15

Karina's pov:

"Não se esconda de mim hoje. Permita que eu te veja."

Eu estou preparando um chá quando escuto alguém tocar a campainha. Quando entro na sala de estar, vejo minha tia abrir a porta para o Sr. Kim. Corro até lá.

— Eu quero a sua sobrinha degenerada longe da minha filha — Ele diz.

Minha tia se vira para mim com um olhar confuso. Ela pisca os olhos e um sorriso malicioso surge no seu rosto.

— Mingyu, é melhor você sair da minha casa.

— Estou falando sério, Joohyun. Eu sei o tipo de vida que pessoas como você levam e não quero saber da minha filha envolvida nisso.

— Sua filha não é uma criança — minha tia diz, seriamente. — Na verdade, ela me parece bem mais madura do que o próprio pai. Agora saia da minha casa.

Posso ver o peito do Sr. Kim subindo e descendo rapidamente, as mãos fechadas em punho. Seus olhos me vêem atrás de Joohyun.

— Estou avisando. Fique longe da minha filha.

— Está bem — Minha tia diz, soltando uma risadinha. — Mande um oi para Yongsun.

— Não fale sobre minha irmã.

— Por que não? Ela não está falando sobre mim? — Minha tia zomba.

O Sr. Kim bufa enquanto volta para seu carro e vai embora. A risada de Joohyun desaparece enquanto ela se vira para mim.

— Então tem mesmo alguma coisa acontecendo entre vocês duas. — Ela encosta na parede e fica me observando. — Acho que isso explica por que você não respondeu minha mensagem hoje cedo.

Penso sobre isso e um pânico súbito me invade.

— Ah, droga. Alguma coisa acont...

— Não era nada urgente. Mandei algumas mensagens porque sua mãe me ligou procurando por você.

— Ela ligou para você?

— Só queria saber se estava tudo bem. Deixe-me colocar uma roupa mais confortável e então podemos conversar melhor.

Preparo um chá enquanto ela se veste. Seu pijama é uma calça de moletom e a camisa esportiva da Seoul National University. Depois, voltamos a nos encontrar em seu enorme e confortável sofá. Minha tia se senta, puxando uma perna sob o corpo para ficar de frente para mim.

— Certo — Ela diz. — Vamos ver o que acontece.

Respiro fundo, mas não há como me preparar para isso.

— As coisas com Minjeong estão indo bem. Nós realmente estamos... tendo um lance.

Minha tia dá uma risada, fingindo-se escandalizada:

— Essa não! O que os outros vão dizer de duas garotas que não conseguem disfarçar o quanto se gostam estarem tendo um lance! — Ela inclina-se para mim e sussurra: — Eu já pressentia.

Levanto meus olhos para o teto e ignoro a provocação dela.

— Então, hoje, fomos até Icheon para um festival de música clássica. E, depois disso, tivemos um momento especial, que deu a sensação de algo sólido, quando senti que realmente estávamos juntas. Senti tanta vontade de permanecer ao lado dela, e ela parecia compartilhar desse sentimento, e foi tão...

— Perfeito? — Minha tia termina com uma pergunta no tom de voz.

— É... então voltamos para Seul e eu a acompanhei até sua casa. — Ao ouvir isto, Minha tia geme por antecipação. — Mas seu pai chegou quando estávamos juntas e fez a maior cena. Ele me tratou como se eu fosse uma espécie de praga a ser exterminada.

Joohyun paralisa e estreita os olhos. A voz dela sai grave, como costuma ficar quando ela parece mais um animal defendendo a prole do que minha tia:

— Aquele babaca tocou em você? Por que se ele tiver te machucado, as coisas vão tomar um rumo completamente diferente.

— Não. Ele deu um show e deixou claro que eu não deveria me aproximar da filha dele. O Sr. Kim não apenas foi babaca, mas também estragou o momento que estávamos vivendo, e senti como se voltássemos nos distanciar.

Ela passa uma mão por seu rosto.

— Acho que esse é o momento em que opto pela razão e digo para você se afastar de Minjeong — ela diz com suavidade, e a culpa inunda minha corrente sanguínea. — Taeyeon já tem problemas demais, ela não precisa que o marido idiota fique em cima dela porque minha sobrinha gosta de se apaixonar por garotas complicadas.

Gemo dentro de uma almofada, mas minha tia a retira do meu rosto.

— Não estou dando bronca em você. Escute. Tudo isso é verdade, mas eu também não esperava que algo tão bonito nascesse entre vocês. Tenho visto vocês juntas na faculdade e posso afirmar que tem sido algo maravilhoso.

— Eu sei. Eu sei.

— Mas, tentando ser otimista, vamos supor que as coisas funcionem entre vocês — Joohyun diz. — Ainda assim, vocês vão ter que lidar com todas essas questões envolvendo família.

— Acho que é isso que mais me assusta — digo a ela. — Minjeong já vem passando por tantas coisas. Não sei se ela vai estar disposta a lidar com mais essa situação no momento.

— Você não tem como saber disso. Tudo o que pode fazer é continuar tentando. — Minha tia se levanta e leva sua xícara vazia até a cozinha. — Venha. Vamos preparar algo para comer.

\[...]

No meio da madrugada, acordo com algo batendo na minha janela. Por alguns segundos penso ser algum galho de árvore, mas então percebo que não é isso. Olho para o alarme na escrivanhia, esfregando os olhos para tentar focar nos números.

2h51 da manhã.

Eu me levanto e vou até a janela. Fico assustada ao ver Minjeong parada com seu moletom rosa e shorts de algodão.

Abro a janela rapidamente e olho bem nos olhos dela.

— Minjeong, o que foi?

Fico preocupada ao ver os seus olhos cheios de lágrimas.

— Desculpe por ter acordado você. Normalmente quando não consigo dormir vou para a casa de Ningning, mas ela e família foram passar o fim de semana fora. Se for incômodo para você, posso ir embora. É que... eu não tenho ninguém com quem conversar.

— O que está acontecendo? Entra aqui, vamos conversar.

Ela entra pela janela. Passa as mãos nos olhos para enxugar as lágrimas e ri baixinho.

— Desculpe. Estou emotiva e...

Sua respiração está pesada. Como se por instinto, movo os dedos até seu rosto e enxugo as outras lágrimas. Se ela soubesse o que vê-la chorando faz com meu coração...

— Conversa comigo — falo de novo, guiando-a até minha cama.

— Não precisa se preocupar — Ela alerta, sentando. — Não é nada importante.

Sento do lado dela. Minjeong nunca entro na minha casa. É uma novidade para nós duas.

Ela deve estar mesmo arrasada. Me aproximo na intenção de tocá-la, mas então hesito. Isso vai ajudar ou só piorar a situação? Droga. Preciso fazer alguma coisa. Vê-la tensa desse jeito me incomoda mais que qualquer coisa.

— Para mim é — digo.

Se tem alguma coisa incomodando Minjeong, se algo a fez chorar, eu tenho certeza de que é importante.

Inclino-me para a frente e pego sua mão. Seus olhos se fixam nos meus, e ela tenta puxar os dedos de volta, mas seguro firme, porque conheço a expressão em seu rosto e compartilho em parte da sensação responsável por ela.

Ansiedade.

— Conversa comigo — repito pela terceira vez.

— Meus pais tiveram uma grande discussão — ela sussurra, apertando meus dedos. — Acho que as coisas saíram dos trilhos de vez e parte de mim se considera responsável por isso.

— Não diga isso, Minjeong — murmuro. — Não é culpa sua se seu pai é uma pessoa completamente intolerante. Como pode sequer pensar nisso?

— Sobre isso... — Ela fica em silêncio por um instante, imersa em pensamentos. Então ergue a cabeça, e seus olhos castanhos encontram os meus. — Eu... eu sinto muito por ele ter tratado você daquela forma, mas...

— Está tudo bem — digo, colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha. — Não quero que você se preocupe com isso, ok? Mas gostaria que você me contasse o que realmente está acontecendo. Acredito que saiba o quanto é perigoso andar sozinha pelas ruas de Seul a essa hora da madrugada.

Ela se inclina um pouco para a frente, brincando com meus dedos. Ficamos as duas acompanhando seus movimentos, antes que Minjeong levante os olhos devagar para me encarar.

— Eu só não queria ficar sozinha. E sou uma pessoa péssima por ter uma atitude tão egoísta.

— Você não é uma pessoa péssima por pensar coisas assim, Minjeong.

— Então o que eu sou? Quero dizer, você já tem tantas coisas com as quais lidar e, eu não hesitei em vir aqui jogar meus problemas no seu colo. Se não sou péssima, o que sou, então?

Faço uma pausa, procurando as palavras certas.

— Humana. E gosto que compartilhe as coisas comigo.

Ela volta a chorar, pois sabe que eu estou falando sério. E, sem nem pensar, meus braços envolvem seu corpo, abraçando-a. Apoio o queixo no topo da sua cabeça, sentindo seus batimentos cardíacos acelerados contra meu peito. Segundos depois me pergunto se essa é a melhor atitude e hesito. Mas então sinto suas mãos nas minhas costas me puxando ainda mais para perto.

Ficamos ali sentadas, em silêncio, apenas no abraço uma da outra até que ela se acalme e murmure:

— Eu estava com medo de ter outra crise.

Eu me afasto só o suficiente para encará-la.

— Posso te perguntar uma coisa? — Digo, enxugando seu rosto com os dedos. Ao que ela assente, continuo: — Quando essas crises de ansiedade começaram?

Ela respira fundo. Então, fala.

— Há mais ou menos um ano. Desde que me lembro, eu sempre tive problemas para lidar com a ansiedade. — Ela faz uma pausa. Olho o rosto dela, vendo seu maxilar ficar tenso enquanto ela engole. — E com o passar dos anos, com as recorrentes mudanças na minha vida e a crescente pressão familiar para que eu fosse a filha modelo, os sintomas se agravaram. Agora tenho que lidar com isso todos os dias da minha vida, mas não é uma tarefa fácil.

Isso gera uma pontada de dor em meu peito.

— Eu entendo do que você está falando — Digo, quase em um sussurro. — Mas é preciso vencer um dia de cada vez, ok?

Ela abre um sorriso singelo, os olhos fixos nos meus. Então, muito lentamente, eu me inclino e aproximo meus lábios dos seus. Uma sensação de calor e de compreensão percorre meu corpo inteiro. Inclino a cabeça para a esquerda, intensificando o toque enquanto coloco os braços ao redor da sua cintura.

Quando a abraço com mais força, sua mão mergulha em meus cabelos. Minha língua separa seus lábios, encontrando sua língua pronta para se tornar bem íntima da minha. Então nos conectamos de uma forma que eu nunca experimentei. É preciso criar um novo adjetivo para esse tipo de beijo, porque nenhum dos que conheço podem ser aplicados a ele.

Afasto minha boca lentamente, mas de alguma maneira parece que ainda estamos nos beijando. Secretamente, desejo que essa sensação nunca desapareça.

— Você não está mais sozinha, Minjeong. — Digo, depositando um último beijo em seu lábios. Então me levanto da cama e acendo a luz. — Tive uma ideia.

— Qual?

— Confia em mim. Você vai gostar. — Respondo, mexendo nas gavetas da minha escrivaninha. Tiro algumas pastas e as coloco ao lado de Minjeong na cama.

— O que está fazendo? — Ela pergunta, rindo.

— Toda vez que estou com muita coisa na cabeça, levo meu violino para o bosque e começo a tocar até me sentir um pouco menos arrasada. Mas como está frio demais para tocar lá fora, e como acredito que minha tia não vai gostar muito se eu tocar aqui dentro a essa hora, vamos aproveitar esse tempo para trabalhar no nosso projeto final.

— Claro, isso me parece uma boa ideia.

Ela sorri, e eu praticamente morro. O que eu amo mais do que tudo são seus sorrisos.

\[...]

Na segunda, Yeji parece se lembrar da minha existência e vem me irritar enquanto estou no intervalo entre uma de minhas aulas.

— Você precisa ir na festa de amanhã. Você não está entendendo o quanto isso é importante — Ela exclama, passando o braço por meus ombros. — As festas de Shin Yuna são consideradas um dos eventos mais aguardados do ano pelo pessoal da faculdade.

— Você já foi a uma das festas da Yuna? — Pergunto.

— Obvio, elas são incríveis. E ela convidou você!

Yeji balança a cabeça, sem acreditar.

— Só quem está no topo do topo é convidado para as festas dela. A gente precisa ir.

— Me desculpe, Yeji, mas não estou a fim. — Digo. Além de não conseguir entender o que Yuna pretende me convidando para sua festa. Acho que já deixei bem claro que não simpatizo com as atitudes dela.

Yeji suspira, passando a mão em seus cabelos.

— Tudo bem. De qualquer forma, você tem até o fim de semana caso mude de ideia. — Ela me lança uma piscadela antes de se afastar.

Minho se aproxima com uma pasta em mãos.

— Eu ouvi direito? Você foi convidada para a festa de Yuna? Shin Yuna?

— Fui, mas não vou.

— Ótima decisão. Essa garota consegue ser bem desnecessária. — Ele diz, seus olhos fixos em mim. — Você não está perdendo absolutamente nada.

— Bom, imaginei que você fosse me dizer isso, já que é um ótimo conhecedor de festas clandestinas — respondo, sorrindo. Ele faz uma careta divertida e se aproxima. — A propósito, por onde você andou nos últimos dias?

— Tentando resolver algumas coisas — ele faz uma pausa. — Estava com saudades do seu melhor amigo? — Sorrio para Minho, e ele deita sua cabeça no meu ombro, sussurrando para mim: — Gostaria que outra pessoa também tivesse sentindo minha falta.

— Você se refere ao garoto que estava conhecendo?

— Ele não está pronto para sair em público ainda. — Juro que há uma fração de segundo em que seus olhos parecem muito tristes.

— Você tem muitos mistérios, não tem?

— Eu poderia dizer o mesmo de você. — Ele fica em silêncio por alguns instantes. — Às vezes sinto como se você estivesse se escondendo atrás do seu violino para evitar ter que lidar com algumas situações.

Eu me encolho com a verdade de suas palavras. Mas ele não percebe.

— Posso contar um segredo? — Minho pergunta, puxando-me para mais perto. — Porque sinto que posso, considerando que você é minha melhor amiga. Você é uma pessoa de confiança. Preciso de uma pessoa de confiança.

— Claro.

Seu olhar está fixo em um ponto qualquer, mas é impossível não perceber a tristeza escondida neles.

— Eu não sou tão feliz quanto finjo ser.

— Por que está fingindo? — Questiono, embora saiba exatamente do que ele está falando.

Ele abaixa a cabeça, olhando para os sapatos.

— Porque fingir ser feliz é quase como ser feliz. Até você lembrar que é apenas fingimento. Então você fica triste. Porque usar uma máscara todos os dias da sua vida é a coisa mais difícil do mundo. E com o tempo, você percebe o quanto isso se torna cansativo e sem propósito.

— Minho... você não está sozinho. — Dou um soquinho em seu ombro. — E você sabe que nunca vai precisar usar essa máscara quando estiver comigo.

Ele sorri e sussurra “idem” na minha bochecha antes de me dar um beijo.

— Agora vamos deixar a tristeza de lado — Digo, enlaçando meu braço no dele. — O que acha de aproveitar a tarde com sua melhor amiga?

Meu amigo me lança um olhar malicioso antes de perguntar:

— E a sua garota? O que ela vai pensar a respeito disso?

Sorrio diante do seu comentário.

— Minjeong tem um compromisso hoje. Isso significa que você está com sorte, Minho. Acho bom aproveitar.

Ele sorri.

— Certo, garota da minha vida! Nossa próxima parada é no Jungsik Seoul.

Há uma última rodada de sorrisos antes de sairmos em disparada pelos corredores da faculdade. E nesse momento, ali mesmo, eu sei que estou no lugar certo. Me sinto perdida em alguns aspectos da minha vida, mas as pessoas a minha volta também estão.

Não há mapas disponíveis, mas ao menos eu não estou caminhando sozinha.

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