8 - Cansado
Como imaginei, Nop não me diz nada. Ele apenas nega com a cabeça desviando seu olhar.
Suspiro cansado.
Eu estava cansado. Cansado de não entender, cansado de tentar fazer sentido do que acontecia.
A cada segundo que passava, parecia que eu estava mais longe da realidade, mais perdido em um labirinto que eu mesmo havia construído.
E, no centro de tudo isso, estava Pete.
Ele ainda estava ali, como sempre, com aquele sorriso tranquilo que me irritava e me atraía ao mesmo tempo.
Eu o via, mas não sabia o que fazer com ele. Às vezes, eu queria gritar, afastá-lo, mas em outros momentos... em outros momentos, eu simplesmente não conseguia.
Era como se ele fosse parte de mim, como uma sombra que me seguia onde quer que eu fosse.
Olhei para Nop, que estava parado perto da janela, como se esperasse que eu fizesse algo.
Ele não dizia nada, mas seu silêncio dizia mais do que qualquer palavra poderia dizer.
Eu sabia o que ele pensava.
Sabia que ele queria que eu me enfrentasse, que fosse até o fundo de tudo isso.
Mas, honestamente, eu não tinha forças.
- Eu não consigo, Nop. - As palavras saíram sem querer, mais fracas do que eu esperava. - Eu não consigo entender o que está acontecendo com a minha cabeça. Eu... não sei mais o que é real.
Ele não se moveu.
Apenas me olhou, e por um momento, parecia que ele entendia o que eu estava passando.
Ele sabia que eu não estava apenas lutando com as memórias, mas com o próprio peso da minha existência.
A dor, a raiva, o vazio... tudo aquilo que eu não sabia como lidar.
- Se eu te disser qualquer coisa isso vai te levar pra minha realidade, não pra sua.
Eu olhei para Nop com frustração, mas sabia que ele estava certo.
Eu não estava pronto para enfrentar tudo isso.
Não estava pronto para confrontar minhas próprias memórias, minhas próprias falhas.
E, ainda assim, algo dentro de mim se recusava a deixar a situação ir embora. Não conseguia deixar Pete ir embora.
Não conseguia me afastar dele, mesmo quando sentia que isso era o que eu mais deveria fazer.
Eu não sabia o que fazer com ele. E, mais importante, não sabia o que fazer comigo mesmo.
- Sinto que estou enlouquecendo. Eu não consigo entender nada... Tudo está confuso demais.
Eu só sabia de uma coisa: aquela dor não ia embora tão facilmente.
E Pete, por mais que eu tentasse ignorá-lo, sempre voltaria.
Ele sempre voltaria.
Nop me olha com um certo brilho nos olhos.
- Finalmente.
- Que?
- Está admitindo o medo. Isso é muito bom, Vegas.
O dia pareceu passar arrastado demais, pois minha mente está dando voltas e voltas na mesma pessoa.
Eu ainda estava ali, perdido no meu próprio caos, quando Pete entrou no quarto.
Ele parecia ser a única coisa constante em toda essa bagunça, mas, de alguma forma, ele ainda conseguia trazer um alívio.
Não sabia como ele fazia isso, nem por que eu permitia, mas sempre que ele estava por perto, parecia que a pressão no meu peito diminuía um pouco.
Pete entrou sem fazer barulho, como sempre, mas dessa vez algo estava diferente.
Ele estava... mais leve, de alguma forma.
Com um sorriso quase travesso no rosto, seus olhos brilhando com algo que eu não conseguia identificar imediatamente.
- Você está sério demais. - Ele disse, com uma leveza que me fez franzir a testa. - Vamos dar uma pausa nesse drama todo. Eu não sou bom em coisas muito pesadas, sabe?
Eu o encarei, desconfiado.
- O que você quer?
Pete deu um passo mais perto, ainda com aquele sorriso, como se estivesse se preparando para algo.
- Eu trouxe uma coisa para você. - Ele fez uma pausa dramática, como se aquilo fosse um grande mistério. - Mas vou precisar de sua ajuda para resolver um pequeno enigma.
- Ah, claro. Porque o que eu mais preciso agora é de enigmas. - Minha voz estava carregada de sarcasmo, mas, ao mesmo tempo, eu não podia negar que estava curioso. O que ele estava tentando fazer?
Pete se inclinou para frente, como se fosse contar um segredo, e a sua expressão ficou mais séria, embora ainda houvesse uma leveza no ar.
- Eu trouxe um jogo. Nada muito complicado, prometo. Só algo para tirar sua mente do caos, uma distração para esses seus pensamentos sombrios.
- Um jogo? - Eu olhei para ele com ceticismo. - Você está me dizendo que vai me distrair com... um jogo?
Pete apenas riu, a risada suave e despreocupada.
- Exatamente. Eu prometo que vai ser mais divertido do que ficar remoendo tudo o que está errado. Só... confia em mim.
A maneira como ele disse isso foi quase reconfortante.
Ele não estava forçando nada, não estava tentando me fazer sentir algo que eu não queria.
Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que ele estava tentando algo.
Algo simples, algo que talvez fosse exatamente o que eu precisasse mesmo que eu não fosse admitir isso.
Pete se afastou por um momento e pegou algo que estava escondido atrás da cadeira.
Ele o colocou na minha frente, um simples jogo de cartas.
Nada extravagante. Só cartas, mas o gesto, a maneira como ele estava fazendo aquilo, parecia mais importante do que o jogo em si.
- Você joga? Ele perguntou, com uma expressão inocente, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.
Eu olhei para o jogo.
Não sabia se era exatamente o que eu queria fazer, mas algo sobre aquele momento, sobre o modo como ele estava me oferecendo aquilo, me fez ceder.
- Claro que eu jogo. - Respondi, embora um pouco mais hesitante do que gostaria de admitir. - Mas, se eu perder, você vai me obrigar a fazer algo ridículo, não vai?
Pete deu uma gargalhada.
- Não, nada de coisas ridículas. Só um pouco de diversão.
E assim, começamos a jogar.
Não foi nada grande, nada que mudasse a vida de alguém, mas foi o suficiente para me tirar, por alguns minutos, da minha cabeça.
Era só um jogo, mas o que realmente me pegava era a presença dele.
A maneira como ele olhava para mim, como parecia entender que eu precisava de algo simples, algo que não fosse complexo.
Havia algo quase infantil no jeito dele, mas não no mau sentido.
Era como se ele soubesse que eu precisava de algo para aliviar o peso, de um jeito que fosse genuíno.
Era só um jogo, mas, quando eu olhava para ele, parecia que ele estava me oferecendo mais do que apenas uma distração.
À medida que o tempo passou, a tensão no meu corpo foi diminuindo.
Eu estava tão focado no jogo que as memórias das últimas horas começaram a sumir um pouco.
O peso da minha culpa, da minha raiva, do meu passado... tudo começou a desaparecer, se só por um momento.
Eu não queria que aquilo acabasse. Não queria que o jogo parasse.
Mas, mais do que isso, eu não queria que ele fosse embora.
Pete se tornou uma espécie de âncora, algo que, mesmo que eu tentasse negar, começava a preencher os espaços vazios que eu tinha ignorado por tanto tempo.
Eu ainda não sabia o que isso significava.
Eu ainda não sabia o que fazer com a forma como ele estava entrando na minha vida.
Mas, naquele momento, com ele ali, com sua presença calma e sua risada fácil, eu não queria pensar sobre isso. Só queria continuar jogando, continuar distraído.
Quando o jogo terminou, Pete se recostou na cadeira, os olhos brilhando com um humor que parecia querer escapar a qualquer momento.
- Viu? Não foi tão ruim, foi? Ele disse, com um sorriso travesso.
- Não, não foi.
- Eu sabia que você não era tão difícil assim. Pete brincou, com os olhos divertidos. - Você só precisa de uma pausa. Todos precisam, às vezes.
Eu não disse nada, apenas olhei para ele, pensando no quanto aquilo significava.
O peso da culpa e da raiva ainda estava ali, mas, por alguns minutos, tudo o que eu sentia era aquela leveza.
Algo que eu não sabia mais que existia dentro de mim.
- Talvez você esteja certo, Pete. - Eu disse, em um sussurro, mais para mim mesmo do que para ele. - Talvez eu precise de uma pausa.
Pete sorriu, e, por um breve momento, eu vi algo que nunca esperava ver nele: uma espécie de compreensão silenciosa.
Ele sabia que isso era mais do que apenas um jogo de cartas. Mas, por enquanto, ele não disse nada. Ele sabia que, às vezes, as palavras não eram necessárias.
E naquele momento, as palavras realmente não eram.
O silêncio pairou entre nós depois da partida, algo confortável, como se o jogo tivesse feito mais do que apenas nos distrair.
Algo mudou, não nas grandes ações ou palavras, mas em algo mais sutil, em uma sensação que se acomodava lentamente no ar.
Pete parecia ter uma maneira de fazer o tempo parar, de trazer calma para um lugar caótico como o meu interior.
Eu me recostei contra a cadeira, tentando evitar o olhar de Pete, que agora me observava atentamente.
Ele não parecia inquieto como os outros. Ele não me pressionava. Ele só estava ali, como se a presença dele fosse suficiente para dissipar qualquer sombra que ainda tentasse se infiltrar no ambiente.
- Sabe... - Pete quebrou o silêncio, sua voz suave, mas com uma energia que ainda fazia o ar se mover. - Eu sou bom em perceber coisas, Vegas.
Eu arqueei uma sobrancelha, desconfiado, mas não disse nada. Não queria dar a impressão de que estava interessado demais.
- Tipo o quê? - Eu falei, tentando manter a voz indiferente, mas mesmo eu sabia que estava curioso.
Pete não se apressou em responder. Ele parecia gostar de me manter na dúvida, o sorriso nos lábios, mas os olhos suavizados por algo que parecia mais... genuíno.
- Tipo, o que você está tentando esconder. Ele olhou diretamente para mim, sem medo. - Você tem muito mais camadas do que eu imaginava, Vegas.
Aquilo me pegou de surpresa.
Eu não gostava quando as pessoas diziam isso, porque sempre soava como se estivessem tentando penetrar em algo que eu não queria mostrar.
Mas Pete não parecia estar pressionando.
Ele simplesmente falava como se fosse natural, como se ele já soubesse de algo que eu ainda estava tentando entender.
- E o que você acha que estou tentando esconder? - Perguntei, meu tom desafiador, mas sem a mesma intensidade de antes. Algo nele estava me permitindo baixar a guarda.
Pete deu um pequeno sorriso, mais uma vez mostrando aquela suavidade que mexia com minhas defesas.
- Não sei, Vegas. Mas você está sempre tão em controle, tão... seguro de si. - Ele deu um leve suspiro, como se estivesse tentando entender o que passava pela minha cabeça. - Mas ninguém é sempre assim. Todo mundo tem alguma coisa que... eles não querem encarar.
Eu não queria, mas me vi franzindo a testa.
Havia algo sobre a maneira como ele falava que mexia com o que eu sabia ser verdade, algo que estava enterrado dentro de mim e que eu preferia deixar ali, bem escondido.
- Você acha que sou fraco? - Perguntei de forma ríspida, tentando recobrar meu tom de arrogância.
Não queria admitir que ele estava certo, que ele estava chegando perto demais.
Pete apenas balançou a cabeça, ainda com aquele olhar calmo.
- Não, Vegas. Eu acho que você é alguém que tem medo.
As palavras dele me atingiram, e por um segundo, o ambiente ficou pesado.
Eu sabia o que ele estava tentando dizer, mas eu não queria ouvir.
Não queria ser aquele cara.
Não queria ser aquele que admitia, nem para mim mesmo, que existia medo dentro de mim.
- Medo de quê? - Perguntei, mais baixinho agora.
A raiva que eu costumava sentir estava começando a se dissolver, substituída por algo mais desconfortável.
Pete se inclinou um pouco mais para frente, seus olhos fixos nos meus, e a suavidade em sua voz parecia mais real do que qualquer coisa que eu já havia ouvido.
- Medo de perder o controle. Medo de que as coisas saiam do seu alcance, de que as peças que você sempre organizou em ordem... simplesmente caiam.
Eu queria refutar, queria gritar, queria me afastar daquilo.
Mas, de alguma forma, as palavras dele estavam começando a fazer sentido.
Eu odiava admitir, mas ele estava mexendo em algo que eu sempre tentei evitar.
- Eu sou o dono de tudo. Nada pode cair. - Eu disse, quase como um mantra.
Era isso que eu queria acreditar, o que eu sempre disse a mim mesmo.
Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim começava a questionar.
Pete sorriu suavemente.
- Eu sei. Mas talvez... talvez seja por isso que você está sempre tão tenso. Talvez seja por isso que você sempre age com tanto medo de perder o controle. Porque, no fundo, você sabe que não tem tudo nas mãos.
Eu olhei para ele, sem saber o que pensar.
Eu sempre estive no controle. Eu sempre precisei estar. E, ainda assim, agora, sentindo a verdade nas palavras dele, tudo parecia um pouco mais distante do que eu queria admitir.
- Você acha que só porque está jogando comigo que vai me fazer mudar de ideia? - Perguntei, tentando recobrar um pouco da raiva, da certeza que sempre tive.
- Não, Vegas. Eu não quero que você mude de ideia. - Ele disse, com um sorriso tranquilo, mas com uma profundidade que eu não esperava. - Eu só quero que você pare de tentar fazer tudo sozinho.
E com isso, eu senti como se algo dentro de mim, algo que eu não sabia que estava trancado, começasse a se mexer.
Eu não sabia o que isso significava, mas de uma coisa eu tinha certeza: eu não estava pronto para lidar com isso sozinho.
Não importava o quanto eu tentasse negar.
- Eu não preciso de ajuda. - Eu disse, mas minha voz estava mais fraca do que eu gostaria de admitir.
Pete apenas riu baixinho, como se ele soubesse que isso era apenas uma defesa.
- Todo mundo precisa de alguém, Vegas. Até você. - Ele disse, e de alguma forma, aquelas palavras, simples e sem pressa, pareciam fazer mais sentido do que qualquer outra coisa que eu tinha dito ou feito até ali.
Acordei no meio da madrugada, o quarto mergulhado em sombras.
Por um instante, pensei que Pete ainda estivesse ali, mas a cadeira ao lado da cama estava vazia.
Um alívio absurdo tomou conta de mim, seguido de uma sensação irritante de vazio.
Levantei, esfregando os olhos e tentando afastar o cansaço.
A luz fraca do corredor entrava por debaixo da porta, e um leve zumbido do ar-condicionado era o único som no quarto.
Decidi sair. Precisava de ar, de espaço, de qualquer coisa que não fosse esse constante peso nos ombros.
No corredor, dei de cara com Nop, que parecia estar esperando por mim.
- Não consegue dormir? - Perguntou, com um tom neutro.
- Não. E você? Vai ficar de guarda a noite toda agora?
Ele não respondeu, apenas indicou com a cabeça o caminho para o pátio do hospital.
Era um lugar pequeno, cercado por muros altos e iluminado por algumas luzes fracas.
O ar fresco da noite bateu no meu rosto assim que saí.
- Alguma novidade? - Perguntei, tentando quebrar o silêncio.
- Nada que você já não saiba. - Ele me olhou de lado. - Quer conversar sobre isso?
- Sobre o quê?
- Pete.
A menção ao nome fez minha mandíbula travar.
- Agora quer falar sobre ele? - Pergunto, com sarcasmo.
- Você fala muito dele. Parece que ele te incomoda, mas ao mesmo tempo, não consegue se livrar dele.
Cruzei os braços, encarando a sombra de uma árvore no canto do pátio.
- Ele é... irritante. Sempre tem algo pra dizer, sempre agindo como se soubesse mais do que eu.
Nop não respondeu imediatamente, mas seu olhar dizia que ele estava analisando cada palavra minha.
- Talvez ele saiba. - Suspirou.
- Como assim?
- Às vezes, a gente projeta coisas em outras pessoas. Coisas que não queremos admitir que sentimos ou pensamos.
Ri, mas sem humor.
- Você virou psicólogo agora?
- Não, só alguém que te conhece.
O silêncio voltou, mas dessa vez era pesado, carregado com tudo o que eu não queria admitir.
- Vou voltar pro quarto. - Disse, cortando o assunto.
Nop não tentou me impedir, apenas assentiu e ficou onde estava.
De volta ao quarto, fechei a porta com mais força do que o necessário, como se isso pudesse afastar qualquer coisa que me incomodasse.
Mas, claro, Pete estava lá.
De alguma forma, isso não me incomodou tanto quanto antes.
Sentado na mesma cadeira, olhando pra mim como se nada tivesse mudado.
- Ainda acordado? - Ele perguntou, com a voz suave.
- Concluiu isso sozinho?
Ele só riu, inclinando a cabeça para o lado.
- Boa noite, Vegas.
Ignorei sua presença e me deitei, puxando o cobertor sobre a cabeça.
Fechar os olhos não impedia que sua imagem continuasse ali, me perseguindo.
Mesmo no escuro, mesmo no silêncio, ele estava sempre presente.
E isso me irritava.
Na manhã seguinte, a claridade invadia o quarto pelas frestas da janela.
Tentei ignorar o som de passos no corredor, mas um barulho insistente na porta me trouxe à realidade.
- Vegas, sou eu. - A voz de Nop atravessou a madeira.
- Entra logo.
Ele abriu a porta devagar, carregando um café em uma mão e alguns papéis na outra.
- Achei que você fosse precisar disso.
Peguei o café sem agradecer. O gosto amargo combinava com o meu humor.
- O que são esses papéis?
- Relatórios da empresa. - Ele jogou os papéis sobre a mesa ao lado da cama. - Achei que fosse querer saber como estão as coisas.
- Finalmente algo útil. - Respondi, folheando as páginas rapidamente.
As informações eram vagas. Números que eu não lembrava, contratos que pareciam irrelevantes. Nada que realmente importasse.
- Isso é tudo? - perguntei, irritado.
- Pelo menos por enquanto. Mas você tem uma consulta daqui a pouco.
- Com a psicóloga de novo?
- Sim.
Soltei o papel na mesa e me recostei na cama, encarando o teto.
- Não vou a lugar nenhum.
- Vegas... - Nop começou, mas eu o cortei.
- Não tô com cabeça pra isso agora.
- É exatamente por isso que você precisa ir.
Encarei Nop com o olhar firme, mas ele não desviou. Esse era um dos motivos pelos quais eu o tolerava. Ele sabia quando não recuar.
- Tá bom. Mas só mais essa vez.
Minutos depois, entrei no consultório. A psicóloga, a mesma de antes, me esperava com o mesmo sorriso calmo.
- Bom dia, Vegas.
- Vamos acabar logo com isso. - Sentei na cadeira, cruzando os braços.
- Certo. Vamos começar com o sonho que você mencionou na última sessão. Você disse que estava agredindo Pete. Quer falar mais sobre isso?
- Não tem muito o que falar. Foi só um pesadelo.
- E como você se sentiu durante o sonho?
- Irritado. Mas também... aliviado. - Admiti, embora com relutância.
Ela inclinou a cabeça, interessada.
- Aliviado? Por quê?
- Porque ele cala a boca. - A resposta saiu mais rápida do que eu esperava.
Ela anotou algo em seu caderno, sem dizer nada.
- Você acha que Pete representa algo pra você?
A pergunta me incomodou. Cruzei os braços ainda mais apertado.
- Representa um incômodo.
- Um incômodo ou um reflexo?
Franzi o cenho.
- Do que você tá falando?
- Às vezes, as pessoas ou figuras que nos irritam refletem partes de nós mesmos que não aceitamos.
Ri, mas foi um som seco, sem humor.
- Isso é ridículo.
- Talvez. Mas não deixa de ser uma possibilidade.
Ela mudou de assunto antes que eu pudesse retrucar.
- E sobre o império? Como você se sente em relação a ele agora?
- Preciso voltar. O lugar não vai funcionar sem mim.
- Tem certeza?
A pergunta simples me desarmou. Era a primeira vez que alguém ousava questionar minha importância.
- Claro que tenho.
- Então, por que você ainda está aqui?
Fiquei em silêncio, incapaz de responder.
A sessão terminou pouco depois, mas as perguntas dela continuaram ecoando na minha cabeça enquanto eu voltava para o quarto.
E, claro, Pete estava lá, sentado na cadeira como se fosse o dono do lugar.
- Consulta produtiva? - Ele perguntou, com aquele sorriso irritante.
Ignorei, deitando na cama e fechando os olhos. Mas sabia que a batalha dentro da minha cabeça estava longe de acabar.
Estava apenas começando.
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