iii. p r o m i s e

"your eyes will see what no one else sees."

ooo

– Jungkook? – ouvi uma voz familiar me chamando, me fazendo tomar um susto e quase derrubar minha bicicleta no chão. – Oh, desculpa, eu não queria te assustar.

– Aceito sua desculpa. – silabei arrumando minha postura.

– Você estava tão distraído. Estava pensando em que? – Jimin perguntou enquanto se juntava a mim na nossa caminhada pela rua.

– Pensando no meu novo cargo.

– E está ansioso? – Jimin me olhou com expectativa.

– Estou sim. Mal posso esperar para saber o que farei lá.

– Aposto que seu cargo não é mais legal que o meu. – ambos ouvimos uma terceira voz atrás de nós, e logo Taehyung se juntou a nossa caminhada.

Uau, piloto, que elegância. – verbalizei, tirando gargalhadas de Jimin.

– Estou maneiro, não estou? – Taehyung disse, passando suas mãos pela roupa que usava.

– Não sabemos o que isso significa, mas se for algo bom, então está sim. – Jimin comentou, fazendo o sorriso de Taehyung crescer.

– E vocês dois? Também não estão nada mal. – Taehyung nos analisou enquanto ainda andávamos tranquilamente. – Olhar para vocês e perceber que estamos finalmente na fase adulta, com nossos devidos cargos, a fim de ajudar a nossa sociedade me faz ter uma sensação tão desconhecida, mas tão boa.

O sorriso e as palavras de Taehyung contagiaram a mim e ao Jimin, então nos olhamos antes de sorrirmos também. Taehyung estava certo, pensar que naquele momento éramos adultos, com cargos importantes, contribuindo para nossa sociedade nos colocava um peso de responsabilidade nas costas.

Chegamos até a praça principal e, ao olhar para o relógio na grande torre central, percebi o quanto estava atrasado. Despedi-me rapidamente dos meus dois melhores amigos e sai, passei a correr contra o tempo, a fim de chegar logo a casa na extremidade da colina.

Atravessei a cidade quase toda, até chegar ao caminho em pedras que dava a casa isolada de todas as outras existentes em nossa sociedade. Após chegar a entrada de pedras, deixei minha bicicleta encostada um uma das paredes e encarei a grande porta de madeira. Pensei em bater na porta, porém um barulho me assustou. O barulho vinha de uma pequena máquina ao lado do batente da porta, e após ativar, uma voz eletrônica foi ouvida:

"Aproxime seu olho esquerdo, por favor."

E assim o fiz. Senti um incômodo após uma luz passar por meu olho e logo a porta se abriu, revelando um corredor extenso e escuro. Adentrei com cautela, observando cada canto do corredor que era revestido das mesmas pedras que a entrada. A porta se fechou atrás de mim, não me dando outra escolha a não ser caminhar em direção à outra porta, ao final do corredor. Essa parecia estar aberta, então apenas empurrei, me deparando com um salão extremamente diferente. Suas paredes eram repletas de estantes, cheias de diversos objetos cujo nome eu não sabia, não se assemelhavam a nada que eu conhecesse.

Existiam algumas poltronas ali e pequenas mesas redondas, com um tipo de objeto por cima parecendo um abajur, um pouco diferentes dos que eu conhecia. Mas o que me chamou a atenção foi a grande janela que existia ali, ocupava quase a parede inteira, se esta não fosse tão alta, mas ainda sim, era uma grande janela, dando vista às nuvens que tampavam o final da colina.

Fui cortado de meus pensamentos quando o som de alguém tossindo foi ouvido. Logo, um senhor entrava no salão, indo na direção de uma das estantes, mexendo por ali. Reconheci aquele senhor como sendo o mesmo que me encarava na Cerimônia de Designação.

– Está atrasado. – sua voz levemente rouca por conta da idade ecoou pelo salão, me deixando completamente paralisado ao ter os olhos do homem em mim.

– Eu sei, peço desculpa. – falei ajeitando minha postura, esperando uma resposta que não veio, me fazendo franzir a testa. – Peço desculpa. – repeti.

E novamente, o silêncio se fez presente. Eu iria repetir minha fala novamente, até que ouvi um suspiro e um estalar de língua vindo do mais velho.

– Pare com essa bobagem de "peço desculpa". – o homem disse em um tom rude, me assustando completamente. – Vai ficar ai em cima mesmo ou vai descer?

E após essa fala, percebi que estava no topo de uma escada circular. Desci a mesma calmamente, olhando para todos os lados daquela imensa sala.

– O que são todas essas coisas? – perguntei ao chegar perto de uma das estantes repletas daqueles objetos, não me atrevi a tocar, não era evasivo a esse ponto.

– São livros.

– Livros?

– Sim, garoto, livros. – ele disse em um tom cansado, parecia não ter a mínima paciência para minhas perguntas.

– E para que servem? – perguntei, tocando levemente na borda de um, sentindo sua textura dura em minhas digitais.

– Servem para ler.

– Ler? – olhei para trás, observando o senhor sentar em uma poltrona perto de uma das mesas redondas e pegar um, dos agora nomeados 'livros', e abri-lo. – O que tem neles? São como manuais?

– Não, garoto. Os livros trazem coisas muito mais fantásticas do que um manual. – o mais velho disse calmamente, ativando a minha curiosidade.

– Como assim?

– Esqueça isso agora. Aproxime-se.

Me aproximei cautelosamente, sentando-me na poltrona que se encontrava do outro lado da mesa. Demorou um tempo até que o homem fechasse o livro e o guardasse no local em que estava antes, olhando diretamente para os meus olhos.

– Meu nome é Bonhwa, mas para você é senhor Bonhwa. Vamos, repita comigo. – repeti seu nome, acrescentado o "senhor" anteriormente. – Exato. Agora, eu irei explicar o que você aprenderá comigo.

– Eu estou muito curioso para saber. – esfreguei as mãos uma nas outras e sorri gentilmente, tendo o olhar pesado do senhor Bonhwa em mim e uma negação com a cabeça foi feita, chamando minha atenção. – O que houve?

– Ah, garoto, se você soubesse da responsabilidade que terá agora... – um suspiro foi ouvido saindo do mais velho. – Bom, agora me diga, o que você já ouviu sobre seu novo cargo?

– Que o senhor irá me mostrar as lembranças do nosso mundo passado e que depois eu terei que passar para o próximo recebedor.

– Não, não é apenas isso, você não irá apenas receber as memórias, você irá senti-las também. – Bonhwa disse, passando a mão por suas vestes, antes de encarar meu rosto confuso.

– Senti-las?

– Sim.

– Como eu vou senti-las? E o que vou sentir? – eu estava em um misto tremendo de dúvida e curiosidade.

– Você irá saber quando sentir. O que você precisa saber é que você não irá só receber as memórias do passado, você irá tomá-las para si. Teu corpo mudará, seus olhos verão o que ninguém mais vê. – senhor Bonhwa pegou firme em minha mão, me fazendo encará-lo por estar distraído olhando para algo que eu não me recordava. – Jungkook, você foi escolhido por uma razão, você é diferente. Não é como se esse fosse seu primeiro contato com os sentidos. Você vem percebendo coisas estranhas, não vem? Vendo coisas que ninguém mais vê, sentindo coisas que ninguém mais sente... Estou certo? – Bonhwa perguntou, ainda segurando minha mão enquanto olhava fixamente em meus olhos.

– Sim. – disse finalmente. – Faz um tempo que isso começou, mas eu ando vendo coisas estranhas demais. No início eu fiquei com medo, mas depois fiquei curioso para descobrir o porquê de ver e sentir tudo o que vi e senti. – falei, olhando para um ponto fixo daquela sala, me recordando de cada coisa diferente e inexplicável que eu via.

– Isso era o seu dom florescendo dentro de você, e agora que você virou um recebedor das memórias, esse dom virá com força, então Jungkook, quero que me prometa que você será forte. – o mais velho apertou mais a minha mão, me fazendo encará-lo por instantes, antes de assentir, decidido. – Ótimo. Nossa aula termina por aqui.

– O que? – perguntei frustrado, vendo o senhor Bonhwa se levantar e andar até a escada. – Mas, senhor Bonhwa, eu queria aprender algo.

– Você terá sua vida toda, garoto, não precisa ter pressa. Agora levante-se, vou te acompanhar até em casa.

Me levantei cabisbaixo, seguindo o mais velho até a escada.

– – –

– Se eu sou o recebedor, isso faz do senhor o que? – perguntei enquanto caminhava ao lado do mais velho.

– Um doador. – respondeu após pensar um pouco.

– E o senhor mente? – sussurrei, olhando para os lados cautelosamente, tomando cuidado para ninguém ouvir o que eu dizia.

– O tempo todo. – senhor Bonhwa disse em um tom divertido, o que me assustou por um momento, era a primeira vez que via o homem um pouco mais amigável desde que conhecera. – E você poderá mentir também.

– Dispenso, obrigado. – disse levantando a mão, em negação.

– Ah, Jungkook, quando sentir o gosto da mentira, você não vai nunca mais querer parar. – Bonhwa parou de repente, se virando para mim.

– E como vou saber que o senhor não está mentindo agora?

– Você é esperto, garoto. – o mais velho tocou meu ombro com as mãos.

– Jungkook. – ouvi meu nome ser chamado e assim que olhei, vi Jimin e Taehyung se aproximando.

– Vai lá, garoto. Até amanhã.

– Até. – observei senhor Bonhwa sair sem falar mais nada, seguindo na direção em que vínhamos.

– E ai, como foi sua aula? Aprendeu muita coisa? – Taehyung perguntou curioso, sendo seguido por Jimin que o olhou com a mesma expectativa.

– Nada demais, foi só uma aula de apresentação. E vocês dois? Não deveriam estar na Companhia de Pilotagem e no Centro Maternal? – perguntei aos dois ali parados.

– Como era o nosso primeiro dia, fizemos apenas algumas coisas e fomos dispensados. – Jimin se pronunciou olhando para todos os lados procurando por algo desconhecido por mim e por Taehyung. Após sua checagem, olhou para nós e, com um olhar cúmplice, sabíamos o que ele estava pensando.

E não demorou muito tempo até que estivéssemos na praça central, andando até um dos monumentos que existia lá. Um deles, muito bem conhecido por nós três era o triângulo de arbusto, que consistia apenas em três paredes de arbustos altos, formando um triângulo, e no meio de um dos arbustos, havia uma pequena cachoeira d'água, que formava o lago em volta do monumento. Aquele lugar era nosso esconderijo, as câmeras de vigilância não pegavam dentro do triângulo e os microfones das mesmas não captavam a conversa que tínhamos ali dentro por causa do barulho da água. Era um lugar perfeito.

Após checar se tinha alguém olhando, nós três, sendo um de cada vez, passamos pela cachoeira de água, ficando encharcados, porém riamos, pois aquilo não deixava de ser engraçado, de alguma forma. Os três melhores amigos, encharcados, escondidos dentro de um dos monumentos da praça central.

– Eu queria dizer uma coisa. – Taehyung foi o primeiro a se pronunciar após as risadas cessarem. – Queria que soubessem que, independente de sermos adultos responsáveis agora, nós seremos os três melhores amigos, para sempre.

– Nenhum de nós irá abandonar o outro, sempre nos ajudaremos e sempre estaremos aqui, um para o outro. – foi a vez de Jimin falar, arrancando um sorriso de Taehyung.

– Seremos como sempre fomos, desde crianças, tão ligados quanto antes, e nada poderá mudar, nada. – e após encerrar a minha fala, sorrimos uns para os outros.

Um choque passou por todo o meu corpo e uma súbita vontade de me aproximar de ambos para intensificar o contato surgiu, porém, eu não sabia de onde isso vinha, não sabia o que eu queria fazer e o porquê. Então decidi apenas manter o sorriso em meus lábios.

Prometi a mim mesmo que iria descobrir toda a explicação sobre o que eu estava sentindo naquele momento e em muitos outros.

xxx

oiiiii <3

então, não há muito o que comentar, só espero que estejam gostando até aqui e que estejam com aquela pontinha de curiosidade pra saber o que vai acontecer no decorrer. confesso que eu mesma escrevendo ficava com expectativa de avançar logo na história.

qualquer pergunta barra teoria barra crítica construtiva barra reclamação barra xingamento que queiram fazer, fiquem a vontade, viu?

qualquer coisa, me mandem um "oi cachorra" no twitter, linkao na bio. desculpem qualquer erro.

beijos *:

lola.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top