𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟑 • A primeira vítima
— QUE MERDA, você é cega, por acaso? — xingou Riven, as mãos estáticas no ar, o frio lhe tomando ao sentir o ponche no copo de Viperine molhar sua camiseta.
— Idiota — xingou ela de volta. — Olha o que você fez!
— Eu? — repetiu Riven, incrédulo. — Por que as loiras sempre são as mais burras?
Viperine revirou os olhos em raiva, bufando ao esticar a própria camiseta e ver que também se molhara. Ela queria esganar Riven, bater com sua cabeça contra a parede até causar um traumatismo craniano. Se Anakin fosse um pouco maior, seria fácil sumir com o corpo magrelo daquele garoto, entretanto...
— Tá olhando o quê? — exclamou ele, nervoso, tentando se sobressair nela. — Hein?
— Ah, seu filhote de...
— Tem álcool nisso aqui — afirmou ele, cortando-a e cheirando a blusa. — Quem diria que a loirinha não era tão santa assim.
— Nunca falei que eu era santa — sibilou ela, entre dentes.
— Estou começando a perceber isso, loirinha.
Viperine revirou os olhos, sem conter a careta — algo como nojo — ao ver que o olhar provocador e hostil de Riven refletia bem mais do que aquilo. Sem se conter, ele a analisou de cima a baixo, memorizando todos os detalhes do corpo dela.
Ele olhou para o corredor e a curva atrás dela, sabendo bem que ali dava para uma sala vazia que não tinha mais do que caixas empoeiradas e documentos amarelados pelo tempo. Se tinha algo que Alfea conseguia guardar, eram os papéis dos primórdios de todas os reinos e dimensões.
— O que estava fazendo ali? — perguntou ele, apontando para trás dela.
— Te interessa? — rebateu em defensiva.
— Levando em conta que batizou seu ponche com vodka, eu diria que é o suficiente para a Dowling te colocar na detenção por uma semana — provocou. — Quem sabe uma expulsão?
Viperine cruzou os braços, o ato sem querer fazendo os traidores olhos de Riven encararem o decote de sua roupa. Ela sorriu malignamente ao vê-lo engolir em seco ao ser pego. Ele não deveria estar com medo daquela fada, não quando ela era consideravelmente menor que ele. Mesmo assim, algo na aura de Viperine o assustava profundamente.
Ela deu um passo a frente, tentando intimidá-lo. Riven, sem querer, deu um passo para trás, uma abertura para ela se aproximar mais dele até que estivesse se encarando mortalmente e com pouco espaço os separando.
— Achei que encontrar o cadáver do pastor já tinha sido emoção o bastante por um dia para você, Riven — sibilou ela, maliciosa. — Quer mais do que isso?
Golpe baixo. Viperine sabia que por trás da imagem de garoto mau, Riven ainda era que nem uma criança assustada ao ver um filme de terror, e presenciar aquela cena tivera o mesmo efeito.
Infelizmente, Viperine viu o instante em que o corpo dele estremeceu em pânico. Era riu levemente, satisfeita com o resultado que suas palavras lhe causaram.
— É, eu achei que não — suspirou ela, por fim.
Riven queria não ter se mostrado abalado, queria ter tido a chance de perguntar sobre o que ela falava — o que Viperine queria dizer com "mais do que isso"? Ele não teve nem chance de reagir, Viperine já se distanciava dele em direção a festa que ainda acontecia no pátio.
Viperine considerou assustá-lo um pouco mais, mas precisava se distanciar do que em breve seria uma cena de crime — sua primeira vítima de Alfea. Enquanto ela de mistura em meios aos especialistas e fadas, ela não pode de encarar a mulher que, em parte, deveria ser uma das únicas mulheres que a assustavam. Não era como se ela tivesse como fugir, com apenas um olhar ela já sabia que Verena instantaneamente desconfiava do que ela fizera.
Enquanto isso, ainda no corredor escuro, Riven matou sua curiosidade de saber o que Viperine estava fazendo na sala sem uso de Alfea. Entretanto, cada passo que deu ecoou pelo espaço, como se fosse exatamente uma cena de filme onde ele, em instantes, encontraria outro cadáver.
Mas ele mal sabia se aquilo ali poderia ser considerado um cadáver. Era uma pessoa, com certeza, ou pelo menos sua forma. O corpo endurecido parecia travado, inerte a pedra que o petrificava. O possível aluno estava com a boca aberta, como se tivesse morrido gritando por ajuda. Ah, caramba! Dois corpos que ele achara num dia só.
Riven perdeu o fogo, um grito saindo de sua garganta enquanto corria para fora daquele corredor sombrio, abandonando corpo petrificado para trás. Não, ele não tinha o emocional preparado para aquilo também.
Enquanto corria como se sua vida dependesse daquilo ele foi impedido por braços finos e fortes que o seguraram no lugar, aguentando o tranco que seus corpos sofreram ao colidirem. Sua respiração estava desregulada, os batimentos cardíacos rápidos demais. A pessoa estava abraçando seu corpo trêmulo, algo naquele ato fazendo com que se acalmasse repentinamente..
— Por favor, me diz que você não achou outro corpo e sim duas pessoas transando — suplicou a mulher. Verena.
— Como você sabe? — perguntou Riven, nervosamente.
Ela levantou uma das sobrancelhas, fazendo uma careta.
— Será que é porque parecia que você estava fugindo de um fantasma? — sugeriu ela, inexpressiva.
Então, ela o puxou pelo braço para a direção do corredor de onde ele fugia. Riven tentou se soltar, mas Verena aumentou a força no aperto, impedindo-o de se afastar.
Riven se debateu, fechando os olhos enquanto se recusava a encarar o corpo petrificado no final do corredor. Logo, Verena se aproximou do aluno, percebendo que era uma fada. Ela suspirou, colocando as mãos na cintura. Ela balançou a cabeça, pensando no quanto aquilo era inacreditável.
— Estamos no primeiro dia de aula e você já ganhou uma detenção — reclamou ela. — E em menos de vinte e quatro horas conseguiu encontrar dois corpos. Por acaso é seu dia de sorte?
Mas Riven nem teve tempo de pensar numa resposta, Silva já se aproximava dos dois. Quando estava perto o suficiente, ele reparou no aluno petrificado, seus olhos se arregalando no mesmo instante. Ele tentou dizer algo, mas Verena fora mais rápida:
— Avise os outros — mandou ela, fria. — Eu cuido dos alunos.
Como se ela também fugisse, mais uma vez ela agarrou Riven pelo braço, puxando-o para longe dali — ele não pode deixar de ficar aliviado com aquilo. No pátio, onde a festa deveria estar acontecendo, todos os alunos estavam em silêncio, como se esperassem para saber exatamente o que aconteceu depois do grito e alarde de Riven.
— Eu não quero nenhum de vocês andando pela escola até amanhã de manhã — ordenou Verena, a voz profunda e autoritária. — Todos para os dormitórios. Agora!
Verena realmente não precisou repetir. Todos os alunos — fadas e especialistas — corriam para sair fora dali, não querendo presenciar a fúria que estava contida nos olhos dela. Infelizmente, aquela fúria ainda estava destinada para outra pessoa que, nessa situação, era quase inocente: Riven.
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VERENA SÓ PAROU DE arrastá-lo quando chegaram num dos corredores próximos ao dormitório dos especialistas. O braço de Riven doía pelo seu aperto, mas ele não revelaria isso para ela.
— Primeiro, você foge dos treinos. Saiu da barreira para fumar. E agora parece que você tomou um banho de álcool — enumerou ela, uma mistura de cansaço com irritação.
— Por que você se importa? — rebateu ele, irritado.
— Porque sim — exclamou Verena. — O que está acontecendo com você? Fala comigo.
Riven a encarou, tentado a se abrir e dizer a verdade, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.
— Só me deixe em paz, pode ser?
Sem esperar por uma resposta, ele tentou se afastar. Riven conteve um grunhido de dor ao ser puxado de volta pelas mãos da mulher.
— Até ano passado você falava comigo — disse ela, calmamente. Era dó em seus olhos? — Estou tentando te ajudar.
— Não preciso da sua ajuda — afirmou ele.
Verena respirou fundo, mordendo o lábio inferior, se contendo. Entretanto, ela não era realmente conhecida pela paciência e saber ouvir calada:
— Se não fosse por mim, já teria sido expulso — o lembrou, Riven engolindo em seco. — Mas se realmente não precisa da minha ajuda, daqui para frente você está sozinho.
Verena saiu sem olhar para trás, caminhando em passos fortes e ritmados para longe do prédio dos especialistas. Deixando Riven para trás, ele não perdeu tempo em cruzar o caminho até o quarto que dividia com Sky. Lá no fundo do peito, ele se sentia mal pelas palavras grossas que disse à Verena, ele sabia que eram mentira, mas esperava que ela também pudesse ter percebido isso.
Ele não sabia quanto tempo ficou ali encarando o caminho que Verena foi embora, quantos minutos se passaram. Riven caminhou para o corredor, abriu a porta do quarto sem pensar duas vezes, esperando encontrar Sky soterrado por pilhas de livros de escola e roupas amassadas. Nunca que Riven teria se preparado para encontrar a figura loira e meticulosa da ex do seu melhor amigo, nunca mesmo.
— O que ela está fazendo aqui? — perguntou ele, sem dar chance para que Sky dissesse algo antes.
— "Ela" tem um nome, Riven — rebateu Stella, revirando os olhos.
— Impossível não lembrar disso, Stella, já que você é um porre — reclamou ele, jogando as mãos para alto. Ela havia chorado? Logo, ele apontou para Sky. — A sua figura materna é um porre. Essa escola é um porre.
— Que bicho te mordeu, hein, Riven? — questionou Sky, a testa franzida.
— Não sei — respondeu ironicamente. — Talvez tenha sido apenas o fato de ter sido eu a encontrar dois cadáveres hoje.
— Encontrou outro corpo? — exclamou seu melhor amigo, incrédulo. — Foi por isso aquele gritinho que você deu?
— Ah, vá a merda, Sky!
Aquele não era um bom dia para testar a paciência de Riven. Ele até gostava das provocações que faziam entre si, mas não era uma hora boas para serem feitas com ele. Encontrar aqueles dois corpos havia sido muito para ele. Afinal, era pessoas! Tinham uma vida, estavam vivas até pouco tempo atrás... Ele deveria estar melhor para encarar algo assim. Ele era ou não era um especialista?
Já era bem tarde quando ele se apoiou num dos pilares próximos a biblioteca, puxando um cigarro do maço e ascendendo-o, segurando com a ponta de seus dedos. Ele deu uma tragada, logo deixando a fumaça sumir pelos ares.
Tinha como aquele dia ficar pior? Primeiro, ele achou o cadáver do pastor. Depois achou outro corpo empedrado e ainda acabou com ponche batizado na roupa... Tudo culpa de Viperine, a garota que parecia ser capaz de testar sua paciências que já era pouca.
Tudo bem, ele tinha que admitir que se não fosse pela estupidez e chatice, Viperine era muito gata. Ele lembrava bem de como sua pele era macia quando se esbarraram. Como os lábios carnudos dela parecia convidativos. Ela não tinha medo de ser pega, era mais parecida com ele mesmo do que imaginaria. Viperine era como uma deusa — monstro — grego que foi libertado da...
O grito ficou preso na garganta de Riven. Ele tinha certeza que seu coração parou por um instante quando viu o chacoalhar do corpo do réptil comprido entrar por baixo de uma das portas que davam para a cozinha.
— Maldita cobra — sibilou ele, respirando fundo ao tentar se acalmar. — Que droga, Viperine. Só você é idiota o bastante para ter uma cobra de estimação e ainda deixá-la solta.
Resumidamente, Riven não conseguiu dormir naquela noite. E na única vez em que conseguiu fechar os olhos por alguns minutos, seus sonhos foram invadidos por uma versão maior de Anakin devorando-o vivo.
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10.09.21
𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:
Capítulo bem mais longo que o normal, mas eu espero que estejam gostando.
Não esqueçam de comentar durante as passagens da história! Isso realmente nos ajuda muito na construção do enredo ao saber quais momentos vocês mais gostaram, o que trazer mais vezes e o que evitar.
Ah, e antes que alguém me chame de louca pelos comentários do Riven em relação a cobra da Viperine: eu amo répteis! Tanto que eu tenho um de estimação que fica no meu quarto (mesmo que ele esteja perdido no momento) além dos meus peixes, claro.
Lembrando que nem todos os répteis devem ser mantidos presos nos terrários! Eles ficam estressados e precisam de espaço. Se você está pensando em adotar ou comprar um, lembre-se que a espécie deve ser legalizada e ter toda a documentação necessária. Tem gente que fala que são tranquilos e não dão trabalho, mas isso é mentira! É que nem cuidar de uma criança, mas o bom é que não choram.
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