Capítulo 11

-Merda! –Grito depois de alguns segundos.

Preciso sair daqui. Preciso de ar.

Tranco a porta e saio quase correndo da escola. Dirijo sem rumo pelas estradas da cidade. Mas que droga Melissa!

-Argh! Preciso falar com alguém! –Ótimo, agora estou falando sozinha.

Balanço a cabeça e aproveito o sinal vermelho para pegar meu telefone e ligar para Becca. Preciso conversar com minha amiga.

Ela atende depois de três toques.

-Hey garota! E aí, como foi a sessão de amassos com o gato Ariel?

-Oi para você também, Becky. E não tive uma sessão de amassos, só....

-Corta o papo furado Mel, te conheço bem o suficiente para saber que pelo tom da sua voz e pelo apelido carinhoso que você não está bem. Bota para fora, o que aconteceu? –Droga, porque ela tem que me conhecer tão bem?

-Olha, eu meio que... eu e o Ariel brigamos, de novo. Será que podemos nos encontrar e te conto tudo? –Respiro lentamente tentando me tranquilizar. –Estou no meio do trânsito agora, e não é seguro estar no telefone.... Você sabe.

-Claro! Estou perto do shopping, que tal você me pagar um sorvete e me conta que cagada fez agora.

-Como? Eu não fiz nenhuma cagada.... Eu só....

-Mel!

-Tudo bem. Nos encontramos no Mc em dez minutos.

-Ok.

Me apresso a desligar o telefone e acelerar, já que o sinal está verde e algum estressadinho não para de buzinar.

Estou tão distraída, que acabo errando o caminho para o shopping duas vezes. Droga! Pego a saída correta dessa e vez, e depois de alguns minutos finalmente chego.

Estaciono e vou direto para o lugar que combinamos. Peço dois milk shakes de caramelo –que tanto eu quanto Becca amamos – e espero minha amiga chegar.

Olho as pessoas ao redor do lugar, e vejo tantos rostos diferentes, mas que de alguma forma, acabam tendo várias semelhanças. As pessoas são iguais à sua maneira. Me olho no reflexo do celular. EU sou igual a todo mundo. Tenho exatamente a mesma atitude pela qual luto contra. Merda.

-Mel! Caramba amiga, onde anda essa sua cabecinha, hein? Estou acenando a quase cinco minutos! –Becca senta na cadeira ao meu lado, toda esbaforida.

-Oh, desculpa. Não te vi, juro.

-Eu percebi! Então, conta tudo! –Ela puxa o copo de Milk Shake e toma um gole barulhento do liquido espesso.

-Então... –começo meio envergonhada. –Nós tipo, nos beijamos, e....

-Rá! Eu sabia! –Dou uma olhada torta pela sua interrupção. –Okay, continua, desculpa, não vou mais te interromper. –Ela faz aquele sinal de fechar a boca com um zíper.

-Ele meio que... tirou minha blusa, e meu, hã, sutiã. –Os olhos da minha amiga se arregalam incrédulos, e vejo que ela está se segurando. Melhor terminar logo com isso. –Pode dizer.

-Eu não acredito! Dentro do colégio? –Balanço a cabeça para cima e para baixo e Becca fica sem palavras, aproveito a oportunidade para continuar.

-Depois de nos beijarmos, eu fiquei tipo, muito nervosa, porque você sabe, e se alguém tivesse me visto? Nós estaríamos muito ferrados! Então eu acabei dizendo algumas coisas para ele... e ele saiu muito bravo da sala.

-Hum. E o que você disse afinal?

Conto para ela com detalhes o que eu falei para Ariel e ela nega com a cabeça várias e várias vezes.

-Está bem! Diz logo, caramba.

-Mel! Você não pode dizer isso para o garoto! Tipo, ele pode ser egoísta, malvado e todos os adjetivos que você quiser usar, mas pensa bem, isso te dá o direito de dizer essas coisas para ele? Você não sabe o que acontece da porta para fora do colégio, amiga, cada um tem uma batalha interna que lutar. Não pode julgar as pessoas assim, você mesma disse que o conhece há pouco tempo. Desculpa eu ser tão dura com você, mas é que você deu uma bola fora das grandes, amiga! –Suga a bebida já derretida pelo canudinho.

-E-eu.... Poxa eu estava com tanta raiva e vergonha de mim mesma, eu não sei como permiti que ele tirasse minha blusa, eu....

Respiro fundo. Droga, desde quando Becca virou uma pessoa tão...madura?

Olho para a garota parada bem na minha frente com cabelos rosa-choque e piercings por todo lado. Ela é tão doce e ao mesmo tempo tão adulta.

Minha amiga parece saber muito bem do que preciso, pois fica ali tomando o sorvete sem dizer nada, enquanto eu penso com meus botões.

Preciso fazer alguma coisa. Eu não sou esse tipo de pessoa. Eu não gosto de ser esse tipo de pessoa.

-Você deve desculpas a ele, Mel. –Demônios. Essa garota lê mentes ou o que?

-Sim. –Suspiro.

-Que tal... já? –Ela faz sinal para o meu telefone.

-Eu não posso pedir desculpas por telefone, Becca.

-Então que tal ligar para ele e pedir para se encontrarem? Aí você pede desculpas e quem sabe dá mais alguns beijos naquela boca deliciosa!

-Para sua informação, ele é quem sempre me beija.

-Sei, conta outra Mel, você está caidinha pelo Ariel. Só precisa perceber isso.

-Becca, eu não gosto dele! Ele é.... um bully! Nós somos peças completamente diferentes desse quebra-cabeças. Nunca vamos encaixar.

-Então pega uma maldita tesoura e corta as pontas que sobram, até darem certo.

-Não é tão simples. Você sabe disso.

-Qual é Mel? Do que você tem tanto medo?

-Eu.... Eu.... Olha, preciso ir, ok. Nos vemos amanhã na escola. Obrigada por tudo!

Dou um beijo estalado na sua bochecha e escapo dali, como a covarde que sou.

Droga! Porque tudo tem que ser tão difícil?

Desço para o estacionamento. Ligo o carro por alguns segundos, mas acabo desligando novamente. Preciso me acalmar.

Respiro fundo algumas vezes e depois de criar muita coragem, tiro o telefone da bolsa e ligo para o garoto que tem sido o dono dos meus pensamentos nos últimos dias.

Ele não atende. Merda. Tento novamente e continua caindo na caixa postal.

-Merda! –Bato no volante com a palma da mão e acabo buzinando sem querer chamando a atenção de algumas pessoas caminhando por ali.

Dou a partida e pego a estrada para casa. Ariel está obviamente me ignorando. E isso me deixa com raiva, só não entendo o porquê.

As palavras de Becca flutuam na minha cabeça uma e outra vez. Quem diabos eu penso que sou para dizer aquilo? Pela sua reação posso ver que há algo com a mãe dele. Ela não esteve no dia em que se mudaram, também não está morta porque a diretora disse que iria chamar os dois pais caso ele não se comportasse.

Mesmo se sua vida fosse um mar de rosas, eu não teria o direito de dizer aquelas palavras para ele.

Como eu pude ser tão cruel?

Quando saio do elevador do edifício, vou direto para o meu quarto. Não quero papo com ninguém. Ok, tem uma pessoa com quem quero conversar, mas essa pessoa está me ignorando, então...

Decido tomar uma ducha quente e demorada para relaxar um pouco. Sinto que estou a ponto de explodir com quem não merece –de novo – então prefiro me trancar no banheiro e esperar esse estresse passar.

Depois de quase meia hora e tremendo de frio pela água fria, decido me vestir antes que pegue algum resfriado.

Ainda com roupão, decido fazer mais uma tentativa de ligar para Ariel.

Dessa vez, ele atende no segundo toque.

-O que você quer, Melissa. –Cospe com sua voz estranhamente mais rouca do que o normal.

-Ariel, eu.... Nós precisamos conversar. Será que podemos nos encontrar?

Mordo nervosa o canto do dedão enquanto espero pacientemente pela sua resposta.

-Melissa, eu estou muito ocupado no momento, então.... Quem sabe outro dia.

-Não precisa ser nesse exato momento, podemos nos ver sei lá, daqui umas duas horas? Eu realmente preciso conversar com você, por favor.

-Uau! A rainha dos injustiçados pedindo por favor! Me poupe dos seus joguinhos Melissa, não tenho tempo para isso.

-Ariel.... Só aceita conversar comigo de uma vez. Por favor... –Imploro pela segunda vez. Argh.

Escuto seu suspiro do outro lado da linha e o barulho de algumas coisas sendo mexidas.

-Tudo bem, você ganha. Me encontre no The Pub em uma hora.

E desliga sem se despedir. Bom, pelo menos aceitou conversar comigo.

Coloco uma calça jeans, uma blusa simples e um casaco por cima, já que a noite está meio fresca hoje, e sento na minha cama esperando a hora passar para poder ir ao bar.

Escuto algumas batidinhas na porta do quarto e meu pai coloca a cabeça para dentro com os olhos fechados.

-O campo está seguro? Posso entrar? –Ele brinca e acaba arrancando um sorrisinho do meu rosto que provavelmente já estava criando rugas de tanto franzir a testa.

-Sim, o campo está limpo! –Respondo entrando na brincadeira.

Papai senta na beirada da cama e olha diretamente nos meus olhos.

-Uau! Aonde vai tão arrumada?

-Hum... vou sair com Becca daqui alguns minutos, na verdade.

Papai me olha curioso e posso ver que quer perguntar algo.

-Pergunta logo papai! –Ergo uma sobrancelha para ele.

-Okay. Está tudo bem? Você mal chegou em casa e veio direto para o seu quarto, nem deu oi para nós. Queria vir antes, mas sua mãe me disse para esperar um pouquinho, e bem, esse pouquinho já acabou.

Dou uma risadinha sem graça. Mamãe não é nada boba.

-Diga a dona Amélia que está tudo bem, eu só cheguei cansada e cheia de tinta, precisava me limpar rápido.... Já estava começando a coçar. –Recebo um olhar nada convencido. –É sério, está tudo bem! –Garanto na maior cara de pau do universo.

-Você sabe que pode contar qualquer coisa para nós, não é Mel? –Segura minhas mãos e seguro as lagrimas teimosas.

-S-sim.

-Tudo bem. –Dá um beijo na minha testa. -Hum, espero que se divirta com Becca então.

Dá algumas batidinhas com as mãos nos joelhos e depois se levanta para sair do quarto, mas antes de ter seu corpo completamente para fora da porta ele diz uma última coisa que me quase me arranca lágrimas novamente.

-Nós te amamos e confiamos em você, Mel. Não se esqueça disso.

Engulo seco antes de responder.

-Eu também. Amo vocês, quero dizer.

Balanço a cabeça envergonhada. Se eles soubessem o que ando fazendo, talvez não diriam isso com tanta convicção.

Limpo meus olhos com um lencinho, agradecendo a mim mesma por não ter me maquiado. Olho no celular e percebo que faltam vinte minutos para me encontrar com Ariel. Pego minhas chaves, celular e bolsa e saio do apartamento como entrei: sem dizer tchau.

Ao entrar no carro, respiro fundo uma vez mais. Ao parecer, a presença de Ariel está me causando asma, só pode.

Giro a chave e em segundos o automóvel ganha vida, me levando para uma conversa pela qual tenho sentimentos controversos, quero ir e ao mesmo tempo não sei se tenho psicológico para enfrentar Ariel e pior ainda, pedir desculpas. Porque tenho que ser tão orgulhosa?

Dirijo em uma velocidade lenta, inconscientemente atrasando nosso encontro. Preciso organizar meus pensamentos, pensar no que vou dizer, não quero ficar com raiva de novo e acabar estragando tudo. Você tem que se acalmar, Melissa. Respiro fundo pela milésima vez.

Quase não consigo encontrar um lugar para estacionar, como esse lugar pode estar cheio em plena segunda-feira? Aperto o botão do alarme do carro e adivinhem? Respiro fundo mais uma vez antes de mover meus pés para o lugar.

Passo pela porta do The Pub, mas não vejo Ariel em nenhum lugar. Será que ele me deu um bolo? Balanço a cabeça, sento no balcão do bar e Marcus aparece na minha frente.

-Vai beber o que hoje, gata? –Pergunta naquele seu tom conquistador.

-Huh, hoje não vou beber, estou dirigindo. –Faço uma cara de envergonhada não sei porque. Peço uma água e espero mais alguns minutos. Depois de quase meia hora e sem nem sinal do Ariel, decido que já fiz papel de besta por muito tempo. Pago o que consumi e me levanto para deixar o bar praticamente soltando fumaça de raiva, só que quando me viro, meu corpo bate em uma parede dura e quase caio para trás, não fosse sua mão me segurar.

-Pensei que iria me dar um bolo mesmo. Já estava indo embora. –Solto com raiva.

-Desculpa, eu me atrasei um pouco. –Ariel responde simplesmente.

-Um pouco? Fiquei meia hora esperando aqui igual uma idiota, Ariel.

-Okay, você me chamou para conversar ou para me tratar mal como sempre?

-O que? Eu não te trato mal! –O empurro com um pouco de força contradizendo totalmente o que acabei de dizer.

O garoto me olha de cima para baixo balançando a cabeça e dá uma risadinha de canto de boca e de repente sou puxada para uma sala que nem sabia que existia.

Lá dentro tem um sofá de couro preto para umas quatro pessoas e uma pequena mesa de centro. Parece ser um lugar onde as pessoas param para descansar.

Ariel tranca a porta com a chave e aponta o sofá com a cabeça.

-Prefiro ficar de pé. –Digo emburrada.

-Tudo bem. –Debocha enquanto caminha até um frigobar e tira uma garrafa d'água de dentro. –Quer?

-Não, obrigada. Tomei bastante água enquanto te esperava.

-Uau. Hoje você está terrivelmente estressada.

-Olha Ariel, -começo sentindo que minha paciência está esgotando – eu te liguei para pedir desculpas ok? Não quero ficar aqui mais do que o necessário, então é isso, me desculpa.

O olhar que recebo é de incredulidade com algo de raiva contida.

-Só isso? Você vem aqui, pede para falar comigo, me diz essas palavras vazias e acha que é suficiente?

-O-o que? Eu te pedi desculpas, eu estou me humilhando, porra! –Gesticulo freneticamente enquanto digo mais um monte de merda para o garoto. E o plano de ficar calma falhou miseravelmente. –Será que você não percebe que eu esperei meia hora sentada naquele banco duro bebendo água até quase explodir, só para poder dizer essas coisas? Merda! Eu estou tentando ser correta, princesa, juro que estou, mas eu malditamente não consigo... não posso...

Ariel se levanta de repente e caminha lentamente até ficar parado na minha frente. Coloca as duas mãos no meu rosto e diz:

-Demônios, você fica malditamente linda quando está com raiva e diz essas palavras sujas!

Fico completamente sem palavras. De todas as coisas que pensei que Ariel fosse me dizer, essas palavras definitivamente não passaram pela minha cabeça.

Ofego uma e outra vez. Não sei realmente o que dizer, ele me tirou inteiramente do chão. Sinto que... sinto que estou flutuando e o único que me impede de voar são suas mãos frias emoldurando meu rosto.

-Melissa? –Pergunta olhando bem nos meus olhos.

-Hum? –É o único que consigo responder no momento.

-Eu vou te beijar agora. 

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