11
Karina's pov:
"Serei sua melhor amiga, se assim você quiser. Mas tenha certeza que hoje, nos meus sonhos você vai me envolver…"
Eu gostaria de descobrir mais sobre Minjeong, a garota que mal sorri, a garota cujos olhos permanecem tristes mesmo quando sorri. Ela não gosta de se abrir com os outros. Mas não dá para culpá-la depois de ver tudo pelo que ela tem passado recentemente. Em situações assim é compreensível a pessoa se fechar para o mundo.
— Tá bom, então me diga o que você tem em mente — sussurro, aproximando minha cadeira, mas dando espaço suficiente para que ela fique confortável.
Estamos na sala de prática instrumental, discutindo sobre nosso projeto final. Não voltamos a conversar sobre a noite passada. E, embora eu queria pressioná-la a falar sobre as crises de ansiedade, sinto que é melhor desistir e não tocar no assunto. Não só porque não quero ver seu rosto ficar angustiado ou irritado, mas também porque sei que se ela realmente quiser que eu saiba, vai me contar.
— Como você me mostrou algumas músicas de Heifetz, achei interessante te mostrar algumas de Bethoveen. Depois podemos encontrar um equilíbrio entre nossas preferências e começar a trabalhar na nossa própria composição.
Assinto com a cabeça, encarando um compilado de partituras sobre a mesa. Para ser sincera, não me diz muito apenas olhar para a marcação das notas sobre o papel. Mas talvez tenha uma forma de resolver isso.
— Você poderia tocar alguma para mim? — Pergunto.
— O que?
— A música desperta sensações diferentes em cada pessoa que a escuta. — Digo, entregando-lhe as partituras. — Acredito que seja bem mais enriquecedor apreciar uma performance ao vivo do que simplesmente olhar para sua forma transcrita.
Minjeong esboça um sorriso, como se estivesse esperando eu fazer esse comentário. Ela se levanta e vai até o piano. Então se alonga antes de sentar no banquinho acolchoado e folhear as páginas da partitura.
Está em busca de algo familiar.
Algo que ela normalmente só toca quando está a sós. Então sorri ao encontrar, como se dissesse "estou no meu porto seguro."
A peça se chama Sonata n°17; Bethoveen ou Tempest, e Minjeong a toca como se fizesse parte dela. Balança o corpo levemente para a frente e para trás enquanto suas mãos deslizam com fluidez sobre as teclas do piano. Fico encarando-a por mais tempo do que devo, mas essa visão quase me faz ir até ela e tomar seus lábios nos meus. Então me obrigo a desviar o olhar, e quando finalmente nossos olhos se encontram, eu me esqueço completamente como piscar.
Nunca vi seus olhos sorrirem antes; estão sempre tão pesados e perdidos. Nesse momento, enquanto Minjeong se funde à música clássica, é como se ela se libertasse da realidade, quase esquecendo que eu existo. Ela não diz nada, nem precisa. Eu sinto o que ela esta sentindo enquanto a observo. Parte de mim quer perguntar como ela faz isso, como ela entra na música, mas temo que qualquer barulho vá tirá-la do transe e entristecer seus olhos novamente.
Minha mãe costuma dizer que felicidade é uma coisa efêmera e que, por isso, devemos nos agarrar a ela o máximo possível, sem fazer perguntas, sem arrependimento.
A música quase para completamente, para logo depois crescer com um movimento dramático. Quanto mais intensa fica, mais vigoroso seus movimentos se tornam. Ela vive as notas que toca, ela as acolhe, e ela me inspira.
Ficamos assim por minutos que pareceram horas de tranquilidade. Ela continua olhando para suas mãos sobre as teclas do piano, eu continuo olhando para ela. Tão linda. Eu não vou dizer isso, é claro, porque toda vez que eu a elogio ela se contrai, constrangida.
Mas eu penso muito isso. Tão linda, meu Deus.
— Você conseguiu sentir? — Ela sussurra, quando a música termina.
— Sim — murmuro. Eu realmente senti. — Minjeong?
— Sim?
— Posso te mostrar uma coisa?
\[...]
Quando saímos da faculdade, vamos até a loja de música do sr. Lee, onde cumprimentamos Eunbi, que está atendendo alguns clientes.
— Oi, Jimin! Quem é sua amiga?
— Essa é Kim Minjeong. Ela é minha parceira no projeto final do nosso curso — falo, sorrindo para Minjeong.
Ela sorri de volta. Toda vez que ela sorri, eu sinto que sou capaz se vencer uma guerra.
— Meu nome é Lee Eunbi, querida — ela diz, estendendo a mão para Minjeong. — Jongsuk, venha dar um oi para a parceira da faculdade de Minjeong.
O sr. Lee sai de traz do balcão e aproxima-se rapidamente da esposa. Ele se posiciona atrás dela e coloca as mãos em sua cintura antes de cumprimentar Minjeong.
— É um prazer conhecê-la.
— O prazer é meu. — Ela responde sorrindo.
Jongsuk está sorrindo para Minjeong, mas quando seus olhos encontram os meus de novo, seu sorriso aumenta. Ele vira de costas para ela e fala para que só eu escute:
— Não quero bancar o intrometido, mas preciso perguntar. Jimin, essa garota por acaso é sua namorada?
Sorrio.
— Não.
Ele me lança um olhar surpreso.
— E porque não? Ela por acaso não curte garotas? — Diz, e se vira de novo para Minjeong. — Então, querida, você pode encostar em tudo na loja e tocar tudo que quiser. Se quebrar alguma coisa, a melhor amiga do meu filho paga.
— Então posso quebrar tudo? — Minjeong pergunta.
— Olha, gostei do atrevimento dela — o sr. Lee diz, me cutucando.
— Pode mandar ver, minha amiga. Você muito provavelmente é fascinada por música clássica, mas se quiser tentar algo novo, sugiro que comece pela novíssima e caríssima bateria de cinco peças que está na vitrine. Jimin tentou tocar uma vez, mas foi um horror, e tenho quase certeza de que você vai se sair melhor.
Ele entrega as baquetas para Minjeong e diz para ela mostrar do que é capaz. E para minha surpresa, é o que ela faz.
Ela toca como se sempre tivesse feito isso. Ela bate no instrumento sem parar, mas em total sincronia, perdendo-se totalmente nesse momento de entrega.
— Nossa — o sr. Lee diz, encarando Minjeong com uma expressão surpresa quando ela para.
Então começa a bater palmas lentamente, e eu e Eunbi nos juntamos a ele.
— Isso foi muito bom. Não, sério, quem poderia imaginar que você estava guardando esse talento? — Ele brinca.
Eu não consigo parar de rir, porque ele tem razão; foi realmente surpreendente. Minjeong começa a rir.
— Está bem, como eu sou ótima na bateria, você pode tocar violino para mim? — Ela pergunta, gesticulando para o violino na vitrine.
Não é um violino qualquer; é o violino com que eu quero me casar. Um Karl Willhelm Modelo 64, o melhor violino na Hirai's.
— Não posso tocar nele — respondo.
Ninguém simplesmente pega um violino Karl Willhelm e começa a tocar. Especialmente um violino de três mil dólares.
— Por que não? — O sr. Lee pergunta, tirando-o da vitrine e entregando para mim. — Acho que você e este violino foram feitos um para o outro.
Seguro o instrumento de madeira e sorrio para ele. Jongsuk me entrega o arco, e depois de alguns minutos afinando, encosto na queixeira.
— Deseja algo especial? — Pergunto a Minjeong.
Ela sorri.
— Apenas surpreenda-me.
Deslizo o arco pelas cordas do violino, tocando a música Bach Chaconne; Jascha Heifetz. Essa é uma das músicas mais difíceis que eu aprendi na vida. Parte de mim está morrendo de medo de errar e de ficar parecendo uma idiota. Outra parte de mim quer impressionar Minjeong.
Então apenas fecho os olhos e permito-me mergulhar na música. Toco como se nunca mais fosse tocar de novo, com emoção em cada nota, sentimento em cada pausa. Perminto que o violino transborde tudo o que estou sentindo.
Quando termino, os três começam a aplaudir, e Minjeong articula com os lábios:
— Nossa.
Antes de irmos embora, ela também consegue mostrar o quão talentosa é no piano. O que mais uma vez surpreendeu os pais do meu amigo, que ficaram fascinados pelo seu DNA para a música.
Faço questão de acompanhá-la até sua casa e fico parada no fim da calçada. Ela mexe os dedos, inquieta, e sorrindo.
— Obrigada por ter passado um tempo comigo hoje.
Abro um sorriso. Apesar de não saber, Minjeong me deu algumas horas sem pensar nas minhas próprias questões pessoais mal resolvidas.
— Quando pretendia me contar que sabe tocar bateria?
Ela cora e continua mexendo os dedos.
— Não é nada demais. Aprendi há alguns anos, mas minha verdadeira paixão sempre foi o piano.
— Bom, vou me preparar para possíveis novas surpresas.
Ela sorri.
— Você toca violino incrivelmente bem. Espero que saiba disso.
Minjeong se vira, Subindo os degraus da varanda. Então para, vira-se e olha para mim.
— Você não tem apenas técnica. Você trasborda paixão quando toca. É gentil e suave, e também tem... aquela vibração.
Mais um sorriso. Continue sorrindo. Enquanto ela entra em casa, começo a me afastar e escuto ela gritar meu nome.
— Jimin.
— Sim?
— Acha que podemos ser amigas?
Sorrio, levando minha mão a nuca.
— Bom, eu pensei que já fôssemos.
\[...]
Entro em casa e encontro minha tia na cozinha. Seus cabelos estão presos. Ela veste uma camisa de mangas longas e uma calça de moletom.
Observo enquanto ela aquece um wok e despeja óleo e alguns ingredientes da forma descuidada de alguém que sabe de fato cozinhar. É impossível não sentir fome quando o aroma de especiarias invade o ambiente.
Só de ver o quanto ela parece relaxada, um pequeno sorriso surge em meus lábios.
— Posso saber qual o prato especial de hoje? — Pergunto, aproximando-me.
— Ei, não vi quando você chegou — ela diz, abaixando o fogo e afastando-se do fogão. — O jantar está quase pronto. Você quer alguma coisa?
— Não, estou bem — digo, puxando a banqueta do balcão para me acomodar.
— Então, vai me contar com que esteve até agora — Joohyun pergunta, olhando para mim. Ergo uma sobrancelha e olho para ela como se fosse uma maluca, e ela dá um leve sorriso. — Não me venha com esse olhar de "não sei do que você está falando". Nós passamos alguns anos afastadas, mas eu ainda te conheço, Yoo Jimin.
Sorrio.
— Está bem. Eu estava com uma amiga, Kim Minjeong.
— A pianista? — Ela diz, sentando-se ao meu lado. — Soube que estão trabalhando juntas no projeto final.
— Estamos aproveitando nosso tempo livre para descobrir quais obras dos nossos compositores favoritos mais admiramos. Então, quando entrarmos em um consenso, vamos começar a trabalhar na nossa própria composição.
Minha tia coloca os braços sobre o balcão e entrelaça os dedos. Estuda o meu rosto sem falar nada. O sorriso que ela abre devagar preenche o silêncio como um discurso perfeito.
— Aprecio essa sua paixão em relação a tudo o que envolve música. O que me lembra. Você voltou a trabalhar naquela composição que mencionei da última vez?
— Não. Ela ainda continua inacabada. — Respondo. Eu me sinto imediatamente mal por não ter me esforçado mais para terminar essa composição, porque Insoo tinha dedicado muito do seu tempo para me ajudar com ela. E agora eu sei que nunca vou ser capaz de concluí-la.
— Você sabe o que penso a respeito disso. — Minha tia diz com um sorriso gentil no rosto. — Que deveria voltar a dedicar um pouco do seu tempo para trabalhar nessa questão.
— Não é tão fácil assim.
Ela balança a cabeça para trás e para a frente. De repente fica séria, com um olhar triste.
— Eu não disse que seria fácil. Só disse para ir em frente. Além do mais, as melhores coisas da vida não são fáceis. Elas são difíceis, são cruas e dolorosas. Isso torna a chegada ao destino final muito mais interessante.
— Sim, é só que… — Minha voz some, mas Joohyun ainda parece engajada na conversa, sem demonstrar tédio pelos meus pensamentos. — Eu não consigo imaginar terminar essa composição sem meu amigo.
Quando fecho minha boca, começo a ranger os dentes, tentando lutar contra as lágrimas.
Ela percebe a emoção, e sua mão se move sobre o balcão, encontrando a minha.
— Sinto muito pelo que aconteceu.
— Tudo bem. — Digo, apertando sua mão. — Só... vamos mudar um pouco o rumo dessa conversa. Por exemplo: Você está saindo com alguém?
Ela arqueia uma sobrancelha, surpresa.
— Posso saber porque esse rompante?
Dou de ombros.
— Talvez apenas curiosidade.
O olhar vazio que ela dispara para mim, me faz rir.
— Acredito — minha tia diz, afastando-se do balcão. Observo enquanto ela mexe na comida dentro do wok. Então vai até o armário e pega alguns condimentos. — Mas para o seu conhecimento —, diz, ainda focando no preparo do jantar — eu de fato estou conhecendo alguém.
— Quem? — Pergunto, querendo muito saber.
Ela sorri.
— Você já conhece, é sua professora de Prática Instrumental. — Ela diz. Eu olho para ela, chocada.
— A professora Kang Seulgi? Por essa eu não esperava.
Meus lábios se curvam num sorriso. Minha tia nota.
— Nem comece. Não temos nada sério, estamos apenas aproveitando um tempo para nos conhecermos melhor.
— Claro, é assim que começa. — Digo, inclinando-me para frente e apoiando os cotovelos no balcão.
Conversamos por mais algum tempo enquanto ela terminava de preparar suas iguarias culinárias. Depois do jantar, limpo a cozinha e então subo para o meu quarto.
Vou até a minha escrivaninha, abro uma das gavetas e pego uma pasta. E ali está, em forma de uma composição: os ideias do meu irmão. A representação de toda a vida de Insoo, ou pelo menos o que ele sonhara que um dia seria, está ali, eu simplesmente sei. Pode ser instinto, coisa de irmãos, mas eu sei.
Olho para as notas musicais no papel sem pressa. Solto a respiração que estou segurando, e algumas lágrimas se fazem presentes em meus olhos. Rapidamente, enxugo o rosto e guardo a pasta na gaveta.
Um minuto. Eu consegui olhar para essa partitura por um minuto. Então é uma pequena vitória.
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