Capitulo 20
Chego em casa ainda abalada pelo que aconteceu e sinceramente assustada com a violencia de Ariel.
A cada golpe que ele dava no rosto do garoto, seus olhos ficavam mais escuros, como se ele estivesse caindo cada vez mais em um precipício e tenho a sensação de que se eu não tivesse chegado a tempo, ele teria feito algo muito, muito ruim.
Entro no apartamento como um zumbi e acho que estou tão branca que minha mãe corre e se coloca na minha frente fazendo um zilhão de perguntas.
-Você está bem filha? O que aconteceu? Você está pálida! Quer ir para o hospital?
-Mãe, -seguro seu rosto com minhas mãos geladas e ela respira fundo em expectativa- eu estou bem, só vi um acidente no caminho, preciso descansar, acho que não vou almoçar, me desculpa. -Eu realmente perdi a fome com tudo o que aconteceu.
-T-tudo bem meu amor, mas se quiser alguma coisa é só me chamar, okay? -Ah como eu amo essa mulher! Aquiesço e dou um beijo na sua testa ainda enrrugada de preocupação. Sem dizer mais nenhuma palavra entro no meu quarto, fecho a porta encostando na madeira fria e vou deslizando até o chão. Será que a diretora já terminou de conversar com ele? Será que ele vai ser suspenso? Ou pior, expulso? Oh Deus Ariel, porque você fez issso?
"...ele disse coisas sobre você..." a frase vem na minha cabeça. Aonde ele estava com a cabeça em dar trela para um idiota qualquer? Mas infelizmente, Ariel é assim. Ele não foge de uma boa briga, e eu que pensava que ele estava mudando. Que ilusão.
Ainda meio aturdida, seguro o telefone na mão e passo o dedo sobre o seu contato no celular. Será que eu ligo, ou espero mais um pouco? Se ele estiver na sala da diretora ainda, vou acabar causando mais problemas.
Levanto de um pulo, bloqueio o celular e decido ir tomar um banho bem quente para quem sabe relaxar esse meu corpo que anda tenso ultimamente.
Depois de quase meia hora, deito na cama com uma toalha enrolada na cabeça. Me sinto mais relaxada, porém ainda estou preocupada. Fecho os olhos por alguns minutos e acabo pegando no sono.
Acordo algumas horas depois com o toque do meu celular. Corro pelada pelo quarto procurando o aparelho, pensando que é Ariel me ligando para me contar como foi, mas quando olho no visor, é o nome de Becca que pisca sem parar.
-Becca. -Digo simplesmente, e me arrependo por ficar desapontada ao ver que era ela quem me ligava.
-Nossa, que animação em amiga! Aposto que pensou que era o gato do seu namorado hein? -Como ela me conhece tão bem? -Por certo que briga foi aquela! Caramba, o Ariel é uma máquina de dar socos!
-Hum, sim.
-Mel, está tudo bem? -Essa garota realmente me conhece.
-Ah Becca, na verdade não está não. E-eu estou com muito medo do que possa acontecer, você tinha que ver o seu rosto, seu olhar. Era como se ele... se ele estivesse desfrutando daquilo. -Limpo meus olhos cansados e deito novamente na cama.
-Nossa Mel, isso é... sério. Será que ele já foi liberado? Você já ligou para ele?
-Nao, estou esperando, não quero o colocar em mais problemas sabe.
-Já passou bastante tempo Mel, acho que deveria ligar.
-Você tem razão. Vou desligar então, ligo para ele e depois te ligo de volta.
-Tudo bem, boa sorte, te amo amiga!
-Também te amo Becca.
Encerro a ligação mas ainda estou indecisa. Ou quem sabe com medo do que ele possa me dizer.
Vou até a cozinha, pego um copo de refrigerante e um pacote de salgadinhos e volto para o quarto oara esperar pela janta.
Giro e giro o celular na minha mão ainda sem ter coragem de ligar, mas depois de alguns minutos, respiro fundo e finalmente aperto o botão com o telefoninho.
Ariel atende no terceiro toque e eu fico ainda mais nervosa ao escutar sua voz.
-Oi Melissa. -Diz sério e sinto meu estômago se torcer.
-Oi Ariel, eu te liguei porque estava preoucupada e queria saber como foi com a diretora. -Solto na lata.
-Ah, isso... não foi nada demais, olha Melissa, não precisa se preocupar comigo okay? Eu realmente estou muito ocupado agora e preciso desligar, conversamos depois, até mais. -E desliga. Mas o que diabos foi isso? Eu não vou aceitar isso como resposta, não mesmo!
Aperto o botão "ligar" novamente, mas ele não atende. Tento mais uma vez e... nada. Droga!
Envio uma mensagem de audio para Becca contando tudo e ela me tranquiliza dizendo que as vezes ele só quer ficar sozinho.
Acho que eu estou exagerando. Pode ser só isso mesmo. Mas é que eu realmente me preocupo com ele, eu nunca me senti assim com ninguém, por Odin!
Continuo comendo tantos salgados e bebendo refri, que quando chega a hora da janta, estou sem fome. Dona Amélia não gosta muito dessa ideia, mas quando vê os pacotes de salgado no meu quarto, decide que se eu comer mais alguma coisa vou acabar passando mal.
Escovo os dentes e me arrumo para dormir. Eu sei ainda é cedo, mas o que mais posso fazer? Acabo dormindo alguns minutos depois e inexoravelmente, não sonho com nada.
[********]
-Você viu a moto do Ariel estacionada? -Pergunto a Becca enquanto caminhamos até a sala. O sinal acaba de tocar e eu ainda não o vi por nenhum lugar.
-Na verdade não vi não, ele sempre estaciona ao seu lado, que estranho né?
-Sim... muito estranho. -Sinto um frio na barriga e tento me desfazer desse mau pressagio.
A manhã passa lentamente, e a cada sinal que toca indicando a próxima aula, eu fico mais apreensiva, aonde esse garoto se meteu?
Vejo algumas pessoas sussurrando quando passo, mas não consigo saber o que estão dizendo de qualquer jeito.
Na hora da saída, todos caminham tranquilamente até a saída como se nada estivesse acontecendo nas suas vidas. Eu sei que estou sendo muito dramática mas me entendam, estou uma pilha de nervos.
-Você ficou sabendo? -Becca aparece correndo e para de repente na minha frente, se dobra ao meio enquanto recupera a respiração.
-O quê? Não estou sabendo de nada! Conta logo! -Essa sensação ruim se apodera com mais força de mim.
-O Ariel foi preso!
- O QUÊ?! COMO ASSIM ELE FOI... -abaixo a voz quando Becca coloca o dedo na boca. Estou gritando de novo, droga! -Como assim ele foi preso? -Sussurro com medo de que alguém escute.
-O garoto que ele bateu, fez uma denuncia na polícia e quando ele terminou a reunião com a diretora, a polícia estava esperando ele na saída.
-Mas que merda! Como você ficou sabendo disso, Becca?
-Eu escutei a diretora conversando com a secretaria, ela disse que ficou com muita pena, mas que o Ariel tem que aprender a se comportar, ou é melhor ir se acostumando com o xadrez.
-Argh! E-eu não acredito nisso! -Puxo meus cabelos fervendo de raiva e de impotência.
-Pois é amiga, nem eu estou acreditando, coitado do Ariel.
-Não Becca, eu não acredito que ele não me disse isso ontem quando eu liguei para ele! Para isso ele queria namorar comigo? Para esconder esse tipo de informação de mim? Merda!
Becca não diz nada e quando percebo, estamos do lado do meu carro. Como diabos eu não percebi que estávamos caminhando até agora?
-Você sabe a qual delegacia ele foi levado? -Pergunto esperançosa.
-Olha, a diretora não disse nada sobre isso, mas eles devem tê-lo levado a uma perto daqui.
-Tudo bem, obrigada por me contar, vou procurar no Google Maps e vou ir em cada uma até encontrá-lo.
-Boa sorte amiga, e tenha muito cuidado, okay?
-Okay.
Entro no carro e coloco o celular no apoio. Procuro por "delegacias" no mapa e vou seguindo a rota.
Depois de quase duas horas e de visitar onze delegacias, já sem esperança, entro em uma que fica relativamente perto da minha casa.
Pergunto por Ariel Albuquerque para a recepcionista e ela digita lentamente o nome do computador da era jurássica.
Depois de quase dez minutos digitando, ela finalmente assente e me entrega um crachá escrito "Visitante".
-Cela cinco, você tem dez minutos. O horário de visitas está quase acabando.
-Obrigada. -Sussurro. De repente não sei se quero vê-lo. Eu o procurei e o encontrei, obviamente, mas agora essa dúvida se instalou no meu peito e me sinto mal enquanto caminho pelo corredor escuro e com tantos cheiros horríveis que meu nariz chega a arder.
Paro na frente da cela cinco e vejo uma sombra no canto esquerdo. Ele está com a cabeça encostada na parede e não consigo ver se está com os olhos abertos ou fechados.
-O que você veio fazer aqui? -Sua voz rouca me assusta e responde minha pergunta ao mesmo tempo.
-Eu....vim ver como você está. -Me aproximo da cela e o policial enfia a chave na fechadura e abre a porta para que eu entre.
-Eu não quero você aqui.
-Ah é? Isso é uma pena, porque ainda tenho... -olho no relógio do celular. -Oito minutos para ficar calada aqui dentro.
-O que você quer Melissa?
-Eu vim aqui para que você me explique como diabos veio parar na cadeia! -Explodo. Estou realmente furiosa.
-Olha Melissa, se veio aqui para me dar sermão, saiba que você chegou tarde. Papai já passou mais cedo. -Posso sentir o desdém na sua voz.
-Ariel, olha para mim por favor! -Suplico e a contragosto ele dirige seu olhar até o meu. -Eu... eu gosto de você, muito, e eu também me preocupo com você! Não é justo que me trate desse jeito, depois de passar quase duas horas procurando em qual delegacia você estava e...
-Você fez isso mesmo? -Consigo ver a surpresa no seu olhar, apesar da escuridão da cela.
-Sim, Ariel, eu fiz isso mesmo. Te procurei até te achar.
De repente ele se levanta e eu acabo me levantando também por impulso.
Ele para bem na minha frente e passa a mão carinhosamente no meu rosto. O contraste da sua pele fria com minha bochecha quente, acaba me fazendo arrepiar. Como eu posso sentir tantas saudadesdo seu toque?
-Não faz isso comigo por favor Melissa, não me obrigue... -Ofega enquanto cola sua testa na minha.
-Eu não estou fazendo nada Ariel! -Cada dia que passa entendo menos suas frases loucas.
De repente ele me beija e por alguns minutos, esqueço de tudo. Esqueço aonde estamos, porque estamos aqui, esqueço da sua briga, das suas loucuras e unicamente me dedico a explorar a doçura da sua boca e a sentir o calor do seu corpo junto ao meu. Ficamos assim por alguns minutos, entre beijos quentes e toques mais quentes ainda, até que sou empurrada levemente para trás.
Estou ofegante e sinto como se a cela tivesse aumento uns cem graus.
Olho confusa para o garoto mas ele apenas sinaliza ao policial para do lado de fora da cela e entendo sua indireta. Não quero servir de atração para ninguém.
Nos sentamos novamente e decido fazer a pergunta que martela na minha cabeça desde ontem.
-Porque você bateu naquele garoto Ariel?
Seus olhos focam em uma mancha qualquer na parede e ele abre e fecha a boca varias vezes, como se estivesse decidindo qual a melhor forma de contar o que aconteceu.
-Ele disse algumas coisas sobre você. -Responde finalemente, mas isso não é o suficiente. Não para mim.
-Isso eu já sabia, princesa. -Coloco a mão na sua perna e ele a retira rapidamente. Olho torto diante da sua ação mas ele nem percebe.
-Eu realmente não quero falar sobre isso.
-Ah mas vai ter que falar. Não dirigi até aqui atoa. -Quando percebo que ele não vai responder, resolvo mudar de estratégia. -Por favor Ariel. Eu só quero entender o que aconteceu, eu quase não dormi essa noite e fiquei tão preocupada que...
-Ele te chamou de... cadela. -Solta de repente.
-O que?
-Ele apareceu na minha frente e disse "quer dizer que você já transou com aquela cadela?, será que ela era tão apertada como diziam?", eu simplesmente não podia deixá-lo dizer essas coisas Melissa, não sobre você.
- E-eu... Deus! Qual o problema desse garoto? Porque ele disse essas coisas?
Estou mais confusa do que quando entrei! Eu realmente não sei o que aconteceu e não consegui identificar o garoto debaixo daquele sangue todo, mas mesmo assim não entendo o porque disso tudo!
-Eu não o conheço, mas o pai dele me denunciou e tenho que esperar até amanhã.
-Eu sinto muito Ariel, você não precisava ter feito isso, sabe que eu não me importo com essas coisas. A única pessoa que preocupa no momento é você.
Ele me olha e olha por alguns minutos. Engole seco algumas vezes e quase o sacudo para que diga de uma vez o que quer que esteja entalado na sua garganta.
-Melissa, eu...
-Senhorita Swansen, já está na hora de ir. -O policial interrompe bem na hora que ele abre a boca. Droga! Se eu não corresse o risco de ser presa também, daria um belo chute nesse homem!
-Eu tenho que ir, mas por favor me avisa quando sair, e prometo que vou te ajudar no que puder!
Ele apenas balança a cabeça e dou um último beijo na sua boca antes de sair da cela.
Caminho até meu carro ainda aérea e acabo batendo em alguma coisa ou melhor em alguém.
Quando olho para cima, quase solto um "eu mereço", mas decido que desrespeitar o pai do meu namorado não é uma boa forma de começar uma relação.
-O que está fazendo aqui Melissa? -pergunta com certa curiosidade.
-Vim visitar o seu filho, mas já estou de saída, até logo! -Praticamente escapo do homem e entro no meu carro correndo. Minha respiração está tão acelerada que sinto que meu coração pode parar a qualquer momento.
E agora o que vai acontecer com Ariel? Será que o pai dele vai conseguir resolver alguma coisa? E se ele for preso?
Estaciono em um terreno baldio e desço rapidamente do carro. Preciso de ar. Sinto como se meus pulmões de repente parassem de funcionar. Sento no meio-fio e me permito abrir as comportas do meu coração e como nunca, faço algo pelo qual não estou acostumada. Me permito chorar.
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