Capítulo XIV- Inimigos


Megan estava parada entre duas lápides.

De um lado, seu irmão desconhecido. Anthony Stark. Parecia ser um homem mimado e egocêntrico, de um coração enorme e que se preocupava com todos a sua volta.

Do outro, Steven Rogers. Seu ex-amado. A voz de sua cabeça que a mimava, cuidava e até mesmo fazia lembretes de comer direito. Ela sentia a conexão intensa que possuía com ele, sentia o carinho e o vício nos olhos azuis que tanto a puxavam para uma bolha. Evitava pensar nesses sentimentos para com uma voz, mas era quase impossível não sentir nada quando ele aparecia em sua frente, um sorriso no rosto e seus cabelos loiros brilhando. Mais impossível ainda não querê-lo por perto, seguro e protegido, quando o viu na situação deplorável que estava. 

Ao redor, outras lápides que também traziam um aperto em seu corpo e cabeça. Natasha Romanoff, Bruce Banner e uma estátua grande de um Thor envolvido por trajes de rei e raios tomando seu corpo.

Os Vingadores. Ela estava no cemitério de homenagem e honra aos Vingadores. 

Seus olhos faíscavam e varriam o ambiente, buscando por qualquer pista que indicasse onde estariam Bucky e Peter. Ao longe, atrás de si, algo se destacou. Megan começou a andar na direção de um grande e velho carvalho, notando um pedaço de papel branco colado ao tronco.

Aproximou-se o máximo possível, ainda tomando cuidado com tudo à sua volta. Assim que seus olhos estavam próximos o suficiente, analisou o papel. Mesma caligrafia, agora com menos borrões. Aquele bilhete fora mais planejado e escrito sem pressa. 


"Você não devia se preocupar tanto com um pedaço de papel quando está sendo seguida e vigiada."


Assim que os olhos de Megan passaram pela última palavra, seu corpo já estava em alerta total. Ela se virou para trás rapidamente, em um impulso, mas era tarde demais. Algo duro estava encontrando sua cabeça de forma violenta e logo tudo estava escuro.



Megan podia sentir sua cabeça doendo em um ponto específico, um ardor forte que derramava sangue. O local que fora acertado há pouco.

Moveu as mãos e pernas, notando que não estava jogada no chão do cemitério como esperava. Estava em pé, presa por correntes a uma superfície atrás de si. Franziu o cenho quando notou que seu braço direito estava completamente livre, sem nenhuma algema ou corrente. Mas apenas ele.

À sua frente, tudo era um breu.

— Onde eu estou? —gritou de um modo desesperado, esperando que a aberração que a sequestrou estivesse por ali para esclarecer as coisas.

— Ora, finalmente. A grande Megan Carter Stark nos deu o prazer de sua presença! —uma voz metalizada soou, não deixando que a agente a identificasse.

Megan olhava em volta, buscando quem o "nos" poderiam ser. Uma única luz se acendeu, a alguns metros dela, iluminando um pequeno círculo no local. Sob a luz, um corpo. Um corpo pequeno, desacordado, estirado.

Peter.

Os olhos de Megan se arregalaram, seus pés tentaram, em vão, dar um passo à frente.

— Peter? Peter, acorde! —sua voz continuava alta, desesperada. Viu os dedos do garoto se mexendo minimamente com o som, sendo tomada pelo alívio de saber que ele estava vivo. — O que você fez com ele?

Ela olhava a sua volta, buscando a origem do som.

— Você tem um círculo social bem interessante, Megan. Irmã de Tony Stark... Namorada de Steve Rogers... Melhor amiga de Peter Parker... Teve até um caso com o Soldado Invernal!

Megan sentia seu corpo em ebulição, sua respiração descompassada e suas mãos esperando para quebrarem a cara de alguém. Algo estava errado, entretanto, quando notou que seu sequestrador havia falado os nomes de verdade dos seus heróis, menos o de Bucky. O calafrio que tomou sua espinha ao pensar o que aquilo poderia significar se intensificou quando a voz voltou a falar.

— Fiquei sabendo que sua mente está toda fodida, então pensei em um joguinho perfeito para descobrirmos o que ela é capaz de fazer, Megan! Para nossa diversão ser ainda maior, vamos contar com a ajuda de Peter e do meu querido amigo, Soldado Invernal.

Assim que aquele nome foi falado, uma silhueta se moveu ao canto direito do lugar, dando alguns passos até a luz precária do local darem a oportunidade de Megan reconhecê-la.

Bucky. O rosto machucado, os olhos vazios e longínquos. A feição sem sentimentos, sem pensamentos. O punho fechado, o braço de metal tilintando. Todos sabem o que isso significa.

— É muito simples, minha cara. Encontrei um livro de couro com uma estrela na capa, aprendi algumas palavras em russo que significam "mate o garoto", deixei uma arma com apenas uma bala do seu lado direito e, em algum momento, você vai ter que escolher qual dos dois bonitinhos vai deixar vivo. Se matar Peter, a missão do Soldado termina. Se matar Bucky... Peter vive. E seu amante sanguinário nunca mais vai conseguir matar ninguém. Você já deve ter percebido, Megan, mas acho a mente das pessoas algo fascinante. Estou ansiosa para saber o que a sua vai fazer.

Ao lado direito de Megan, podia ver um revólver prateado brilhando sob a luz baixa do ambiente. À frente dela, um Peter acordando e um Bucky com feições assassinas olhando-o fixamente.

O frio em sua barriga a dava náuseas, sua cabeça girava em trezentos e sessenta graus. Olhava para suas correntes de uma maneira minuciosa, pensando em qualquer coisa que a liberasse dali. Entretanto, seu desespero era tão grande que a atrapalhava.

— Boa sorte, Megan. Soldat, убить ребенка.

A ordem fora dada.

Megan pôde ver o exato segundo em que Bucky começou a se mover para frente, chegando ao Peter que ainda estava jogado no chão, tentando se reencontrar, em questão de segundos. A mão de metal dele envolveu o pescoço do garoto, que se assustou e envolveu o punho de Bucky com ambas as mãos numa tentativa desengonçada de se soltar.

— Sargento Barnes? —a voz desesperada e rouca de Peter soava.

Megan continuava em choque, a mente acelerada em duzentas maneiras de tentar ajudar Peter. Ele já estava vermelho, ficando sem ar, quando algumas coisas tilintavam na cabeça dela. Tony, parado em frente a uma mesa instruindo alguns agentes do governo sobre como capturar Steve.

— Acerte as pernas, Peter!

O garoto chutou a lateral do joelho direito do homem, fazendo-o se desestabilizar e conseguindo se soltar por alguns segundos. Não demorou muito até Bucky acertar um soco no rosto dele, deixando-o no chão novamente.

Peter conseguiu conter alguns dos socos, mas ainda teve o rosto acertado várias vezes. Megan já podia ver o sangue decorando o rosto dele, alguns cortes profundos sendo abertos enquanto ele tentava fugir do soldado sanguinário.

As mãos fechadas em punho de Megan já faziam as unhas dela cortarem sua pele em nervosismo, seus olhos tentando ao máximo evitar o objeto ao seu lado. Ela vasculhava sua mente por mais memórias, por maneiras de fazer com que aquilo acabasse.

Um grito de dor de Peter quando Bucky o puxou pelo braço fez lágrimas saírem de seus olhos. A mão dela, em um reflexo, agarrou o metal frio e prateado do revólver.

Ela levantou o braço, a mão firme no cabo da arma. Seus olhos descontrolados e marejados olhavam fixamente o rosto de Bucky, fazendo com que sua mira fosse um ponto específico no meio crânio dele. Quanto mais olhava para o rosto dele, para seus cabelos longos esvoaçando em seus movimentos, mais lágrimas tomavam o rosto dela. Lembrou-se do sorriso de Bucky, do dia em que o conheceu na porta de seu apartamento. De como ele corava com flertes, de como era gentil e de como sua voz era macia e controlada quando lidava com ela. Um soluço escapou de sua garganta quando sequer imaginou apertar aquele gatilho.

Megan não conseguiria machucá-lo.

Seus olhos foram ao outro lado da luta. Peter Parker. A mira da arma acompanhou seus olhos, estando fixa no peito do garoto. Sentiu ainda mais dor, vendo-o tão machucado, frágil e amedrontado. Sua mente lhe mostrou Peter a abraçando, sorrindo e revelando covinhas em seu rosto. Mostrou-lhe a faixada de uma escola, um banco de um parque. Mostrou-lhe a lanchonete na qual trabalhou, seu corpo no chão com uma bala no peito.

Um urro de dor escapou de Megan, sabendo que, se não conseguiria acertar Bucky... Nunca poderia fazer aquilo com Peter.

 Há três pessoas nessa sala, Megan. —uma voz desconfigurada soou ao seu lado, atraindo, no mesmo segundo, a atenção da mulher. O que encontrou foi olhos verdes, um cabelo ruivo e uma feição encorajadora. —Não precisa ser eles.

Megan a encarava com total cuidado, tentando entender as entrelinhas. Sabia muito bem que aquela era Natasha, uma das melhores espiãs que já existiram. Sabia que ela era inteligente, estratégica. Natasha não apareceria simplesmente para sugerir suicídio.

Megan olhou para frente novamente, vendo Peter esgotando suas forças ao tentar manter as mãos de Bucky longe de si. A ideia de Natasha finalmente piscou em sua cabeça.

— Peter, traga-o até aqui!

Parker a olhou, em dúvida, mas não tinha muitas opções senão fazer o que Megan pediu ou ser morto por um soldado que não atendia aos seus chamados de "Bucky".

O garoto deu um soco no rosto dele, safando-se do aperto de sua mão de metal e logo correndo até Megan. Não muitos passos depois, o Soldado já o havia alcançado. Peter deu uma cotovelada nas costelas dele, depois agarrando-o pelas roupas e jogando seu corpo para perto de Megan.

A mulher, sem hesitar, chutou o rosto dele. O Soldado, numa expressão de raiva, olhou diretamente para os olhos dela.

Nesse segundo que teve a atenção do homem completamente para si, Megan agarrou a arma com força. Depositou o cano gelado em sua própria cabeça, deixando-o mirado diretamente em sua têmpora.

— Você não é um assassino, Bucky. Você não é um assassino. —os olhos dela despejavam lágrimas enquanto os olhos gélidos e distantes dele continuavam em si. — Você é meu vizinho.

Megan pôde notar uma pequena confusão na feição dele. Estava dando certo.

Mas, o que dava ainda mais certo naquele momento era a cabeça ferrada da mulher.

Os olhos verdes de Bucky eram o ponto de foco dos olhos dela, mas sua mente voava e alternava entre diversos momentos. O dia da ponte, quando o viu pela primeira vez. O apartamento dele, quando se tornaram amigos. As noites com filmes que ele havia perdido durante os anos no gelo. Wakanda, quando ela chorou por perdê-lo para o gelo novamente.

— Você é meu amigo.

Bucky ajoelhado, sendo preso por culpa dela. Tony o espancando quando descobriu a perda de seus pais. Os sorrisos, os olhos expressivos. Os toques gentis e os abraços carinhosos.

— Eu sou sua Megs. —Megan voltou à realidade, notando o quanto Bucky estava entregue para aquela conexão naquele momento. — Até o fim da linha, lembra? Todos nós, até o fim da linha, Buck.

Ele continuava com a feição confusa, agora um tanto raivosa. Era doloroso se lembrar de algo, Megan sabia disso. Mas ela precisava que ele abraçasse aquela dor e se lembrasse de quem era. Ela não o deixaria com o peso de mais mortes na consciência, muito menos de alguém como Peter.

— Não. —a voz fria e sem sentimentos de Bucky soou, agora trazendo calafrios em Megan. — Eu não sou nada seu!

Ele começou a se levantar, estando tão perto de Megan que ela podia sentir sua respiração pesada e descompassada.

— Não é? Então não será um problema eu fazer isso.

Megan afastou o cano da arma de sua própria têmpora, deixando-o a alguns centímetros de sua pele. Ajeitou a mira, ainda com foco em um local que a matasse em questão de um piscar de olhos.

Bucky acompanhou cada movimento atentamente, principalmente o dedo da mulher chegando ao gatilho.

Ela fechou os olhos, puxando o pedaço de metal para trás e já ouvindo o som alto e inescrupuloso do tiro que desferiu contra si mesma.

Estava preparada para sentir a bala perfurando sua cabeça e tirando sua vida, mas tudo que sentiu foi algo de metal encostando em sua cabeça no mesmo segundo.

Os olhos dela continuavam fechados, o medo e a adrenalina tomando seu corpo por completo.

Quando finalmente abriu os olhos, pôde ver um Peter chocado com as mãos na cabeça ao longe.

E, em sua frente, tão próximo que podia sentir o corpo contra o seu, Bucky.

A mão de metal dele entre a arma e sua cabeça.

Os olhos vermelhos, uma única lágrima escorrendo em seu rosto.

O Soldado sanguinário, assassino e despedaçado havia salvo sua vida. 




N/A: ai mi corazón

O que vocês acharam desse capítulo? 

Só de pensar na Megan matando o Bucky meu coração já da 50 piruetas e meu olhos escorrem 100 lágrimas... Tadinho do Peter, imagina o trauma dele agora toda vez que ver o Bucky :(

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