Capitulo 22
Corro pelas ruas da cidade enquanto pela segunda vez derramo lágrimas por Ariel. Quase bato em um carro por que não consigo ver nada com os olhos inundados. Decido estacionar em algum lugar antes que eu acabe sofrendo um acidente.
Quando estou parada e em segurança, esmurro o volante várias vezes e grito para o vazio.
Porque ele fez isso? Porque me desprezou daquele jeito na frente daquele cara? Eu não entendo. Deve ter alguma coisa errada, tem que ter. Ariel me ligou momentos antes me dizendo aquelas coisas que estava perdido e tal, se ele não me quisesse por perto, não se daria ao trabalho de me ligar.
Quem diabos ele pensa que é? Acha que pode dizer essas coisas e que vou aceitar tudo sem questionar?
Eu não vou deixar isso ficar assim! Não vou fugir por umas palavras mal ditas. Se Ariel quiser terminar comigo, terá que dizer na minha cara!
Ligo novamente o carro e viro na direção contraria. Saio cantando pneus, Ariel vai ter que me ouvir.
Volto furiosa para a sua casa e no caminho, vou pensando em mil maneiras de fazê-lo entender que comigo o buraco é mais embaixo.
Estaciono como sempre -de qualquer jeito- e caminho decidida até o portão.
Toco algumas vezes a campainha, mas ninguém atende. Aonde será que esse garoto se meteu?
Ligo para o seu celular e nada.
Quase dez minutos depois, um carro estaciona bem ao lado do meu e o pai dele desce segurando algumas sacolas na mão. Ele caminha até o portão e leva um susto ao me ver parada ali com a cara de uma psicopata.
-Melissa, o que está fazendo aqui a essa hora? -Solta e isso faz com que goste menos ainda dele.
-Eu vim falar com Ariel.
-Ué ele já saiu da delegacia? Ele não me disse nada. -Merda.
-Ah... ele já saiu sim, a algumas horas na verdade. Então será que tem como o senhor chamá-lo por favor? Eu realmente preciso falar com ele.
O homem me olha por alguns segundos e começo a ficar realmente incomodada. Por que ele sempre me olha desse jeito?
-Você não quer entrar? Acho que precisamos ter uma conversa.
-Olha senhor Albuquerque eu realmente não estou com saco para isso hoje e...
-Alex.
-O quê?
-Pode me chamar de Alex, Melissa.
-Alex?
-Isso mesmo, Alexander Albuquerque.
Nesse momento sinto minhas pernas fraquejarem e me seguro o máximo que posso para não cair e passar vergonha. Como assim? Não é possível! De todas as pessoas nessa cidade, porque tinha que ser logo ele?
-N-não pode ser!
-Eu sinto muito Melissa, pelo visto você já captou tudo. Eu juro que queria contar aos dois antes, mas eu realmente não encontrei o momento certo.
-Meu Deus isso é errado em tantos sentidos! Eu... eu... oh não!
Coloco as duas mãos na minha boca quando percebo que transei com Ariel. Ambos perdemos nossa virgindade um com o outro. Eu não consigo respirar.
Sinto as lágrimas caindo pelo meu rosto e nem percebo quando Alex me senta em um dos seus sofás luxuosos e volta alguns segundos depois com um copo de água na mão.
-Bebe essa água Mel, eu coloquei açúcar, você precisa se acalmar.
-Todo....-bebo um gole do líquido doce, de repente minha garganta ficou muito seca -todo esse tempo eu pensei que você não gostava de mim por alguma razão e por isso não queria que me juntasse com Ariel, mas na verdade você só estava tentando evitar isso.
-Eu sinto muito Melissa, de verdade. Deus, você é tão parecida com a sua mãe.
-Por favor, não piora as coisas. -Ofego e ele balança a cabeça em entendimento.
Nisso tudo, Ariel nem deu o ar da graça. Tento ligar outra vez para o seu celular, mas parece que está desligado. Que merda!
Não consigo evitar e mais uma vez meus olhos se enchem de lágrimas.
Eu não vi nenhuma foto deles nessa casa, por isso não devo ter reconhecido quem eram.
Olho bem para Alex, agora vejo as semelhanças, ele está mais velho, obviamente, mas o seu rosto é quase o mesmo de vinte anos atrás.
-Como eu não te reconheci? Vi tantas fotos suas com.... com ele!
-As pessoas mudam Melissa, e quem iria imaginar isso não é mesmo? Quando nos mudamos para cá, não avisei a ninguém, somente uma amiga sabia, ela insistiu para que matriculasse Ariel no seu colegio porque segundo ela era o melhor da cidade e ele teria a companhia de Hannah, -torço a cara ao escutar esse maldito nome- eu nunca imaginei que você também estudava lá. Quando te vi aquele dia na escola eu fiquei muito confuso, era como se estivesse vendo Amélia novamente.
-Meu Deus do céu.
-Nós voltamos para cá porque Ariel não reagiu muito bem ao abandono da mãe. Ele começou a se juntar com gangues e a brigar com pessoas desconhecidas. Ele ficou praticamente incontrolável e eu tive muito medo de perdê-lo também, ele é o único que me resta, Melissa. Decidi voltar porque aqui é mais tranquilo, quem sabe se ele conhecesse pessoas novas, mudaria sua percepção do mundo. Bem, ele mudou, mas graças a você e eu fiquei no limbo sem sa...
-Ah, que linda declaração, papai. Conta para ela como era a mamãe também! É uma linda história...-Ariel desce as escadas se segurando no corrimão e meu sentido de alerta apita. Ele não está bem.
-Você sabia disso? -Ele aquiesce. A esse ponto, a pergunta nem precisa de explicação. -Desde quando? -Continuo me torturando, mas preciso saber.
-Desde aquele dia na fazenda.
Agora tudo faz sentido. Imagens daquele dia começam a aparecer na minha mente. Alex chegando, chamando Ariel para conversar, depois ele voltou furioso. O pai dele abriu o jogo naquele dia e eu acabei sendo o alvo da sua frustação.
-PORQUE NÃO ME CONTOU AQUELE DIA ARIEL, PORQUE ME TRATOU DAQUELE JEITO? -Grito e ele apenas ri com amargura.
-De que adiantaria hein? A merda já estava feita. Eu nem sequer deveria ter te levado naquela casa, naquele lago.
-O lago! É por isso que tinha a sensação de conhecer aquele lugar, quando eu sonho com o Jonah, ele sempre aparece lá.
-Você também sonha com ele? -Ariel pergunta. Seu rosto tão pálido que consigo ver suas veias azuis.
-Sim. -Não consigo dizer mais nada. Eu preciso sair daqui. -E-eu tenho que sair daqui. Me desculpa Alex, mas eu tenho que ir.
-Vai escapar de novo não é Melissa. O que nosso irmãozinho acharia disso hein? -Ele cospe a frase e eu me aproximo tanto dele que posso sentir sua respiração acelerada.
-Não se atreva a falar assim de Jonah, eu não vou permitir. -O garoto abre o sorriso mais macabro que já vi na minha vida e as palavras que diz a seguir, quebram meu coração pela segunda vez hoje.
-Não mesmo, graças à sua mãe.
-Já chega, vocês dois parem com isso gora! -Alex resolve interferir e eu só consigo chorar.
-Quem é você? -Pergunto em um sussurro ainda olhando para os olhos azuis que tanto admirava e que agora vejo que são a copia fiel dos olhinhos de Jonah. Ariel caiu baixo, muito baixo.
-Alguém que não vale a pena. -Ele responde e sinto um arrepio percorrer todo o meu corpo. Então foi com ele que sonhei da outra vez, mas o que diabos significou aquilo?
Balanço a cabeça e sem dizer absolutamente nada, caminho até a porta. Prendo a respiração e saio calada. Não escuto uma só palavra enquanto me aproximo do carro.
Quando tranco a porta e coloco a chave na ignição, me permito respirar novamente, mas isso só faz com que as comportas se abram novamente e meu peito sobe e desce violentamente com os soluços causados pelo choro.
Preciso sair dali o mais rápido possível, caso contrário não vou conseguir dirigir.
Ligo o carro e acelero sem rumo pela cidade a tal ponto de que acabo me perdendo e não sei onde diabos estou.
Pego meu telefone e ligo para a única pessoa que pode me ajudar nesse momento sem me julgar.
-Mamãe? -Choro quando ela atende no segundo toque.
-Filha, está tudo bem? Você está chorando? -Sua voz doce preocupada só me faz chorar ainda mais.
-Não, não estou bem... será que a senhora pode vir me buscar?
-Claro meu bem, onde você está? -Pergunta e posso escutar alguns barulhos do outro lado da linha. Ela deve estar saindo de casa já.
-Eu... eu não sei, eu me perdi e não sei se consigo achar o caminho de volta. -Digo mas sinto que essa frase tem mais significados do que aparenta.
-Me manda a sua localização por mensagem meu anjo. -Diz suavemente e eu faço rapidamente o que ela pede.
-Pronto, já mandei. -Soluço.
-Tudo bem meu amor, a mamãe já está chegando, aguenta firme.
-Obrigada, eu te amo mãe.
-Eu também te amo muito meu bem.
Finalizo a ligação e espero. Não consigo pensar direito, estão passando tantas coisas na minha cabeça no momento, que acho que vou acabar tendo um ataque de pânico. Como assim Ariel é filho de Alex? Porque ele não me disse antes? Eu sei que não temos nada a ver um com o outro, quero dizer, sequer temos parentesco, mas caramba, isso é tão estranho! Meu Deus, quando mamãe souber disso ela vai ficar tão brava! Como eu não percebi antes? Alex é muito parecido a Jonah, Ariel só puxou os olhos e eu fico muito agradecida por isso, senão seria cem vezes mais estranho.
Tudo estava indo tão bem, nós estávamos nos entendendo e de repente... tudo se desmoronou como um débil castelo de cartas.
Eu realmente não tenho nenhuma sorte. Lembro de todas as vezes que estivemos juntas e de como quando estava comigo, Ariel era uma pessoa totalmente diferente. Na escola ele se fazia de durão, mas entre quatro paredes, não passa de um garoto sensível e carinhoso à sua maneira. E ele também sonha com Jonah. De repente sinto uma curiosidade enorme de saber o que ele sonhava com o nosso irmãozinho. Nosso irmãozinho. Coloco as mãos no rosto novamente e choro mais uma vez. Argh, porque tudo tem que ser tão difícil?
Quase vinte minutos depois, um carro estaciona do meu lado. Não consigo nem levantar o rosto para ver quem é, mas quando a porta se abre e recebo um abraço cheio de amor e sinto o perfume dela, meu coração se acalma um pouquinho.
-Shh, tudo bem, estou aqui meu anjo. Conta para mim o que aconteceu? -Alisa meus cabelos enquanto me balança para frente e para trás.
-Eu... ele... o Alex...
-Filha, está difícil entender o que você quer dizer. Respira fundo, se acalma e conta tudo desde o começo, Okay?
Mamãe pode pensar que não notei, mas quando toquei no nome de Alex, ela se retesou um pouquinho, tento não ligar para isso porque sei que ela ama o papai perdidamente, mas que foi estranho, foi.
Respiro fundo como ela indicou e organizo as palavras na minha cabeça. Eu sinceramente não sei por onde começar. São tantas coisas terríveis acontecendo que acho que minha vida daria um livro de terror.
-Mãe, promete que não vai surtar, por favor. -Ela me olha alarmada e tenho quase certeza de que esse não é o melhor jeito de contar uma história, mas qual jeito é o adequado? -O Ariel, ele... ele é.... Deus como é difícil dizer isso...
-Filha, só bota tudo para fora, eu não posso prometer que não vou surtar, mas juro que vou analisar tudo antes de ter qualquer reação.
-Jesus essa mulher existe?
-Então... o Ariel é filho do Alex. -Solto a bomba de uma vez. Mamãe me olha confusa, acho que ela não entendeu o que quis dizer então resolvo facilitar as coisas. -Ele é filho de Alexander Albuquerque, irmão de Jonah. -Agora sim seus olhos se arregalam tanto que sua sobrancelha quase se junta com o seu couro cabeludo.
-C-como assim?
-Ele é filho de Alex mãe, é irmão de Jonah assim como eu. E eu... eu... o amo. -Caramba, essa parte não era para sair assim desse jeito, mas é como dizem, quando o coração quer falar, nós temos que escutar.
-Mas eles não... eles não moram aqui, até onde eu sabia! E como assim você se apaixonou por ele? É aquele da moto? -Com essa enxurrada de perguntas, a única coisa que consigo fazer é balançar a cabeça para as perguntas que merecem um sim, e negar para as que merecem um não.
-Isso não é tudo... ele pode ser preso porque bateu em um garoto por minha causa, eu fui na casa dele para saber o que aconteceu com mais detalhes e ele... ele me descartou como se eu não fosse nada, na frente de um homem estranho, um tal Caio... eu me senti como uma embalagem vazia cujo único destino é o lixo. Eu me entreguei para ele... eu... -Não consigo terminar a frase. Eu nunca conversei sobre essas coisas com mamãe e devo ter ficado vermelha igual um pimentão só de mencionar esse detalhe.
-Ah meu bebê... não fala assim, você é muito melhor do que isso, você é Melissa Swansen! Eu sei muito bem como é ser jovem, engravidei de Jonah quando estava na universidade, não se esqueça disso.
Mamãe me abraça e inexplicavelmente começa a chorar junto comigo.
Passamos um bom tempo assim abraçadas, enquanto ela passa a mão pelas minhas costas e pelos meus cabelos, do mesmo jeito que me consolava quando era criança. Eu posso não saber de muitas coisas na vida, mas de uma eu posso afirmar com certeza, eu tenho a melhor mãe do mundo.
Amélia Regins passou por tantas coisas nessa vida, e mesmo assim continuou lutando firme e forte sem se deixar abalar e é por isso que eu a admiro tanto.
Depois haver chorado todas as lagrimas e de haver limpado minhas feridas, já é hora de voltar para casa.
Como ainda não estou em condições de dirigir, decidimos pedir para um amigo da família levar o carro até o apartamento.
-O que acha de comprarmos alguma coisa para comer? Eu estou com fome e você? -Mamãe pergunta enquanto atravessamos a cidade. Eu sei o que ela quer fazer e a amo mais ainda por isso.
-Tudo bem, eu acho que fiquei desidratada de tanto chorar, preciso de um copo gigante de Coca-Cola.
Mamãe dá uma risada sincera e pega a rua para um restaurante de comida rápida.
Conversamos sobre outras coisas no caminho e ela me conta que sem querer vendeu um dos quadros que pintou e o comprador adorou tanto que pediu mais dois. Eu sabia que ela era talentosa, mas caramba! Vender um quadro não é para qualquer um. Continua me contando sobre o amor platônico de Max e que a garota é muito linda, negra com os olhos mais negros que ela já viu e o cabelo tão enroladinho que chega a dar inveja. Eu concordo, pois, também amo cabelo enrolado. Encontramos um restaurante que ambas gostamos da comida e entramos para fazer o pedido. Quase dez minutos depois temos nosso frango teriaki dentro da devida embalagem para levar e empreendemos nossa volta para casa, finalmente pois preciso muito descansar.
Quando estamos a apenas algumas quadras de distância do apartamento, meu celular começa a tocar. Não atendo pensando que pode ser Ariel, mas ele volta a tocar cada vez me deixando apreensiva.
Tiro o aparelho do bolso e me surpreendo ao ver o nome de Becca no visor. Como se soubesse que estou segurando o celular nesse momento, ele começa a vibrar e tocar a música que escolhi para ela, me dando um baita susto.
-Meu deus Becca, que insistência! -Resmungo ao atender. O que será que essa garota quer a essa hora?
-Melissa, por que caralhos você não atende esse telefone! -Minha amiga grita do outro lado, ela nunca falou assim comigo, alguma coisa está errada.
-Eu estava comprando comida, acabei de ver as suas chamadas. -Minto, pois, ainda não quero que ela saiba de tudo que aconteceu hoje, eu prefiro contar em pessoa mesmo, só assim ela vai poder me abraçar e dizer que tudo vai ficar bem.
-Melissa, você precisa ir para o hospital Saint German urgente! -Diz me deixando muito preocupada, quero dizer, mais ainda do que já estou.
-Becca, você pode por favor dizer o que aconteceu estou com uma terrível sensação e a ponto de vomitar de nervoso só por favor...
-O Ariel teve uma overdose Melissa!
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