𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟒 • Serafina
OS PRIMEIRS DIAS de Serafina na Casa do Vento não foram tão ruins quanto imaginava. Cassian, para sua sorte, não parecia capaz de sentir a presença dela em certos cômodos, como se os fracos escudos que estavam em torno dela ainda tivessem força para protegê-la dele. Entretanto, quando observava Nesta na escuridão, ela conseguia ver o quão inquieta a recém transformada ficava com sua presença próxima.
Ela olhava ao redor, como se procurasse por Serafina, por qualquer coisa que justificasse a sensação estranha e ruim de agonia que sentia. O orgulho de Nesta não a faria perguntar sobre tão sensação a Cassian, o que era algo a favor de Serafina.
O melhor ainda era que Azriel não tinha aparecido naquele dia para dormir e nem comer. Se Rhysand o tinha mandado em alguma missão distante dali, ela estava agradecida. Houve um tempo em que Serafina achou que Azriel teria ido salvá-la da tortura nas cela da Cidade Escavada, que ele a tiraria dali e a protegeria de todo o mal que infringiram nela... Nunca estivera tão errada. A maior dor que já sentiu tinha vindo dele.
Entretanto, a presença do Mestre Espião se tornou presente na mesa de café da manhã em um certo dia. Serafina ficou escondida num corredor sem luz que lhe dava um pouco de visão para onde os três estavam sentados na mesa. A mera presença de todas aquelas comidas na mesa fez o estômago de Serafina roncar, só então ela se deu conta do quanto estava faminta.
Ela poderia ser a espiã do Encantador de Sombras, mas isso não significava nada para ele. Serafina nunca teve o mesmo tratamento que os outros espiões, sempre tendo que se contentar em dormir nos piores lugares que nem deveriam ser considerados para uma pessoa residir e o pouco de comida que lhe era dado apenas a mantinha viva, não nutrida e fortalecida. A armadura do seu traje não deixava transparecer, mas ela sabia que suas costelas estavam muito a mostra, a barriga tão fina que mal parecia guardar seus órgãos vitais.
— Não vejo você há um tempo — disse Nesta à Azriel.
— Igualmente — respondeu, dando uma garfada nos ovos mexidos. — Como andam os treinos?
— Fantásticos — resmungou, sarcasmo pingando de sua voz. — Absolutamente cativantes.
— Espero que não esteja dificultando as coisas para meu irmão.
Nesta interrompeu o movimento que fazia para levar a xícara de chá aos lábios.
— Isso é uma ameaça, Encantador de Sombras? — perguntou, os olhos semicerrados.
— Não preciso recorrer a ameaças — ele sibilou, as sombras se encolhendo ao seu redor como se estivessem preparadas para o abate.
Serafina não tinha se atrevido a se aprofundar na biblioteca sob a Casa. Ela sabia quem estava lá embaixo, os traumas pelos quais todas aquelas fêmeas passaram e estavam se recuperando... Não deveria ter medo de descer, afinal ela não era diferente delas. Nos últimos dias, revirou a pequena biblioteca na parte de cima da casa, buscando por qualquer coisa que pudesse direcioná-la ao que Azriel queria. Não estava obtendo sucesso algum.
— Quero treinar com ele em vez de você — disse Nesta para Cassian, gesticulando em direção a Azriel.
O Mestre Espião tossiu dentro do chá, surpreso pelo que ouviu. Serafina nunca o tinha visto daquela forma calma perto deles, sem tratar alguém como se sua vítima fosse o próprio mal encarnado. Era quase tranquilizantes, mas então ela lembrava que não fazia parte de sua família e que ele nunca a trataria daquela forma.
— Acho que vau descobrir que Az é ainda menos piedosos do que eu — resmungou Cassian, algo estranho em sua voz.
— Como esse rostinho lindo? — cantarolou ela. — Acho difícil acreditar.
— Quer treinar com Az, então vá em frente — disse ele, tenso. Por um momento, o General ficou pensativo, antes de acrescentar: — Embora eu duvide que você sobreviva a uma lição com ele, já que não consegue nem descer cem degraus sem ficam tão dolorida na manhã seguinte que não consegue levantar da cadeira.
Nesta parecia pronta para pular no pescoço de Cassian e enforca-lo até a morte — claro que ela não conseguiria. Por um instante, ela parecia tentada a pular da cadeira e se jogar em direção à ele na tentativa de quebrar seu pescoço, mas ela não o fez. Pelo contrário. Nesta respirou fundo, virando lentamente a cabeça para Azriel que os observava, rindo da situação.
— A casa é assombrada? — perguntou ela. — Têm fantasmas ou espíritos por aqui?
Azriel e Cassian ficaram sérios na hora, se entreolhando rapidamente enquanto pensavam no que dizer. Nesta não aguentou o silencio, continuando:
— Se sinto observada em alguns quartos quando estou sozinha — explicou. — Está me deixando angustiada. É como se, de repente, eu sentisse vontade de morrer. Como agora.
— Está pegando a energia de Serafina — resmungou Azriel ligeiramente resmungando como se veneno escorresse de seus lábios.
— Quem é ela? — perguntou, surpresa com a ideia de que alguém realmente esteve a observando.
— Uma espiã de Az — respondeu Cassian, irritadiço. — Achei que ela estivesse enfraquecida. Não sinto nada dela pela Casa. Não faço ideia de como pode senti-la, Nesta.
— Ela está agora nos observando do corredor — sussurrou Azriel, letalmente.
Serafina engoliu em seco. Ela não deveria ter medo, não quando estava seguindo todas as regras do Grão Senhor e do Mestre Espião com precisão. Ela não se mostrava, mas se Nesta a sentia então não podia fazer nada a respeito. Não era sua culpa.
Cassian soltou um palavrão, pego de surpresa para informação de Azriel.
— Ela não é como eu ou você, Nesta — explicou Azriel, vendo a dúvida resplandecer nos olhos da Archeron. — Serafina não pode sair da casa, ordens de Rhysand. Vou mandá-la tomar mais distância se está incomodada.
Os olhos de fúria e morte pousaram em Serafina no corredor. Ele sempre sabia exatamente onde ela estava, o que estava fazendo... Ela queria ser capaz de desaparecer sobre a presença do Mestre Espião, mas não tinha mais poder o suficiente para desaparecer como névoa.
— Fique longe de Serafina — mandou Cassian. Era uma ameaça. — Aquele verme pode degolá-la com uma facada e, confie em mim, você não conseguirá se defender a tempo.
◈
AZRIEL esperou até que Cassian e Nesta saíssem para o campo illyriano para ir atrás de Serafina. Merda. Ele não tinha ideia de que ela conseguiria sentir o campo de energia do demônio, nem imaginava que Serafina pudesse projetar suas emoções para outras pessoas.
Mas ele não entendia como Cassian não a sentia. Nem mesmo Azriel sentia as emoções que vinham dela, então como Nesta era capaz? Eles queriam matar Serafina, e, se Nesta estivesse certa, ela também queria morrer.
Ele a encontrou na biblioteca no andar de cima, vasculhando algumas pilhas de livro que ela tinha criado ao redor da mesa, divididas pelo ano que foram escritos e autores. Os olhos dela subiram rapidamente para ele quando sentiu sua presença. Com o susto, Serafina pulou para fora da cadeira, ficando de pé com rapidez, quase se desequilibrando.
Péssima escolha. Azriel puxou-a pelo pulso até a parede mais próxima e a bateu contra ela. O corte que mal tinha cicatrizado em sua cabeça abriu novamente, fazendo-a arfar de dor. Azriel jogou o pulso de Serafina acima de sua cabeça, exercendo tanta pressão nele que o osso latejava. Ela temia que ele fosse partir se ele continuasse.
— Como fez aquilo? — sibilou ele, fúria queimando em seus olhos. — Como projetou suas emoções em Nesta?
— Eu não fiz nada — disse ela com dor. — Estou seguindo suas ordens e ficando de olho nela.
— É mais um dos seus atos de rebeldia? — sugeriu, ignorando o que ela disse. — Acha que influenciar Nesta fará com que peguemos leve com você?
— Por favor — implorou ela, lágrimas escorrendo de seus olhos um dia gentis. — Está me machucando.
As sombras de Azriel rodopiaram em seu pulso. Então, o estalo. Serafina soltou todo o peso do seu corpo, se contorcendo quando o Encantador de Sombras a deixou cair no chão. Seu pulso estava em um ângulo estranho — definitivamente quebrado. Ela não conseguia se curar, levaria semanas para ele voltar ao normal. Talvez ele nem voltasse depois de todas as vezes em que pessoas como Azriel o tinham quebrado.
Ela já deveria estar acostumada com a dor, tratá-la como uma velha amiga, mas sempre era diferente. Às vezes, a dor era leve, ela ardia, queimava... Em outras vezes, ela a jogava no chão, vinham como avalanche para cima dela. A escuridão nunca parecia tentada a consumi-la, preferia deixá-la acordada e sofrendo, sempre a espera da bondade do Ceifador levá-la para outro plano que não fosse a Terra.
— Você não passa de escória, Serafina — disse ele, sem um pingo de mágoa na voz. Azriel não sabia mesmo. — Deveria ter morrido com os outros.
As palavras ficaram apenas em sua mente, martelando suas têmporas enquanto o Encantador de Sombras se afastava dela. O que eu mais quero é morrer, ela queria poder dizer. Infelizmente, a Morte não tinha interesse nele. Por que não tirava a própria vida, então? Porque suicídio era o maior dos crimes entre sua espécie.
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15.10.22
𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:
Me desculpem pelo atraso em postar! Este capítulo deveria ter saído ontem, mas acabei ficando extremamente ocupada durante o dia e não consegui postar.
Mas aqui está ele! O que estão achando da Serafina? E do Azriel? Já formaram alguma teoria? Eu tenho que dizer que estou amando escrever sobre um Azriel mais tóxico... meu caderno de rascunhos está repleto de ideias.
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