Capítulo 18

Merda. Tudo estava indo tão bem e ele tinha que aparecer para estragar tudo.
-Essa é minha casa, papai. Tenho o direito de vir quando quiser, até onde lembro. -Ariel responde com cara de poucos amigos enquanto começa a andar, me puxando pelo braço.

-Posso conversar com você um segundo, filho? -O olhar rápido do seu pai na minha direção não me passa desapercebido.
-Na verdade, estamos com pressa, tenho que levar Melissa para sua casa.

Continua andando.
Eu gostaria muito de entender qual é o problema que Ariel tem com o pai, eles obviamente não se dão muito bem e isso me deixa triste. Minha familia sempre foi unida e todos se amam muito, não consigo ver uma cena dessas e permanecer indiferente.
-Não estou com tanta pressa assim, Ariel. Pode conversar com o seu pai tranquilo, eu te espero la na moto.

Solto sua mão com certa dificuldade pelo aperto que ele exercia, claramente nervoso, e sem esperar por resposta caminho pela estrada de terra até a entrada da fazenda. Não ouso olhar para trás enquanto fico cada vez mais distante dos dois.
Quando avisto a moto, me sento com cuidado para não cair e acabar causando um estrago, e espero pacientemente enquanto o pai de Ariel diz o que quer que seja para ele.

Coloco meus óculos escuros, mas depois de alguns minutos, tiro novamente. Observo a fazenda, os animais e até a estrada de asfalto. Esse lugar é muito bonito e muito bem cuidado, a avó de Ariel devia ter muita grana, isso explicaria como eles são ricos. Minha familia também tem bastante dinheiro, mas nunca fomos de esbanjar e sinceramente, somos típicas pessoas da cidade grande. Não me veria morando aqui, por exemplo. O lugar obviamente é lindo para passar uns dias, se livrar do estresse da cidade, mas para viver todos os dias, sem a loucura da cidade, acho quem ficaria louca em algumas semanas seria eu. Quanta ironia, não?

Respiro fundo e sinto o ar puro do lugar. Volto a olhar para o grande lago atrás da casa, e aquela sensação de já haver estado aqui me ataca novamente. Balanço a cabeça e sorrio para mim mesma, parece que apenas algumas horas no lugar já estão me deixando louca!
Cogito pegar meu celular na bolsa guardada no compartimento da moto para jogar um jogo ou ver algum vídeo na internet, quando Ariel aparece andando rápido e completamente pálido.
Ele se aproxima de mim e coloca o seu capacete e depois coloca o meu bruscamente, me fazendo doer o couro cabeludo.

-Vamos embora, sobe. -Diz ríspido e eu obedeço sem dizer nada, quiçá pelo choque das suas atitudes ou talvez pelo fato dele estar muito alterado e eu realmente não quero forçar ainda mais a barra.
Quando estou devidamente sentada com os braços ao redor da sua cintura, ele acelera e ingressa na rodovia deixando somente a poeira para trás.

Sua raiva é evidente e percebo que ele começa a acelerar do nada, o que me deixa em alerta. Ariel sabe que eu tenho medo de andar de moto e me prometeu que não iria correr, mas no momento, parece que ele se esqueceu totalmente desse fato.
A velocidade vai subindo e com ela o meu medo. Já devemos estar a mais de oitenta quilômetros por hora e agradeço a Deus por essa rodovia ser quase vazia a essa hora.

-Ariel, por favor você está indo rápido demais! -Grito para que ele possa me ouvir por cima do barulho do vento mas se ele ouviu, fez de conta que não.
Quanto mais ele acelera, mais eu vou ficando preocupada. O que será que o pai dele disse?
Aperto mais a sua cintura, talvez assim ele perceba que está passando dos limites. Grito mais algumas vezes, mas nada dele me escutar. As lágrimas de medo que se formam nos meus olhos, nem sequer chegam a cair, se evaporam com velocidade que ele alcança cada vez mais. Já chega, ou ele para agora ou voi gritar até ser ouvida!

-ARIEL JÁ CHEGA, VOCÊ ESTÁ ME ASSUSTANDO, PARA POR FAVOR! -Grito o mais alto que consigo e como se ele saísse de um transe, freia de repente fazendo com que meu corpo choque contra o seu. Desço da moto em um salto, tão rápido quanto meu corpo me permite e tiro o capacete ansiando liberar o meu rosto daquela prisão. Por um momento senti que meus pulmões não funcionavam como deveriam e sentei no chão estagnada. Depois de alguns segundos, me levantei e olhei para Ariel cujo rosto estava levantado para o céu como se ele estivesse buscando alguma resposta lá.

-QUAL É O SEU MALDITO PROBLEMA GAROTO? VOCÊ QUER NOS MATAR? -Grito e grito mas ele nem se mexe, como se realmente não estivesse escutando uma palavra sequer que sai da minha boca. -Vamos Ariel, responde! Eu não vou andar nessa coisa com você nunca mais! -Me viro e começo a caminhar em direção à rodovia que nos leva para a cidade quem sabe consiga uma carona para casa. De repente escuto o barulho da moto. Ariel passa por mim, solta um "como quiser" e me deixa ali, sozinha no meio do nada sem saber nem para onde ir.

Respiro fundo e decido não entrar em pânico. Continuo caminhando, deve haver alguma alva viva indo para a cidade, não é possível.
Quando passam alguns minutos, o desespero começa a bater e estou a beira de um ataque nervoso, com medo de alguém com más intenções me encontrar ali, peço ajuda para todas as entidades e de repente escuto o ronco inconfundível da moto de Ariel.
Ainda sem dizer nada, ele para do meu lado e me estende o capacete com seu braço comprido.

Não ouso olhar para ele, simplesmente recuso o capacete e continuo caminhando. Eu sei, eu sei, estou sendo muito idiota, mas meu orgulho me vence as vezes e não consigo me controlar.
Conforme vou andando, vou sendo seguida pela moto e ele continua estendendo o bendito capacete e eu continuo recusando, até que aparentemente o garoto fica sem paciencia.
-Vamos Melissa, pega a porra do capacete e sobe na moto para que eu possa te levar para casa. -Exclama com o cenho franzido, enquanto eu olho com desdém para sua mão e adivinhem? continuo andando. Droga de orgulho besta!

-Melissa! Dá para parar de ser tão infantil e subir na merda da moto! -Agora ele errou feio na escolha de palavras.
-Escuta aqui garoto, primeiro você acelera igual um louco e quase me mata, depois me deixa sozinha no meio do nada por vários minutos, aí volta e quer pagar de mandão para cima de mim? Me poupe! -Grito e ele tem a cara de pau de abrir um meio sorriso. Será que ele não entendeu que estou puta da vida com ele?

-Melissa, eu vou dizer por ultima vez. -Sua voz é suave dessa vez, mas ele não me engana, está se controlando para não extravasar. -Sobe na moto por favor, eu realmente preciso te deixar em casa e depois tenho algumas coisas muito importantes para fazer, vamos, não acho que você queira andar sozinha nessa estrada, sem ninguém por perto...

-Primeiro de tudo, meu carro ficou na escola, então é lá que você tem que me deixar... e segundo só vou subir nessa coisa porque não tenho outra escolha! -Pego o capacete da sua mão da maneira mais brusca possível e engancho a fivela no lugar me certificando que está bem colocado.

-Eu não vou poder te deixar lá, está do outro lado da cidade e a essa hora, o estacionamento da escola está fechado já. Você vai ter que pegar seu carro amanhã, sinto muito. -Levanta o ombro como se não fosse nada.

-Ah, mas você não sente porcaria nenhuma! E como acha que vou chegar até a escola segunda feira, e como vou ficar todo o fim de semana sem carro? Meus pais não me deixam sequer pegar un táxi ou um ônibus!
Agora sim estou muito irritada, meus pais sempre tiveram essa neura com transporte público, não por se acharem os fodões que não andam de ônibus, mas por sempre desconfiarem de tudo que envolva outra pessoa dirigindo. Eu nunca entendi o que aconteceu para que eles ficassem assim.

Ariel passa as duas mãos pelo rosto e me olha exasperado. Passam alguns minutos até que finalmente ele diz:
-Tudo bem, te levo para a escola segunda, mas não posso te ajudar com o resto. -Outra vez faz aquele gesto idiota de subir os ombros.
Eu respiro fundo uma, duas, três, cem vezes até sentir que estou mais calma. Eu não acredito que vou chegar en casa sem o meu carro! Não que eu saia toda hora nos fins de semana, minha preocupação é outra: como explico para os meus pais o fato de que deixei o carro na escola e fui dar uma volta de moto com o garoto que supostamente odiava? Tudo isso sem eles sacarem que estamos juntos?

-Argh! Tem horas que eu te odeio, sabia? -Digo furiosa e subo na moto. Ariel apenas balança a cabeça e acelera sem dizer nada.
Para a minha surpresa ele está indo até lento demais, quem sabe tenha percebido que correr daquele jeito é uma loucura, ou talvez no fundo ele saiba que se fizer aquilo de novo, nenhum dos pode sobreviver para contar a historia.

O caminho todo até minha casa eu eviteu tocá-lo o máximo possível e ele percebeu isso, porque a cada momento, pegava meus braços e circulava seu abdômen, com a desculpa de que eu o estava desequilibrando, até que desisti e me segurei pensando na nossa segurança.

Apesar de que é quase impossível conversar quando se anda de moto, o caminho foi extremamente silencioso, até que paramos na frente do edifício aonde vivo.
Desci da moto, retirei o capacete e o entreguei sem cerimônia.

-Espero que você cumpra com a sua palavra, Ariel. Esteja aqui às sete e meia segunda feira. -Me viro e começo a subir os degraus largos até a porta de entrada mas antes que eu possa sequer tocar na maçaneta, sou virada com certa força e sem nem tempo de me preparar psicologicamente, os lábios do garoto se colam aos meus com urgencia.

Retribuo o beijo por alguns segundos e depois o empurro com força limpando minha boca dramaticamente.

-Qual é hein? Porque fez isso? -Pergunto irritada.
-Porque apesar de tudo, eu não consigo te tirar da porra da minha cabeça, Melissa.
Como é que ele consegue me deixar sem palavras sempre? De onde ele tita essas frases? E o pior de tudo, porque suas palavras me afetam tanto?

Balanço a cabeça negativamente e sem dizer nenhuma palavra -ate porque não me ocorreu nenhuma-, me viro e entro no condomínio sem olhar para trás. Se Ariel acha que pode me fazer de gato e sapato ele está muito enganado.
Enquanto espero o elevador chegar, imagens da nossa tarde começam a surgir na minha cabeça, como fragmentos de um filme trash. Balanço a cabeça para expulsar essas imagens, estou muito brava com Ariel para me alegrar por qualquer coisa por hoje. A cada andar que subo pelo elevador, minha raiva vai aumentando cada vez mais e mais. Como ele foi capaz de me deixar sozinha no meio do nada? Tudo bem que voltou depois, mas e se algo tivesse me acontecido enquanto ele não aparecia?

Entro no apartamento como um furacão e vou direto para o quarto. Não demoram nem dez segundos até alguém bater na porta.
Apesar de dizer que estou ocupada, mamãe entra mesmo assim. Senta na poltrona azul com flores ao lado da cama e me observa atentamente por alguns minutos.
Quando meu desconforto está do tamanho de um elefante por causa do seu escrutínio, eu me levanto e pego algumas roupas limpas com a desculpa de que vou tomar banho.
-Você está diferente... - ela solta de repente. -Seus olhos estão brilhando mais... -só se for de raiva, penso.
-Deve ser só impressão sua...- desconverso e caminho até a porta do banheiro, mas antes que eu tenha sequer a chance de entrar, ela solta outra frase que me paralisa.

-Quem era o garoto que estava com você? -Droga!
-Ah, era só um colega da escola que veio me trazer, meu carro ficou preso dentro da escola até segunda e ele me ofereceu uma carona. -Aproveito a oportunidade para explicar o tema do carro. Mamãe me olha desconfiada e me diz sorrindo enquanto caminha até a porta do quarto:
-Pelo visto hoje em dia os garotos recebem beijos como agradecimento pela carona, hein? -Da risada e sai finalmente do quarto me deixando estupefata.

Entro no banheiro praticamente correndo e tiro minha roupa como se minha vida dependesse disso. Hoje eu preciso mais do que nunca de um banho relaxante, merda.
Passo quase meia hora submergida até o pescoço na banheira enquanto tento entender a atitude de Ariel hoje. Ele estava muito alterado e o que será que ele tanto tinha que fazer que era urgente? Mil e uma possibilidades passam pela minha cabeça, mas nenhuma me parece tão lógica.
Penso e penso, repasso várias vezes os acontecimentos de hoje tentando entender ou talvez encontrar o ponto onde tudo passou de um dia lindo e cheio de carinho, a uma experiência de quase morte. Porque foi isso que senti quando ele acelerou aquela moto.

Sinto que a água já está fria e meu corpo começa a se arrepiar com a mudança de temperatura. Me levanto calmamente da banheira, me enrolo no roupão e entro no meu quarto para colocar uma roupa bem confortável para dormir a tarde inteira se precisar.
Pego meu celular para ver as horas, mas me surpreendo ao ver a quantidade de ligações perdidas. Desbloqueio a tela solo para confirmar minhas suspeitas. O nome "Princesa" ao lado do número cinquenta e sete me deixa de boca aberta. Quase posso sentir a textura do tapete do quarto com o queixo. Ariel me ligou cinquenta e sete vezes?
Caramba!

De repente como se ele soubesse que estou segurando o celular agora, o aparelho começa a vibrar na minha mão, aumentando suas chamadas para cinquenta e oito.
Debato internamente se atendo ou não até que a emoção fala mais alto e desligo o telefoninho verde que aparece na tela e aproximo o celular do meu ouvido para saber o que tanto o garoto quer comigo.
-O que você quer agora, Ariel? -Pergunto sem rodeios enquanto coloco minha roupa. Ainda estou chateada com ele e por alguns segundos, escuto apenas sua respiração do outro lado da linha.
Cogito seriamente encerrar a ligação mas o escuto suspirar fundo e ele mesmo faz as honras. Olho ao redor do quarto procurando uma resposta para essa loucura nos móveis ou na minha cama talvez?

Dou uma risada amargada e fecho os olhos por alguns instantes, eu não consigo acreditar que ele está me tratando assim. O que diabos eu fiz de errado? Ou melhor porque estou me culpando pelas suas atitudes erradas?
Argh porque gostar de alguem é tão complicado? Espera! Eu gosto do Ariel? Desse jeito? Oh por Deus, preciso ligar para Becca!

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