16
Winter's pov:
"Incrível. Você é uma musicista incrível.Vou ouvi qualquer coisa que você tocar."
Todas as segundas, a Dra. Lee me encara com um olhar preocupado, como se realmente se importasse. Eu sei que esse é o trabalho dela e que talvez realmente se importe com seus pacientes. Mas é impossível não me perguntar se ela ainda agiria dessa forma se minha mãe não a estivesse pagando tão bem.
Nossas conversas entraram numa rotina cansativa que repete-se toda semana. Ela começa com a mesma pergunta, eu falo sobre algum artista e depois ela faz outra pergunta.
— No que você está pensando hoje, Minjeong?
— Ludwig van Bethoveen. Ele perdeu a audição ao longo da vida adulta. Com a surdez, ele já não era capaz de captar novos sons, mas tinha conhecimento suficiente para formar sinfonias em seu cérebro e transformá-las em composições. Mesmo surdo, Bethoveen compôs obras grandiosas, a Nona Sinfonia é um grande exemplo disso. Isso é realmente incrível. Mas você consegue imaginar como deve ter sido difícil para ele aceitar conviver com essa nova condição? Imagine esse tipo de pressão. A incerteza de ser ou não capaz de corresponder às expectativas que as pessoas tem sobre você.
— Você sente pressão dos seus pais, Minjeong? Como se os desapontasse?
Pisco os olhos, lembrando da discussão que meus pais tiveram há alguns dias.
— Existe um divisor de águas? — Pergunto.
— Para o quê?
— Para o quanto os pais amam um filho. Existem tipos diferentes de condições que podem fazer com que eles simplesmente parem de amar o filho? Tipo, digamos que um filho começou a usar drogas ou se meter em brigas. Ou perdeu em uma matéria na faculdade. Ou...
— Se assumiu lésbica.
— Pois é. Isso pode ser um divisor de águas para o amor?
— Seus pais ainda se importam com você — A Dra. Lee diz.
— Tenho certeza de que minha mãe se importa. Mas com meu pai não é a mesma coisa. Antes, ele me encontrava no seu escritório todas as noites e acabávamos conversando sobre o nosso dia. Depois ele beijava minha testa e, eu ia embora.
— E agora?
— Agora todas essas lembranças estão sumindo.
— Quer falar mais sobre isso? — Ela pergunta.
— Não.
Ela não insiste para que eu conte mais detalhes. Tenho que admitir que gosto disso nela.
Quando saio do consultório, olho para o celular para ver se tenho alguma mensagem.
Jimin: Desculpe por não ter acompanhado você na sua consulta de hoje.
Minjeong: Tudo bem. Você não precisa fazer isso.
Ela responde quase que imediatamente.
Jimin: Ah, mas você sabe que faço questão. Acho melhor começar a aceitar isso logo de uma vez.
Sorrio.
Minjeong: Você é bem irritante as vezes, sabia?
Jimin: E você é linda.
Minjeong: Ainda acho que você diz isso para todas as garotas da faculdade.
Eu não consigo parar de sorrir.
Tento imaginar o que ela está fazendo. Quando uma pessoa não pode estar próxima de alguém com quem ela quer muito estar, ela se satisfaz em perceber todos os detalhes sobre esse alguém.
Eu espero que ela esteja se alegrado comigo.
Jimin: Só digo isso para você, Minjeong.
\[...]
Quando chego em casa, tenho o desprazer de encontrar Somi sentada nos degraus da varanda.
— Esquece que eu existo, droga! — meio sussurro, meio grito com ela ao me aproximar.
Eu não consigo acreditar que mesmo depois de ter me tratado de uma forma tão baixa, mesmo depois de ter contado mentiras para o meu pai sobre Jimin, como se a conhecesse, ela ainda tenha coragem de aparecer na minha casa como se nada tivesse acontecido.
— E faça o favor de deixar Jimin fora dessa história. Ela não fez nada para você.
— Bem, me desculpe — ela sussurra, levando-se e olhando para os lados para garantir que não tem ninguém vendo a gente. — Desculpe se eu me importo com as pessoas que estão mexendo com você.
— Pode parar, Somi. Você não tem nada a ver com as pessoas com quem eu converso ou não. Muito menos com o que faço da minha vida. Seu namorado é o Taemin. Não eu. E você está a segundos de me deixar realmente furiosa.
Ela estende o braço para encostar no meu ombro, mas eu recuo.
— E sério... Por que você se importa tanto com minha vida? Pensei que tivesse deixado bem claro o que queria comigo da última vez — comento sarcasticamente.
— Não estou mais apaixonada por ele — ela diz, e sinto um aperto na barriga.
— Somi...
Mais uma vez ela se aproxima, mais uma vez eu recuo.
— Eu penso sempre em você. Penso em você quando não deveria. Quando estou com ele, você surge na minha cabeça.
— Provavelmente porque você se sente culpada por estar usando ele!
— Não... Bem, sim. Mas não é só isso. Eu só acho que eu e ele...
— Espera. Deixa eu adivinhar, você acha que estão se distanciando? Pelo amor de Deus, eu acho que já passou da hora de você mudar esse discurso.
— Minjeong, eu estou aqui por que quero me redimir com você. Quero facilitar as coisas. Não é justo você passar por tudo isso sozinha, eu simplesmente quero ajudar.
— Tá bom. Então conte para a faculdade inteira quem realmente você é — respondo.
A boca dela fica tensa. Ela abaixa os ombros. Exatamente como imaginei.
— Me deixa em paz, ok?
Ela fica alguns instantes em silêncio antes de dizer:
— Mas é verdade. Não estou mais apaixonada por ele.
— Eu não me importo se você está apaixonada ou não. Assim como você não deve se importar com a vida da Jimin.
Entro em casa e deixo Somi ali parada, embasbacada. Queria que essa garota fosse uma desconhecida. Ver Somi todos os dias pela faculdade é uma droga.
Fico me perguntando como as pessoas esquecem uma paixão. Somi fala como se fosse uma coisa bem simples. Mas eu penso ser algo provocado por um acontecimento marcante ou pelo acúmulo de pequenas frustrações ao longo do tempo.
\[...]
Na tarde seguinte, vou até o Yongsan Park. Jimin me pediu para encontrá-la lá após o término da minha última aula na faculdade. Eu deveria ter usado uma roupa mais leve ao invés de uma camisa de mangas longas. Está quente. Fica claro que o clima ameno da primavera em Seul está sendo substituído por um verão quente. As lâmpadas dos postes iluminam bem a rua, e o céu está escurecendo.
Chegando ao parque, vejo Jimin afinando seu violino e paro a alguns metros de distância, surpresa. Nunca imaginei vê-la tocando para os transeuntes do parque, mesmo que já saiba que ela gosta de fazer isso para relaxar. Então, afastada, eu secretamente observo – assim como muitos de nós – aquele lugar onde ela está em pé com o violino sob o queixo enquanto o arco se move para cima e para baixo no pescoço do instrumento. Sua mão esquerda colhe as notas musicais como se fosse algo tão fácil quanto respirar.
Nunca vi os dedos de ninguém se moverem assim, como se ela não precisasse pensar. De algum modo, é como se Jimin desse uma voz humana ao violino. Na maior parte das vezes, ela toca estritamente música clássica, mas hoje está tocando uma melodia mais rápida e elaborada. Não me lembro de ter ouvido algo assim antes, então provavelmente é uma composição original.
Me aproximo, sentindo um misto de emoções embargar minha garganta. Isso sempre acontece quando vejo a expressão dela, o jeito como ela fica em transe enquanto toca, mesmo no caos da multidão.
Quando a música termina, ela levanta o rosto, estreita os olhos na minha direção e me oferece o mais encantador dos sorrisos.
— Não vi quando você chegou. — Ela diz, guardando seu violino no estojo.
— Cheguei há alguns minutos. Não imaginei que fosse te encontrar tocando aqui no parque. — Digo sorrindo. Minha nossa... Tenho sorrido com tanta frequência ultimamente. É uma sensação tão boa. Tão emocionante. Tão livre.
— Bom, como você estava demorando, resolvi entreter um pouco essas pessoas.
— Em minha defesa, eu tenho uma ótima explicação para o meu atraso.
Ela estuda meu rosto por alguns segundos antes de se abaixar até o chão, e o sorriso mais malicioso abre-se em seus lábios.
— Estou ouvindo.
Sorrio quando ela olha para mim. Abaixando-me também, me sento ao lado dela.
— Ningning estava me contando uma novidade.
Seu sorriso se alarga.
— Suponho que já sei do que se trata, mas prefiro ouvir o que você tem a dizer antes de tirar conclusões precipitadas.
— Bom, ela me encontrou em um dos corredores quando eu estava de saída. Primeiro ficou andando de um lado para o outro, completamente perdida em pensamentos. Depois parou e ficou me encarando, como se procurasse as palavras certas. E por fim me contou que Aeri havia confessado estar interessada nela não apenas como amiga e que tinha a convidado para um encontro.
— Aeri já havia conversando sobre isso comigo. Fico feliz que ela tenha seguido meu conselho — Seus dedos percorrem a grama que nos rodea e ela pega alguns punhados. — Mas e Yzhuo, ela aceitou?
— O quê?! Você está mesmo me perguntando isso?! Acredito que ela está agradecendo a todos os deuses existentes até agora por isso.
A forma como seu sorriso se abre me faz pensar que eu estou sendo carismática, embora me sinta meio boba.
— Espero que elas façam bem uma a outra.
— Eu também — Digo, virando-me para ficar de frente para ela. — Agora, mudando de assunto. A música que você estava tocando é um dos seus trabalhos originais?
— Foi um dos meus primeiros projetos da faculdade — Ela responde. Seus dedos passam por seu cabelo, deixando-o um pouco bagunçado. — Sempre que possível tento empregar novas técnicas sobre a partitura original. Acho que o meu lado perfeccionista está sempre tentando melhorar alguma coisa.
Um sorriso surge em meu rosto.
— Acho que compartilhamos desse pensamento. Tenho alguns projetos pessoais nos quais trabalho desde meu primeiro ano na faculdade.
Ela semicerra os olhos e senta-se mais perto de mim. Seus dedos ajeitam meu cabelo atrás da minha orelha. O pequeno toque desperta alguma coisa que devia estar adormecida dentro de mim.
— Eu adoraria ouvir alguma de suas músicas.
— Bom, já que você me mostrou um dos seus trabalhos, acho que devo fazer o mesmo.
Jimin segura minhas minhas mãos nas suas. Fico me perguntando se ela sabe o quanto seu toque é importante para mim. O quanto me faz bem.
— Posso te contar um segredo? — Ela sussurra.
— Pode — murmuro enquanto observo seu peito subir e descer a cada respiração.
Seu rosto se suaviza, e quando ela se vira para olhar para mim, sinto meu coração incendiar. Esses sentimentos fortes e inegáveis de desejo, esses meus impulsos evidentes... Tudo o que eu quero fazer é beijá-la. Quero beijá-la tanto que, mesmo se esse nosso lance não der em nada, vai estar tudo bem. Seus lábios tem o poder de me fazer viver para sempre.
— Tenho uma composição inacabada — Ela fala. — E não sei se algum dia vou conseguir conclui-la.
— Por que?
— Eu tinha um coautor. E não consigo continuar o projeto sem ele.
Engulo em seco. Sei exatamente a quem ela está se referindo.
— Sinto muito — falo, sem saber o que mais posso dizer.
Ela abre um sorriso triste e dá de ombros. Seus olhos castanhos cruzam os meus e beijo de leve seus lábios.
— Eu acho você linda — sussurro, repetindo o que ela já me disse tantas vezes. — E não me refiro somente a sua aparência. Estou falando da sua inteligência, da sua proteção, do seu desolamento. Acho todas essas características lindas.
Jimin começa a circular a palma da minha mão com o polegar e meu cérebro se desliga. Sinto suas mãos viajarem sob minhas pernas, e ela me levanta, me colocando em seu colo. Minhas pernas envolvem sua cintura.
Eu me encaixo perfeitamente nela. Tão perfeitamente que tenho quase certeza de que ambas fomos criadas uma para a outra. Nossos rostos ficam tão perto que eu não sei dizer se nossos lábios estão se tocando ou não. Suas palavras pairam no ar quando ela diz:
— Gosto de estar com você, Minjeong. Com você, eu posso ser sincera sobre tudo, porque sinto que me entende melhor que ninguém mesmo que nos conheçamos há apenas alguns meses.
Seu olhar de admiração é lindo. Fico me perguntando se ela sabe que estou controlando os meus batimentos cardíacos.
Coloco minhas mãos em seu peito e minha cabeça em seu ombro. Sinto suas mãos nas minhas costas me puxando ainda mais para perto. Como da última vez, ela apoia o queixo no topo da minha cabeça. Seus batimentos cardíacos aumentam contra meu peito. Adoro o fato de que eu faço seu coração disparar.
— Me fale um pouco sobre seu irmão, Jimin.
Sinto sua inspiração profunda.
— Insoo era meu meio irmão, filho do segundo casamento do meu pai. Ele era uma pessoa alegre. Estar com ele era o mesmo que conseguir extrair o melhor de cada situação. Apesar de sua família materna ser extremamente preconceituosa, ele fazia o seu melhor para não se deixar afetar por isso.
— Seu irmão devia ser mesmo incrível.
— Ele era. Insoo teria gostado muito de você. Tenho certeza. Mas ele também teria achado você boa demais para mim.
Sorrio.
— Ele era uma pessoa sensata. — Digo, gentilmente. Então levanto o olhar para ela e passo meus dedos por seu cabelo. — E como a família dele ficou... depois do acidente?
— Meu pai não conversa abertamente sobre isso, mas sei que tanto ele quanto a esposa se culpam até hoje. Infelizmente não sobrou muito para eles além de terem que conviver com a dor causada pelo arrependimento.
— Eu realmente sinto muito que tenha passado por algo assim, Jimin — sussurro. — Mas é preciso vencer um dia de cada vez, lembra?
Ela abre um sorriso singelo antes de segurar meu pescoço e me puxar para mais perto. Seus lábios se juntam aos meus, e o mundo fica em silêncio. Ela me leva a um lugar de pura emoção, afastando toda a tristeza e substituindo-a por paz. Não sei por quê, mas nunca me senti tão segura quanto ali, mesmo na escuridão, com alguém tão machucada quanto eu. Sempre que estou perto dela, tenho uma profunda sensação de segurança e paz. Yoo Jimin faz eu me sentir em casa.
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