𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟕 • Labirinto

DROGA, xingou Viperine mentalmente assim que pôs os pés na estuda. Ela deveria começar a prestar mais atenção e não deixar seus pertences esquecidos pelas inúmeras salas de aula de Alfea.

    Não que fosse algo até que ruim ter que andar de um lado para outro por aí, mas o problemas em si estava nas pessoas — a pessoa — que ela infelizmente sempre encontrava quando tinha que voltar para a estufa.

    Era como se Terra não tivesse uma vida social e passasse o tempo todo com seu pai ali. Onde Harvey estava, Viperine não sabia. Provavelmente com o Diretor Silva que estava ferido depois do ataque do queimado.

    O ataque, também conhecido por ela como o dia em que foi estrangulada. Ou melhor, que Anakin foi estrangulado. O que foi feito contra a cobra foi refletido contra o corpo físico de Viperine. Ela deveria seguir o conselho de Verena e começar a deixá-la solta apenas no quarto...

    Mas ela já fizera isso. Justamente deve ser o motivo pelo qual a diretora Dowling havia lhe mandado comparecer em seu escritório no final do dia. A lembrança disso fez o corpo de Viperine se arrepiar por completo, nem um pouco feliz.

    — Ah, eu guardei para você — disse Terra, mal deixando que Viperine dissesse algo antes. — Esqueceu seu cachecol aqui mais cedo. Por que está de cachecol hoje, aliás?

    — Estou com frio — respondeu, friamente.

    — Está um calor de 28oC lá fora — riu Terra, nervosamente. — E você está de casaco felpudo... É pelo sintético? Não está com calor, não?

    Viperine fechou o punho, quase sentindo suas unhas perfurarem a palma de sua mão. Ela sempre fora uma pessoa mais calma, quase que antissocial. Não suportava pessoas como a fada na sua frente. Nenhum dia, nenhuma hora, era bom testar a paciências explosiva e limitada de Viperine.

    Ela fechou os olhos com força, tentando afastar os instintos assassinos do monstro que se escondia em baixo da sua pele.

    — Ei, o que é isso? — perguntou Terra, apontando para o torço dela. — Isso não marcas de arranhado? Não, parecem mais com as estrangulamento.

    Ela estava prestes a explodir, transformar a fada na mais fria e dura estátua que já fizera em sua vida.

    — Me deixe ver — pediu Terra, avançando. — Acho que consigo curar com um pouco de cânfora.

    — Fique longe! — gritou Viperine, há um centímetro de sentir as mãos de Terra lhe tocarem. — Você sabe o que quer dizer espaço pessoal ou preciso desenhar? Não, quer saber? Acho que sei o porque do Dane te usar, porque você é tão fraca e patética e...

    — O Dane não me usa — exclamou Terra, ofendida. — Nós somos bons amigos. É, somos amigos. Melhores amigos.

    — Ah, então quer dizer que entre eu e você, ele escolheria você, Terra? — provocou, maligna. Terra engoliu em seco. — Abre os olhos, garota. Você tenta se fazer de forte e confiante, mas não passa de um bebêzinho frágil e assustado.

    As feições um dia felizes de Terra morreram. Ela ficou sem palavras, sem saber como se defender das ofensas venenosas de Viperine. Ela pensou se já tinha feito algo contra ela, mas só se lembrava de ter sido legal e educada.

    Mas sabia Terra que esse era o problema. Ser legal demais era cansativo para qualquer um, as pessoas se aproveitavam de você e te usavam sem dó e nem piedade.

    Terra não percebeu o que aconteceu na estufa até Viperine arrancar o cachecol de sua mão e sair em disparada pela porta. Todas as plantas, flores e raízes da estuda estavam mortas.

Deuses, que droga era aquela?

    Terra, assustada, caminhou em direção a uma samambaia pálida e ser cor — sem vida. Cuidadosamente, ela deu um peteleco na folha comprida, vendo-a quebrar e se esfarelar pelo chão, como mármore esculpido.

    Ela repsirou fundo, tentando manter a calma. A porta da estufa foi aberta de repente, quase fazendo seu coração pular para fora da cavidade toráxica.

    — Terra — chamou Harvey, seu pai, tão assustando quanto ela com a visão da tão bem cuidada estufa. — O que aconteceu?

    — Não faço ideia.























— POR QUE ELA FALA UM HORÁRIO e nem mesmo vai estar aqui?

Viperine mal pode tentar responder a pergunta de Beatrix com alguma ironia. No mesmo instante, suas gargantas foram esmagadas por mãos invisíveis.. Estavam sendo sufocadas. Fossem os sentidos se apagando ou não, até parecia que estavam sendo levantadas do chão.

A cabeça delas doía, como se fosse explodir com a falta de circulação que se formava. No que pouco viram, sombras maiores estavam atrás delas, as segurando. Era aquele o poder oculto de Verena? Aquilo com certeza não era toda a sua extensão... Viperine não tinha nenhum pouco de vontade de conhecê-lo por completo.

Os olhos de Verena estavam tão negros quanto a noite, mais escuros que assas de morcegos. Sua mão estava levantada, poder saindo de dentro de si. Nos olhos dela... Se aquelas duas olhassem para eles por mais tempo, veriam seus maiores medos, seus maiores pesadelos.

Viperine desmaiaria.

Beatrix colocou as mãos em volta do próprio pescoço, tentando aliviar a pressão. As duas chamaram o nome de Verena, mas foi em vão.

Então, o domo de escuridão de desfez completamente. A pressão na garganta de Viperine e Beatrix passou no mesmo instante, mas as duas caíram no chão, tossindo enquanto esperavam que a respiração voltasse ao normal.

— Que merda foi essa? — grunhiu Viperine, a voz rouca.

— Eu espero que consigam explicar as merdas que vocês têm feito — disse Verena, ignorando Viperine. — Me desobedeceram e soltaram o queimado. E agora, Viperine, você arruinou a estuda e com ela o Zambak do Silva.

— É fácil conseguir Zambak — alegou, levantando-se rápido demais, sua cabeça rodou. — Tenho certeza que vocês já conseguiram mais a essa hora.

Verena cruzou os braços, os lábios em uma linha reta.

— Pode ser fácil, mas não vai sair barato — respondeu, entredentes. — Eu vou ter que ter o trabalho de correr atrás de tudo o que você destruiu.

— Alfea tem fadas da terra, Verena — interferiu Beatrix, a voz tão rouca quando a de Viperine.

— Fadas novatas que não sabem recuperar as coisas em grande escala — afirmou.

— Então, não sei — reclamou Viperine, revirando os olhos. — Ligue para Luninha e mande trazer mais fadas.

Poderia ter sido por causa da ironia, ou pelo sarcasmo ou pela desacato à vossa majestade real... Viperine nçao sabia mais dizer. Somente nela, não em Beatrix, por dentro seu corpo parecia pegar fogo. Ela se contorceu, contendo um grito de dor que estava lutando para sair do fundo de sua garganta. Ah, a dor do Inferno novamente!

— Eu já estou bem irritada — rosnou Verena, a causadora da dor. — Então é melhor você não me provocar. Porque acredite, eu posso fazer você ver o Inferno.

Eu já estou nele, queria ela poder dizer.

Beatrix, vendo Viperine prestes a desmaiar de dor, suplica:

— Ela já entendeu, Verena.

Era como se nada tivesse acontecido com Viperine. Nenhuma marca ficou em seu corpo quando Verena a soltou. Viperine se deixou permanecer estatelada no chão, apenas respirando enquanto a sombra e a grama molhada aliviavam a queimação espalhada pelo seu corpo.

— A Viperine eu sei que foi por birra, já que não consegue ser madura e aceitar uma ordem — comentou Verena, pensativa. Viperine queria ter forças para responder. — Agora você, Beatrix, qual foi o seu motivo?

Beatrix trocou olhares com Viperine no chão, engolindo em seco antes de responder.

— Porque precisamos agir rápido. Do seu jeito, talvez levemos o ano inteiro.

Verena respirou fundo, bufando.

— Em poucos dias, mais queimados vão chegar na barreira — avisou. — Essa seria a distração.

— E você não pensou em nos dizer isso antes? — exclamou Viperine, tirando forças da terra.

— Eu ia, mas infelizmente a decisão estúpida de vocês não me deu tempo — alegou. — E agora eu tenho soldados mortos e o Silva infectado. E para piorar, não temos mais Zambak nessa escola.

Viperine tentou se levantar, mas apenas conseguiu se sentar antes que outra onda de tontura e dor a atingisse com força.

— Posso petrificar o Silva — sugeriu ela. — Teoricamente, deve interromper o veneno do queimado na corrente sanguínea dele.

— Talvez porque ai o Silva nem vai ter mais uma corrente sanguínea — rebateu Beatrix, fazendo Viperine revirar os olhos em desgosto.

Verena as observou bem, provavelmente pensando em como ainda eram infantis. Talvez isso nunca mudasse, no pior dos casos.

— Eu me importo com vocês duas. E eu odeio machucar as pessoas que eu gosto — disse Verena, nitidamente cansada e irritada. — Mas eu juro que se mais alguma coisa acontecer com ele por culpa de vocês, eu as mato.

Beatrix e Viperine engoliram em seco. Nenhuma das duas teve coragem ou chance de responder, Verena já caminhava para fora do labirinto, deixando as duas para trás.

As duas garotas se entreolharem, pensando a mesma coisa: elas tinham que começar a andar na linha, caso contrário... Viperine nem queria pensar.












VIPERINE ENCAROU CALLUM, ignorando a existência dele enquanto subia os poucos degraus até a sala de Dowling. Callum, levantou-se rapidamente, falando:

    — A Diretora Dowling está ocupada — avisou, mais grosso do que costumava ser.

    — Eu sei, Callyzinho — resmungou ela, batendo na porta.

    — Ficou surta? — repetiu. — Disse que a Diretora Dowling está ocupada.

    Mas a porta da sala da diretora de Alfea foi aberta no mesmo instante. Dowling encarou Viperine e Callum, seu assistente, que se encaravam mortalmente. Com as mesmas feições frias e sérias de sempre, Dowling disse:

    — Eu mandei que ela viesse me ver, Callum.

    Viperine sorriu vitoriosa para ele, vendo a careta do humano se formar com certo desgosto. Ela ainda o encarou, entrando e fechando a porta conforme Dowling mandou.

    O escritório era o mesmo desde a vez que ela e Riven o invadiram e bom... Ele ainda era o mesmo. Viperine duvidava que algum dia ele fosse diferente daquilo. Com tantos livros e artefatos velhos e empoeirados, era desesperador apenas a ideia de ter que tirar o pó de tudo.

    — Sente-se — instruiu Dowling, apontando para as poltronas na frente da sua mesa. — Estava olhando sua ficha escolar. Viperine Górgona, correto?

    — Sim, senhora — concordou Viperine, sentando-se desconforta.

    — Górgona — repetiu, testando o nome. — É um nome grego?

    Viperine assentiu, mordendo os lábios com certa ansiedade.

    — É do lado paterno — explicou.

    Dowling a encarou, baixando os olhos enquanto buscava algo na filha bem elaborada de Viperine. Ela subiu o olhar, encarando os ferimentos no torso da garota. Ah, droga, Viperine tinha esquecido de mudar de blusa antes de subir para a sala da diretora. Por favor, não pergunte. Por favor, não pergunte. Por favor...

    — Como se machucou? — perguntou Dowling, encarando-a. — Não fiquei sabendo de alunos indo para a enfermaria com machucados assim.   

    — É porque isso não é nada — negou, rápido demais. — Anakin subiu numa prateleira do quarto e caiu quando tentou descer. No que eu o segurei, ele se enrolou em torno de mim.

    — Parece machucados sérios demais para um cobra ter causado — sibilou. — Mas ja que estamos falando sobre Anakin, andei recebendo reclamações de suas colegas de quarto sobre seu bicho de estimação.

    Viperine engoliu em seco.

    — Li as regras e nenhuma delas dizia que animais eram proibidos em Alfea — defendeu.

    — E não são, mas geralmente recebemos animais mais... Como posso dizer? Tradicionais.

    — Quer dizer, gatos e roedores? — supôs. — Diretora, com todo respeito, Anakin pote ser uma cobra tigre, mas é dócil e tranquila. Ela não costuma atacar pessoas — não sem o meu comando, acrescentou mentalmente.

    — Suponho que isso seja verdade, Viperine — concordou, desconfiada. — Mas cobras causam certos desconfortos em algumas pessoas e isso tem acontecido com a sua suíte.

    Viperine cruzou os braços, ajeitando a postura. Dowling a observou atentamente, procurando algum sinal do poder dela que poderia se manifestar.

    — Não posso mandar Anakin de volta para casa — negou freneticamente.

    — Imaginei isso — comentou. — Por isso estou te mudando de quarto. Acontece que Beatrix está numa suíte sozinha. E como vocês parecem já se conhecer, pensei que não teriam problema em dividir o dormitório.

    — Problema nenhum, diretora Dowling.

    Viperine, mais tarde, respirou aliviada. Era só isso? Ela apenas que teria que mudar de quarto porque as fadas patéticas da sua suíte tinham medo de Anakin. Se ela soubesse disso por elas mesmas, talvez tivesse sido capaz de criar mais vítimas. Entretanto, a última coisa que queria era Verena em seu pé.

    Naquela noite, enquanto Anakin estava enrolado em seu ombro e ela carregava uma caixa com algumas mudas de roupas pela corredor, ela fez uma nota mental de ir buscar o resto de seus pertences na suíte antiga. Que suas ex-colegas não estivessem nela, caso contrário...

    Viperine bateu na porta da suíte de Beatrix e agora também sua. A fada da eletricidade abriu a porta, arregalando os olhos ao vê-la com a cobra e roupas amassadas que lhe davam nos nervos. Se tinha alguém mais bagunceira que Viperine, Beatrix ainda estava para descobrir.

    — Olá, colega de quarto — cumprimentou Viperine, vendo as feições de Beatrix morrerem. — Prometo não fazer muita bagunça.

    — Ah, não — lamentou Beatrix.


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08.10.21

𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:

Eu estou acabando fazer esses pequenos diálogos em formato de chat. O que vocês acharam?

Talvez seja cedo demais, então não vou dar mais spoilers, mas tem grandes novidade chegando...

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