20
Winter's pov:
"Não tenha medo. O medo paralisa. Apenas confie no seu coração e siga em frente."
É uma tarde de sábado quando meu pai se muda. Primeira semana de julho, início das férias de verão da faculdade.
Minha mãe diz que ele está saindo de casa de forma definitiva, e que vai passar um tempo com Yongsun, irmã dele. Diz também que os dois precisam de tempo e espaço para resolver algumas coisas. Fico observando da janela enquanto ele carrega seu carro com suas malas.
Seungmin chega em seguida. Peço para ele não me culpar porque eu também estou magoada. Mas ele diz que está tudo bem, que sabe que essa foi a melhor opção para todos. Então coloca o braço ao redor dos meus ombros e ficamos ali olhando pela janela.
Está quente pela primeira vez nesse verão. Mas enquanto o sol aquece a cidade, tudo ao nosso redor parece esfriar.
Depois que meu pai vai embora, nós dois ficamos parados por mais um tempo. Minha mãe se junta a nós e cruza os braços. Ela deve estar magoada, nas não vai demonstrar isso na nossa frente.
Durante os primeiros dias sem aula, não vejo Jimin porque fico com minha família, tentando impedir que o que sobrou dela desmorone. Mando uma mensagem para ela contando que meu pai enfim se mudou, e ela me manda mensagem todos os dias para impedir que eu surte.
Depois de passar horas conversando com Seungmin sobre a faculdade, me vejo no meu quarto falando com Jimin pelo celular. É uma hora da manhã e ela parece não ter planos de desligar.
— Me desculpa por ligar tão tarde — suspiro.
— Não tem problema. Só estava deitada aqui, abraçando meu travesseiro, pensando em você.
Sorrio de seu comentário.
— Estava aqui pensando... A gente podia se encontrar amanhã na biblioteca para praticar um pouco nossa composição.
— Aprovo essa ideia.
— Admito que estou nervosa... E se eu não me sair bem? E se a professora Kang não aprovar o trabalho que estamos fazendo?
Escuto sua respiração pelo telefone, e só esse som já me acalma.
— Esse nervosimo inicial é normal. Mas você precisa saber que é incrível, Minjeong. Apenas confie no seu talento. Não tenha medo de fechar os olhos e sentir as notas. Quando você faz isso, fica tão natural.
Respiro fundo e sinto meu coração batendo forte no peito. Jimin não faz ideia do quanto sua opinião é importante para mim.
— Estou com sono...
— Vá dormir, Minjeong. Vamos ter um grande dia amanhã.
Assinto com a cabeça, como se ela pudesse me ver.
— Você pode ficar na linha comigo? Até eu dormir?
— Claro.
Coloco o telefone sobre a cama, e ela toca violino na linha até que meus olhos pesem e os sonhos tomem conta de mim.
\[...]
Na manhã seguinte, eu estou vestida com minhas roupas casuais de verão, a caminho da biblioteca. Fazer esse trajeto me lembra da última vez que estive aqui. Quando Jimin e eu viemos praticar pela primeira vez. Tanta coisa mudou desde então, mas algumas permanecem iguais.
Aqueles olhos castanhos, por exemplo.
Paro em frente ao edifício, e me sento na escadaria. Fechando os olhos, respiro profundamente algumas vezes. Estou bem. Repito para mim mesma.
Abro os olhos quando escuto passos se aproximando de mim e vejo um par de All Star parar a minha frente. Olho para cima e encontro o olhar que brilha sem fazer qualquer esforço.
— Oi, Minjeong.
Solto a respiração que estou prendendo há uma semana.
— Oi.
Jimin coloca o estojo do violino no chão. Então, sem aviso, ela me puxa para perto dela e me deixa docemente presa em seus braços.
A respiração dela no meu pescoço é quente.
— Você está bem?
Balanço a cabeça.
— Quer conversar?
Balanço a cabeça de novo, respirando fundo.
Ela não diz nada de imediato. Apenas continua me abraçando. O calor do seu corpo em contato com o meu me passa a sensação de segurança. Abro a boca para falar, tentando encontrar as palavras através da bruma da realidade dela — a musicista talentosa, a garota boba que me faz sorrir, sua presença segura pressionada casualmente contra o meu corpo — mas as palavras parecem ficar presas em minha garganta.
— Você está melhor? — Jimin pergunta, se afastando para me observar.
— Estou. Eu só não quero pensar em problemas hoje — digo, beijando levemente seus lábios.
— Humm, tudo bem — Enrolo seu cabelo em meus dedos. E ela beija a ponta do meu nariz. — Só quero que você saiba que não precisa enfrentar seus problemas sozinha, Minjeong. Nunca.
Assinto com a cabeça.
— Eu sei.
Descansamos nossas testas uma na outra, respirando a existência uma da outra.
— Bom, então vamos conversar sobre algo mais positivo. Como o fato de que ainda estamos no hall dos famosos da faculdade.
— Você só pode estar brincando — Digo, sorrindo.
— Ai é que você se engana! Porque enquanto eu estava vindo pelo corredor na última semana de aula, ouvi as pessoas sussurrando e fofocando, dizendo que talvez estivéssemos juntas desde antes do início das aulas!
— Esse é o boato do momento?
— Sim, é o boato do momento. Mas vendo pelo lado bom, ao menos não estão dizendo que fico com aquele tal de Bang Christopher no terraço.
Sorrio.
— Isso é verdade, então acho que estamos com sorte. Quer trabalhar em algumas amostras do nosso projeto final? Quando as aulas recomeçaram, vamos precisar fazer algumas apresentações e...
— Calma, calma, calma. Não mude de assunto tão rápido assim, porque temos outro assunto para tratar aqui, Srta. kim.
— E qual seria?
Ela coloca a mão no bolso de trás e tira um papel. Ao desdobrá-lo, mostra para mim.
— Comprei nossas passagens.
Dou uma risadinha.
— Eu não acredito que você realmente fez isso.
— A prova está na sua mão.
— Você deve se lembrar do que comentei da última vez. Minha mãe não vai facilitar. Principalmente com essa história da divórcio acontecendo.
— E eu já disse que você não precisa se preocupar com isso, porque vou me resolver com sua mãe.
— Jimin, você vai mesmo seguir com esse plano?
— É claro que sim. — Ela diz, apertando meu queixo com o polegar. — Tudo pela melhor garota que já existiu.
\[...]
Na segunda, Jimin pergunta para minha mãe se nós duas podemos viajar juntas. Ela diz que não é uma boa ideia no momento.
Jimin pergunta de novo na quarta, durante sua avaliação clínica mensal. Lembro que cai na risada quando minha mãe comentou sobre o atrevimento dela. Mas sua resposta continuava a mesma.
Quando a noite do sexta chega, imagino que Jimin tenha desistido da ideia. Eu vou estar mentindo se disser que não olhei as opções de roupa no meu closet, afim de arrumar uma mala para viagem.
Talvez seja melhor ficar em Seul.
Meia hora depois que começo a praticar no piano, alguém toca à campainha da minha casa.
Espiando, vejo minha mãe abrir a porta. Jimin está parada com seu sorriso encantador que faz o mundo inteiro se apaixonar por ela.
— Oi, Sra. Kim. Primeiramente, isso é para você — Jimin diz, entregando flores para ela.
Meu coração acelera dentro do peito.
— Obrigada, Jimin, mas a resposta continua a mesma. Ainda acho melhor que Minjeong não faça nenhuma viagem no momento.
— Eu sei, mas posso entrar?
Minha mãe fica alguns instantes em silêncio, mas a deixa entrar. Ela não devia fazer isso. Depois que Jimin entra na casa — ou no coração — de alguém, é impossível fazer com que se afaste.
Ela está vestindo uma camisa branca e jeans. Ela pigarreia e endireita a postura, mostrando aquele sorriso perigoso para minha mãe.
— Gostaria que Minjeong fizesse essa viagem comigo. Entendo por que você não gostaria que ela fosse. Sei que a vida dela mudou bastante nos últimos meses. Nada é como antes, e sei que você acha que todas essas mudanças estão sendo demais para ela. Além disso, a ideia de ter a mim participando da vida dela é mais um fator estressante nessa equação.
Jimin faz uma pausa, olhando para suas mãos entrelaçadas. Então abre um sorriso singelo e continua.
— Me perdoe, Sra. Kim, mas é impossível deixar sua filha em paz, porque ela é implacável quanto a chamar minha atenção. Sei que você se preocupa com o fato de que os outros vão julgá-la e criticá-la. Além dos riscos que ela pode sofrer por conta da nossa sociedade. Qualquer pai responsável se preocuparia com essas coisas, e qualquer pai responsável iria querer poupar o filho dessas coisas.
— Então você entende, Jimin. Ela vem passado por muita coisa, e eu não quero vê-la em mais nenhuma situação desconfortável.
— Eu sei. Mas também quero que saiba que vou protegê-la. Vou fazer Minjeong esquecer dessas pessoas. Vou fazer com que ela se sinta à vontade e linda porque acho sua filha tão linda que eu me sinto em paz. Vou fazer ela rir com piadas péssimas do mundo nerd e levá-la a grandes espetáculos.
Minha mãe coloca o polegar entre os lábios. Ela está em dúvida se deve pedir para que Jimin se retire ou se deve permitir que eu faça essa viagem.
— Não imaginei que você realmente fosse se tornar a namorada dela.
Jimin fica em silêncio. Então olha para trás da minha mãe e me vê escondida. Ela abre um meio sorriso para mim.
Abro um meio sorriso para completar o dela. Ela olha de novo para minha mãe.
— Você acha que estou namorando Minjeong? Meu Deus, claro que não. Não tem nada na sua filha que eu queira namorar. Ela é uma ótima pessoa, mas, por favor, ela é apenas uma grande amiga para mim.
— Acho que nós duas sabemos que isso é mentira — Minha mãe diz, suspirando e cruzando os braços.
— Pois é. Sabe, existem garotas, e existe Minjeong. Minjeong é o tipo de garota com quem você vai para a loja de música e que da vida a qualquer melodia. Ela é o tipo de garota que diz que música clássica é o melhor gênero existente, apesar de você lutar com unhas e dentes para mostrar o quanto crossovers são interessantes, até que, de repente, você está em uma sala de música, fazendo um dueto, e sente que seu coração está prestes a explodir.
Jimin vira-se para mim quando apareço de trás da parede. Nossos olhares se encontram, e ela continua falando.
— Prestes a explodir porque você entendeu, sabe? Você finalmente entendeu como cada melodia transmite uma mensagem única, tanto para quem toca quanto para quem escuta. E você fica feliz pra caramba porque é tão lindo. E único. E ousado.
A sala fica em silêncio, com nós três paradas sem conseguir pensar em nenhuma palavra. Jimin passa a mão nos cabelos, vira-se para minha mãe e pigarreia.
— Então, se você deixar, eu gostaria de fazer uma viajem de uma semana com a sua musicista brilhante.
Minha mãe se vira para mim e dá de ombros.
— Você está mesmo confortável com isso? — Ela sussurra.
— Estou.
Eu quero muito viajar com Jimin.
— Então tudo bem.
Sem hesitação, me aproximo de Jimin com o maior sorriso do mundo que eu não consigo mais esconder. Ela se levanta, mas não diz nada nem se move um centímetro. Minutos se passam, e ainda assim ela não se mexe.
— Jimin — falo, rindo baixinho. — Você está me encarando.
— Eu sei. Juro que estou tentando parar, mas quando olho para você, acontece uma coisa estranha.
— O quê?
— Minha mente se cala.
— Eu gosto dela — sussurra minha mãe ao passar por mim para sair da sala.
Sorrio.
Quando acompanho Jimin até a porta, ela me puxa para perto. Repouso as mãos em sua cintura enquanto ela ajeita algumas mechas do meu cabelo, correndo os dedos por meu rosto.
— Eu estava falando sério, tá? — Ela sussurra, olhando para mim. — Quando disse que existem outras garotas e que existe você. Era sério.
Lentamente, minha mão esquerda vai para os cabelos dela, acariciando sua nuca.
Lentamente, a mão direita dela segura meu rosto, aproximando-o do seu.
Lenta e silenciosamente nossos lábios se encontraram.
Eu não tenho certeza se devia, mas estou perdidamente apaixonada por ela. Cada segundo contém mais amor do que o anterior. Eu não sei se garotas como eu podem se apaixonar por garotas lindas que fazem seus corações pararem. Minha cabeça não para de me dizer que é errado, que eu não devo considerar uma ideia tão louca.
Minha cabeça sabe que eu nunca devia ter me permitido se apaixonar por Yoo Jimin. Minha cabeça me diz que o amor tem limites. Que eu tenho muitas questões mal resolvidas, e que ela vai encontrar alguém melhor.
Mas meu coração... meu coração acredita em um tipo de amor simples e tranquilo. Um tipo de amor maior do que quaisquer limites que o mundo imponha a nós. Um tipo de amor que é visto somente pelas almas de duas pessoas. Para variar, meu coração não me dá muita escolha.
É algo desagradável e encantador ao mesmo tempo, não é? Como às vezes o coração não está nem aí para o que a cabeça quer.
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