida de alguém.
Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém.
– Era para eu ter levado o tiro. – finalmente pronunciei depois de ficar tanto tempo calado.
– Sim. – Bonhwa assentiu.
– Por que o senhor não fez com que eu levasse o tiro?
– Por que a dor de perder alguém que ama é muito pior. – o mais velho pronunciou após suspirar. – E eu queria lhe mostrar o real sentimento de uma guerra.
– O senhor tem razão, é uma dor muito, muito grande.
Um silêncio se instalou na sala, silêncio esse terrivelmente desconfortável, silêncio esse que me lembrava vazio, e esse vazio me lembrava a morte.
– Jungkook, eu preciso lhe mostrar mais coisas. – senhor Bownha proferiu. – Existem outras coisas tão ruins quanto essa que eu preciso que você fique ciente antes... – o mais velho parou de falar, me fazendo encará-lo com os olhos perdidos.
– Antes...?
– Antes do próximo passo. – seu olhar continha um misto de dúvida e receio, o que implantou um calafrio violento em meu corpo.
– Que próximo passo?
– Eu explicarei, só peço que confie em mim. – seus olhos quase suplicantes me fizeram perceber que era algo de extrema importância.
– Eu confio. – disse baixo, ouvindo um suspiro vindo do mais velho.
O mesmo segurou minhas mãos novamente e fechou os olhos, me fazendo fechar os meus automaticamente, porém o medo do que viria ainda me fazia suar frio.
. . .
Vento.
Calor.
Meus olhos ardiam.
Meu nariz pesava.
Tinha dificuldade de respirar.
O coração batia forte.
Abri os olhos.
Eu estava no meio de uma savana.
O sol batia forte em meu rosto.
O solo duro apoiava minhas botas.
Eu estava petrificado.
Um único som estalava em meus ouvidos.
Como um eco estrondoso e que estava preso em minha mente.
Um tiro.
Esse era o som.
Um tiro alto e certeiro.
Em minha frente um elefante.
Um elefante caído.
"Bela pontaria, JK."
Um homem se dirigiu a mim tocando em meu ombro.
"Fizemos bem em tê-lo chamado, sabia que seria útil."
Eu estava em pânico.
Do que ele estava falando?
Olhei para minhas mãos.
Uma espingarda pesada nelas.
Ainda saia fumaça de seus canos.
O que eu fiz?
"Não se preocupe, você terá parte da recompensa."
Recompensa?
E então percebi.
Era um mamute.
Suas presas valiam muito.
Um animal em extinção.
E eu o matei.
Meus olhos encheram de lágrimas.
Não podia ser.
Eu acabei de matar.
Meus olhos se fecharam com força.
Senti meus pés flutuarem.
. . .
Novamente pisei em solo firme.
Abri os olhos.
Uma cidade.
Movimentada.
Pessoas passando de um lado para o outro.
Buzinas para todos os lados.
Passos e mais passos.
Prédios imensos.
Algumas pessoas pararam de súbito.
Todos olhavam para cima.
Olhem na direção.
E então uma explosão.
Um avião chocando-se com o prédio.
As pessoas ao meu lado gritaram.
Correria.
Pânico.
Eu estava perdido.
Via carros batendo e pessoas correndo.
Outro avião.
Choca-se com o outro prédio ao lado.
Pessoas chorando por todos os lados.
Sirenes ensurdecedoras.
Caos.
Tristeza.
Agonia.
Mortes.
Pessoas morreram naqueles prédios.
Os primeiros corpos se jogando de lá de cima.
Pessoas que sabiam que não iam se salvar.
Pessoas sem esperanças.
Pessoas decidindo por suas vidas.
Tristeza profunda.
Fechei os olhos.
Eles estavam úmidos.
Eu estava tão triste quanto as outras pessoas.
Meus pés flutuaram.
. . .
Eu me sentia diferente.
Abri os olhos.
Eu estava em um banheiro.
Meu rosto estava mais jovial.
Eu me sentia mais novo.
Como uma criança.
"Jungkook!"
Ouvi um grito.
Olhei para a porta entreaberta.
"Tranque a porta, Jungkook."
Uma voz feminina.
Existia desespero em sua voz.
Me aproximei da porta.
Uma mulher segurava um homem.
Eu via familiaridade em seus rostos.
Nunca havia os visto.
Mas eu sabia que os conhecia.
"Me larga."
O homem gritou.
A mulher estava grudada em si enquanto se estendia pelo chão.
"Você não vai tocar no meu filho."
Filho?
Ela era minha mãe?
"Me larga ou eu te mato."
Morte novamente.
Eu não aguentava mais.
Ouvi um estalo.
Ele havia dado um tapa nela.
Havia se soltado e vinha em direção a porta.
Fechei rápido a mesma e tranquei.
Ele tentava arromba-la.
Gritos e mais gritos.
Outros tapas.
Me sentei no chão, observando as sombras por baixo da porta.
Ele havia lhe segurado.
Ela esperneava.
Gritava alto.
Muito alto.
Ninguém ouvia os gritos?
Ninguém viria ajudar?
Seus gritos pararam.
A sombra mostrava seu corpo imóvel.
Um barulho e seu corpo no chão.
O que ele havia feito?
Passos.
A sombra de pés na porta.
Ela é arrombada.
O homem está parado no banheiro.
Ao fundo, minha mãe.
Sem vida.
O que ele fez?
"O próximo é você."
Gritei.
. . .
Abri os olhos rápido enquanto ainda gritava.
Ouvi os pedidos de calma do senhor Bonhwa, mas eu estava em choque.
Não sei por quanto tempo me mantive gritando, mas parei assim que o mais velho tocou meu rosto.
– Jungkook, olha para mim. – o mesmo pediu, virando meu rosto em sua direção. – Olhe para mim, olhe para os meus olhos. Você voltou, calma.
Seus olhos transmitiam um sentimento de conforto, então assim que me concentrei neles, meu coração se acalmou e o suor parou de escorrer, mas eu ainda me mantinha apavorado, desesperado, completamente perdido.
– Me desculpa, Jungkook. – sentia o coração do senhor Bonhwa em minhas mãos, tamanha a sinceridade resplandecendo de seus olhos cristais. – Me desculpa por mostrá-lo isso, mas eu precisava.
Sua voz embargada fez uma lágrima solitária se apossar do meu olho e trilhar um caminho pela minha bochecha, sendo seguida por outras e mais outras, até que a visão embaçada era a única coisa que conseguia ter.
Senti braços em mim e percebi que o mais velho havia me abraçado. O abracei na mesma intensidade, só assim eu consegui sentir segurança, só assim eu consegui me sentir livre para mostrar meus sentimentos, minha dor.
– Me desculpa. – senhor Bownha repetiu, seu corpo pesado mostrando a culpa em cima de si, o seu aperto firme mostrando como aquilo o afetou também.
Foi então que percebi que todas as memórias não afetavam só a mim, mas ao senhor Bonhwa, toda aquela dor sendo revivida apenas para me mostrar. Percebi que estava sentindo aquilo a primeiro momento, mas o senhor Bonhwa tinha aquilo consigo, sentia o tempo inteiro, esteve sempre sentindo desde quando recebeu as memórias.
Doeu tanto nele quanto em mim.
Ele sofreu da forma que eu sofri.
– Não precisa se desculpar, senhor Bonhwa, eu entendo. – falei com a voz fraca, meu rosto inundado de lágrimas enquanto me afastava do mais velho, percebendo que seu rosto também continha lágrimas.
Passei meus polegares por suas bochechas enrugadas, enquanto o mesmo ainda sussurrava "desculpa", e eu, da mesma forma, dizia "tudo bem".
Mas não estava tudo bem. Aquelas memórias eram reais? Eram acontecimentos reais? As pessoas no antigo mundo faziam mesmo isso?
E como se tivesse lido minha mente, senhor Bonhwa respondeu, com a voz embargada na dor.
– Sim, Jungkook, é tudo real, essas coisas aconteceram. – me assustei com a revelação, me afastando um pouco e andando pelo salão vazio.
Então as pessoas destruíam a si próprias e as criaturas que viviam com elas?
Pensar nisso me causava calafrios, cada cena se passando como um filme em minha mente, uma tortura interminável.
– Então esses foram os motivos para a destruição do antigo mundo? As pessoas mataram seu próprio mundo? – perguntei baixo, refletindo sobre todas as coisas que eu tinha alojado em minha cabeça.
Ouvi um suspiro vindo do mais velho e olhei para o mesmo, observando seu impasse em pronunciar alguma coisa.
– Senhor Bonhwa, o que realmente aconteceu com o antigo mundo? Ele foi totalmente destruído mesmo?
Seus olhos se fecharam forte, como se doesse no mesmo ter que ouvir aquilo. Fiquei confuso com seu ato, verificando onde eu poderia ter errado e o motivo da pergunta doer-lhe tanto.
– Eu não sei te informar isso, Jungkook. – disse finalmente, sua voz incerta e baixa.
– Como não?
Outro suspiro vindo do maior, e então ele me olhou, seus olhos tão sensíveis que refletiam sua alma.
– A minha doadora, senhora Lim, desde que recebeu as memórias, fez um trabalho de reconhecimento de local para além da sociedade.
Aquela informação me chocou absurdamente.
– Quer dizer que ela...
– Sim, ela foi para além da colina.
Entrei em estado de choque. Nunca ninguém havia ido para além da colina.
Nunca nos fora dito que alguém havia ido para além da colina.
– Vocês não sabem de muita coisa que já aconteceu aqui nessa sociedade, e para falar a verdade, pessoas que viviam naquela época também não sabem, e você consegue imaginar o porquê. – parei para buscar em minha mente um motivo, logo entendendo.
– O medicamento matinal...
– Exato. – senhor Bonhwa andou até uma das poltronas e sentou-se nela, ficando perdido novamente em seus pensamentos. – A senhora Lim era a pessoa mais perspicaz que eu pude conhecer, e ela foi para além da colina mais de uma vez, a fim de entender o que de fato acontecia, até onde ela podia confiar nos superiores. Quer saber a sua conclusão desse estudo?
Olhei para o mais velho, assentindo.
– Ela descobriu a verdade.
Verdade?
– Que verdade?
– Que todos nós estamos sendo enganados o tempo inteiro, de todas as formas.
Fiquei estático. Era informação demais, meu cérebro estava trabalhando tão rapidamente que cogitava o momento em que ele pifaria e eu desligasse completamente.
– Ela não concluiu os seus estudos a tempo. – senhor Bonhwa verbalizou, cabisbaixo. – Enquanto ainda era seu aluno, suas pesquisas estavam sendo feitas, ela chegou muito longe, mas precisou parar quando sua saúde a colocou em risco. Ela pediu para eu continuar as pesquisas, mas eu nunca consegui, ao contrário do que ela pensava, eu não sou tão corajoso.
– É claro que o senhor é, é corajoso e forte. – falei exasperado, tomando a atenção do mais velho. – É um exemplo para mim.
Senhor Bonhwa sorriu.
– Obrigada por isso, Jungkook, estou feliz por ser um exemplo para você, mas não sou corajoso e forte, não como deveria ser, e por causa disso, não consegui continuar os estudos que a senhora Lim deixou para mim. – ele suspirou cabisbaixo.
Franzi a testa. A senhora Lim havia chegado tão longe, com certeza havia se esforçado muito por aquilo, por aqueles estudos, todo aquele conhecimento que a mesma adquiriu não pode ter sido em vão.
Eu não deixaria que fosse em vão.
– Senhor Bonhwa, - chamei o mais velho, vendo-o levantar seus olhos em minha direção. – então é isso? A senhora Lim venceu tantos obstáculos e descobriu tantas coisas para que caíssem no esquecimento depois? O senhor não acha isso errado?
Vi o mais velho suspirar novamente, já havia perdido as contas de quantas vezes.
– Mas Jungkook, eu não fui capaz de fazer isso, e minha filha nem chegou a ter conhecimento desses estudos. Mesmo que eu quisesse dar continuidade, não tenho mais disposição, já estou velho.
Olhei para os lados, tentando achar uma solução, até que uma luz se acendeu em mim.
– E se eu continuasse os estudos?
Senhor Bonhwa levantou os olhos rapidamente, sua expressão era um misto de pavor e negação.
– Não faça isso, Jungkook, é muito perigoso.
– Eu sei que é, e estou disposto a correr o risco.
– Você pode morrer, é isso que quer?
– Jogar uma vida inteira de estudos e descobertas no lixo, é isso que quer? – alterei a voz, assustando o mais velho. – Se o senhor não teve coragem de continuar, tudo bem, não o culpo, o senhor teve todos os motivos do mundo, mas não me deixe aqui preso como se eu não soubesse que tudo o que vivemos pode ser uma grande mentira, que temos a oportunidade de descobrir a verdade batendo na nossa porta mas não podemos abrir porque o senhor não tem coragem.
O mais velho estava apavorado. Seus olhos arregalados me fitavam e o azul cintilante inundava todo o salão, e foi então que percebi minhas palavras e fechei os olhos, me arrependendo de ter falado daquele jeito com ele.
– Me desculpa senhor Bonhwa, me desculpa mesmo, eu não deveria ter falado assim com o senhor, não deveria tê-lo desr-
– Você tem razão. – o mais velho pronunciou com sua voz baixa e profunda, interrompendo minhas súplicas e me fazendo olha-lo. – Você tem razão, Jungkook, eu sou covarde, mas não posso prender ninguém aqui como se fossem covardes como eu.
Observei sua expressão, ele parecia determinado enquanto se levantava e ia até a porta, me fazendo segui-lo rapidamente. Atravessamos o corredor e o salão principal, até entrar em outro corredor, um que eu nunca havia entrado, muito menos me dado conta da existência do mesmo. No final dele, havia um armário de madeira avermelhada, continha gavetas na parte de baixo e um armário com duas portas na parte de cima. Após abrir o cadeado que trancava a porta do armário, percebi como era algo sigiloso e de sumo segredo, me fazendo sentir importante por colocar as mãos no que fosse que o mais velho tirasse dali.
O mesmo tirou uma caixa escura do armário, parecia um pouco pesada e eu me solidarizei a levar a caixa até o salão principal, depositando-a em cima de uma das mesas e me sentando em uma poltrona, explorando com os olhos a caixa média muito bem feita, de madeira refinada e esmaltada, brilhante. Senhor Bonhwa abriu outro cadeado que fechava a mesma, me fazendo perceber que eu não havia visto de onde o mais velho havia tirado as chaves. Será que andavam consigo o tempo todo escondidas por baixo da roupa? Aqueles documentos eram tão importantes assim?
Me inclinei para observar o conteúdo da caixa, me deparando com vários papéis, pareciam relatórios, com dezenas de desenhos, todos com o mesmo aspecto e seguindo um mesmo estilo de traço. Havia alguns objetos de origem duvidosa, objetos esses que eu nunca havia visto na vida.
– Esses são os documentos da senhora Lim, tudo que está aqui foi fruto de suas pesquisas, tudo o que ela descobriu está escrito nessas folhas. – senhor Bonhwa pronunciava enquanto folheava delicadamente e lia por alto as escrituras que ali continha.
Ele ergueu os documentos a mim e eu fiz o mesmo que ele, folheei página por página, havia tanta coisa escrita ali, mas eu sabia que cada palavra era importante, foram frutos de uma vida dedicada a compreender o mundo em que vivíamos.
– O que é isso? – mostrei para o mais velho os desenhos que haviam ali, eram vários e pareciam seguir uma ordem, tinham semelhanças.
– Isso são mapas, eles servem para te guiar pelo caminho certo até chegar onde deseja. – senhor Bonhwa pegou outros dois objetos,me fazendo curiosamente analisa-los. – Aqui tem um binóculo e uma bússola. O binóculo tem duas lentes de aumento que te ajudam a enxergar coisas ao longe, e a bússola serve para você localizar-se de acordo com os pontos cardeais.
Eu não entendia muito bem o que eram os objetos, mas pareciam importantes e de extrema ajuda.
– Você poderá levar os relatórios para casa se quiser lê-los para entender até onde ela chegou, mas há esse mapa que resume sua caminhada. – Bonhwa tirou do meio das folhas um mapa grande dobrado em dois, o abriu e expôs na mesa, utilizando seu indicador para explicar. – Após a queda da colina, há um campo gramado com algumas árvores, você deverá passar por esse campo e ultrapassar o monte daquela árvore. – o mais velho virou-se para a grande janela, apontando para uma única árvore no meio de um monte, banhada de folhas verdes e do sol laranja do fim da tarde. – Após ultrapassar esse monte, deverá caminhar por um grande período de tempo. Lembro-me de quando senhora Lim saía para estudar, ela voltava alguns dias depois e sempre reclamava do quanto era longe, um caminho longo.
Assenti, tentando captar todas as informações.
– Ao meio desse caminho, há essas três pedras triangulares, uma ao lado da outra. Eu não sei quem as colocou ali e como, mas elas servem de referência para a base aérea daqui, pois a ordem que eles tem é que não podem circular para além dessas três pedras. Eles foram os únicos, tirando a senhora Lim, que até hoje puderam ver aquelas pedras. – assenti, estupefato.
Senhor Bonhwa voltou ao mapa, apontando para outra direção do mesmo.
– Após essas três pedras e o resto do caminho, há um lago, talvez você possa dar a volta pelas margens dele se não for muito grande, mas não tente atravessá-lo, tenho certeza que você não sabe nadar. – o mais velho sorriu, mas sabia que sua advertência era séria, então não me opus. – Após o lago, haverá mais uma caminhada, e então, o final.
Senhor Bonhwa apontou para o final da folha, onde havia desenhado um retângulo em vertical. Observei as anotações ao lado do desenho, onde estava escrito coisas como "final" e "não ultrapassei".
– Ela não ultrapassou esse local?
– Acredito que não. Se tivesse atravessado, teria algo a mais no mapa, mas ele acaba aqui, esse é o final.
O olhei, intrigado.
– Como ela sabe que esse é o final? Quer dizer, ela não ultrapassou, como sabe que não existe mais caminho para além desse retângulo?
– Eu não sei. – falou, sincero. – Ela nunca me contou como sabia que era o final, apenas me disse que estávamos a um passo da verdade.
Encarei o mapa, um pouco confuso. E se todos aqueles estudos fosse só o começo do caminho e não ele todo? E se não estivéssemos perto da verdade? E se tudo o que vivemos e sabemos hoje fosse a real verdade? O que eu encontraria depois daquele retângulo?
– Eu sei o que está pensando, eu pensei o mesmo quando percebi que tudo isso estava em minhas mãos. Você não precisa fazer se não quiser, Jungkook.
Após alguns segundos, olhei para o mais velho com determinação. Eu sabia o que queria, eu sabia que precisava fazer aquilo.
E eu faria.
xxx
oi dengos (:
as coisas estão realmente sérias, a fic chegou em uma parte extremamente tensa e decisiva, então prestem muita atenção em cada detalhe dela, as respostas estão chegando.
o que estão achando? queria saber a opinião de vocês e sobre o que estão pensando, se tem alguma teoria ou se estão mais perdidas do que o povo de humanas nas aulas de exatas. *espaço pra vocês teorizarem e me xingarem*
eu estou muito feliz que memoriae chegou a 3k de leituras, eu jurava que ninguém se interessaria por essa fic maluca e cheia de mistérios, mas vocês parecem gostar, e isso é muito bom, mostra que meu trabalho vale a pena e isso só me incentiva a continuar fazendo-o.
falando sobre isso, eu poderia finalizar essa nota com minhas costumeiras militâncias, mas eu já estou cansada de tanto falar sobre o mesmo assunto, já postei sobre isso aqui e lá no twitter, logo, serei breve: NÃO FAÇAM COMPARAÇÕES DE FICS, ISSO DESMOTIVA O ESCRITOR E A GENTE ACABA PENSANDO QUE NOSSO CONTEÚDO NÃO É ORIGINAL, NEM QUE VOCÊ ESTÁ APROVEITANDO A OBRA A PONTO DE SE DESLIGAR DE OUTRAS FICS. TENHAM EMPATIA!!!!!!!
dito isso, eu encerro essa nota. qualquer coisa, me chamem no twitter, ele ta lá na bio.
beijos *:
lola.
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