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Karina's pov:
"Em meu coração não há lugar para dúvida, porque você é minha certeza."
Confesso que foi um pouco assustador pensar no futuro. Eu não sei o que me aguarda, então é mais assustador ainda por esse motivo, mas eu tenho certeza que tudo ficará bem porque tenho Minjeong ao meu lado.
Quando chego em casa depois de resolver algumas questões na faculdade, minha mãe está praticando no violino, o que me deixa felicíssima. Enquanto subo para pegar meu material, uma das obras de Jascha inunda a casa.
Durante nossas aulas de violino, minha mãe e eu tocamos no jardim. Na minha frente, há um suporte com a música nova que ela está me ensinando. Os galhos das árvores balançam para a frente e para trás, fazendo sombra em cima da gente. Ela franze a testa para mim de poucos em poucos segundos.
— Está bem, pode parar — diz, batendo a mão na testa e se encostando numa árvore. Seus olhos castanhos me estudam antes de perguntar em voz baixa: — O que foi que aconteceu?
— Como assim? Toquei todas as notas certas.
— Você sabe muito bem que tocar as notas certas não importa se você não está tocando com a alma. Caso contrário é apenas barulho. Em que está pensando?
Coloco o violino no estojo e dou de ombros.
— Não faz sentido. Minha festa de formatura é em alguns dias e parece que a ficha ainda não caiu para mim. Quero dizer, será que tomei a escolha certa? Não tenho como ter essa resposta... e isso está me incomodando.
— Me responda uma coisa, Jimin. Você está realizada com as escolhas que fez até aqui? — Ela pergunta, e volta a olhar para a partitura no suporte.
A ausência de contato visual me ajuda a falar com sinceridade:
— Estou. Eu amo a música. Amo sentir como se eu fosse uma com ela, mas agora que estou fora do âmbito acadêmico... tenho medo de desperdiçar meu talento.
Minha mãe afasta-se do tronco e se aproxima de onde estou. Então diz:
— Isso me fez lembrar de algo. Em todo esse tempo em que estivemos conversando sobre quem somos, nunca falamos sobre o que você quer da sua vida.
Isso me faz paralisar de surpresa.
— Sim, conversamos.
Quando minha mãe se volta para mim com seus olhos estreitados, percebo que tem razão.
— Finalmente sou uma bacharel em música. — Mordo meu lábio e afasto uma mecha de cabelos do rosto enquanto ela me encara. — E acho que a melhor forma de aplicar isso é me tornando professora.
— Nossa — ela diz, parecendo ligeiramente surpresa. — Sempre pensei que você fosse se dedicar aos palcos como seu pai.
— Por quê?
Minha mãe me olha como se eu tivesse falado uma estupidez.
— Eu amo performar — digo a ela. — Mas amo ainda mais a ideia de poder direcionar futuros novos musicistas para o mundo.
— Bem, uma professora de música é algo sensacional também. E com o seu bacharelado. É bem impressionante, Jimin.
— Mas só vai ser impressionante se eu estiver mesmo no caminho certo — digo.
Em vez de responder à minha insegurança assumida, ela apenas ri. Ainda bem.
— Você só vai descobrir isso se tentar. — Ela fica mais séria: — Todos somos bons em coisas diferentes, minha querida. Acho que você não tem motivos para insegurança. — Ela dá um passo a frente e repousa as mãos em meus ombros. — Você fez um trabalho exemplar até aqui, tudo isso por que queria se encontrar nessa vida. Há uma dedicação enorme nisso. E me parece que você entende de música muito mais do que muita gente que conheço desse meio. — Ela move algumas mechas de cabelo do meu rosto. — Então é claro que você está no caminho certo. Confie em si mesma.
Fico em silêncio, absorvendo cada uma das suas palavras.
Minha mãe começou a tocar violino aos 4 anos e, desde então, tem tocado por pura paixão. Eu cresci envolta pela música e fiz dela parte de quem sou. De jeito nenhum eu vou conseguir tirar algo assim de dentro de mim. Então acho que ela tem razão, não há motivos para temer o que estar por vir. Tudo o que posso fazer e seguir aquilo que almejo no agora.
Ao perceber que continuo em silêncio, minha mãe aponta para o suporte onde temos uma partitura a disposição.
— Você concluiu a composição do deu irmão, certo?
Sim, eu a conclui. Mas estou surpresa que essa tenha sido a pergunta que ela resolveu fazer. É como se não tivesse lhe ocorrido ainda que eu enfim tenha conseguido finalizar mais um ciclo da minha vida. Que a partir de agora estou livre para recomeçar.
— Sim, eu a conclui há algum tempo.
Minha mãe sorri para mim, orgulhosa.
— Gostaria que você tocasse ela para mim.
\[...]
As coisas em minha vida estão melhorando a cada dia, mas eu sei que velhos fantasmas ainda vão voltar a aparecer de vez em quando. Mas está tudo bem, porque agora eu sei a melhor forma de lidar com eles.
Nossas famílias e amigos comparecem à nossa festa de formatura, em que Minjeong faz um discurso de oradora maravilhoso sobre erros passados e oportunidades futuras.
Voltamos para a loja do sr. Lee, onde haverá uma festa para nós. Rimos, choramos e aproveitamos o momento.
Apesar de continuarmos próximas, a partir dali cada uma de nós irá começar sua própria trajetória pessoal, e parte de mim está ansiosa com o futuro eminente.
Yzhuo, Aeri e eu estamos sentadas próximas ao balcão enquanto Minjeong parece bem interessada na conversa com Minho.
— Então é isso, né? — Falo para Yzhuo, sorrindo. — Enfim, formadas.
Ela tira uma mecha de cabelo do rosto e belisca a ponte do nariz.
— Nunca imaginei que passaria por tantas coisas até chegar aqui — confessa. — É um pouco apreensivo saber que estou fechando um ciclo da minha vida.
— É. Mas também é maravilhoso saber que estamos prontas para começar uma nova fase.
— Como está sendo o convívio com sua mãe? — Pergunta Aeri, entrando na conversa.
— Parece que uma mudança era tudo do que precisávamos para conseguir resgatar a relação que tínhamos. E estou feliz por isso. Outras pessoas não tem tanta sorte.
— Não consigo nem imaginar. — Ela olha para mim e assente com a cabeça. — Mas deve ser muito legal finalmente sentir que pertence a uma cidade.
— Talvez essa cidade seja a sua nova casa — sugere Yzhuo. — Talvez a sua casa não seja onde você começa a vida, e sim onde você termina.
— Gostei disso. — Digo, sorrindo.
Ela sorri e se vira para Aeri, dando-lhe um beijo antes de as duas embarcarem em uma conversa própria. Certas coisas nunca mudam. Enquanto as garotas se perdem num mundo só delas, me levanto e vou até Minjeong, puxando-a em meus braços.
Ela desliza os dedos por meu rosto e coloca meu cabelo atrás da orelha. Nossos olhares se encontram, mas nenhuma palavra se faz necessária, porque dizemos tudo mesmo em silêncio.
Ficamos mais um tempo ali, aproveitando uma conexão só nosso, até que eu me obrigue a se afastar.
Aeri e Yzhuo se aproximam de nós para avisar que precisam ir. Não perco a oportunidade para uma piadinha, ganhando alguns sorrisos e um tapa no ombro.
Minjeong e eu paramos uma do lado da outra, de braços dados enquanto vemos nossas amigas se afastarem.
— Acho que agora somos só nós duas, né? — Diz Minjeong, sorrindo.
— Pois é.
— Acha que eu devia me preocupar com o fato de que não tenho nada planejado para nós?
— O quê? Nunca. Porque tenho uma lista infinita de possibilidades para essa noite.
Ela dá uma risadinha enquanto voltamos para dentro da loja.
— Sério, você realmente não cansa de fazer isso?
Eu tenho a sensação de que não vou mais me sentir sozinha ou perdida com essa garota ao meu lado.
\[...]
Minjeong e eu passamos todos os dias do inverno juntas. É diferente, mas diferente de uma maneira maravilhosa. Eu nunca tinha passado tanto tempo com ela, e é ótimo estar do lado dela e de sua energia acolhedora.
Passamos cada dia nos apaixonando ainda mais, descobrindo mais coisas uma sobre a outra. Ela continua a compor, ficando cada vez melhor no que faz, e na última semana de dezembro recebe uma proposta para mostrar alguns de seus trabalhos a Lee JiEun. Ao que parece ela ficou impressionada com sua performance na faculdade.
Quando eu não estou com Minjeong, estou na casa de Joohyun ou enviando currículos para algumas instituições de Seul. Ainda não surgiu nenhuma oportunidade viável, mas eu não vou desistir.
E hoje eu não estou nervosa. Minhas mãos só estão suadas e o maldito colarinho da minha camisa social não fica no lugar. Eu estou no ponto de ônibus segurando o estojo do violino em uma das mãos e uma pasta com alguns trabalhos em outra. Minha mãe até se ofereceu para me dar uma carona, mas acabei recusando porque queria fazer isso sozinha. Passos atrás de mim chamam minha atenção. Quando me viro, sorrio ao ver um par de sapatos chutando pedras invisíveis. — Um hábito particularmente meu.
Começo a chutar pedras invisíveis também.
Meus olhos encontram os de Minjeong, e ela abre aquele sorriso gentil que sempre me alegra.
— Estou um pouco surpresa — Ela diz, chegando perto de mim. — Eu não sabia que encontraria você aqui.
Ela estende a mão para mim. Eu a seguro na minha, entrelaçando nossos dedos.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto.
— Lembra que comentei sobre uma reunião com a Stra. Lee no fim de semana? Então, ela me ligou ontem e perguntou se eu não podia fazer isso hoje. As vezes nem acredito que isso está mesmo acontecendo.
Sorrio e me aproximo dela. Estamos tão próximas que nossos lábios quase se encostam. Sinto sua respiração quente na minha pele, na minha alma.
— Você está bem? — Pergunto.
— Ansiosa, mas sim — ela responde. — E você, está bem?
— Estou — respondo, colocando seu cabelo para trás da orelha.
— Você está indo para sua entrevista?
— Sim. Se tudo correr como o planejado, na próxima primavera vou fazer parte do corpo docente da academia de música de Seul.
Meus lábios dançam perto dos seus, com toda delicadeza. E então eu a beijo com todo o meu ser, e ela faz o mesmo. Com a voz baixinha, a musicista fascinante diz três palavras que me fazem sorrir.
— Oi, professora Yoo.
Pisco uma vez antes de encarar os olhos castanhos mais lindos do mundo.
Eu a amo. Eu a amo tanto, tanto. Eu a amo sem nenhum arrependimento do passado, nenhum medo do futuro. Eu a amo no presente, com tranquilidade, com sussurros secretos de amor que apenas os nossos espíritos jovens compreendem.
Mesmo que as coisas fiquem difíceis, acredito que ficarei bem. Ficarei bem porque Minjeong me mostrou um novo tipo de sentimento, como é a sensação de ser amada, e nada jamais poderá tirar isso de mim. Mesmo se a vida ficar complicada, esse sentimento permanecerá vivo em minha mente.
Ainda sorrindo, sussurro de volta:
— Oi, srta. Kim.
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Hey galera!
Quero agradecer de coração a cada um de vocês que embarcaram nessa jornada comigo ao longo do último ano. Quem me acompanha desde o início, sabe que foram muitos perfis até estarmos aqui, mas sei que isso não seria possível sem o apoio de cada um de vocês.
Essa história também está disponível no Dreame, assim como algumas obras originais. Desde já agradeço se puderem me dar uma forcinha por lá. ;)
E para quem curtiu Melody of Hope, em breve irei iniciar uma nova fic por aqui. Só ficarem atentos no meu perfil e nos vemos por lá.
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