-Parece que alguém está ficando famosa com a diretora em? -Becca diz sorrindo, mas eu não consigo devolver o sorriso. A preocupação me consome e sinto meu estômago embrulhar. Isso tudo é culpa de Ariel. Antes dele chegar aqui, eu não tinha esses problemas. Cuidava da minha vida sossegada e impedia que gente como ele, tratasse mal a gente como Becca. Até que estava fazendo um bom trabalho.

Foi só ele aparecer que eu já fui parar duas vezes na direção, bom três, contando com a de agora. Já estou até vendo minha reputação sendo manchada, pedaço por pedaço.

-Mel? Acho melhor você ir logo, já passaram sei lá, cinco minutos.

Mas que droga! Me despeço vagamente da minha amiga e corro para a sala da diretora. Ao chegar, passo correndo pela secretaria e entro na sala sem nem esperar ser anunciada, quase derrapando ao ver a nuca de Ariel, a cena me trazendo um leve d'javú.

Senhor dê-me paciência, porque se me der força sou capaz de dar um pescotapa nesse garoto. Todas as vezes em que estou nessa sala com ele, é sinal de que alguma coisa ruim vai acontecer.

-Que bom que chegou, Mel. Sente-se.

Me sento a contragosto do lado de Ariel e ele nem sequer olha para mim. A diretora olha diretamente para nós dois com seu famoso rosto de decepção, e sinto um leve rubor nas minhas bochechas. Se ela está nesse cargo, não é à toa. Depois que o anterior diretor saiu, ficamos com medo de entrar alguém que fosse malvado ou algo do tipo. Quando a diretora Sandra Moreira entrou no colégio, no começo todos a odiavam, mas sua rigidez era justificada, e no final das contas, necessária. O anterior diretor era muito bom, mas era muito permissivo. Eu me levava muito bem com a senhora Moreira, pelo menos até Ariel chegar.

-Primeiro, quero que não se preocupem, -ela quebra o silencio que já estava ficando pesado -eu não os chamei aqui para puni-los, na verdade, a razão de vocês estarem aqui, é justamente o contrário. Como você sabe, Mel, semana que vem teremos o terceiro encontro nacional de jovens empreendedores, e como também sabe, sempre fazemos um stand sobre o bullyng e discriminação.

Ela faz uma pausa teatral -porque todos fazem isso? - e eu não me atrevo a desviar o olhar do rosto redondo da mulher. De soslaio vejo que Ariel faz uma cara de quem acabou de chupar um limão.

Como nenhum dos dois se pronuncia, ela continua seu discurso.

-Bom, o que eu quero que façam é o seguinte: vocês dois vão armar o stand, fazer os cartazes, organizar o pessoal do grupo, enfim, vão se encarregar de toda a logística. O evento será na sexta feira que vem, então vocês terão que começar nesse fim de semana, caso contrário, não vão conseguir terminar a tempo.

Eu já falei que minha boca é grande demais para o meu próprio bem? E eu que pensava que ficaria livre desse empecilho até segunda feira.

-Hum.... e o que acontece se eu não quiser participar desse.... encontro? -Ariel pergunta ainda com a cara torcida.

-Bem... nesse caso, terei que ligar para os seus pais. Os dois.

Seus olhos se arregalam e ele balança a cabeça.

-Não! Digo.... tudo bem.... era só uma dúvida mesmo. Vamos ter horas livres nas aulas para arrumar tudo? Porque já temos que participar daquele grupinho idiota então....

-Ei! Estou bem aqui, seu babaca! -Empurro seu ombro em um acesso de raiva.

-Já chega, os dois! Espero que não me arrependa dessa decisão, já sabem das consequências se continuarem com essas brigas bobas, e saibam que eu não estou brincando.

Ambos concordamos envergonhados pela nossa atitude infantil, e passamos a seguinte meia hora combinando com a diretora como vai ser o stand, o que ela quer que diga nos cartazes, que temas devemos abordar etc.

Ariel discute e tira sarro de quase tudo o que dizemos, até que a própria diretora o manda ficar calado, lançando um olhar de desculpas na minha direção. Isso mesmo, querida, você acaba de me colocar em uma enorme enrascada.

Depois de anotar tudo e ter bem claro as pautas dela, saímos da sala calados. Eu não consigo acreditar que vou ter que passar o fim de semana com Ariel. Tinha combinado de ver um filme com Becca, mas pelo visto, o gato de Chris Hemsworth naquele uniforme maravilhoso de Thor vai ter que esperar.

Andamos em um silencio incomodo até a porta e de repente Ariel para bem na minha frente. Não o atropelo por alguns centímetros. Ufa!

-Me dá seu celular. -Ele praticamente ordena com a mão estendida.

-O que? Não!

-Vamos, garota, quero colocar meu número, assim podemos combinar a hora para nos encontrarmos, deixa de ser idiota!

-Caramba, que delicadeza! -Entrego o aparelho que fica pequeno nas suas mãos enormes. -Nem vai me convidar para um jantar primeiro, em? -Brinco nervosa e recebo um olhar de reprovação.

-Pronto. Mas por favor, só me ligue se for extremamente necessário.

Ele se vira e anda rápido até a saída.

-Como se eu quisesse ligar para você, babaca! Tenho coisas mais importantes para fazer! -Grito enquanto ele passa pela porta, me mostrando o dedo do meio. Que grosseiro!

Caminho no piloto automático até o meu carro, e como imaginava, Becca está parada ao lado da porta. A menina é tão curiosa quanto eu. Deve ser por isso que nós nos damos tão bem.

Aperto o botão do alarme, e faço um sinal com a cabeça para que ela entre no carro. Becca adora motos -assim como Ariel- e tem uma enorme, eu nunca andei com ela naquela coisa, não tenho coragem, então ela sabe bem que se quiser saber o que aconteceu, tem que ser nos meus termos.

Ambas nos acomodamos nos assentos de couro, e ficamos caladas por alguns minutos. Cada uma tirando suas próprias conclusões até que eu não aguento mais esse silencio.

-Vou ter que fazer o stand da semana do jovem empreendedor com Ariel, vamos ter que nos encontrar esse fim de semana e toda a semana que vem depois das aulas. -Solto tudo de uma vez e puxo o ar com força, meus pulmões já estavam ardendo pela falta do tão precioso oxigênio.

Becca arregala os olhos por alguns segundos, absorvendo toda a informação e depois solta uma gargalhada tão alta que acabo pulando no assento de susto.

-Mas se não é o universo querendo que fiquem juntos, eu não sei o que é! -Alguém traz uma camisa de força para essa garota, para ontem por favor!

-Becca! Qual parte do "vou ter que passar tempo com aquele filho perdido de Lúcifer" você não entendeu?

-Oh, vamos Mel! Assume de uma vez, você até que tem uma queda por ele! Ele é gato e está na cara que gosta de você também! Mel, ele não para de te olhar todas as aulas.

-Nosso ódio é mutuo, acredite. -Por fora estou indiferente, mas por dentro... ah por dentro sinto como se mil borboletas estivessem tentando sair pelo meu estômago. Como assim ele me olha todas as aulas? Eu sempre o olho nas aulas, bem, não todo o tempo, mas a maior parte.... Argh! Eu não gosto de Ariel Albuquerque, não mesmo!

-Amiga, aceita que dói menos! -Becca continua rindo. Merda, eu falei alto? -Bom, tenho que ir para minhas aulas de dança, boa sorte com o gato do Ariel, e vê tenta não o deixar louco, hein!

Ganho um abraço apertado, e logo estou sozinha dirigindo a cegas pela cidade. Ainda não quero ir para casa. Aquilo que Becca disse, eu sei que não é verdade. Não pode ser. Aquele garoto é.... é.... ele é um idiota! Isso sim.

Paro em um sinal vermelho e enquanto espero passar os segundos que incrivelmente parecem horas, sou surpreendida pela figura do garoto que ocupava minha mente a segundos atrás. Só pode ser brincadeira!

Sua moto está estacionada a alguns metros de distância, e ele conversa com um cara em um beco, na verdade parece mais uma briga. Suas mãos sobem e descem e de repente ele recebe um empurrão. Solto um grito abafado, rezando para que ele não tenha escutado. Depois de mais alguns gestos hostis, o homem finalmente entrega um pacote nas mãos de Ariel. Ele esconde rapidamente o embrulho no bolso da jaqueta e depois de apontar o dedo praticamente na cara do homem e dizer alguma coisa - que tenho quase certeza ser algum palavrão - ele finalmente sobe na moto e vai embora.

Em um arranque de curiosidade, acelero o carro, cruzando o sinal que ainda estava vermelho, recebendo alguns xingamentos e buzinadas dos outros carros.

Sigo a Kawasaki pela cidade, esperando que ele não perceba, caso contrário, terá mais um motivo para me odiar.

Ele é um louco dirigindo, costura entre os carros, acelera aonde não se pode, e quase atropela uma mulher que atravessava a rua.

Quase o perco de vista, mas depois de alguns minutos, ele acaba estacionando bem na frente do The Pub. Bem que eu estava reconhecendo o lugar, só não sabia de onde.

Ele entra em um beco al do bar e desaparece por uma porta escondida ao lado de uma lixeira enorme de metal.

Sou tentada a entrar no bar e perguntar o que diabos foi tudo aquilo, mas realmente, não é da minha conta. O único problema, é que isso martela na minha cabeça do momento em que arranco o carro, até que estaciono no subsolo do edifício.

Entro no elevador e aperto o botão do andar correspondente ao nosso apartamento. Continuo com aquela cena na cabeça. Escuto a campainha que anuncia a chegada ao andar e as portas se abrem, um sinal para que saia da grande caixa de metal.

Entro dentro de casa e sou recebida pelo cheiro delicioso. Vou até a cozinha e vejo papai cozinhando talharim ao molho pesto. Só agora percebo que estava morrendo de fome.

Dou um beijo na sua bochecha e o deixo terminar sua tarefa tranquilo. Ele gosta de se concentrar. Papai cozinha muito bem. Mamãe uma vez disse que ele a conquistou pelo estômago e eu até acreditaria, se meu pai não fosse um homem tão bonito e amoroso com ela. O fato de ele cozinhar, só ajudou na eleição.

Como as sextas feiras não temos reunião com o grupo, consigo almoçar com minha família. Vou até o banheiro, lavo minhas mãos e jogo um pouco de água no rosto.

-Mel, vem almoçar! -Papai grita da cozinha.

-Já estou indo.

Quando entro no cômodo, todos já estão à mesa. Me sento em qualquer lugar e depois de fazer uma rápida oração, finalmente servimos o delicioso macarrão.

Todos fazem aquele famoso gemido de "essa comida está deliciosa" e papai balança a cabeça orgulhoso. Segundo ele, alimentar a sua família é a coisa que ele mais gosta.

Passo o jantar inteiro com o pensamento em certa pessoa e mamãe me olha como se soubesse cada coisa que passa pela minha cabeça.

-Tudo bem, meu amor? -Ela pergunta suspeita.

-Sim.... Está tudo bem, mãe. -Desvio o olhar do seu escrutínio.

Ela balança a cabeça concordando, mas sei que não vai esquecer disso tão cedo.

Quando todos terminam de comer, juntamos os pratos e lavamos tudo. É um ritual que fazemos sempre, assim, nunca fica nada sujo na pia. Não temos empregada, cada um arruma o seu quarto e todos ajudam na limpeza do resto da casa. Incluindo Max. Eu não reclamo disso, adoro limpar, puxei isso do papai.

Agradeço a ele pelo almoço delicioso e vou até meu quarto. Preciso descansar e pensar no que vou fazer quando encontrar com Ariel.

Deito na cama e olho para o teto, sem realmente "ver" nada. O que era aquilo que ele pegou daquele homem? Porque eles brigavam daquele jeito? Argh. Como o garoto mesmo disse, ele não vale a pena. Prefiro não perder meu tempo com coisas que não conheço.

Depois de pensar e pensar e pensar, acabo pegando no sono.

-Maninha, não desista dele! Ele precisa de você!

-Jonah? Faz tanto tempo que não conversamos!

-Eu sei.... Me desculpe. Por favor, tenha paciência, ele está por um fio!

-De quem você está falando Jonah? Me responde, não faça isso comigo!

-Eu não posso, você tem que descobrir sozinha! Eu tenho que ir, mas eu te amo maninha, não se esqueça disso!

-Espera Jonah! Me diz quem é....

Acordo com o som de uma mensagem chegando no celular. É de Ariel.

"Porque estava me seguindo? "

Droga! Ele percebeu.

"Você se acha mesmo, hein garoto? "

Respondo. Não vou dar o braço a torcer, não mesmo.

"Vamos Melissa, é melhor você dizer ou vou aí na sua casa e faço você responder na minha cara. "

"Você sequer sabe onde vivo, seu palerma. "

Depois de alguns minutos, uma foto da entrada do meu edifício aparece na tela do meu celular.

"Como você encontrou meu endereço? Por acaso é stalker agora? "

"Becca. "

Ele responde simplesmente. Droga, tenho que dizer a ela que não dê nenhuma informação a esse garoto. Fico tranquila e ao mesmo tempo com medo. Ele não conseguiria entrar no edifício sem nossa autorização, mas pode me abordar quando eu resolver sair.

Decido não responder mais às suas mensagens. Não quero que ele pensa que me coloca medo. Vou ignorá-lo o máximo que puder. Ou isso é o que planejo, porque quase um minuto depois da sua última mensagem ele me liga.

"Qual é, Melissa, responde minha maldita pergunta de uma vez! "

-Alô, para você também. -Zombo. -E eu já disse que não estava te seguindo, caramba! -Completo nervosa.

O outro lado da linha fica mudo de repente e só sei que ele está ali ainda, porque escuto sua respiração pesada. Depois do que parece ser uma eternidade ele volta a falar.

"Tudo bem, dois podem jogar esse jogo, Mel. Aonde iremos nos encontrar para começar a fazer os cartazes para aquela porcaria de stand? "

Maldição, tinha esquecido desse detalhe.

-Pode ser na sua casa? Aqui não tenho espaço....

"Ok" -E me corta concordando rápido até demais e desliga o telefone sem nem se despedir. Alguns segundos depois, um endereço chega por mensagem. Panaca.

Aviso aos meus pais que preciso ir fazer o bendito trabalho e eles me dizem para ter cuidado e não voltar tarde. Apenas assinto e saio disparada até o elevador. Não por ter pressa para encontrar Ariel, mas porque não quero dar nenhuma explicação à mamãe dessa aproximação forçada com o garoto. Por mais que isso tenha sido obra da diretora, tentar fazer a cabeça-dura de dona Amélia entender isso, é quase um milagre.

Coloco o endereço no GPS do carro e sigo as instruções. Cruzo praticamente a cidade inteira e chego em uma zona residencial. Confiro se o endereço é esse mesmo, porque acabo de dar de cara com uma casa enorme. Não, uma mansão enorme. Uau!

Paro na frente do portão enorme de metal e em alguns segundos ele começa a abrir. Entro lento com medo de acabar atropelando alguma coisa que não deva (não que deva atropelar a algo... ou alguém).

Estaciono em um lugar qualquer e desço do carro.

Ariel está parado na porta com sua típica pose arrogante e me convida a entrar.

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NOTA DO AUTOR

Bom dia amores!!! Peço mil desculpas pela demora.... essa semana estive com tantos problemas mas graças a Deus já está tudo resolvido!! Decidi postar capitulos novos só de segunda a sexta, os fins de semana estou reservando para mim!! ;)

Bom, não vou encher muito o saco de voces... aí está o capitulo novo, espero que gostem!
Bjsssss BF