xiii. e l e p h a n t

"you're better than both of us."

ooo

O quão simples as coisas podem parecer para aquele já habituado a essas coisas, mas tão raro para aqueles que nunca haviam se deparado com aquilo antes?

Perceber o quão bobo certas coisas podem ser, tão bobo que, a um tempo atrás, era raro, mas naquele momento, parecia tão simples, tão automático, tão natural.

Compaixão.

Amor.

Sentimento de cuidado.

Esses sentimentos sempre estiveram conosco, mas nunca nomeado, apenas sentido tão sutilmente que quase ninguém percebia. E o quão errado isso poderia ser, ocultar esse tipo de coisas boas de pessoas que não tiveram culpa de nada.

Por que?

Após perceber que as pessoas continuariam sem sentir tudo o que eu sentia, não poderiam ver tudo o que eu via, ter as experiências que eu tive... Tudo parecia tão errado.

E ao olhar para Young adormecido em seu berço móvel, eu percebia o quanto pessoas não são nada sem seus próprios sentimentos, sem suas próprias opiniões, sem o gosto de poder escolher o que quer fazer dali para frente, escolher o que quer fazer pelo resto da vida.

Young parecia tão frágil, indefeso, tão alheio de todo o turbilhão de pensamentos que rondaram minha cabeça naquele amanhecer laranja arroxeado. E mesmo cheio de coisas explodindo em minha cabeça, eu pude sorrir ao ver o bebê suspirar e mexer os pezinhos tão pequeninos.

Olhei para seu pulso, observando sua marca clara. Abri o berço e alisei meus dedos em sua bochecha redondinha e rosada, me lembrando vagamente das maçãs salientes do rosto de Jimin.

Ao lado de seu pequeno corpo, eu observei o objeto de conforto da minha irmã, que após olhar minuciosamente, algo se iluminou em minha mente me mostrando que aquilo era um bichinho de pelúcia em formato de elefante. Sorri com a descoberta e olhei novamente para Young, velando seu sono tranquilo.

Posicionei meu pulso em cima do seu cautelosamente, sentindo um choque passar por todo o meu corpo e instintivamente fechei os olhos enquanto sentia uma conexão forte com Young, como se nós dois fôssemos um, e que partilhávamos da mesma mente. Sentia a calmaria de seu subconsciente quase vazio, a não ser pela imagem do pequeno elefante de pelúcia que eu já imaginava que estaria por lá. Ele parecia sonhar com o objeto.

Abri os olhos, ainda me sentindo conectado ao pequeno adormecido. Montei uma memória antes de enviá-lo, era a memória de um elefante na selva, um elefante vivo, grande e que soltava sons até de suas pegadas pelo solo árido.

– Isso sim é um elefante de verdade.

Murmurei, tendo cuidado para falar baixo o suficiente, não queria acordar minha irmã que dormia do outro lado do cômodo. Observei os traços de Young antes de identificar um sorriso pequeno e genuíno nascendo em seus lábios minúsculos, me fazendo sorrir também.

– A realidade é sempre mais bonita, né?

Questionei passando meu polegar por sua bochecha enquanto sentia uma sensação quase palpável agarrar em meu corpo com força e precisão.

Eu só queria salvar Young daquilo tudo.

– – –

– Você parede preocupado.

Suspirei antes de elevar meus olhos para o senhor Bonhwa que entrava na sala. Estávamos no cômodo onde ficava o piano, como uma forma de modificar um pouco as coisas e criar uma conexão a mais com aquele lugar. Mas minha cabeça estava aérea. Teclava preguiçosamente em algumas teclas do piano em minha frente, pensativo. 

– E eu estou.

– O que te aflige?

– Estou preocupado com Young. Jimin disse que ele não anda bem, não está se desenvolvendo. Ontem levaram-no de volta ao Centro Maternal para fazer exames.

Observei senhor Bonhwa se sentar ao meu lado.

– O como Jimin está com isso tudo?

– Está preocupado, muito preocupado. Eu estou fazendo ele ter sentimentos por um grande espaço de tempo. Ele está desenvolvendo um forte sentimento de cuidado por Young. Esses dias ele foi ao meu quarto no meio da noite chorando de preocupação por Young, eu o consolei e acabamos fazen... – parei bruscamente minha fala, olhando para o senhor Bonhwa que me olhava atento. Houve um curto silêncio até o mais velho rir nasalado e negar com a cabeça.

– Eu sei o que vocês fizeram.

– Sabe?

– As vezes você parece esquecer que estamos conectados mentalmente. – mantive meu olhar nas esferas azuis do mais velho. – Eu precisei desconectar nossa ligação por um tempo, não sou obrigado a saber o que você faz com seu menino.

Desviei meus olhos para minhas mãos, sentindo meu rosto aquecer de vergonha.

Senhor Bonhwa podia ver o que fazíamos?

– Constrangimentos a parte, você me disse que Jimin está mantendo seus sentimentos ligados, sentindo-os o tempo inteiro e, consequentemente se preocupando com Young? – assenti. – Isso não é bom.

Encarei o mais velho novamente, franzindo o cenho. 

– Por que?

Senhor Bonhwa suspirou antes de desviar o olhar.

Era a primeira vez que eu via senhor Bonhwa tão apreensivo, o que naturalmente me fez ficar também.

– Senhor Bonhwa, o que houve?

– Eu preciso lhe mostrar uma coisa, mas eu quero que me prometa que vai manter a calma, tudo bem?

Me assustei um pouco com sua fala, ficando duplamente mais apreensivo.

– Eu prometo.

Senhor Bonhwa suspirou novamente antes de fechar os olhos. Alguns segundos depois, observei as paredes começarem a se modificar, junto com o teto e o chão. O piano em nossa frente se fundia com as paredes de pedra da sala, dando lugar a uma parede branca com um vidro no meio dela, parecia um observatório.

Diante de nós, atrás do vidro, havia outra sala. Suas paredes de metal transmitiam algo frio e vazio. No meio dela, havia uma mesa com uma espécie de mini-cama forrada com um pano branco e uma caixa de acrílico ao lado dela. Alguns armários igualmente de metal e alguns aparelhos hospitalares também se mantinham em volta da mesa, aparelhos esses que eu não fazia ideia do uso.

– O que está acontecendo, senhor Bonhwa? – perguntei confuso.

– Apenas observe, Jungkook. 

Olhei novamente para o vidro, agora observando a porta de metal se abrindo e vendo meu pai entrar por ela, trazendo um bebê em seu berço móvel. O berço foi colocado em cima da mesa, tendo o vidro aberto e a criança tirada de lá com todo o cuidado possível, sendo colocada na mini-cama forrada. Me atentei a olhar para o rostinho do bebê e perceber que não era Young.

– Eu vou terminar isso logo, está bem, garotinha? – a voz do meu pai ecoou pela sala, ultrapassando o vidro de proteção, enquanto o mesmo fazia um leve carinho no pé da menina, fazendo-a sacudir os pés desajeitadamente.

– O que ele fará? – perguntei ao mais velho ao meu lado, recebendo apenas seu silêncio. Os olhos do senhor Bonhwa estavam atentos a cena em nossa frente, tão friamente observador que me assustou por um momento.

Me atentei a cena também quando ouvi uma gaveta de um dos armários ser aberta e observei meu pai tirar de lá algo que parecia uma ficha, parecia analisar a mesma enquanto alternava seu olhar entre o pequeno bebê e a ficha.

Após guardá-la no mesmo lugar de onde tirou, ele ligou um dos aparelhos em volta da mesa, posicionando a mini-cama com a garotinha perto do aparelho.

– Isso será rápido, eu prometo. – meu pai sussurrou para o bebê.

Meus olhos extremamente atentos em cada movimento do meu pai enquanto o mesmo observava o aparelho fazendo o seu trabalho. Uma luz se acendeu em uma esfera redonda que estava posicionada na ponta da mesa, perto da cabeça do bebê. Observei o mesmo ficar agitado, seus pezinhos indo e vindo, ele parecia pressentir algo. Uma espécie de agulha se posicionou em meio a esfera redonda de luz enquanto a máquina se aproximava da menina, tão lentamente que chegava a ser torturante observar.

Andei um pouco para frente, pressionando minhas digitais no vidro enquanto observava a agulha se infiltrar na cabeça do bebê e um líquido transparente ser injetado. Os pezinhos, que antes balançavam quase desesperadamente pararam em um súbito segundo. Os olhos da criança, antes abertos, foram se fechando lentamente, e sua cabecinha tombando para o lado.

Desfalecendo aos poucos, sob meu olhar espantado.

– O que ele fez? – perguntei em um sussurro, minha voz parecia ter sumido instantaneamente.

Sem uma resposta do mais velho, me mantive olhando pelo vidro o meu pai desligar o aparelho e pegar o corpo mole do bebê, colocando dentro da caixa acrílica que já estava ali do lado e levando até uma outra área da sala, onde se encontrava uma pequena porta quadrada na altura de sua cintura, do tamanho exato da caixa acrílica. Meu pai abriu essa porta e colocou a caixa de acrílico ali, observando a rampa dentro da mesma levar a caixa para longe de nossos olhos. Com a porta fechada, ele voltou ao armário, pegando novamente a ficha e uma caneta, anotando algo por ali até se dirigir a porta por onde entrou, saindo tranquilamente enquanto tudo em minha volta ia desaparecendo, dando lugar novamente as paredes de pedra e ao piano marrom.

Meu corpo estava estático, minha voz havia sumido. Meus olhos não desviavam da mesma parede onde passara toda a cena.

O que havia acontecido ali?

Senti meu ombro ser tocado pelo senhor Bonhwa, mas tirei sua mão antes que ele firmasse o aperto, me afastando, começando a andar perdidamente pela sala.

– O que ele fez, senhor Bonhwa? – perguntei enquanto andava de um lado para o outro desnorteado.

– Calma Jungkook, eu vou lhe exp...

– O que meu pai fez? – falei mais alto, como um grito, enquanto passava as mãos pelo meu cabelo.

– Aquela garotinha havia nascido com algum problema de desenvolvimento, então ele a descartou, já que não era saudável como os outros bebês. – senhor Bonhwa pronunciava cada palavra calmamente, parecia ter medo da minha reação.

Ao ouvir aquilo, meu corpo parou. Minhas mãos começaram a suar e meu coração acelerou quase pulando para fora do peito. Encarei o senhor Bonhwa com a testa franzida.

– O meu pai matou aquele bebê?

– Jungkook, eu...

– O meu pai assassinou aquela criança! – gritei novamente, agora muito mais alto, a plenos pulmões.

– Garoto, calma, deixa eu explicar.

– O meu pai é um assassino! – minha voz se mantinha alta e meus pensamentos mais altos ainda. Apertei meus dedos em meus fios, sentindo meu couro cabeludo doer pela força.

Senhor Bonhwa caminhou até mim e segurou meus braços, me fazendo virar para ele e olha-lo nos olhos.

– Ele não sabe o que está fazendo, Jungkook. Ele só é designado a fazer, mas ele não sabe a gravidade disso, ele não sabe o que é matar alguém. – seus olhos atentos aos meus me passavam a calmaria que eu precisava naquele momento, por isso tirei meus dedos dos meus fios e suspirei fundo, antes de olhar novamente para o senhor Bonhwa. – Entenda, Jungkook, dentro dessa sociedade nós não temos direito de escolha, nós não fazemos o que queremos. Nada se move sem que a líder Sook e os superiores permitam.

Espera.

O que?

– Os superiores? – perguntei baixo. – Mas a minh...

– Sim, a sua mãe é um dos superiores e sim, ela faz parte disso.

Meu corpo gelou instantaneamente. Todo o sangue que corria por minhas veias parou, travou, estagnou.

A minha mãe também fazia parte disso tudo.

Não podia ser.

Era quase impossível engolir tudo aquilo. Parecia tão errado, tão insensível, tão frio.

– Isso não está certo, senhor Bonhwa. – falei com a voz falhada, só percebendo naquele momento que eu havia começado a chorar. E após me dar conta de algumas coisas, olhei rapidamente para o mais velho. – Irão fazer isso com o Young?

Senhor Bonhwa apertou meus braços antes de me puxar para um abraço, me fazendo perceber tudo.

Iriam matar Young.

 Meu choro, agora livre, inundava meu rosto. As lágrimas que escorriam parecia queimar cada canto de pele por onde passava. Eu não podia permitir que fizessem isso, não poderia deixar que levassem o meu futuro recebedor, o meu pequeno garoto.

O garoto do Jimin. O nosso garotinho. 

– Senhor Bonhwa, eu não posso deixar que façam isso com ele. Eu não posso. – eu sussurrava de olhos fechados enquanto mantinha o abraço com o mais velho.

– Então não deixe, Jungkook. Não perca alguém assim como eu perdi. – senhor Bonhwa pronunciou, me fazendo recuar do abraço e olhar para seu rosto, vendo a força que fazia para não se emocionar também.

– O que quer dizer com isso?

Um suspiro do mais velho foi ouvido antes do mesmo se afastar e ir para perto da janela de vidro semelhante a da sala principal, que ia do chão ao teto, de uma ponta a outra da parede.

Novamente, eu vi algo se formar em minha frente, era a silhueta de alguém, que depois ficou mais evidente ser uma mulher. Seus cabelos negros na altura dos ombros, sua franja rala tampando parte da testa, seu corpo magro e seus olhos tão azuis quanto os do mais velho.

– Essa era a minha filha, Moon. – senhor Bonhwa começou, se virando lentamente e encarando a imagem da mulher. – Coloquei esse nome nela por causa de seus cabelos negros que sempre foram bem escuros, como as noites de inverno, e seu sorriso era tão brilhante quanto a própria lua que iluminava essas noites.

Observei a mulher sorrir instantaneamente, um sorriso tão grande, tão bonito. Era realmente brilhante, esperançoso.

– Ela era jovem como você, e curiosa como você também. Queria sempre conhecer as coisas, saber o porquê delas existirem, tanto que ela era a próxima recebedora depois de mim. Ela seria sua doadora se não tivesse... – o mais velho parou de falar, respirando fundo antes de continuar. – Se não tivesse se suicidado.

Olhei rapidamente para o senhor Bonhwa, vendo seus olhos reluzirem brilhos molhados, parecia fazer tanta força para não chorar, e aquilo me partia o coração.

– Se não quiser falar, não precisa, senhor Bonhwa. Nós não temos pressa, eu espero o tempo que for e quando o senhor se sentir preparado, eu o ouvirei.

– Não. – disse ele, baixo. – Eu preciso me livrar dessa culpa, desse peso. Preciso contar isso para você antes do próximo passo.

Assenti, atento as suas palavras.

– Como eu disse, ela era uma recebedora, e eu estava lhe dando as melhores memórias do mundo antigo, mas ela queria mais, queria saber sobre a destruição que tanto falam atualmente. Ela dizia que se o mundo antigo era como eu mostrava, então para que modificá-lo e deixá-lo para trás ao invés de perpetuar os valores antigos? E então eu tive que mostrá-la, mostrar o verdadeiro mundo em que vivíamos. – o mais velho andou pela sala enquanto uma cena se formava em minha frente.

Era o senhor Bonhwa, um pouco mais jovem, ele parecia concentrado enquanto passava memórias para sua filha.

– Eu deveria tê-la treinado mais, deveria saber que as pessoas não agem da mesma forma que as outras. Eu soube lidar bem com as memórias que recebi do meu doador, mas ela era diferente, era mais sensível que eu, mais humana do que eu pensava. Eu deveria tê-la preparado para tudo o que eu mostrei, deveria tê-la avisado da dor que a causaria saber sobre todas aquelas coisas. Eu deveria...

– Senhor Bonhwa, não se culpe, por favor, o senhor não tinha como saber que isso aconteceria. – ditei, indo para perto do mesmo enquanto ele olhava para baixo, triste.

– Eu sei, mas ainda sim eu me culpo. Ela era minha filha, eu deveria saber até onde eu poderia ir com ela, mas ela queria tanto saber, queria entender. Infelizmente, ela não soube lidar com tudo, e então jogou-se do alto da colina, e suas últimas palavras foram "Obrigada por tudo, pai, mas eu não sou forte o bastante para sustentar tudo isso, talvez eu não seja humana o suficiente".

Olhei para seu rosto e vi uma fina lágrima rastejar sobre sua bochecha enquanto o mesmo se mantinha de cabeça baixa e olhos fechados. Limpei a mesma e continuei atento ao mais velho.

– Líder Sook me culpa até hoje pelo ocorrido. Disse que é tudo culpa minha, que eu fiz isso a ela, que eu a matei.

– O senhor sabe que não é verdade. Não foi culpa do senhor, muito menos de sua filha. Para nós é muito complicado lidar com toda a avalanche de sentimentos que essas memórias nos trazem, é um fardo tão pesado, senhor Bonhwa. O senhor só estava fazendo aquilo que ela pediu, mas nem ela mesma poderia imaginar que isso aconteceria. Ninguém tem culpa nessa história, por favor, entenda isso. – falei, enquanto o mesmo fungava e tentava acalmar a respiração. Passei a mão por seu ombro, observando o mesmo colocar sua mão por cima da minha, em um gesto de agradecimento. – Mas senhor Bonhwa, por que eu nunca ouvi falar nessa história? Quer dizer, ela parece ser algo recente e forte demais para ser esquecida.

O mais velho olhou para cima e abriu um sorriso, mas parecia não ser de felicidade e sim de indignação. Seus olhos se direcionaram a mim antes de sua fala.

– Sook fez todo mundo esquecer. – ele comentou, me fazendo franzir a testa em confusão.

– Como assim?

Senhor Bonhwa suspirou.

– Eu adiaria essa explicação para outro dia, mas acho que você precisa saber disso o quanto antes. – senhor Bonhwa disse antes de se direcionar a porta, abrindo-a e saindo da sala, me deixando confuso. Segundos depois ele apareceu novamente, me olhando. – Vai ficar ai parado? Venha.

Andei para fora da sala, caminhando pelo curto corredor até aparecer na sala principal, onde observei senhor Bonhwa sentar em um dos sofás de dois lugares que tinha por lá. Me sentei ao seu lado, pela primeira vez olhando a sala daquele canto, naquele sofá, e ela parecia tão incrível quanto em todos os ângulos que já a observei. Olhei para o mais velho ao meu lado esperando ele começar a sua fala.

– Bom, você me perguntou por que nunca ouviu sobre a história da minha filha e eu disse que Sook fez toda a sociedade esquecer, e eu te digo, Jungkook, não é só isso que ela omite de vocês.

O olhei confuso, mas incapaz de pronunciar algo, estava curioso demais para interromper o discurso do mais velho.

– Sabe o medicamento que vocês injetam todos os dias de manhã e que os superiores dizem que são vitaminas essenciais para o corpo? Bem, não deixa de ser verdade, mas eles omitem que nesse medicamento também faz com que seus sentimentos sejam desligados. Todas as características humanas de hoje vem desse medicamento. A falta de sentimentos, ou o desconhecimento deles, se assim preferir, a visão preta e branca para que tudo e todos parecessem iguais, o corpo sem qualquer resquício de substâncias liberadas de acordo com o calor ou frio, já que essa redoma em que vivemos tem o clima perfeito para a sobrevivência. – senhor Bonhwa cruzou as pernas, pondo suas mãos em seu colo. – Sabe por que você nunca ouviu essa história, Jungkook? Porque, por meio do medicamento matinal, Sook controla vocês, ela os fizeram esquecer dessa história, tanto que no dia seguinte do acontecimento, ninguém nunca sequer sabia que a Moon alguma vez existiu.

Eu estava estagnado, perplexo, embasbacado. Eu não conseguia mexer a face, muito menos fechar a boca, justamente por estar completamente insano com as informações. E visto que eu não conseguia dizer nada, senhor Bonhwa continuou.

– Vocês não nascem assim, Jungkook. Vocês não nascem vendo preto e branco, nem alheio aos sentimentos, seus corpos são manipulados ao longo de anos para atingir o que hoje chamamos de "ser humano perfeito". É por isso que é uma regra tomar o medicamento matinal, porque é um processo contínuo, se você não tomá-lo, irá começar a ver coisas, sentir coisas, o biológico natural do ser humano irá se apossar de você. Acredito que você, no início, quando começou a ter os sentimentos e a ver as cores, se sentia anormal, mas eu posso te dizer com todas as letras que você é normal, anormal são os outros, que tem seus corpos manipulados, como fantoches em uma esquete.

Pisquei algumas vezes, sentindo minha boca secar, meu peito estufar enquanto tentava respirar fundo para acalmar meu coração.

Isso era tão... Doentio.

– Nos fazem de bonecos... – sussurrei enquanto refletia tudo o que acabara de ouvir, era surreal se dar conta de tudo. – E as pessoas vivem hoje achando que isso é qualidade de vida, que isso é certo, que as regras só existem para manter a ordem, mas não, elas apenas existem para que os superiores mantenham o controle de tudo, de todos. Isso está tão errado, senhor Bonhwa. – discursei, indignado.

– Eu sei, Jungkook, e eu me senti tão revoltado quanto você. Ninguém nunca vai merecer passar pelo que essas pessoas estão passando. Mas, infelizmente, não há nada que possamos fazer.

Olhei para o senhor Bonhwa e o vi vacilar. Seus olhos caindo para suas mãos entrelaçadas enquanto mexia seus dedos.

– O senhor também parece esquecer que estamos ligados mentalmente. – falei, vendo um sorriso pequeno se moldar nos lábios do mais velho.

– Eu só não quero precipitar nada, nem fazê-lo cometer uma loucura. Pense bem em tudo o que eu lhe disse até hoje, e então, tome a decisão que você acha que precisa tomar. Eu sei que você é capaz de ser racional e sentimental ao mesmo tempo, é isso que difere você da Moon e de mim. Você é melhor do que nós dois, espero que entenda isso.

Senhor Bonhwa passou seus dedos pelo meu cabelo, chacoalhando meus fios e, consequentemente, bagunçando-os. Sorri em um agradecimento mudo pelas palavras tão esclarecedoras e revigorantes.

Eu era diferente, então precisava fazer a diferença.

xxx

OI

meu notebook voltou a funcionar, mas não sei até quando ele continuará assim, então vim aqui fora do dia que posto porque eu sei que estou devendo coisas pra vocês, peço perdão por todos os contratempos que aconteceu, juro que to tentando o meu melhor.

sobre o capítulo: as coisas estão bem tensas, é só vai piorar  kkkkkk quero que prestem muita atenção em todas as informações que estão sendo passadas, elas são primordiais pra vocês entenderem o que está acontecendo e não ficarem perdidos, mas caso estejam, podem perguntar o que quiser e eu tentarei responder de forma sucinta sem que dê algum spoiler.

e eu sei que o cap passado foi aquele lemon gostoso que eu mesma babo, mas eu espero muito que vocês não tenham desistido da história por causa dele, ainda tem tanta água pra rolar, então continuem aqui, por favorzinho!!!!

então é isso, espero que tenham gostado desse cap de uma cena só porém gigantesca e esclarecedora. qualquer coisa me chamem no twitter feelingguk.

beijos *:

lola.

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