29

Karina's pov:

"O ar está pesado. Sua mente, turva. Deixe a arrogância de lado e escute o que o seu coração tem a dizer."

Na manhã de quinta, minha mãe está me esperando no aeroporto. Quando vejo o semblante dela ao longe, sinto uma pressão no peito. Ela parece firme como sempre e mantem a mesma chama acesa em seus olhos castanhos.

Algo que eu não via havia muito tempo.

Em questão de segundos, vou para o lado dela, seguro suas mãos e a abraço firmemente enquanto ela também me abraça.

— Vai ficar tudo bem, querida — ela diz, como se soubesse exatamente tudo o que estou sentindo. Abraço-a mais ainda.

Depois de alguns minutos que parecem horas, eu me afasto. Minha mãe tira uma mecha de cabelo do meu rosto e fica me observando. Apenas ela se preocuparia com a aparência nos corredores de um aeroporto.

— Joohyun não veio com você? — Pergunta olhando ao redor.

— Ela disse que precisava resolver algumas coisas referentes a sua estadia, mas que já estava a caminho.

— Você pode ficar com sua tia por mais um tempo se quiser, mas gostaria que realmente viesse ficar comigo. Posso ajudar você com as questões da sua faculdade até que se forme.

Passo a mão na testa, afastando alguns fios de cabelo.

— Como está o Minho?

— Ele parece bem — digo enquanto caminhamos em direção ao estacionamento do aeroporto. — Minho aceitou ajuda profissional e parece que as coisas estão melhorando com a mãe dele. Devagar, mas isso já é um bom sinal.

— Me desculpe, querida. Eu gostaria de ter vindo antes, mas estava presa com um dos meus trabalhos e não podia perder o prazo.

— Está tudo bem, eu sei como as coisas funcionam no mundo dos musicais. Quando você volta?

— Não vou voltar. Vou ficar com você aqui em Seul.

Paro e olho para ela, surpresa.

— Isso não era parte do plano. Minha tia disse que você vinha só para uma visita.

— Não, vou ficar.

Balançando a cabeça, seguro suas mãos.

— Você não precisa fazer isso por conta do que aconteceu, mãe. Eu estou bem. E além disso sua vida está em Busan.

Ela franze a testa.

— Minha vida está onde você estiver, meu amor. Eu percebi isso depois que você foi embora. Depois, se as coisas correrem bem, volto para Busan após sua formatura para finalizar alguns assuntos e então venho em definitivo para Seul para ficar com você.

Olho de volta para minha mãe e vejo ela me encarando e sorrindo. Em segundos, parece que tudo está em seu devido lugar. Ela tinha se decidido, e eu também.

Caminhamos até o estacionamento onde minha tia nos espera. Mais tarde, ela me deixa na faculdade e leva minha mãe para a nova casa dela. Eu quero acompanhar elas, mas ambas não aceitam que eu perca o dia de aulas na faculdade.

Quando entro no corredor principal, vejo Minjeong conversando com Yzhuo. Mas o que chama minha atenção é uma Somi se aproximando de onde elas estão.

Eu sei que é bobagem, e sei que eu não deveria me incomodar, mas incomoda. Somi não voltou a falar com Minjeong desde o último acontecimento. Soube que a senhora Kim realmente teve uma conversa com ela. Mesmo assim avanço na direção das garotas.

— Então, eu estava pensando... A festa de graduação vai ser antes do feriado de fim de ano e eu queria saber... — A voz de Minjeong some quando me aproximo e ela abre um sorriso para mim. — Pensei que não fosse vir para a faculdade hoje.

— Mudança de planos — Digo, colocando o braço sobre seu ombro e beijando seu rosto.

Somi olha para mim e segura o livro mais perto do peito. Ela olha de relance para Minjeong, mas esta nem percebe sua presença. Vejo a decepção ficar estampada no rosto dela, principalmente nos olhos.

Um nó se forma na minha garganta. Eu sei que ela acha que eu não notei, mas notei. Somi olha para nós com inveja. Mas ela só está arcando com as consequências das suas decisões.

Depois de alguns minutos jogando conversa fora, Yzhuo se despede de nós e vai para sua sala.

— Você precisa de ajuda com as questões da festa de formatura? — Pergunto enquanto acompanho Minjeong pelo corredor.

— Não, está tudo bem — Ela diz, segurando minha mão na sua.

— Tem certeza? — Insisto. — Eu sei que você aceitou ajudar com os preparativos, mas não quero que se sobrecarregue.

— Não precisa se preocupar, Jimin.

De repente seus olhos parecem pesados; ela parece cansada.

— Você está desanimada.

Ela abaixa a cabeça e assente devagar.

— É só que... com a formatura se aproximando é impossível não pensar no fato de que meu pai provavelmente não vai comparecer.

— Sinto muito, Minjeong.

— Não é culpa sua. Só a minha vida, acho.

Minha garganta aperta.

— Se você quiser conversar, é só falar. Juro que está tudo bem.

Seus olhos se arregalam e enchessem-se de lágrimas.

— Não. Eu estou bem, Jimin. Foi só um momento ruim. Só isso.

Escuto o que ela está dizendo, mas sei que certas coisas ainda a incomodam. E está tudo bem, porque não é como se elas fossem desaparecer da noite para o dia.

— A sala de prática instrumental está vazia agora. Estava pensando em tocar alguma música com você... — digo, me perdendo em seus olhos castanhos. — O que você me diz?

Minjeong abre um sorriso e vejo que seus olhos também se iluminam.

— Quer dizer, tocar com você enquanto deveríamos estar em aula? — Ela faz uma pausa e ri. — Não me entenda mal. É uma ideia agradável e tudo, mas é só que...

Eu a interrompo. Minha mão ainda está segurando a sua e puxo ela em direção a uma área mais reservada do corredor. Envolvendo meu braço em sua cintura, puxo-a para mais perto e meus lábios tomam os dela. Beijo-a rápido, mas intensamente. Ela se aninha em meu lábio inferior e me beija mais forte até escutarmos vozes, anunciando que alguns alunos se aproximam.

— Você vai se atrasar para a aula.

Eu posso sentir seu sorriso em minha boca enquanto ela fala baixinho:

— Mas com certeza vai valer a pena.

\[...]

Começo a morar com minha mãe na última semana de outubro. Mas como ela precisava fazer viagens recorrentes a Busan para resolver tudo por lá, e como não queria que eu ficasse em casa sozinha durante esse tempo, passo os dias com Joohyun.

Todos os dias, depois da faculdade, eu vou para a casa da minha tia. Isso quando eu não vou ficar com Minjeong. Certo dia, no entanto, marco de encontrar Aeri em um dos cafés da cidade, já que faz dias que não temos tempo para nos ver.

Mas para minha surpresa, quando entro no café avisto o Sr. Kim sentando em uma das mesas próximas a janela. Ele não parece em nada com um promotor de justiça. Está com uma camisa polo cinza e seu cabelo está desgrenhado. Seus olhos estão encarando o celular em sua mão.

— Você não está ocupado, né? — Pergunto ao me aproximar.

Ele se vira lentamente para me olhar e sorri com desdém.

— Você está invadindo meu espaço pessoal.

— Pois é, estou, mas como você está sozinho pensei em fazer companhia.

O Sr. Kim bufa enquanto puxo uma cadeira para que possámos conversar, mesmo que ele não pareça estar a fim de papo.

— Você é muito irritante, sabia? — ele murmura, guardando o celular no bolso da calça.

— É uma das minhas incríveis qualidades — falo, sorrindo.

— Não estou com paciência para brincadeiras, garota.

— Em algum momento você teve?

— Acho melhor você medir suas palavras — resmunga ele.

Ele sempre está ranzinza, mas como eu já estou cansada de toda essa situação envolvendo Minjeong, posso ser igualmente ranzinza. Me inclino para a frente, apoiando as mãos sobre a mesa.

— Qual é o seu problema, hein?! — Ele sussurra, zangado. — Por que não me deixa em paz?

— Porque tem uma história que preciso compartilhar. Nem que seja com um velho ranzinza que acha que merece a solidão.

Ele bufa de novo, resmungando comigo.

— Se está fazendo isso por que Minjeong te pediu, saiba que está perdendo o seu tempo.

— Sua filha não está envolvida em nada disso. A propósito, acredito que você já saiba sobre a formatura dela.

— A mãe dela comentou a respeito comigo. Mas não tenho dúvida de que Minjeong vai se fornar com mérito. Ela é assim, tudo o que faz, faz com dedicação.

Ergo a sobrancelha.

— Não sabia que você ainda falava com a mãe dela.

— Ligo para ela as vezes — ele diz. — Mas não mude de assunto. Não sou um dos seus amigos para ficar jogando conversa fora.

As palavras do Sr. Kim ficam na minha cabeça por mais um tempo, mas não falo mais sobre Minjeong. Ao invés disso, peço um café enquanto começo a lhe contar a história familiar do meu irmão. Às vezes, ele parece que vai me interromper, mas então desiste e continua a me escutar.

— O que você espera conseguir me contando essa história? — Ele pergunta quando termino.

— Nada. Já disse, só queria compartilhar uma história com um velho ranzinza.

Fico esperando algum comentário ácido, mas o Sr. Kim apenas fica em silêncio e esfrega o polegar na borda do seu copo.

— A verdade é que, eu não estou disponível para Minjeong há muito tempo. — Ele diz, me surpreendendo. — Depois de me separar e mudar para outra casa, me ausentei completamente.

Eu não sei o que dizer, então não digo nada. Posso sentir a tensão em seu corpo, enquanto ele continua falando.

— E agora as coisas chegaram a esse nível. Sinto que tenho uma chance de me relacionar com ela, mas não estou nem tentando. Não sei nada sobre ela. Do que gosta, do que não gosta. Nem sei como recuperar o relacionamento com minha própria filha.

Passo a mão nos lábios antes de pegar meu copo e tomar mais um gole do café.

— É uma situação difícil.

Ele se vira para mim, o semblante fechado como sempre, e diz

— Eu devia mesmo ter te expulsado da mesa, porque você parece ter uma desagradável capacidade de fazer as pessoas se abrirem.

— Onde está Minjeong agora? — Pergunto, sabendo, mas ainda assim curiosa para ver qual seria sua resposta.

— Eu não sei. — Sua cabeça permanece baixa. — Não peço a ela que me dê satisfação, afinal que direito eu tenho? Eu seria um babaca se começasse a fazer o papel de pai agora, quando não faço isso há meses.

— Mas acho que mesmo assim ela gostaria. — Ele arqueia uma sobrancelha com meu comentário. — Meu irmão morreu há mais de um ano. A relação familiar dele nem sempre foi perfeita, mas uma vez vi sua mãe comentando que se tivesse outra chance, teria me esforçado mais. Teria feito melhor seu papel de mãe. Você se afastou de Minjeong por intolerância, mas ainda pode concertar isso. Então não perca a chance que ainda tem com ela.

O Sr. Kim permanece em silêncio, absorvendo minhas palavras e pensamentos. Levanto-me da cadeira e começo a caminhar em direção a bancada no fundo do café.

— Ei, garota?

Viro-me para ele.

— Sim?

Suas sobrancelhas estão franzidas e ele enruga a testa.

— Você é mesmo irritante.

Sorrio.

— Já disse, é uma das minhas incríveis qualidades. — Digo, enfiando as mãos nos bolsos e me afastando. Aeri entra no café segundos depois, se aproxima de mim e coloca a mão no meu ombro.

— Quem é aquele? — Pergunta, acenando na direção do Sr. Kim.

— O pai de Minjeong.

— Ah? Sua namorada está aqui? — Ela pergunta, endireitando-se e olhando ao redor.

— Não — respondo. Aeri arqueia uma sobrancelha para mim e seguro seu braço guiando-a em direção ao balcão.

— O que fazia com ele, então? Pensei que você não se desse bem com seu sogro.

— Exato — sussurro. Ela fica olhando para mim, vendo minha mudança repentina, e espera que eu me explique. Passo a mão nos cabelos e faço um breve resumo da situação.

— Minha nossa... — Aeri suspira, a palma da mão em sua nuca.

— O quê?

— Você realmente ama essa garota.

— O quê?! — Sorrio, esfregando as mãos. — Depois de tudo o que te contei, é isso o que tem a me dizer?

— Ah, vamos, não me venha com a besteira de negar isso. Você realmente ama a Minjeong e deixa isso bem nítido em cada uma das suas ações.

— Eu... — Eu sei que ela está certa. Mas ainda fico pensativa. Como eu posso amar Minjeong e não ser capaz de mostrar ao mundo todo meu amor? Isso não faz sentindo para mim, por isso gosto de expressar sem medo esse sentimento.

— Confúcio disse: “Aonde quer que você vá, vá com o coração inteiro”, Jimin. — Aeri coloca a mão no meu ombro. — Você está fazendo isso muito bem.

— Você acabou de citar Confúcio?

— Acabei. E foi incrível. — Ela sorri para mim e me empurra. — Venha. Vamos fazer nossos pedidos.

\[...]

Chegando em casa, me jogo na cama, exausta. Aeri de alguma forma conseguiu estender nossa reunião até mais tarde. O que posso dizer, gosto de passar um tempo com ela.

Pego meu celular e mando uma mensagem para Minjeong. Ela deve estar dormindo, mas, se não estiver, não quero perder a oportunidade de falar com ela.

Eu: Oi. Você está aí?

Minjeong: Olha quem apareceu. Como foi sua tarde?

Eu: Boa. Senti sua falta no café.

Minjeong: Nossa! Você está realmente viciada em mim. Pare de abraçar seu travesseiro.

Eu rio alto com o comentário dela, desejando que ela estivesse deitada nua ao meu lado na cama. Não precisaria nem fazer nada com seu corpo nu, só abraçá-la. Adoro sentir seu corpo junto ao meu.

Eu: Vou parar quando você parar de acariciar o seu travesseiro.

Minjeong: Eu achei que você gostava quando eu acariciava você.

Eu me encolho.

Eu: Tenho minhas exceções.

Minjeong: KKKKKKK Você é uma boba.

Eu: Me manda algo que você tocou hoje. Algo que compôs?

Há uma longa pausa. Ou ela está escolhendo a música ou adormeceu.

Segundos depois recebo um arquivo de áudio ao qual logo trato de dar play.

A melodia é suave, mas ao mesmo tempo marcante. Adoro o jeito como Minjeong consegue transmitir cada um dos seus estados de espírito através dos seus trabalhos. E amo ainda mais que ela copartilhe isso comigo, que permita que eu aprecie cada uma das suas versões. É exatamente por isso que quero amá-la até o fim dos tempos.

Escuto sua música diversas vezes. Absorvendo cada uma das notas.

Eu: Insoo estaria certo. Não sou boa o suficiente para você.

Minjeong: Acho que você é bastante boa para mim.

Eu: Não era você quem não ia me deixar ainda mais convencida?

Minjeong: Acho que isso é impossível.

Dou risada para o celular.

Eu: Você tem trabalhado em mais alguma coisa?

Minjeong: Sim. Comecei uma composição nova. Na verdade, quero sua ajuda com essa.

Ela também está se encontrando. É a coisa mais bonita de se ver: Minjeong descobrindo quem ela é de novo, e por conta própria. E eu me sinto privilegiada de poder testemunhar seu crescimento.

Minjeong: Meu pai me ligou mais cedo e disse que gostaria de me ver... Já fiquei sabendo do encontro de vocês. O que você disse a ele?

Sorrio para a mensagem e esfrego minhas sobrancelhas com os dedos.

Eu: Só contei uma história para ele. Talvez você devesse, também. Boa noite, linda.

Minjeong: Boa noite :)

Rolo para ficar de costas e começo a escutar a música de Minjeong que recebi hoje à noite. Sei que é disso que preciso para sentir paz.
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Hey galera!

queria avisar que essa fanfic deve ter mais uns dois capítulos. Tenho alguns planos futuros para ela, mas explico melhor na frente. ;)

Até próximo.

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