ARIEL - Capítulo 24
-Por que você fez isso meu filho? Por que disse essas coisas para Melissa? Sabe que ela não mereceu isso, deveria pedir desculpas!
-Eu sei pai, eu sei! Eu sou um idiota okay? Eu nem sequer deveria existir nesse mundo!
Subo as escadas correndo e entro no meu quarto trancando a porta no processo.
Escuto Alex gritando o meu nome mas não dou a mínima, eu preciso delas agora! Aonde merda foi que as deixei? Vasculho o quarto inteiro sem nem me preocupar com a bagunça que estou fazendo. Abro gavetas e jogo todo o conteúdo no chão, tiro os lençóis da cama e reviro o colchão, procuro detrás da cama e nada. O desespero começa a tomar conta de mim e minhas mãos começam a tremer.
Você é um babaca Ariel, não vale a merda que defeca.
-Cala essa boca! -Grito, mas sei que as vozes na minha cabeça não vão parar. Não enquanto eu não as tiver dentro de mim.
Você é um nada, ela não te merece, agora deve estar transando com outro e já deve ter esquecido que você existe. Você é um fraco, não vale a pena.
-Eu já disse para você calar a boca! -Grito mais forte e quase suspiro de alegria ao ver o frasco branco caído debaixo da cômoda de roupas.
Deito no chão, enfio meu braço comprido por baixo do móvel e tateo pelo chão até que sinto o objeto redondo na minha mão.
Levanto rapidamente e tiro pelo menos uns cinco comprimidos e coloco no lugar onde os trituro até virar um pó branco e inocente. Misturo com soro e coloco na seringa.
Enrolo meu braço com uma borracha e aplico o líquido direto na veia. Imediatamente sinto meu corpo mais leve, eu sei que Caio me disse para não sair da dose, mas eu preciso disso, preciso voar.
Alguns segundos -ou minutos, ou horas, quem sabe? -passam e sinto que isso não está sendo o suficiente. Tento triturar mais alguns comprimidos, mas não tenho forças para isso então os engulo um por um até que não aguento mais ficar de pé.
Me deito no chão e espero tudo fazer sentido.
-Ariel, abre essa porta por favor!
Alguém diz do lado de fora mas eu não sei quem é. Só sei que essa sensação é tão boa que eu poderia ficar aqui para sempre.
Meu estômago embrulha e sinto náuseas mas não consigo me levantar então vomito ali mesmo no chão.
-Ariel, é melhor você estar longe da porta porque eu vou arrombar essa porcaria.
Essa voz continua me dizendo o que fazer. Quem ela pensa que é?
Por que tudo está dando tantas voltas? Por que você me deixou Melissa? Você não tinha esse direito, você é minha, só minha!
Eu soube desde o momento em que te vi que você seria minha e eu seria seu e de mais ninguém.
Meus olhos estão se fechando sozinhos, mas eu não tenho sono... eu não quero dormir, eu quero...
-ARIEL! O que você fez meu filho! -Essa voz de novo!
-Quem é você? -Pergunto, ou pelo menos é o que penso que saiu pela minha boca. Ela está tão seca, eu preciso de água. Tento me levantar mas meus músculos não me obedecem, o que está acontecendo?
-Ariel abre os olhos por favor! Você consegue me ouvir? -Junto todas as minhas forças e balanço a cabeça. Essa voz insiste em me dizer o que fazer! -Graças a Deus! Aguenta firme eu vou chamar a ambulância.
Escuto essa voz falando de novo, mas não é comigo. Varias coisas são ditas muito rápido e eu não consigo acompanhar. Por que tudo parece tão lento? A voz sumiu, até que enfim posso descansar.
Embarco em um sono profundo e de repente estou voando. Como é bom voar, veja Melissa estou voando! Eu sabia que eu conseguiria.
Sinto meu corpo tão leve! Eu nunca me senti assim. Escuto alguns barulhos mas não faço ideia do que são, só sei que agora estou voando mais rápido.
Ah oi abelhinha como você está?
Por que está se aproximando do meu braço? Ai! Você me picou! Tento espantá-la, mas ela continua ali sem mover um centimetro sequer. Sinto uma queimação no meu braço e a abelhinha desaparece quase que imediatamente. Meu corpo parece mais pesado. O que está acontecendo? Não consigo respirar! Eu estou ficando sem ar, alguém me ajuda! Está tão escuro aqui, por que ninguém me ajuda? Grito e grito mas ninguém me escuta!
-Maninho fique calmo, o pior já está passando.
-Jonah? Como você veio parar aqui?
-Eu precisava me certificar de que tudo ia sair bem Ariel.
-Mas eu me sinto tão pesado, e não consigo respirar! Me ajuda irmão, por favor!
-Está tudo bem, já está quase acabando, você pode respirar o quanto quiser. Repita comigo: eu consigo respirar.
-Eu consigo respirar.
-Vai ficar tudo bem.
-Vai ficar tudo bem. Como ela está Jonah?
-Muito triste, Ariel.
-Oh não, eu não queria isso, juro! Eu sou tão idiota!
-Ela está preocupada com você irmão.
-Diga... diga para ela que eu vou ficar bem, diga que... oh Deus, diga que a única pessoa que realmente importa para mim é ela. Por favor Jonah, faça ela saber disso! Eu preciso que ela saiba!
-Eu vou fazê-lo, vou me certificar de que ela saiba de tudo isso irmão, agora respira fundo e lembre-se, seja forte, o pior está só começando.
-Jonah? O que isso quer dizer? Jonah você ainda está ai?
Eu consigo respirar, eu consigo respirar, eu consigo respirar.
Ainda estou nesse lugar vazio e escuro, porém agora meu corpo já não está tão pesado e não sinto como se tivesse voando, não mais. Alguma coisa aconteceu. Meu Deus, o que eu fiz? Tento abrir meus olhos mas eles estão tão pesados que é em vão. Quanto tempo passou desde que briguei com Melissa? Horas? Dias?
Eu não sei. Jesus como eu gostaria de ter seus braços ao redor de mim outra vez, sentir seus labios quentes nos meus...
Estou com frio. Por que está tão frio?
Sinto um peso em cima de mim, o que está acontecendo? Tento mover meus braços mas assim como a tentativa de abrir os olhos, é completamente em vão.
Escuto vozes mas não entendo o que dizem, são tantas coisas, tantas palavras. Um toque suave na minha mão me chama a atenção. Eu conheço esse toque. É ela. Ela está aqui. Melissa está aqui. Já não sinto tanto frio e o seu toque é tão suave qhe é quase como se ela realmente não estivesse ali.
-Por que você fez isso seu idiota! -Oh não, ela está brava comigo, me desculpa, você é tudo para mim!
-Você não pensou na sua família? No seu pai, na sua mãe... não pensou em mim? Em como eu ficaria se perdesse você? Por que você é tão egoísta, hein? Deus, eu te amo tanto Ariel, - eu também te amo Melissa, mais do que a mim mesmo! Por que ela não me escuta? -mas se pudesse, te daria uma surra agora! Você não tinha esse direito, não tinha!
Ela precisa saber que eu estou aqui, precisa saber que eu a escutei!
Junto todas as minhas forças para formar uma frase coerente que saia da minha boca.
-Me desculpa, Mel. -Digo e toco minimamente o seus cabelos sedosos. Não tenho mais forças para dizer uma palavra sequer, mas isso foi suficiente para saber que eu estou aqui.
-Volto amanhã meu amor, por favor se comporte até lá.
Mas ela não voltou, ela nunca mais voltou.
TRÊS DIAS DEPOIS
Que dor de cabeça, o que merda aconteceu? Aonde eu estou?
Por que está tudo tão claro? Abro os meus olhos só um pouquinho e volto a fechá-los, sentindoos queimando com a luz.
O que diabos eu fiz? Posso escutar o bip da máquina ao meu lado e me dou conta de que estou em um hospital.
Minha boca está tão seca, parece que engoli dois quilos de terra e minha cabeça dói tanto que até respirar me causa pontadas.
-A-água. -Digo para uma enfermeira que acaba de entrar.
-Oh, você acordou. Toma, beba devagar ou você vai se engasgar. -Me entrega um copo com água fresca e eu bebo em pequenos goles. O líquido frio aliviando essa sensação na garganta.
Ela sorri enquanto me serve outro copo. Pelo visto já sabe muito bem como agir nesse tipo de situações.
-Eu irei chamar o doutor, não tente se levantar okay? Você pode acabar caindo. Volto já!
A enfermeira sai e me deixa sozinho novamente no quarto branco e etéreo.
Respiro fundo e tento lembrar de tudo o que aconteceu. Me lembro de haver brigado com Melissa, depois ela foi embora e eu fiquei furioso, subi para o meu quarto e depois disso, está tudo borrado. Algumas coisas vem na minha cabeça como lagoas mentais e quanto mais me forço para lembrar, mais minha cabeça dói, então desisto e tento descansar um pouco.
Algum tempo depois, Alex passa pela porta todo esbaforido e senta em uma cadeira que eu nem tinha reparado estar ao lado da cama.
-Como você está meu filho? -Pergunta com certa dificuldade, como se acabasse de correr uma maratona.
-Eu... eu não sei. O que aconteceu? -Preciso saber que merda eu fiz dessa vez.
-Você... teve uma overdose. -Mas que merda! -Por sorte eu te encontrei a tempo então liguei para a ambulância. -A tristeza é evidente no seu semblante e as palavras de Melissa de repente aparecem na minha mente: "Você não pensou na sua familia? No seu pai...". Droga eu não queria isso, agora que me lembro um pouco mais, só queria me liberar, liberar toda essa raiva, todo esse estresse.
-E-eu sinto muito pai. -Digo com toda a sinceridade. Não queria ter chegado a esse ponto.
-Eu sei que sim. Vamos conversar sobre isso outro momento, agora temos algo mais urgente que tratar meu filho.
-O que aconteceu? -Estou alarmado, tento me sentar mas sinto o tudo girar então volto à minha posição anterior.
-O pai do garoto que você agrediu ficou sabendo de tudo o que aconteceu e efetivou a denúncia, o nosso advogado entrou com uma ação dizendo que no momento você estava drogado e não tinha consciência do que estava fazendo, então entramos em um acordo.
-O QUE? -Sabe quando o seu corpo arrepia todo e você tem aquela sensação de que algo muito ruim está por acontecer? Pois estou sentindo isso nesse exato momento.
-O acordo é que ele retira a denúncia com a condição de que você vá para uma clínica de reabilitação por pelo menos três meses.
-O quê? Não! Eu não irei para lugar nenhum! -Eu nunca tive tanto medo na minha vida como agora.
-Você prefere ir para um clínica ou para a prisão meu filho? Você sabe como é esse lugar? Você já esteve na cadeia antes?
Balanço a cabeça e papai me olha apenado. O que eu faço? Estou literalmente entre a espada e a parede. Fecho os olhos e respiro o mais fundo que consigo. Eu preciso ser maduro uma vez na vida, tenho que melhorar, tenho que me livrar desse vício idiota. Preciso fazer isso por mim, pelo meu pai. Por ela.
-Tudo bem. -Solto a respiração e os olhos de Alex se enchem de lágrima imediatamente em entendimento. -Eu irei para a clínica.
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