4 - Pesadelo

Acordo com o peito subindo e descendo, a respiração pesada, como se tivesse corrido uma maratona.

Meus punhos ainda estão fechados, os dedos cravados na pele da palma, e a cabeça lateja.

Levo um tempo para entender que estou no quarto do hospital, sozinho, sem Pete, sem Nop.

Apenas o som constante do monitor cardíaco ao lado da cama, insistindo em me lembrar do maldito acidente e de toda essa situação humilhante.

Mas eu sinto a raiva como se ainda estivesse preso naquele sonho.

Fecho os olhos de novo, tentando acalmar a respiração, mas a cena do pesadelo volta, vívida, nítida.

Eu me lembro de cada segundo.

Estava numa sala escura, um lugar que não reconheço, mas que no sonho me pareceu familiar, de alguma forma.

Não havia móveis, não havia saídas.

Apenas eu e Pete, no centro, de frente um para o outro.

Ele estava lá com aquele mesmo olhar, calmo, sereno, como se fosse o dono do mundo.

Ou talvez do meu mundo. Me encarava com aqueles olhos que me dizem tudo o que eu não quero ouvir, mas sem dizer nada. E isso me deixava louco.

Eu avancei em sua direção.

Minha mão o agarrou pelo colarinho da camisa, puxando-o para perto.

Ele não tentou se defender, não se moveu.

Apenas me olhou, aquele olhar suave e inabalável que eu desprezo.

Aquele olhar que parece saber algo sobre mim que eu mesmo desconheço.

- Por que você está aqui? Por que não me deixa em paz? - Gritei, minha voz ecoando pela sala.

Pete apenas me olhou, sem medo, sem ressentimento.

Eu sentia o calor da raiva, quase como uma febre, se espalhar pelo meu corpo, e antes que eu pudesse perceber, meu punho estava cerrado, pronto para desabar em seu rosto.

O primeiro golpe o atingiu na lateral do rosto, um som seco e abafado que ecoou no espaço vazio.

O rosto dele virou com o impacto, mas ele não fez nada. Não disse uma palavra, não reagiu.

Apenas voltou a me encarar, os olhos suaves, calmos, como se nada tivesse acontecido.

Isso só me deixou mais furioso.

Bati de novo, e de novo, e de novo.

Cada soco parecia mais forte, mais violento, mas ele não fez nada para me impedir.

Meu punho machucava, a dor irradiava pelo braço, mas eu não parava.

Aquela expressão dele calma, inabalável parecia um escárnio.

Parecia dizer que eu era incapaz de machucá-lo de verdade, que nada do que eu fizesse importava.

Eu gritei, um som de raiva e frustração que ecoava no vazio, mas ele permaneceu lá, imóvel, como se meu ódio fosse algo insignificante.

Então, algo mudou.

A expressão de Pete começou a se suavizar, e um leve sorriso surgiu em seus lábios, aquele sorriso maldito e sereno.

Ele estendeu a mão, quase como se fosse me consolar, como se eu fosse o ferido ali, como se fosse eu quem precisava de compaixão. Isso me atingiu como um soco no estômago. Eu queria odiá-lo, queria apagá-lo da minha mente, mas ele continuava lá, como uma sombra, persistente, inatingível.

Acordei com um grito, o corpo tenso e coberto de suor.

A respiração ainda estava ofegante, e levei alguns segundos para entender que estava ali, no hospital, de volta à realidade.

Fiquei sentado na cama, tentando recuperar o fôlego, a mente ainda presa naquela sensação avassaladora de raiva e impotência.

Aos poucos, meu corpo relaxa, mas a raiva não vai embora completamente.

Aquele pesadelo ainda está latejando na minha mente como uma ferida aberta.

Pete, com aquela expressão serena enquanto eu o golpeava, enquanto eu descontava nele toda a minha frustração...

Por que ele me olha daquela forma, como se já soubesse tudo o que eu estou pensando, como se tivesse alguma vantagem sobre mim? A calmaria dele me desarma, me irrita.

Olho ao redor do quarto, tentando focar em outra coisa.

Preciso me levantar, me mover, dissipar essa sensação de impotência.

Me sento na beirada da cama, sentindo o peso do corpo e a dor que ainda persiste no braço enfaixado e na cabeça. Tudo isso me lembra que eu não sou invencível, algo que eu nunca quis aceitar, e agora aqui estou, a mercê de pessoas como Pete e aquele médico, sem o controle de nada.

Respiro fundo, os olhos fixos na porta.

Ela está entreaberta, e por um segundo, sinto o impulso de me levantar e sair dali, sem olhar para trás.

Mas estou exausto. Minhas pernas mal sustentam o peso do corpo, então só me levanto, devagar, e caminho em direção ao banheiro.

Preciso de água, algo para me acalmar, ou pelo menos lavar o rosto e espantar essa sensação sufocante.

Entro no banheiro e encaro o espelho.

Tento evitar meu reflexo, mas em algum momento não consigo escapar.

O que vejo não é o mesmo homem que estava ali antes, confiante, imbatível.

A faixa ao redor da cabeça, o rosto pálido, o braço enfaixado... sou eu, mas ao mesmo tempo não sou.

Pareço uma versão diluída de mim mesmo, alguém ferido, quase vulnerável.

Encaro minha imagem no espelho por alguns segundos, tentando reconhecer o homem que vejo.

Tento lembrar de quem eu sou, do que já fiz.

Sinto o impulso de socar o vidro, quebrá-lo, como se pudesse apagar esse reflexo que me lembra da fraqueza.

Mas, no último segundo, reprimo o impulso, fecho os olhos e respiro fundo.

Não preciso de mais ferimentos.

Saio do banheiro lentamente, o rosto ainda úmido.

No instante em que abro os olhos novamente, quase dou um passo para trás.

Pete está ali, de novo, no meio do quarto, esperando, como se nunca tivesse saído.

- Não cansa de aparecer? - Pergunto, tentando soar desinteressado, mas a voz sai tensa.

Ele sorri de leve, os olhos ainda calmos.

- Não quando você precisa de mim.

Eu rio, um riso seco e amargo.

- Eu não preciso de você, Pete. Nunca precisei.

- Então por que eu ainda estou aqui? - Ele pergunta, me olhando com aquele mesmo olhar que me faz sentir transparente.

Dou de ombros, forçando um sorriso sarcástico.

- Talvez porque você é a porra de uma alucinação que insiste em atormentar minha cabeça quebrada.

Ele não responde, apenas continua me encarando, como se esperasse algo de mim.

Aquela calmaria dele, a serenidade, a maneira como ele não revida nem se afeta pela minha agressividade.

É isso que me incomoda. É como se ele tivesse uma paciência infinita para me suportar.

- Se você acha que eu vou tolerar isso por muito tempo, você está enganado. - Cruzei os braços, apesar da dor no ombro, querendo parecer inabalável.

Pete apenas sorri, um sorriso suave que não reflete a menor intenção de me desafiar ou contrariar.

Ele parece ver algo que eu não vejo, e essa ideia me incomoda profundamente.

- Tudo bem, Vegas. Eu posso esperar o tempo que for preciso.

Eu rio, um riso amargo, balançando a cabeça.

O que ele quer dizer com isso? "Esperar o tempo que for preciso"? Como se ele tivesse todo o tempo do mundo pra me aturar.

Como se fosse um jogo, e eu, uma criança mimada que ele aguarda pacientemente.

Odeio essa calma.

Odeio o jeito que ele parece inabalável, enquanto eu estou aqui, despedaçado, num estado que mal reconheço.

- Você acha que me conhece? - Pergunto, aproximando-me um pouco, mantendo o tom controlado, mas sentindo a raiva pulsar no fundo. - Acha que tem algum tipo de vantagem aqui, Pete?

Ele mantém o sorriso leve e responde com tranquilidade.

- Não se trata de vantagem, Vegas. E não acho que conheço você, mas acho que conheço essa raiva que você sente. Talvez eu saiba o que ela significa.

- Não vem com essa, cara. - Dou uma risada curta e cínica. - Você não sabe nada sobre mim, nada.

Ele não se abala. Nem mesmo pisca.

Parece que minhas palavras não têm peso, como se não importassem.

Isso me irrita mais ainda, e sinto o peito se inflar com o desconforto de ter alguém que, mesmo de pé na minha frente, parece inatingível.

É como se ele não fosse de verdade.

Mas então, Nop também disse que sabe quem ele é.

Que porra é essa?

- Vegas, eu não estou aqui pra te desafiar. - Sua voz é baixa, calma, quase como um sussurro, o que me irrita ainda mais. - Eu estou aqui porque talvez, pela primeira vez, você precise de alguém ao seu lado.

- Ah, não me venha com esse papo de apoio emocional. - Dou as costas para ele, indo até a janela. - Já tive o suficiente disso por hoje. - Suspiro, tentando ignorar a presença dele no quarto.

Tento, mas é impossível. Ele é como uma sombra constante, uma presença que, por mais que eu queira, não consigo afastar.

Fico em silêncio por um momento, olhando para fora, para a escuridão da noite que preenche o céu.

A cidade está quieta, diferente do que estou acostumado a ver quando estou lá fora, no comando.

E aqui, preso nesse quarto, eu me sinto mais distante de tudo do que jamais estive.

Sinto Pete se aproximar, mas ele não diz nada.

Fica ao meu lado, como se esperasse que eu quebrasse o silêncio.

Me dou conta de que há algo estranhamente reconfortante nisso, e odeio essa sensação.

Não quero depender de ninguém.

Eu sou Vegas Theerapanyakul, dono de um império, alguém que não precisa de apoio, muito menos de uma presença calma e serena como a de Pete.

Mas, nesse momento, quando olho para o reflexo de nós dois na janela, vejo algo que não posso explicar.

Talvez eu esteja mais perdido do que estou disposto a admitir.

- Pete... - Minha voz sai baixa, quase hesitante, uma coisa rara pra mim. Não sei ao certo o que quero dizer, mas sinto que há algo preso na garganta, uma pergunta que não consigo formular.

Ele apenas me olha, esperando.

Eu finalmente quebro o contato visual e olho para o chão, como se as palavras que eu tentava achar tivessem se perdido ali.

Sinto o peso das coisas que vivi, das memórias que ainda me fogem, dos fragmentos que tento juntar sem sucesso.

- Eu não preciso de ninguém. Não preciso de você, não preciso de ninguém. - Sussurro, mas, nesse momento, as palavras soam vazias, uma repetição de algo que já disse tantas vezes, mas que, agora, não parece ter a mesma força.

Pete apenas concorda com um leve aceno, mas seu olhar ainda me observa, atento e suave.

- Eu sei, Vegas. - Ele sussurra. E, pela primeira vez, há uma sombra de algo mais em sua voz, uma leve compreensão que vai além das palavras. - Eu sei.

Saio da janela, passo por ele com pressa e me jogo na cama.

Fecho os olhos, como se isso pudesse afastar a presença dele de uma vez por todas, e murmuro, mais pra mim mesmo do que pra ele.

- Quando você vai embora?

- Quando você me mandar embora de verdade. - Sua resposta ecoa na escuridão do quarto, e algo dentro de mim se aperta.

Fico em silêncio, virado de costas pra ele, com os olhos fechados.

Tento não pensar, tento não sentir.

Mas é impossível ignorar a presença dele ali, mesmo quando ele está em silêncio.

Essa sensação de que ele sabe mais do que deveria, que ele entende algo que eu nem sei colocar em palavras.

Depois de um longo silêncio, finalmente sinto que ele sai do quarto.

A porta se fecha devagar, e, assim que estou sozinho, percebo o quanto o ambiente se tornou estranhamente mais vazio, mais frio.

E isso me incomoda.

O dia seguinte começa com um anúncio que me irrita: eles vão me enfiar em uma sessão de terapia.

A ideia me faz querer quebrar a primeira coisa que aparecer na minha frente, mas, aparentemente, não tenho escolha.

Nop insiste que é necessário, diz que "ajudará na recuperação". Eu rio disso.

O que a porra de uma psicóloga sabe sobre recuperação? O que ela pode me ensinar? Nada.

Mais tarde, estou no consultório, olhando o relógio impaciente enquanto espero a tal terapeuta.

Finalmente, ela aparece: uma mulher de olhar calmo e calculado, que me observa com uma curiosidade evidente.

Ela se apresenta como Dra. Anya. Não dou importância ao nome, mas ela sorri mesmo assim, como se já estivesse acostumada com resistência.

Ela começa devagar, com uma pergunta básica.

- Como você está se sentindo, Vegas?

Reviro os olhos.

- Sinto que estou perdendo tempo.

Ela faz uma anotação rápida e continua, sem se abalar.

- Entendo. Mas talvez esse tempo perdido nos ajude a entender o que está acontecendo com você, como está lidando com a situação.

- Como assim, o que está acontecendo comigo? Estou ótimo. - Respondo, sarcástico, cruzando os braços. - Só tenho que sair daqui.

Ela assente, como se estivesse considerando a minha resposta.

Depois de um silêncio curto, ela solta outra pergunta.

- Vegas, você teve alguma experiência... estranha recentemente? Algo que não consegue explicar?

- Como assim? - Pergunto, franzindo a testa.

- Sonhos, alucinações, visões... qualquer coisa fora do comum. - Ela me olha diretamente nos olhos, e percebo que não está perguntando à toa.

Isso faz algo se agitar dentro de mim. A imagem do pesadelo da noite passada me invade a mente. Eu hesito, mas, por algum motivo, acabo contando.

- Tive um sonho. Ou... pesadelo, sei lá. - Minha voz soa mais tensa do que quero demonstrar. - Eu estava agredindo alguém, e ele só ficava parado, me encarando.

- E como você se sentiu? - Ela pergunta, observando cada mudança na minha expressão.

- Não sei... como sempre. - Dou de ombros, como se aquilo não me incomodasse, mas, na verdade, algo ainda me incomoda. - Só queria que ele parasse de me olhar daquele jeito, com calma, como se estivesse esperando que eu... sei lá, desistisse.

Ela me olha, intrigada. - Interessante... e quem era essa pessoa?

Olho para ela, hesitante. Algo me diz para manter o nome de Pete em segredo, mas ao mesmo tempo, sinto que ela já suspeita de algo.

- Não importa. Alguém irritante. Alguém que, por algum motivo, parece me seguir. - Murmuro, irritado.

Ela anota mais alguma coisa e, então, muda de assunto de forma habilidosa.

- Vegas, você sabe onde estava antes de acordar aqui? Lembra de algo sobre o acidente?

Essas perguntas me incomodam mais do que o esperado. Meu corpo se tensiona, e percebo que a memória do acidente ainda é um borrão na minha mente.

- Só lembro de flashes, luzes... dor. Mais nada. E, se quer saber, não me interessa lembrar. Quero é sair daqui e seguir em frente. - Minha voz sai ríspida, mas ela não parece se intimidar.

- Talvez essas memórias voltem aos poucos. - Ela sorri suavemente, como se quisesse me tranquilizar. - E quanto a esse alguém que te irrita... ele se parece com alguém que você conhece? Talvez alguém importante?

Sinto um frio estranho ao ouvir a pergunta.

- Não. E, de qualquer forma, eu já disse, não preciso de ajuda. Nunca precisei. Esse cara, seja lá quem for, é só uma distração.

Ela fica em silêncio, anotando mais algumas observações.

Sinto que há algo mais por trás desse olhar atento.

E, por mais que odeie admitir, a presença dessa terapeuta me obriga a enfrentar coisas que preferia ignorar.

- Vegas - Ela diz, depois de um tempo. - Eu quero te ajudar a organizar essas lembranças. Vamos trabalhar nisso, mas precisamos ser honestos. Com nós mesmos, principalmente.

- Honestidade... - Murmuro, amargo. - Isso é um jogo pra você, doutora?

Ela sorri, mas agora há um toque de compaixão em seus olhos.

- Não. Eu só quero ajudar você a entender o que está acontecendo.

Fico em silêncio, mas algo dentro de mim se inquieta.

Há algo na maneira como a Dra. Anya fala que faz com que essas memórias flutuem na superfície, como se ela estivesse abrindo portas que preferi deixar fechadas.

Tento desviar, manter minha postura fria, mas sinto as mãos cerradas em punhos, o corpo tenso.

Ela me observa, e então pergunta, calmamente:

- Vegas, me fala um pouco sobre o que sente quando está perto... desse alguém.

Eu me remexo na cadeira, sem vontade de aprofundar o assunto, mas a imagem de Pete volta à mente, o sorriso calmo dele, o jeito que ele fala comigo sem parecer intimidado.

Isso me irrita mais do que qualquer outra coisa.

- Ele me irrita - Digo, entre dentes. - Esse cara me observa como se eu fosse algum experimento. Como se entendesse alguma coisa que eu não entendo. E isso me tira do sério.

Ela faz uma anotação breve, sem tirar os olhos de mim.

- E você já pensou que talvez ele esteja ali para te ajudar?

Rio, sem humor, um riso amargo e curto.

- Ajudar? Se ele quer ajudar, então escolheu o pior jeito de fazer isso.

- Talvez. - Ela responde, com um tom de voz quase indecifrável. - Mas você nunca se perguntou por que ele está sempre lá? Por que essa pessoa parece tão presente, especialmente agora?

Cruzo os braços, não gosto do tom dela, da maneira como insiste em me fazer questionar coisas que prefiro ignorar.

- Eu não preciso de ninguém ao meu redor, Dra. Anya - Respondo, com frieza. - Nunca precisei. Isso é coisa da sua cabeça. De todos vocês. Vocês que acham que eu devo ter algum tipo de... dependência de alguém.

Ela me olha diretamente, e há um ar de desafio em seu olhar, mas ainda controlado, como se estivesse me estudando.

- E, mesmo assim, você pensa nele. - Sua voz é firme, sem qualquer hesitação. - Talvez ele represente algo, Vegas. Talvez ele seja mais do que uma irritação.

Reviro os olhos e me afasto, a raiva fervendo em meu peito.

- Olha, eu não sei qual o seu objetivo aqui, mas, se quer saber, a única coisa que esse cara representa pra mim é uma perda de tempo.

A Dra. Anya inclina-se levemente para frente, com a caneta descansando na prancheta.

- Pode ser, Vegas, mas talvez o Pete esteja tentando te mostrar algo sobre você mesmo.

Quero rir, mas só consigo sentir o peso das palavras dela.

Ela muda de assunto, numa tentativa de quebrar a tensão.

- Me conte sobre o sonho novamente. Sobre o momento em que você... - Ela hesita, escolhendo as palavras com cuidado. - Em que você o agrediu.

A lembrança surge vívida, quase me fazendo recuar.

Tento manter o controle, mas a raiva e a frustração daquele sonho voltam com força total.

- Eu o golpeava, e ele só ficava ali, me encarando. - Minha voz sai mais baixa. - Como se esperasse que eu desistisse.

- E o que você acha que isso significa? - Pergunta ela, sem desviar o olhar.

- Que eu não consigo escapar dele. - Aperto os punhos, forçando-me a ficar parado. - Não importa o que eu faça, ele está lá. É como se me seguisse aonde quer que eu vá, como uma sombra.

Ela assente, absorvendo minhas palavras.

- Talvez, Vegas, ele esteja lá porque você ainda não enfrentou o que precisa enfrentar. Às vezes, a única maneira de lidar com nossas sombras é encará-las de frente.

Fico quieto, a respiração pesada, sentindo as palavras dela ecoarem em mim, provocando uma sensação de desconforto.

A ideia de que Pete é uma parte minha, uma sombra que não consigo afastar, me enche de um desprezo que quase me engasga.

Tento afastar esses pensamentos, mas, no fundo, sei que há algo ali.

Algo que eu não consigo ignorar.

Dra. Anya termina a sessão com um tom mais suave:

- Vou pedir que reflita sobre isso, Vegas. Sobre o que realmente o Pete representa . Às vezes, ele pode ser a chave para entender aquilo que mais evitamos.

Assinto sem entusiasmo, já sentindo a raiva fervilhar de novo. Essa conversa não me trouxe nada além de confusão.

Mas, mesmo assim, quando me levanto para sair do consultório, uma parte de mim fica presa naquela última frase dela.

Ao sair da sala, encaro o corredor à minha frente, e pela primeira vez, sinto o peso da presença de Pete mesmo na ausência dele. E isso me enfurece.

- Seu idiota, cadê você? - Murmuro entre dentes.


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