23
Karina's pov:
"Vou estar com você quando se sentir sozinho. Vou te amar mesmo que o mundo não te entenda. Então nunca fuja de quem realmente é."
Naqueles poucos dias em Busan, meus pais e eu resolvemos nossas questões. Nós enfrentamos nossos problemas.
Pela manhã, eu levava Minjeong a um tour pela cidade enquanto a noite era reservada aos concertos no teatro. Na véspera da nossa viagem de volta, resolvi passar no cemitério para fazer uma visita ao túmulo do meu irmão. E ela fez questão de me acompanhar.
Minjeong ficou ao meu lado, falando baixinho. Sua voz estava mais doce que de costume. Senti o melhor tipo de conforto que precisava naquele momento. No céu, o sol brilhava com intensidade, invadindo por entre os galhos das árvores, banhando cada centímetro da cidade.
E quando o dia seguinte chegou, pegamos o avião.
— O que você acha? — Pergunto a Minjeong quando chegamos de volta ao aeroporto em Seul. — Acha que está pronta para a retomada das aulas na próxima semana?
— Não sei — ela responde. — Mas espero que sim.
— Eu também. — Olho em volta e sorrio para ela. Ficamos em um canto escondido perto da área de espera do aeroporto. — Minha mãe pretende vir passar um tempo em Seul para resgatamos nosso relacionamento. Talvez ela faça isso próximo a conclusão do meu curso.
Minjeong assente com a cabeça, sorrindo.
— Eu sei.
Minha voz sussurra com o próximo tópico.
— Isso me lembra que vamos precisar começar a trabalhar diretamente com a professora Kang. Espero que ela goste da nossa composição.
— Eu também — Ela diz, se aproximando e colocando suas mãos em minha cintura. — Vou compor algo novo hoje à noite, enquanto lembro da nossa viagem.
— Então você está inspirada? — Pergunto. Ela não mencionou nenhum trabalho novo desde a tarde em que nos emcontramos no Yongsan, por isso fico feliz por ouvi-la falar disso.
— Acho que estou. Mas não é muito importante.
— É muito importante, sim — discordo.
— Bem, minha mãe vai vir me buscar daqui a pouco. Ligo para você mais tarde? Caso contrário, nos vemos na segunda.
— Tudo bem. Quer que eu fique com você até que ela chegue?
Ela agarra minha camisa e se esconde atrás de mim.
— Ai, meu Deus!
— Não é nada de mais… Um “não” teria funcionado.
— Droga — ela sussurra. É bonitinho ouvi-la xingando; me faz querer beijá-la ainda mais.
— O que está acontecendo? — Pergunto, tentando me virar para olhar para ela.
— Meu pai — Minjeong sussurra na manga da minha camisa enquanto aponta em direção a área de embarque. Meus olhos disparam e o vejo sentado com um celular na mão.
— Droga! — sussurro, guiando-a pela lateral do prédio. Avançamos para uma área mais afastada. — O que ele está fazendo aqui? Ele sabia que você chegaria hoje?
— Não! Não nos falamos desde que ele saiu de casa. Duvido que ele se importe. — Noto um pequeno tremor em seus lábios. — Eu só não quero criar nenhuma cena como a da última vez.
— Ele seria louco de não se importar. — Faço uma pausa. — Mas concordo com você, é melhor evitar um encontro desagradável.
Minjeong me abraça, dando-me um beijo casto.
— Preciso ir antes que ele me veja. Acho melhor esperar minha mãe sozinha. Por precaução.
Beijo-a de novo, adorando seu gosto.
— Componha um pouco. Quero ouvir tudo o que você conseguir criar.
— Vou ver o que posso fazer. — Ela ainda está parada. — Ah! Você também deve tentar continuar aquela composição — Ela diz, encaminhando-se para a saída, e faz uma pausa, olhando mais uma vez para mim. — Assim vamos poder compartilhar de algo único.
Sorrio.
— Prometo que vou trabalhar nisso.
Ao observá-la caminhar em direção à porta do aeroporto, meu sorriso se alarga. Fico ainda mais apaixonada por Kim Minjeong nesse momento.
\[...]
Ao entrar em casa, por volta de duas e meia da tarde, estreito os olhos quando vejo Joohyun falando ao celular, em tom sério, enquanto Minho está sentado no sofá, com a cabeça entre as mãos.
— O que está acontecendo? — Pergunto, jogando minhas malas de lado e caminhando em direção a ele.
Minho ri quando nota minha presença. Ele joga as mãos para o ar com um sorriso no rosto.
— Advinha só, eu entrei para as estatísticas! — Grita, correndo até mim.
Abro um sorriso singelo, sem saber do que ele está falando, mas adorando sua natureza exagerada.
— Como assim? — Pergunto, vendo-o sorrir ainda mais. Não posso deixar de rir. — O que diabos está acontecendo, Minho?!
Sua risada enche o ambiente e ele se curva para a frente, cobrindo o abdômen com os braços, de tanto rir.
— Minha mãe bisbilhotou meu celular e leu todas as minhas mensagens de texto. Incluindo as que troquei com Jeongin! Puta merda! Ela me xingou, orou por mim, e depois me expulsou de casa. Tenho 23 anos, sou gay, e não tenho onde ficar! — Ele abre um sorriso largo e se vira para minha tia, que continua no celular com uma expressão fechada. — Obrigada mais uma vez pela oferta de moradia, Joohyun.
Paro de rir, mas ele continua.
— Nossa, Minho, isso não é engraçado...
Então vejo as lágrimas em seus olhos. Ele balança cabeça de um lado para o outro, rindo ainda mais alto.
— Eu sei! Mas entenda que se eu parar de rir vou me dar conta da situação horrível na qual me encontro. E vou me dar conta de que tenho uma vontade imensa de desistir de tudo. Tantas vezes na última hora eu só quis desistir. Então, por favor...
Ele continua rindo, mas agora eu posso ouvir a mágoa em cada risada, a dor no brilho dos olhos dele. Abro um sorriso triste. Rimos juntos, porque se pararmos tenho a sensação de que Minho cairá instantaneamente no chão e vai desistir de se levantar.
E eu preciso desesperadamente que ele não desista.
\[...]
— Nós não vamos à nenhuma festa — declaro, sentada na cama de um dos quartos de hospede da casa de Joohyun. Minho está determinado a afogar suas mágoas, mas eu tenho uma forte sensação de que é a pior coisa a se fazer.
— Ah, vamos, Jimin — ele argumenta. — Minha mãe acabou de me expulsar de casa. Tudo o que eu preciso hoje é de uma festa.
— Você sabe que essa não é a melhor forma de resolver as coisas.
Minha tia entra no quarto com alguns pertences de Minho em uma mala. Ela coloca-a ao lado da cama e, em seguida, se encosta no batente da porta.
— Seu pai só colocou algumas roupas. Porque acredita que isso tudo é passageiro. — Ela faz uma pausa e olha para nós dois. — Vamos tentar manter a calma, certo?
Minho olha para mim e, em seguida, para a minha tia.
— Como estão as coisas por lá, Joohyun? — Ele sussurra.
— Você já deve imaginar! Sua mãe está agindo como uma louca! — Ela grita, jogando as mãos para cima de irritação. — Seu pai está tentando contornar a situação, mas você sabe como ela é. Porém também quero que saiba que você não está sozinho, ok?
Minho se levanta e abraça minha tia.
— Eu sei. — Ele sussurra. — Mas agora você já pode voltar a cuidar dos seus assuntos pessoais. Você não tem uma reunião marcada para daqui a uma hora?
— Tenho — Ela franze a testa. — Mas não posso simplesmente deixar o melhor amigo da minha sobrinha sozinho numa situação dessas.
— Ah, não precisa se preocupar — Minho sorri. — Minha amiga preferida já chegou, ela vai me impedir caso eu tente me prostituir para conseguir algum dinheiro.
Ele faz minha tia rir, e vejo um pequeno sorriso em seu rosto também. Joohyun se endireita, passando as mãos nos cabelos.
— Se for para sonhar, que esse sonho seja alto, certo?
Minho cutuca ela no ombro.
— Pode ir trabalhar, Joohyun.
Ela suspira e assente com a cabeça. A porta se abre e ela sorri para meu amigo.
— Fique bem...
— Eu vou ficar — Minho diz.
— Promete que vocês dois vão ficar bem, Jimin?
Eu prometo.
Minha tia sai do quarto. Olho para meu amigo, que voltou a se sentar na cama, pensativo.
— Eu já volto, Minho.
Saio do quarto e vou até minha tia, cruzando os braços.
— O que realmente está acontecendo? — Sussurro, olhando por cima do ombro para verificar se Minho não está ouvindo. Os olhos de Joohyun estão pesados, e ela esfrega a nuca.
— A mãe dele... Ela... — Ela abaixa a cabeça. — Está agindo da pior forma possível.
— Ela não vai mudar de ideia, vai?
— Acho difícil. Nós não trocamos mais que algumas palavras nos últimos anos. Ela parece não ter mudado em nada suas convicções — minha tia passa os dedos pelo queixo. — Mas isso não tem nada a ver com o Minho ser gay. Tem tudo a ver com Eunbi nunca ter enfrentado seus pensamentos pré estabelecidos. Não me admira que ela tenha o expulsado de casa.
Eu não sei como é ser expulso quando você mais precisa de alguém. Lembro dos meus pais e de como eles agiram quando contei a verdade. Então faço uma pausa, percebendo quão sortuda eu sou por ter pessoas dispostas a me entender. Minho está em uma situação completamente diferente.
— Fique perto dele, está bem? E me dê notícias — minha tia pede.
— Pode deixar. — Eu me viro para voltar para o quarto e paro. — Obrigada, tia. Por apoiar o Minho.
Ela dá um meio-sorriso e segue para fora de casa. Volto para o quarto, entro, e fecho a porta.
— Você quer conversar, amigo?
Minho sorri e deixa-se cair sobre a cama, apoiando os pés na parede. Ele fica em silêncio por alguns instantes, olhando para o teto, antes de dizer:
— Não há nada que eu possa fazer para mudar minha situação, né? Talvez eu até mereça tudo isso mesmo. — Ele deve ter notado meu olhar surpreso, porque acrescenta: — Foi mal. Estou depressivo e muito cansado, então não estou sendo racional.
— Minho, você é uma ótima pessoa — começo, mas ele ri.
— Acho que é exatamente por isso que mereço sofrer.
Meus ombros sobem e descem.
— Eu emprestei meu coração a alguém. E ele ainda não me devolveu. — Ele respira fundo e joga as mãos para cima. — Na verdade, ele não vai devolver.
Me sento ao seu lado e permaneço em silêncio, sem saber ao certo o que poderia dizer.
— Eu disse há alguns meses que queria me assumir. Que não me importaria com o que as pessoas pensassem. Disse que o amava e que não me importava com quem soubesse. — Minho dá uma risada e cobre o rosto com as mãos.
Ao observá-lo, meu coração se aperta. Depois da retomada das aulas em alguns dias, haverá um novo semestre inteiro, em que Minho vai continuar a fingir ser quem não é. A ideia de passar por isso de novo é dolorosa. Eu quero ser egoísta. Quero que ele se permita tentar. Quero que ele seja feliz, mas eu sei que isso não é tão fácil assim de acontecer.
Meu amigo está arrasado, e posso ver as partes despedaçadas que formam sua alma perdida. O lábio inferior dele treme antes de ele olhar para mim, seus olhos lacrimejando.
— Jeongin me disse que não estava pronto para isso, para se assumir. Mas eu queria contar a meus pais de qualquer maneira. O resultado foi um monte de lágrimas, abraços e compreensão. Odeio compreensão, abraços, famílias chorosas.
Ele sorri, mas há muito mais por trás disso e eu escuto a dor em suas próximas palavras.
— Ele terminou comigo, porque ficou com medo que algumas pessoas descobrissem. E parte de mim achou que essa foi a melhor escolha. Porque me assustou; esse amor por ele. — Seu choro se intensifica. Sua tristeza só aumenta. — Quero que essa droga acabe.
— Minho... — Eu estou chorando, me sentindo completamente impotente.
Ele senta-se e vira a cabeça para mim. Sua mão encontra a minha e seus olhos castanhos continuam marejados. Ele se aproxima, envolvendo-me em um abraço. Eu não me afasto. Nossos rostos estão cobertos de lágrimas doloridas.
— Dê um fim nisso, Jimin. Me conserte — ele sussurra, me segurando em seus braços.
— Eu não posso te consertar, Minho — explico. — Você não está quebrado.
Ele chora por mais algum tempo, tremendo incontrolavelmente. Eu choro, também, porque chorar sozinho sempre me pareceu muito deprimente e triste.
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