21
Karina's pov:
"Não tenha medo de finalizar uma etapa da vida. Tenha mais medo de ficar preso nesse ciclo infinitamente."
De volta a Busan, fazemos uma rápida parada antes de ir para a casa da minha mãe. Quando paro o carro alugado na calçada, sorrio. Um dos carros na garagem está coberto de adesivos de alguns dos melhores teatros do mundo.
O carro de Eun.
Abro minha mochila e tiro a partitura que Insoo estava fazendo para a mãe. Enquanto separava algumas coisas para a viagem, resolvi que estava na hora de entregá-la a quem pertence. Sentir a pasta em meus dedos me faz suspirar. Apesar de tudo devo isso a ela.
— Vou esperar aqui — Minjeong diz, percebendo meu olhar.
— Por favor, vem comigo — peço, saindo do carro.
Ela abre a porta e sai também, fechando-a sem fazer barulho. Cada passo em direção à casa é doloroso. Cada vez que meus sapatos levantam, sinto como se estivesse sendo apunhalada no estômago.
Segurando a pasta com uma das mãos e a mão de Minjeong com a outra, subo os degraus até a porta da casa. Olho para o banco na varanda. Pisco rapidamente, e as lembranças começam a ressurgir.
“Acho que só preciso de mais um tempo para contar a verdade para nosso pai”, sussurrou Insoo enquanto estávamos sentados na varanda, trabalhando em um projeto da faculdade. Era uma tarde de outono e o clima estava bem agradável.
Sorri para meu irmão.
“Acho uma ótima ideia. Nosso pai é tranquilo e uma pessoa sensata.”
Ele me deu um sorriso malicioso e assentiu.
"Ele é. Mas não quero estar por perto quando minha mãe descobrir."
Com um sorriso triste, afasto a lembrança e aperto a campainha por um segundo. Com o som, porém, tenho vontade de recuar.
Nesse momento, Minjeong aperta mais a minha mão. Relaxo.
A porta se abre, e quando vejo Eun, prendo a respiração. Primeiro, ela parece surpresa e um pouco triste. Neste momento, eu queria não ser irmã do filho dela. Provavelmente bastou me ver para a dor invadir seu coração.
Eun dá um passo para a varanda e seus olhos se arregalam.
— Jimin — ela sussurra.
Me aproximo. Meus nervos estão inquietos.
Minjeong solta minha mão, e quando a olho, ela me dá um pequeno sorriso.
— Oi, Eun.
Ela sorri, seus olhos marejados.
— “Oi, Eun”? Isso é tudo o que recebo? Venha aqui. — Ela me envolve em um abraço. Respiro fundo, abraçando-a mais forte. — Você está tão bem — ela sussurra.
Por mais improvável que possa parecer, nós sempre mantivemos uma relação equilibrada. Mesmo depois do que aconteceu, ela nunca colocou em mim a culpa pela perda do seu filho.
— Você também, Eun. — Nos afastamos e ambas enxugamos os olhos, rindo. — Desculpe por não ter dado mais notícias — digo, levando a mão nuca.
Ela balança a cabeça e abre um sorriso gentil.
— Então, quem nós temos aqui?
Viro-me para Minjeong, que está ao lado, esperando calmamente.
— Esta é Minjeong, minha namorada.
— Prazer em conhecer você. — Minjeong diz, estendendo a mão para Eun.
— Ah, também é um prazer conhecer você. — Eun me dá um olhar tímido. — Ela é bonita, não é? — Sorrio e coloco as mãos nos bolsos do casaco. — Bem, não fiquem aqui fora. Vamos entrar.
A hesitação toma conta de mim. Por alguma razão, sinto como se não pudesse entrar sem Insoo ao meu lado.
— Nós não podemos demorar. Eu só... — Estendo-lhe a pasta. — Eu queria te dar isso. Ele deixou comigo há um tempo. Pretendia te mostrar quando estivesse concluída.
Ela segura a pasta bem firme em sua mão.
— Isto é do Insoo?
Assinto com a cabeça.
Enquanto a observo abrir lentamente a pasta, uma sensação estranha de paz toma conta de mim. É como se uma etapa estivesse se encerrando para que outra começasse.
Eun chora ao ver um dos trabalhos do filho. É claro que chora. As músicas de Insoo sempre faziam qualquer um chorar. Principalmente uma que é dedicada exclusivamente a ela.
— Ele era um compositor incrível. — Sua voz falha enquanto ela continua a percorrer o olhar pela partitura.
— Eu sei.
— Às vezes me pergunto como vou conseguir seguir em frente, sabe? Como vou... — Ela respira fundo e enxuga algumas lágrimas. — Como vou ser feliz de novo um dia?
— Você começa devagar. — Minjeong diz com gentileza. — Você se permite sentir o que quer que esteja sentindo. E quando começar a se sentir feliz, não se sinta culpada.
— Começar devagar — Eun repete para si mesma, e inclina a cabeça. — Nossa! Ela é bonita e inteligente. Estou até começando a achar que é boa demais para você.
Dou risada do seu comentário e a puxo para um abraço de despedida.
— Se cuida, tá?
Ela se afasta e beija minha testa.
— Você também, Jimin. — Virando-se para Minjeong, ela aperta sua mão. — Minjeong... Espero que saiba a garota incrível que tem como namorada.
Ela segura a mão de Eun por um segundo a mais e sorri. Então olha para mim.
— É. Eu sei.
\[...]
— Mãe? — Chamo ao virar a maçaneta da porta, entrando em casa. Está tudo exatamente igual. A sala ainda tem a mesma mobília feita sob encomenda. A TV ainda está fixada em um painel na parede. O sofá ainda é do mesmo couro castanho.
No entanto, tudo parece diferente.
Minjeong entra depois de mim, fechando a porta. Ela tira os sapatos e os coloca ao lado dos meus na entrada.
— Acho que ela não está aqui — sussurro, mas não sei por quê. Parece que eu estou invadindo o lugar, e se for pega, vou causar alguns problemas.
Olho para o corredor em direção ao que costumava ser meu quarto. Me aproximando, descubro que a porta está fechada. Seguro a maçaneta e a empurro.
Assim como o restante da casa, tudo está igual, mas de alguma forma diferente. Eu não sei o que pensar sobre isso.
Colocando a bolsa sobre minha cama, que está perfeitamente arrumada, vou até a minha escrivanhia. Alguns dos livros que eu havia deixado ainda estão sobre ela.
Folheando algumas páginas, digo para Minjeong que ela pode se sentir a vontade.
— Tem seu cheiro — ela diz, sentando na minha cama. — Sei que parece estranho, mas tem.
Volto os olhos em sua direção.
— Agora que encontrou meu travesseiro e meus lençóis, não precisa mais de mim. É isso? — Digo me inclinando em sua direção.
Ela sorri.
— Me parece uma concorrência justa...
Levanto seu queixo e a beijo. Uma sensação de eletricidade pura pulsa dentro de mim. Se não fizesse isso logo, iria enlouquecer. Quando Minjeong murmura, intensifico o beijo, dominando sua boca com a língua como eu quero que...
A porta da frente se abre.
Nos separamos às pressas, como duas adolescentes pegas em flagrante. Limpo a garganta e trato de me afastar enquanto Minjeong olha para mim com um sorrisinho malicioso.
Saindo do quarto, vejo minha mãe entrando com seu estojo de violino em mãos. Seus cabelos castanhos escuros estão presos num rabo de cavalo, com algumas mechas soltas. E ela veste um blazer feito sob medida e uma calça de alfaiataria.
Ela reage surpresa quando me vê, já que não avisei quando chegaria. Seus olhos se enchem de lágrimas e seus ombros caem.
Eu deveria me sentir magoada. Mas tudo o que posso fazer é abraçá-la, puxá-la para junto de mim e chorar em seu ombro.
A verdade é que minha mãe é meu porto seguro. Desde o primeiro momento ela esteve do meu lado. Mesmo enquanto enfrentava seus piores problemas, ela ainda assim me apoiava. Ela me consolou quando meu irmão faleceu. Ela me abraçou quando eu tive medo de não poder mais tocar. Ela esteve ao meu lado desde o primeiro dia, e eu me afastei na primeira oportunidade.
Qual é o meu problema?
Ela disse que só precisava de um tempo para aceitar, e eu agi como uma egoísta. Mas nesse momento, eu percebo. Percebo que somos apenas duas pessoas nascidas para errar, para perder o controle e para aprender coisas novas. Nós somos perfeitamente imperfeitas.
— Por que não avisou que chegava hoje? — Minha mãe pergunta, afastando-se para me olhar.
— Não queria atrapalhar nenhum compromisso seu.
— Ah, querida, você não atrapalha. — Ela diz, ajeitando algumas mechas do meu cabelo. Então sua atenção se volta para Minjeong. — E aqui está ela. Que bom finalmente conhecer você. Pode me chamar de Youreum.
Ela estende a mão, e Minjeong a segura de leve.
— Prazer. Eu me chamo Kim Minjeong.
Minha mãe sorri e nos convida para se sentar. A conversa flui naturalmente, mas mesmo assim dou uma olhada para Minjeong para garantir que não está desconfortável com a situação, mas ela educadamente conversa com minha mãe, que parece estar adorando cada segundo.
Não posso culpá-la. Minjeong é mesmo adorável.
Depois de um tempo, minha mãe anuncia que está com fome e toda a conversa é deslocada para a cozinha. Sentamos à mesa enquanto ela prepara o jantar. Esse sempre foi um dos seus hobbys, então não me surpreende que faça questão de cozinhar.
Pego Minjeong me olhando e sorrio para tranquilizá-la. Ela inclina a cabeça e retribui meu sorriso.
— Sem querer começar com o hall de perguntas clichês — Minha mãe diz enquanto lava alguns utensílios na pia —, mas quando vocês começaram a namorar mesmo?
— Ah, foi alguns meses depois do início da faculdade — respondo, lançando um olhar rápido para Minjeong para confirmar se tudo bem.
— Entendo. E como estão as coisas no seu curso?
— Estão indo muito bem — digo, pensativa. — Quero dizer, estou fazendo o que realmente gosto. Então não tenho do que reclamar. A propósito, Minjeong é minha parceira no projeto final.
— É mesmo? — Ela diz, olhando para Minjeong. — E você já decidiu em que área vai atuar, querida? Porque minha filha ainda está indecisa sobre essa questão.
Minjeong sorri.
— Estou pensando em seguir como concertista quando concluir meu curso. — Ela responde com tranquilidade. — Mas não vou abandonar os trabalhos como compositora.
Minha mãe assente realmente interessada.
— Bom, conheço alguns nomes influentes na área. Se você tiver interesse, posso te apresentar algumas pessoas.
A conversa segue durante todo o jantar. Minjeong é educada. Faz todas as perguntas certas e parece realmente interessada em todos os conhecimentos do meio musical que minha mãe tem para compartilhar. De alguma forma, atravessamos o jantar e a sobremesa de maneira bem agradável.
— Tenho algo para você — Minha mãe diz enquanto voltamos para a sala. Ela desaparece no corredor e quando volta tem um estojo negro em mãos. — Eu ia te dar amanhã, mas acho que você pode inaugurá-lo hoje.
Abro o estojo e vejo um violino novo em folha. Não é um violino qualquer, é o Karl Willhelm Model 64, o mesmo em que eu estava de olho na loja do sr. Lee em Seul desde que cheguei na cidade.
— Meu Deus, não posso aceitar. Custa mais de três mil dólares. E a propósito, como a senhora sabia do meu interesse por esse violino?
— Primeiro: Já está pago. E eu já ajeitei para você. Segundo: Jongsuk comentou sobre isso comigo.
Ela sorri.
Pego o violino e o encaro por um momento antes de levá-lo até o nariz para cheirar. Para um músico, cheirar um violino novo é como um leitor que cheira um livro novo. É um perfume familiar que faz você perceber que o mundo não é um lugar completamente ruim, que ainda existe beleza.
— Por que você não toca alguma coisa para nós? — Minha mãe diz, sentando-se ao lado de Minjeong no sofá.
— Alguma sugestão?
Minjeong olha para mim e sorri.
— Toque algum dos seus trabalhos originais — Ela diz da maneira mais carinhosa possível.
Minha mãe olha para mim e sorri, esperando por minha resposta.
— Está bem — murmuro para elas, para a música, para minha alma.
Afino as cordas. Brinco um pouco com o arco.
Então meus dedos descobrem a paz que o violino me oferece. As cordas cantam por mim. A música me entende quando eu mesma não sou capaz. É o cobertor que me protege de todos os medos reais que existem. Balanço para a frente e para trás enquanto deslizo o arco sobre as cordas. Então me entrego ao momento, esqueço tudo ao meu redor, todos os problemas, toda a mágoa.
Toco até meus dedos doerem. Toco como se nunca mais fosse tocar de novo, com emoção em cada nota, sentimento em cada pausa. Toco até meu coração se reencontrar.
Quando meus dedos afastam o arco do violino. Minha mãe olha para mim e sorri, orgulhosa. A música é o que há na alma dela. Todos os dias, antes das nossas aulas de violino e piano, ela sempre comentava como a vida perderia o sentindo sem a música. Independente do seu estado de espírito, tocar sempre foi seu suporte vital.
— Tenho um compromisso em alguns minutos, então vou deixar vocês se acomodarem agora. — Ela diz, se levantando. — Imagino como a viagem deve ter sido cansativa.
Minha mãe dá um sorriso gentil para Minjeong antes de me abraçar apertado.
Depois que ela sai, nos levantamos e vamos para o quarto. Estamos nos comportando como duas bobas — corremos da sala até o corredor, brincamos de lutar em frente a porta do quarto e entramos com enormes sorrisos no rosto. Estou ciente, neste instante, do quanto tenho me divertido com ela.
Desde que começamos a namorar, descobri que não só aprecio apenas sua aparência, mas também realmente gosto de estar perto dela. Divertimo-nos porque ela é uma pessoa divertida, e há uma dorzinha que acompanha essa percepção, pois fico me perguntando para onde isto vai.
Coloco o estojo do violino sobre a escrivanhia antes de me aproximar de Minjeong, sussurrando:
— O que você acha? Vai me fazer companhia durante a noite ou prefere dormir no quarto de hóspedes?
— Não sei — ela responde. — A segunda opção me parece bem tentadora.
— Está fazendo isso para me provocar?
— Não estou fazendo nada — ela diz com um sorrisinho, adorando o fato de estar me afetando.
— Sim, você... — Olho em volta e sorrio para Minjeong. Então me aproximo ainda mais, gentilmente a guiando até que esteja pressionada contra a porta. — Tem certeza que quer seguir por esse caminho?
Ela ri, suas mãos movendo para cima dos meus ombros ao redor do meu pescoço. Então beija minha bochecha, minha orelha.
— Por quê? — Sussurra, provocando arrepios por todo o meu corpo.
Seus olhos encontram os meus. Sem pensar, encosto minha boca na de Minjeong, envolvendo seu pescoço com uma das mãos. Ela retribui o beijo, me puxando para mais perto.
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