𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟏 • Serafina
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A CORTE DOS PESADELOS. A Cidade Escavada era repleta de violência, sem ordem, com indivíduos que apenas seguiam a própria moral e discordavam do governo do Grão Senhor. Aquela deveria ser a representação honesta da Corte Noturna.
Nem mesmo o Grão Senhor governava dali. Como as outras cortes poderiam acreditar naquela farsa? Rhysand fora privilegiado com o título herdado de seu pai — aquele sim havia sido um Grão Senhor de verdade aos olhos de muitos. Ele foi cruel, manipulador e sem medo da condenação. Rhysand poderia ser poderoso, mas qual bem isso fez para todos? Ele condenou pessoas inocentes à Cidade Escavada, privando-as da luz e da vida. Ser[a que aqueles que o admiravam sabiam disso?
Serafina foi uma das pessoas a caírem com o reinado do Grão Senhor. Ela sabia da verdade, do que estava protegido acima da montanha. Velaris. Ela cresceu na Cidade da Luz Estrelar, mas foi condenada à vida de crueldade e morte quando se opôs as regras fracas e patéticas imposta pelo novo Grão Senhor.
Era bem mais nova naquela época, mais décadas atrás, tinha o temperamento quente correndo nas veias, adrenalina implorando por brigas e discórdia. Ano depois, ela ainda não se arrependia de ter protestado contra as novas regras com vários de seus companheiros, mas odiava o fato de que Rhysand condenara crianças à Cidade Escavada por pura arrogância. Não só odiava ele, mas como os dois bastardos illyrianos que ascenderam ao seu lado — Cassian e Azriel.
A memória ainda era vívida demais em sua mente, principalmente por ter sido o temível Encantador de Sombras a tê-la tocado primeiro. Serafina se lembrava das primeiras semanas que passou trancada em uma cela apertada com mais cinco crianças. A cada ano, seus nomes começavam a sumir de sua mente, mas alguns deles ela sempre lembraria. Tinha uma garota pouco mais nova que ela, Azza, a qual morreu nos primeiros dias. Retiraram seu corpo da cela antes que ele começasse a decompor.
Tinha um garoto mais velho que ela, Bathin, filho de um curandeiro. Vários deles estavam feridos, com cortes expostos dos maus tratos ou doenças que atingiam seus sistemas imunológicos. Ele conhecia tudo sobre eravas medicinais que poderia tê-los salvado, mas nada brotava na Cidade Escavada.
Ela não sabia quantos dias ficaram presos ali, mas as celas ao lado da que Serafina estava foram ficando vazias conforme as crianças iam morrendo. Teve um garoto, Ruax, que morreu depois de bater com a própria cabeça contra as barras de ferro até causar um traumatismo craniano. Ele não foi o primeiro a cometer suicídio. Em seguida, quem partira foi Marchosias que se esfaqueou com a ponta cortando se uma pedra que arrancou na parede rochosa, então Uzza, logo Eligor, Kimaris, Lix... Não importa o quanto tentasse, Serafina não conseguia se lembrar dos outros nomes.
Apenas oito crianças restaram no final de um ano que foram condenados à Corte dos Pesadelos e trancafiados naquelas celas frias e sombrias. Dos oito, três deles foram escolhidos para serem treinados para se tornarem parte da guarda do Grão Senhor. Sete foram escolhidos para permanecer fora das celas e servir sobre a ordem de Keir, o tio de Rhysand, que governava aquela cidade amaldiçoada quando ele não estava presente.
Serafina foi esquecida atrás das grades. Ela era pequena e magra demais para uma criança da sua idade. Esperavam que ela morresse em algumas semanas, desidratada ou com alguma infecção dos cortes que causaram nela em seus ataques de rebeldia. Cinco semanas se passaram, e nada. Três meses, e ela ainda estava viva. Quatro anos, estava abaixo do peso e fraca, mas respirava... Os anos foram aumentando desde então. Cem... Duzentos... Duzentos e cinquenta... Anos de vida passados em uma cela fria e doentia.
Tinham riscos cobrindo todas as paredes da cela cavernosa. No começo, Serafina tentou contar os dias, mas sem a luz do céu e as refeições que poderiam ter intervalos de dias para chegar, ela perdeu rapidamente a noção de tempo. Duzentos e cinquenta e seis anos exiladas, deixada para morrer. O suicido parecia a maneira fácil de acabar com aquilo, mas por que ela não conseguia realizar o pequeno ato de tirar a própria vida?
Seu inferno pessoal começou naquele dia.
Depois de mais uma das sessões exterminantes de Keir tentando matá-la por uma infecção, onde ele não sofreria a punição do seu Grão Senhor, Serafina sentia como se tivesse chegado ao limite de seu corpo, de sua mente e alma. Ela não aguentava mais viver sofrendo, com medo de todo barulho que ouvia ecoar pelas cavernas, temendo ser passos de seus torturadores que teriam vindo brincar com ela novamente.
A luz era tão fraca que não via o próprio reflexo há anos. As roupas que tinha quando pequena já não a serviam. Ela se lembrava de quando fizeram quinze anos e, pela primeira vez, uma mulher bem mais velha que ela tinha vindo-lhe trazer um manto antigo e rasgado, além de uma camiseta surrada, mas que cobririam seu corpo nu pelos anos até se tornar uma adulta. Quando a mulher saiu da sala, Serafina apenas ouviu seus gritos de dor até que pararam.
Serafina não sabia com o que deveria se parecer, seu nariz, maçãs do rosto, lábios... Apenas sabia que seu cabelo era comprido, mesmo que o tenha cortado sozinha algumas vezes com pedras afiadas que achou no chão. Tinha a vaga lembrança de ser loira quando pequena, mas já não era certeza. Ela poderia não conseguir ver, mas várias vezes deslizou a palma de suas mãos pelos braços, pernas, barriga, e todos estavam cobertos por texturas ásperas e protuberantes, cicatrizadas de forma errada. Eram cicatrizes horrendas que cobriam todo o seu corpo, tanto que o simples fato de tentar se imaginar embrulhava seu estômago.
Keir tinha adicionado mais cicatrizes as dobras de suas mãos e pulsos, na sperança de fazê-la sangrar até a morte. O grito do governante pode ser ouvido de toda Cidade Escavada. O corpo caído e nu de Serafina caído contra o chão não sangrava, mesmo com os cortes profundos. Uma densa camada de sombras servia de escudo, protegendo-a da ameaça que ele era.
Aquilo não poderia ser verdade. Em anos que Serafina esteve trancafiada, ela nunca mostrou ser capaz de controlar sombras como o Mestre Espião da Corte Noturna. Todos sabiam que deveria ter alguma razão estranha pelo qual ela sobreviveu todos aqueles anos, mas controlar as sombras da Cidade Escavada?
— Convoque o Grão Senhor — mandou Keir a um dos seus subordinados. — Diga que temos uma encantadora de sombras nas celas e que ele precisa vir imediatamente.
Entretanto, enquanto ela agonizava no chão, Serafina sentia o mando de escuridão que se formou em volta de si. As sombras a cobriam completamente, apenas deixando sua cabeça de fora para que conseguisse respirar o ar frio da caverna.
Foi a primeira vez que as viu agir daquela forma, protegendo-a de Keir e seus soldados, evitando que morresse por perda de sangue... Por que estavam fazendo aquilo? Por que não a deixavam morrer? Várias vezes, quando não conseguia distinguir a realidade dos seus sonhos, ela sentia como se fosse capaz de entender o que a escuridão queria dizer, como se implorasse para que Serafina se juntasse a ela, e a garota queria tanto aceitar o convite para desaparecer daquele mundo frio e cruel.
Serafina queria a morte, escolhia o sono eterno. Lembre-se de que deve morrer, foram as últimas palavras que ouvira daquela voz fria como a morte, palavras as quais ela se apegou todos os dias de sua existência. Se ela deveria morrer, então sua hora tinha chegado.
— Olá, Serafina, querida — disse a voz e seus pesadelos, aquela que jurou matar se ouvisse novamente. — Escondeu um segredo de mim por muito tempo. Chegou a hora de conversarmos, e, para isso, precisa sair daqui.
— Não vou a lugar algum com você — grunhiu ela, mal reconhecendo a própria voz depois de meses sem falar uma palavra se quer.
Keir não estava na cela, mas o poderoso Grão Senhor que odiaria até sua morte estava na frente dela. A porta de metal estava aberta, mas a figura possessiva dele a impediria se concluir qualquer tipo de fuga que quisesse. Droga! Ele estava sorrindo maliciosamente. Rhysand era daemati, claro que conseguiria ler os pensamentos assassinos dela.
— Já se esqueceu do que te falei naquele dia? — sibilou ele, sorrateiramente. — Que patético. Levante-se. Tenho mais o que fazer ainda hoje.
— Para onde vai me levar? — retrucou, os olhos pesados e deprimentes. — Para sua corte de imbecis que acreditam que você seja bondoso, Grão Senhor?
— Vou levá-la para meu Mestre Espião — respondeu Rhysand entredentes. — Ele saberá o que fazer com a sua língua afiada.
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29.09.22
𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:
Bem-vindos a minha primeira fanfic de ACOTAR, e bom o personagem que eu escreveria já estava óbvio com a mega queda que vocês sabem que eu tenho pelo Azriel.
A Tia Sarah J. Maas está demorando um pouco demais para trazer logo o livro do nosso illyriano com a maior envergadura, então eu vim tomar providências!
Alguns avisos antes de começar:
1. A minha linda beta bborba619 já soube do enredo e me ajudou a desenvolvê-lo, então créditos para ela, e também soube como será a base de escrita. Acho que todos notaram que o Rhys já está mais sombrio, certo?
2. Queria dedicar essa obra para a Lara31254 por ser seu Aniversário!!! Amiga, já te dei parabéns hoje, mas estou dando de novo e dizendo que pode contar comigo para todo o sempre!!!
3. Referente a parceira do Az... Na vida real eu espero que seja a Gwyn, porque bom (por favor não me julguem) eu não gosto da Elain. Mas aqui em Memento Mori será a minha querida personagem original!!!
4. Votos e comentários são sempre bem vindos e muito apreciados por mim, mas comentários referentes a política, religião ou de usuários que apenas fazem reclamações serão excluídos e os perfis silenciados.
Não esqueçam de me contar o que acharam!!! Sua opinião é muito importante para mim e me ajuda demais no desenvolvimento da fic! Até o próximo capítulo...
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