𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟗 • Morto

EM ALFEA, A ALA LESTE era abandonada, com pedras rachadas e cantos sombrios empoeirados. Mas naquela noite, abandonado era tudo o que aquele local não seria. Viperine realmente não entendia porque não reformavam aquele lugar e o tornavam usável.

    Boa parte do chão estava coberto por cerveja barata que derrubaram, além dos típicos copos vermelhos de festas de fraternidades — não que ali fosse uma escola normal, é claro. O chão chegava a quase ser nojento com o suor, álcool e a poeira já acumulada. Viperine tentava desviar dessas poças, mas estava sendo difícil.

    Uma fogueira ardia e tinha música tocando. A área estava iluminada por luz roxa, quase sendo mágico. Fadas em jeans e tops sexy dançavam em uma roda, jogando os braços para o alto e se beijando.

    Isso fez Viperine revirar os olhos. Não que ela pudesse falar muito já que sabia bem o que era a vida de baladeira adolescente. Ainda assim, ela não entendia o que devia se passar na mentes deles nesses momentos de epifania para quererem se agarrar com a primeira coisa que se mexia que avistavam na sua frente.

    Ela se serviu um copo de plástico com a cerveja barata que, pelo menos, estava gelada. Viperine deu um gole, contendo a careta ao sentir o gosto amargo. Foi no mesmo instante que sentiu a presença de alguém parando ao seu lado.

    — O que tem aí? — perguntou ela, gesticulando com a cabeça para a tupperware nas mãos de Dane.

    — Brownies de maconha — respondeu, sorrindo cúmplice com ela. — A Terra que fez, mas estão fortes.

    — Finalmente alguma coisa que Fadas da Terra são úteis — sibilou ela, aceitando o pedaço que Dane lhe ofereceu. — Forte quanto?

    — Do tipo em que você vai ter uma boa noite se não morrer antes

    Viperine deu de ombros, dando a primeira mordida.

    — Sorte líquida, então — brincou ela, saboreando. E nossa! Dane estava certo, aqueles brownies estavam mesmo fortes.

    — Acabou de fazer uma piada de Harry Potter? — perguntou Dane, quase como se estivesse chocado.

    — Sonserina — avisou. — E você? Lufa-Lufa?

    — Isso era para ser uma ofença? — indagou Dane.

    — Suas palavras, não minhas.

    Viperine não lhe deu tempo para responder, saindo de lá e caminhando para fora da festa. Ela tinha certeza de que viu Riven jogando beerpong contra Aisha e Bloom. Mais certeza ainda de que viu Riven todo estressado ao ter cerveja derramada em sua blusa.

    Ele já deveria estar acostumado, pensou ela, lembrando que a mesma já havia feito aquilo com ele — não que um dia fosse admitir que a culpa era sua. Ela empurrou essa ideia para algum canto da sua mente, caminhando para uma área mais escura.

    Viperine sorriu maliciosa, finalmente a oportunidade perfeita surgira a seu favor. Atrás de uma coluna, escurecido pela noite, onde a luz não alcançava, estava a pessoas que ela jurava que nunca mais cruzaria, mas com os eventos que surgiram em sua vida, ela já deveria ter se preparado para aquele momento.

    Ela se aproximou sorrateiramente, o cercando para garantir que ele não fugiria. Então, atacou.

    — Cadê seu papaizinho? — sibilou ela, maligna. — Já sucumbiu ao veneno do queimado?

    Caralho, Sky queria ter gritado ao ouvir a voz dela. Seu corpo inteiro arrepiou, congelando no lugar sem conseguir se mexer. Sky sabia que aquela Viperine deveria ser a mesma Viperine de ano atrás, mas nada o teria preparado para revê-la em cores, ouvir sua voz, tocá-la... Ele nem sabia o que fazer.

    — Eu juro, Viperine, que se você tiver um dedo de culpa no ataque do queimado...

    — Você vai o quê? — instigou ela, querendo atingi-lo onde doía. — Vai me matar? Você nunca conseguiria tirar uma vida, Sky. Você não é o herói que as pessoas acham que você é.

    — O que está fazendo em Alfea? — cortou ele, rezando para não demonstrar que as palavras Venenosas de Viperine conseguiram lhe acertar, um dor se formando em seu peito. — Sua mãe sabe disso?

    — Deve saber, afinal alguém tinha que assinar a papelada — respondeu, revirando os olhos. — Mas sobre eu estar aqui, Sky, eu vim por você.

    Sky engasgou, desespero estampado em seu rosto — olhos arregalados e a boca aberta em terror. Mas então, Viperine jogou a cabeça para trás, rindo. Ela colocou as ma~so na barriga que doía com o movimento.

    Ele revirou os olhos, bufando a ver que aquilo não passava de uma brincadeira de mal gosto dela.

    — Tinha que ter visto a sua cara — resmungou ela, tentando parar de rir.

    — Você continuar a mesma víbora peçonhenta de anos atrás — xingou ele.

    — Nunca falei que eu tinha mudado, você que me julgou errado — disse Viperine, enigmática. — Mas você tirou algo de mim, Sky. Tirou algo e destruiu, esmagou e jogou num poço sem fundo.

    — Viperine, isso foi anos atrás — tentou se defender.

    — Ah, mas o dano que deixou em mim, Sky, eu nem tenho palavras para descrever o que me fez — sussurrou ela, se aproximando demais dele, do seu rosto. — Não tem noção.

    Sky queria protestar, falar algo, mas não foi capaz, não com o que Viperine fez em seguida. Ela grudou os lábios dela com os beles, puxando-o pela jaqueta e aprofundando o beijo enquanto ele não conseguia se mexer.

    Enquanto isso, Sky não conseguiu pensar em outra coisa do que Viperine e o que já viveram. E Bloom? E Stella? Riven não estava com ela? Viperine o largou com brusquidão, se afastando nas sombras.

    — A gente se vê, principezinho.























    ERA LOUCURA, UMA DAS maiores que já participara.

    A última coisa que Viperine esperava era ir parar na sala de Dowling sem ser para uma bronca. Não. Aquele era o dia em que fariam aquilo. Viperine não sabia onde Dowling estava, mas deveria estar longe dali já que Beatrix lhe chamou com tanta pressa. Ela mal teve tempo de falar algo antes que Verena estourar pela porta.

    — É bom que isso seja rápido porque eu não tenho tempo — avisou.

    Viperine, Beatrix e Callum a olharam dos pés a cabeça, sem entender o porque dela estar toda armada. Era melhor nem perguntar.

    — O que pensam que estão fazendo? — perguntou Callum, finalmente se dando conta do que estava acontecendo. — Isso não era parte do plano.

    — A Bloom está procurando informações sobre a Rosaling. Precisamos soltar ela agora! — exclamou Beatrix, sorrindo debochada e com perigo. — Os planos acabaram de mudar, Cally.

    O mesmo brilho de perigo se ascendeu nos olhos de Viperine, fazendo callum engolir em seco.

    — Quem faz as honras? — perguntou, sorrindo de lado.

    Ninguém teve que responder. Os olhos de Verena escureceram na hora. Ela ergueu a mão no ar, fazendo-o sair do chão. Viperine não entendia direito com o poder de Verena funcionava, mas sabia que era uma das coisas mais fatais que andava entre as dimensões.

    Ela se assustou ao ver Callum tossir sangue, sufocando. O líquido vermelho escorreu de seus ouvidos, seus olhos e seu nariz. Com a armadilha aberta, Verena o jogou contra ela, desativando-a.

    Ele caiu no chão, a respiração fraca que parecia prestes a parar.

    — Ele está mesmo morto? — questionou Viperine, desconfiada, cutucando-o com a bota que usava. — Tipo, já foi dessa para melhor?

    — Claro que não — respondeu Verena, revirando os olhos. — Eu não vou sujar as minhas mãos com ele.

    Verena o arrastou até a parede ao lado da passagem.

    — Beatrix, você desce — mandou. — Veja como as coisas estão lá.

    Viperine a observou entrar e desaparecer a dentro. Enquanto isso, Verena se abaixou ao lado de Callum, tomando sua mão na dela, tirando sua dor. Logo, ela se afastou em direção a mesa, mexendo em seu colar enquanto fechava os olhos com força.

    Verena curvou seu corpo para frente, soltando um grito de dor excruciante que fez até mesmo os ossos de Viperine se arrepiarem. Caramba, o que ela deveria fazer? Viperine não era boa em lidar com situações de emergência que envolviam outras pessoas passando mal.

    — O que foi? Você está bem? — ela arriscou perguntar, seguindo Verena para fora do escritório, no corredor.

    — Não, eu não estou — respondeu Verena. — É a Bloom. Ela está fazendo isso comigo. Mas não de propósito.Você volta para o escritório e espera a Beatrix. Quando ela sair, se livrem dele.

    Viperine abriu a boca para protestar, mas uma aluna — Fada da Água — apareceu em seu caminho. Todos não estavam na festa? Foram seguidos?

    — O que estavam fazendo no escritório da Diretora Dowling? — perguntou ela.

    Verena gemeu de dor, tentando se afastar, mas Viperine a impediu:

    — E a Rosalind?

    — Rosalind não vai sair hoje. Não é vocês que ela quer — respondeu, logo apontando para a fada confusa. — Cuida disso?

    Verena não esperou que ela respondesse, saindo dali em seguida.

    Viperine bufou alto, em seguida colocando o maior sorriso cínico e psicótico que aprendera a criar em momentos como aquele. A fada engoliu em seco, sem entender o que estava acontecendo.

    — Você não deveria ter visto isso — sibilou ela, falsamente lamentando. — Ah que droga! Agora eu vou ter que me livrar de você.

    — O quê?

    Mas o grito que estava pronto na garganta da fada nunca foi ouvido. Em um segundo, seu corpo havia se petrificado sob o olhar de Viperine. Roupas, cabelo, acessórios, tudo era pedra. Uma pela estátua digna de museu — não que fossem realmente usá-la numa exposição.

    O monstro sob a pele de Viperine estava contente com, o trabalho que criara. Muita expressão, visto que era bem evidente o desespero da vítima não planejada. Mas até que aquilo foi bom, talvez direcionasse a atenção dos professores de Alfea para uma equação sem fim. Afinal, que tipo de fada conseguia criar estátuas vivas?

    Viperine caminhou com as mãos nos bolsos do casaco de volta para o escritório da Dowling, dessa vez se certificando de trancar a porta. Ela deu sorte, já que Beatrix saia da passagem no mesmo momento.

    — Teve sorte lá em baixo? — perguntou. — Verena disse que não é hoje que a Rosalind sairia.

    — Achei onde ela está — informou. — Bem profundo, na direita. Tem uma câmara e antecâmara, mas tem uma nova espécie de barreira em volta dela.

    — A desgraçada da Dowling é boa nessas proteções — sibilou, logo suspirando. — Temos que nos livrar do Callum... E da estátua no corredor.

    — Petrificou alguém? — exclamou Beatrix, indignada. — Achei que não teríamos outra vítima por mais algumas semanas.

    — Fada da Água — deu de ombros. — Ela nos viu saindo daqui, tivemos que garantir que ela não falasse nada.

    Beatrix revirou os olhos. As duas caminharam em direção ao Callum no chão, abaixando na altura dele. Ele não estava sofrendo, mas estava imóvel no chão e apenas seus olhos olhavam rapidamente entre uma e outra, como se gritasse por socorro.

    — Pobre Callum — comentou Beatrix, falsamente lamentando. — Foi idiota uma humano achar que seria importante no nosso mundo ao ponto de não nos livrarmos dele.

    — Por mais que você parecesse um pedófilo gigante, Cally, eu até gostava de você — comentou Viperine. — Vou sentir sua falta, tá? Mas prometo que não vou chorar.

    Em um impulso, raios varreram o corpo de Callum, o eletrizando por segundos torturantes. Até que acabou. Seu pescoço tombou de lado numa posição estranha. Morto. Ah, deuses acima, suspirou Viperine, levantando-se e estalando o pescoço.

    — E aí? — perguntou ela chamando a atenção de Beatrix. — Sabe como esconder um cadáver?


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23.10.21

𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:

Algum teoria sobre Viperine e Sky? Já aviso para se prepararem que temos altas emoções chegando.

Agora vou tentar não surtar de ansiedade, mas vocês podem ir para o capítulo da Donatumblr porque ela deve ter aprontado algo já que quer ver minha reação quando eu ler!

E não esqueçam de nós contar o que estão achando, suas opiniões são importantes demais para nós enquanto estamos planejando os capítulos.

VOTEM e COMENTEM
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