Capítulo XVII - Rastros


Megan Carter Stark's point of view.


Toc, toc.

Duas batidas na porta são suficientes para mudar o rumo de um dia. De um ano. De uma vida.

Aquelas duas, em específico, mudaram o rumo da realidade.


Eu o conhecia. Eu sabia que já o tinha visto na vida, sabia que existia algum tipo de laço entre nós. Sabia o suficiente para perceber que algo estava incrivelmente errado. E ele me conhecia para saber que eu o estava analisando, revirando a mente para entender quem ele era e o que possivelmente queria comigo.

— Você engordou, Carter. Sempre reclamou que o escritório te deixava sedentária, mas duvido que fez qualquer atividade física que não envolvesse fugir da morte desde a queda da SHIELD. 

Bingo.

Nicholas J. Fury: meu antigo diretor na SHIELD. SHIELD: agência de espionagem internacional da qual eu fazia parte, fundada pela minha avó. Minha avó: Peggy Carter, uma agente lendária que me deixou seu mundo como herança. Peggy Carter > Segunda Guerra Mundial > Steven Rogers > tristeza. Tristeza em Megan Carter > raiva. 

Naquele exato momento em que Fury me deu todas as pistas de forma mastigada para eu me lembrar de quem ele era e, basicamente, quem eu sou, eu sentia raiva. Uma raiva anormal, infundada, sem motivos aparentes. Ela só estava ali. Eu poderia partir a cabeça daquele homem se tivesse raios saindo dos olhos.

— Entre, Nick. —dei espaço para ele entrar no apartamento, ficando surpresa ao ver outras pessoas adentrando a sala logo atrás dele. 

Sam Wilson, Bucky, Wanda e Peter. Eles estavam juntos.

Bucky e Peter? Juntos? Algo definitivamente estava errado.

Fiquei os encarando, buscando alguma resposta em suas feições assustadas/decepcionadas. Tudo que recebi foi um gesto de Nick para me sentar no sofá caramelo de James Barnes.

Meus olhos estavam cerrados, meus braços cruzados. A expressão de Bucky era impassível, como quase sempre. Mas Peter era fraco. Ele se abalava facilmente com dois segundos de encaradas. Seus olhos se arregalavam, fugindo dos meus para o rosto de Barnes. Como se ele fosse protegê-lo. Como se o homem que quase o matou outro dia fosse seu herói no dia de hoje.

— Nós... Bem... —Bucky começou gaguejando, respirando fundo por um momento para se recompor. Meu estômago se revirou. Se há uma situação que deixa Barnes desconfortável, então ela deve envolver o fim do mundo. 

— Desembucha, Barnes. Quem vai morrer?

— Nós, eu acho... -Peter cochichou, recebendo uma cotovelada de Bucky como resposta, o qual começou a falar logo depois.

— Nós tínhamos um plano: colocar você em situações extremas para sua memória voltar. Shuri nos ajudou, animada com a possibilidade de conhecer o Reino Quântico quando você quisesse salvar os Vingadores. Mas, quando Peter foi baleado, todos nós desistimos. Desistimos até outra pessoa surgir com um plano pior, mais mirabolante e intenso. Eu teria que fingir ser reiniciado como Soldado Invernal, teria que espancar Peter até sua mente pifar e se lembrar de tudo... De todos. 

Minha feição era minha boca aberta em um "O" enorme, meus olhos marejados de ódio e minha respiração descompassada. Eu tentava me controlar para não rasgar a garganta deles, pensando na sujeira que teria que limpar se o fizesse. 

Inspirar, expirar. É um processo simples. E eu não conseguia fazê-lo sem sentir minhas mãos tremendo, uma vontade intensa de atravessar aquele cômodo e deixá-las atingir o rosto daqueles dois.

— Quem? —todos ficaram em silêncio quando minha única pergunta ecoou no ambiente.

Olharam uns para os outros, tentando buscar quem havia entendido o que eu queria.

— Quem o quê, Megan? —Sam foi o único a se manifestar, provavelmente por não ter tanta culpa em cartório. Eu podia ver em seus olhos.

— Outra pessoa surgiu com um plano pior. Quem?

Aquela pergunta parecia ser uma equação de matemática, já que todos estavam em alerta.

— Sharon. 

Com uma única palavra de Bucky, eu surtei. Minha mente acelerou novamente, mostrando as imagens e resultados daquele nome. Era como se jogasse aquilo na barra de pesquisa e desse 'enter', tendo um milhão de resultados perpassando sob meus olhos. Levantei-me em um impulso, colocando as mãos por baixo da superfície da mesa de centro. Ela se levantou no ar enquanto meu corpo se levantava também, caindo no chão com violência e se partindo em três grandes pedaços de madeira. Todos recuaram, se afastando de mim. Até mesmo Nick, a única pessoa que eu nunca consegui surpreender em toda minha vida.

Eu não queria surtar, sabia que socar a cara deles não me traria alívio à longa data. Eu precisava de distância.

Dei um último olhar a James Barnes, saindo do apartamento como um raio.

Não sabia para onde ir, mas sabia do que precisava: álcool.


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— Mais três de tequila, por favor. —o garçom me olhou com desconfiança pela quarta vez. Eu não podia dizer que tinha um organismo biônico e acelerado que não me deixava bêbada, apenas relaxada e levemente tonta. Mas, também, não ligava para seus julgamentos.

— Você está cada dia mais desvirtuada, Megan. —uma voz grossa e séria soou ao meu lado. Virei-me lentamente, cansada de contato humano, para o dono dela. Um homem, cabelos negros e olhos verdes. — Traindo o ícone da América com o melhor amigo dele, matando pessoas à sangue frio, se embebedando em bares clandestinos...

Apenas fechei os olhos, nem mesmo tentando reconhecê-lo. Respirei fundo para não surtar mais uma vez.

— Esqueceu daquela vez que eu quebrei o pescoço de um cara num bar.

— Que vez? —ele olhava para frente, o cenho franzido. 

— Talvez eu esteja prevendo o futuro... Poderia fazer isso agora mesmo com você para ele se concretizar. —o olhei, levantando as sobrancelhas como se sugerisse a saída imediata do homem.

— Ora, Megan... Não flerte assim comigo, você sabe que eu me apaixono fácil. —agora um sorriso falso e extremamente forçado estava no rosto do homem. 

Eu podia sentir em cada terminação nervosa que ele era problema. Os cabelos negros, longos, os lhos verdes e as olheiras roxas e profundas... A voz grave, o sotaque carregado de alguém que não é desse mundo...

L... L-alguma-coisa...

Loki. Aquele era Loki, o deus da trapaça. O meu assassino. O traidor de Asgard, irmão adotado de Thor. Problema... Com certeza ele era problema.

— Você se lembrou, não é? Pode dizer que sentiu minha falta, Carter. —o olhar totalmente focado em mim me dava arrepios.

— Eu não sou do tipo que sente falta de assassinos, Loki. —tomei uma das doses que estavam à minha frente.

— Mas é do tipo que salva heróis, não é, 'Maggie'? 

Loki falara de uma maneira forçada, como se imitasse Steve. Eu jurava que ele havia falado exatamente com a voz de Steve. 

Quando o ouvi, quando assimilei que ele me provocava em relação à perda de Rogers... Foi um impulso. Em um piscar de olhos as costas de Loki estavam jogadas sobre o balcão do bar, minhas mãos agarrando sua camisa e apertando o tecido como se fosse o próprio pescoço dele.

 Chega de cena. —uma outra voz, também masculina e grave, soou. Agora, o meu piscar de olhos não envolvia uma agressão física a um deus irritante, mas, sim, a mudança completa de ambiente. O bar no qual eu estava sumiu completamente da minha vista. 

Estávamos em um cômodo amplo, na frente de uma grande escadaria. Agora, sem o balcão do bar para apoiar suas costas, Loki estava jogado no chão claro do lugar. E, infelizmente, meu corpo sobre o dele.

Minhas mãos ainda agarravam o tecido negro da blusa dele quando a visão de Megan sanguinária se desativou e eu pude perceber a proximidade desnecessária entre nós.

— Não me olhe assim, Megan. Eu é quem sou belo demais para você.

Levantei-me em um pulo, já com uma feição de nojo à Loki. 

Nas escadarias, pude ver um vulto. Virei-me rapidamente, dando de cara com mais um homem que eu conhecia: Stephen Strange. Lembrei-me imediatamente da feição dele da primeira vez que encontrou Loki: o desprezo, a preocupação. Ele estava com a exata mesma feição.

Problema... Aquilo indicava problema.

— Agente Carter. Ou Stark. —sua feição de confusão com meu nome durou cerca de um segundo, e logo ele voltava com a cara de preocupação de quem estaria lidando com a possível eclosão de uma catástrofe. — Pela sua fixação em olhar minhas expressões e minha postura, tenho certeza que já notou que estamos ferrados. —um pequeno sorriso se fez presente em Strange antes de mudarmos de cômodo em outro piscar de olhos.

Agora, no entanto, estávamos à frente de uma grande janela de vidro que possuía algum símbolo em metal.

— Vocês estão trabalhando... Juntos? 

Minha pergunta atraiu um olhar de nojo de Stephen e outro de satisfação de Loki. É claro que o deus que amava ironias e tirar a paciência de pessoas se manifestou primeiro.

— Todos amam trabalhar comigo, Megan. Eu sou um poço de conhecimento e altruísmo. 

— Claro, Laufeyson. Quando você não está se transformando em cobras ou esfaqueando pessoas, tenho certeza que é uma joia preciosa.

Stephen revirou os olhos, levitando até chegar à beirada de uma mesa com um livro aberto nas mãos. O livro também levitou, depositando-se lentamente sobre a mesa.

— Algo está errado. Algo errado está aqui, na verdade. Eu pensei que fosse Loki, pensei que deveria expulsá-lo do nosso planeta mais uma vez, mas... Não é ele. Eu estou sentindo um invasor e, ainda assim, não é ele.

A voz de Stephen era mórbida, monótona, inconformada.

— Até onde meus flashbacks me permitem lembrar, você encontrou Loki em minutos, Stephen. O que está te impedindo de rastrear a coisa?

— Eu também não sei, Megan. É como um... Frio na barriga. —a feição dele se iluminou com a comparação, e eu podia sentir de longe a velocidade com a qual a mente de Stephen trabalhava naquele momento. — Eu posso sentir que tem algo errado, mas ele não me dá direções porque, ao mesmo tempo, não passa de uma sensação. Ou de uma dedução.

Cerrei os olhos, tentando entender onde aquelas doideiras estavam nos levando.

— Calma, Sherlock. Você quer dizer que precisa de ajuda para encontrar o tal invasor da Terra? —Stephen acenou com a cabeça enquanto eu suspirava, passando a mão direita pelo rosto em um ato desesperado.

— Nós formamos um trio impressionante. —Loki se manifestou novamente, um tom sarcástico. 

—  Sério? Você tem, por acaso, algo a acrescentar aqui ou só vai seguir fazendo comentários estúpidos e desnecessários, Loki?

Assim que terminei de julgar seu comportamento, Loki se aproximou violentamente. Seus olhos arregalados num tom psicótico, ligados aos meus.

— Você quer que eu acrescente algo, Carter? Que tal que eu sei que essa coisa que está aqui é de outros planetas ou dimensões, que eu tenho certeza que está ligado a você e que pode estar conspirando contra a volta do irmão que eu estou tentando a salvar há cinco anos, enquanto você brincava de Frozen em Wakanda? Isso é suficiente para você?

Loki calou a minha boca. Calou cada uma de minhas acusações e mágoas. 

Ele estava procurando por Thor. Ele sabia que a coisa estava ligada... A mim?

Stephen notou a minha feição confusa, voltando a falar em seu tom amedrontado.

— A... "Coisa"... É forte, Megan. Consegue nos despistar, não sei como. Mas sei que esteve ao seu redor recentemente. Pode estar te seguindo, vigiando, não sei... Mas está ao seu redor.

Comecei a pensar em todas as pessoas com as quais tive contato desde que fui descongelada. Ninguém de diferente, ninguém que eu já não conhecesse há anos. 

Entretanto, um nome surgiu em minha mente: Sharon.


N/A: VOCÊS ESTÃO PREPARADXS PARA DESCOBRIR QUEM É A COISA? OU O QUE É A COISA????? AAAAAA GENTE É BOMBÁSTICO JURO

E COMO NÃO AGUENTO SEGURAR SPOILER: VAI TER HERÓI (ou HEROÍNA) CHEGANDO NESSA FIC EM BREVE PARA ABALAR TODAS AS ESTRUTURAS POSSÍVEISSSSS SOS

 espero que gostem <3


Um alinhamento importante para quem me segue: estou pensando em participar de alguns concursos de fanfics do Wattpad, então vão ter historinhas novas! Espero que gostem²

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[Não é polêmica] Falaram sobre o porquê da Ashley Greene ser a minha Megan ideal. Vou falar um pouquinho sobre isso: eu gostaria muito de ter colocado alguma brasileira porque gosto muito de aspectos latinos nas minhas histórias. Porém, como a Megan seria rata criada de Nova York e irmã do Tony, não vi chances. Ainda assim, não queria uma padrãozinho loira de olhos claros, queria uma mulher mais real. A Ashley é uma atriz que eu admiro desde Twilight (SÉRIO, A ALICE CULLEN ERA MINHA FAV DE TODA A SAGA) e ela é linda, mas não deixa de ser morena, olhos castanhos e corpo normal. Por isso, peço que vocês sempre imaginem a Megan como uma mulher real, como se pudessem esbarrar com ela na rua. Não gosto de personagens idealizadas, gosto de personagens reais, que tem problemas reais, que tem ansiedade, que tem medo de altura, que tem traumas de infância e sofrem com eles todos os dias... Se fugi disso, já me desculpo. Mas é isso aí! Agora um gif ITI MALIA da minha Ashley no auge da beleza em Eclipse <3

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