Capítulo X- Natal e explosões
Megan estava estirada em sua cama gigantesca que dava a sensação de estar afundando em um marshmallow, divagando sobre aleatoriedades por três horas. Ela não conseguiu dormir desde o incidente com a projeção do homem loiro, revirando-se de quinze em quinze minutos, com os olhos azuis fixados em sua mente como uma fotografia.
Desde então, não ouvira mais nada dele.
— Voz? —tentou provocar qualquer conversa ou manifestação, mas um silêncio fulcral se instalou por cinco minutos. —Por que você sumiu?
As mãos dela se cruzaram sobre sua barriga enquanto ela olhava ao seu redor de um modo desconfiado e ansioso. O silêncio continuou.
— Nem as vozes da minha cabeça gostam de mim. Ótimo. —ela bufou, levantando-se num pulo raivoso da cama e se arrastando pelo quarto.
— Eu já disse que não sou uma voz da sua cabeça, Carter.
Ela se assustou, quase indo ao chão em um tropeço quando a voz mais frequente em seu ouvido ressoou. Virou-se, dessa vez rapidamente, buscando pelos olhos azuis que não haviam deixado os seus próprios descansarem.
Eles estavam lá.
Os cabelos claros dele estavam ofuscados pela luz amarelada do ambiente, mas seus olhos continuavam brilhantes como da outra vez.
— O que você é então? Um espírito preso, tipo naquele filme do Mark Ruffalo?*
O homem sorriu. Um sorriso lindo, que deixou Megan arfando por alguns segundos.
— Eu sou o Steve. É o que você precisa saber por enquanto.
Assim que essas palavras ressoaram no ambiente, ele sumiu. Se foi diante dos olhos de Megan, se desfazendo no ar como poeira.
Os olhos de Megan pararam de funcionar no mesmo instante, como se tivesse um tipo de óculos de realidade virtual que a mostrava um outro mundo.
E tudo o que ela via era... Aquele homem. Os olhos, o maldito sorriso, os cabelos brilhantes... Até uma versão dele de barba se fazia presente nos pensamentos dela. Ao mesmo tempo, sua cabeça pulsava com pontadas doloridas, como se tivesse sofrido uma concussão.
Megan prestava atenção em cada imagem, em cada versão daquele Steve que sorria e a abraçava. Era exatamente a mesma coisa que aconteceu com Peter no dia que ele fora baleado.
Droga...
Quando Megan voltou à realidade e seus olhos voltaram a lhe mostrar o quarto caramelo e luxuoso no qual esteve o tempo todo, fisicamente falando, ela notou que estava no chão, caída.
Levantou-se em um pulo, decidida a procurar Shuri.
Steve... Ela tinha certeza que era aquele o nome. Ela sabia, o tempo todo, que o passado dela estava relacionado àquelas vozes. Ela não podia mais se esconder disso, não quando Steve estava ali, ao seu lado.
Ela saiu do quarto, indo rumo às escadas para a sala de estar da mansão. Desceu cada degrau decididamente, com um único pensamento em mente: "eu quero encontrá-lo".
Quando já estava no rumo da porta, ouviu um barulho na sala.
— Megan! Oi! —a voz feminina e doce a chamou.
Pepper estava sentada no meio da sala, cercada por muitas caixas de papelão e tendo algo em sua frente que não estava ali horas atrás: um pinheiro. Um pinheiro de Natal enorme, verde, perfeito como em um trailer de filme.
— Pepper... O que está fazendo? —o destino de Megan se alterou, tendo uma curiosidade no porquê de uma CEO da maior indústria de tecnologia do mundo estar montando uma árvore de Natal em sua casa às cinco da manhã.
Pepper se levantou, entrelaçando os dedos na frente de seu corpo. Sua saia lápis estava cheia de pequenas folhas verdes e muito glitter, provavelmente caído dos enfeites. Seu olhar era um pouco ressentido e preocupado.
— Eu... É que... Não comemoro o Natal há cinco anos, Megan. Não podia fazer isso sem o Tony, porque ele era o meu único motivo de ser grata pela vida que tenho. Mas, esse ano, com você aqui... Algo mudou. Não sei se é pelos seus olhos, que me lembram os dele, ou alguma coisa sobrenatural que me faz sentir a presença dele me guiando e protegendo, mas algo mudou. Pensei em comemorar... Com você. —os olhos de Pepper já estavam marejados ao fim da explicação, trazendo um desconforto em Megan. Ela odiava essas demonstrações de afeto de pessoas que não conhecia realmente e já ensaiava cem desculpas diferentes para simplesmente sair por aquela porta e não voltar mais ali.
Mas, ao lado da árvore, ela também podia ver que algo mudou. Uma silhueta estava encostada ali, e não era Steve. Era um homem mais baixo, mais magro e velho. Era moreno, seus olhos castanhos profundos encarando o rosto de Pepper acompanhados por um pequeno sorriso saudoso.
Tony. Aquele era Tony, ela tinha certeza.
Megan não havia feito nada de bom ou certo até ali. Havia machucado um garoto, matado um homem, brigado com mais alguns... Sua vida era uma bagunça. A única pessoa que realmente a acolheu com um lar e lhe deu alguma importância foi Pepper. Além da voz, é claro. E ali estava ela, com a possibilidade de trazer um mínimo de alegria e conforto para uma mulher que perdeu o homem que amava. E, até onde sabe, Megan passou pelo mesmo e não aguentou viver. Não aguentou viver com as memórias e com o presente sem seu Steve. Pepper era muito mais forte que ela e merecia qualquer demonstração de respeito e consideração.
Por isso, a resposta de Megan foi:
— Sim. —Pepper a olhou com mais curiosidade, já deixando um sinal de sorriso tomar seu rosto. —Eu quero passar o Natal com você, Pepper.
A mulher não teve alguma resposta de fato. Apenas se moveu, indo na direção de Megan rapidamente e a envolvendo em um abraço forte e acolhedor.
Megan ficou contrariada por um tempo, mas logo retribuía com a mesma intensidade. Aquela foi a primeira vez que se sentiu importante para alguém, para além de qualquer relação com quem era. Pepper estava prezando pelo presente com ela, e não a obrigando a reviver o passado.
—... e ele disse que me daria DOZE por cento do crédito! —Pepper falava descontraidamente, rindo ao fim de sua história.
Megan também riu, derrubando um pouco do vinho no tapete branco e felpudo em que as duas estavam jogadas há mais de quatro horas.
— Droga! Vou pegar um pano para colocar aqui e já volto! —ela já se levantava meio cambaleante, nem fazendo ideia de onde poderia encontrar produtos de limpeza naquela casa enorme.
— Estou tão bêbada que poderia lavar esse tapete agora mesmo! —Pepper falava enrolado, jogando o corpo para trás e se encostando no sofá enquanto comia mais uma fatia da pizza natalina que as duas pediram.
A morena apenas riu da constatação, indo a caminho da cozinha. Fuçou em algumas gavetas e armários, finalmente encontrando uns guardanapos que poderiam amenizar aquela mancha.
Quando se preparava para voltar à sala e se alcoolizar ainda mais com Pepper, ouviu barulhos de passos. Mas eram diferentes. O que encostava no chão era algum sapato com solado de borracha, fazendo um som leve e fino. Pepper havia tirado seu Louboutin de salto há muito tempo.
Megan abriu uma outra gaveta, pegando uma faca de cortar carne que brilhava em um prateado perigoso. Andou vagarosamente, escondendo-se atrás de uma parede que daria uma visão ampla de quem estaria ali.
Espiou cuidadosamente, encontrando um corpo completamente coberto por roupas e máscara pretas subindo as escadas e olhando na direção do quarto dela. Aparentemente, a pessoa magricela não encontrou o que queria, parecendo frustrada.
Na sala, uma Pepper Potts estava jogada no chão, inconsciente, a taça de vinho caída e espalhando o líquido por todo o tapete.
Dominada pela incerteza de ver sua nova amiga talvez morta, Megan não hesitou. Lançou a faca na direção daquela pessoa, sabendo que acertaria, no mínimo, o estômago. Entretanto, quando a faca se aproximava, Megan pôde acompanhar um tipo de campo magnético presente na roupa afastando a ponta metálica e afiada de seu destino. Imediatamente, o bandido magrelo virou-se na direção dela, surpreso. Megan saiu de trás de seu esconderijo, preparada para uma luta ou, então, para tomar alguns tiros. Porém, a pessoa apenas jogou algo na direção da sala onde Pepper estava e sumiu pelo quarto de Megan.
Ela correu rapidamente na direção da escada, subindo os degraus como um raio. Quando chegou na porta, pôde notar as cortinas de seda esvoaçando pelo vento que entrava das janelas escancaradas. O bandido saltou.
Tudo que pensou, depois daquilo, foi em chegar a Pepper. Voltou sua atenção à sala, agora sendo relembrada que algo fora lançado ali pelo fugitivo.
Um dispositivo prateado e redondo repousava a dois passos do corpo de Pepper.
Uma bomba.
*Referência ao filme "E Se Fosse Verdade", em que Elizabeth sofre um acidente de carro e fica em coma, tendo seu espírito vagando por sua casa e fazendo companhia a David.
N/A: OI GENTE a atrasada do Enem voltou
Vamos fingir que hoje é Natal e que eu postei no dia certo!!!!
E agora, hein? Será se a Pepper vai morrer antes de ter o Tony de volta? E se ele voltar, vai ficar sem ela?
*eu só to aqui pelas interações stegan, mesmo que no plano espiritual*
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