𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟏𝟒 • A última Medusa
RIVEN ODIAVA SUAS aulas teóricas. Qual era a graça? Estudar um sobre um bando de velhos, em sua maior parte já morta, só porque foram heróis de guerra ou vilões temidos.
Já estavam mortos! Para que estudar os mortos? Poderiam fazer parte da história, mas estudá-los agora não faria diferença, não mudaria nada sobre o que fizeram antes.
Ele achava que, como um especialista, deveria ganhar seu tempo treinando combate físico, não perdendo tempo numa aula de história das guerras mágicas. Pelo menos ele não era o único que parecia prestes a dormir com as palavras tediosas daquele professor que... Qual era mesmo o que nome?
Riven jogou os braços na mesa, bocejando enquanto encostava a testa neles. Seus olhos pesavam tanto e aquela aula parecia uma desculpa tão boa para tirar uma soneca.
— Você precisa de nota nessa matéria, caso tenha esquecido — murmurou Sky ao seu lado, fazendo anotações com um lápis bem apontado.
— Eu preciso é de respostas, Sky — rebateu. — Já ficou claro para mim que com certeza você e a minha namorada se conhecem. Fato! Agora, eu quero saber como, onde e porquê.
— É mais difícil de explicar do que você imagina — suspirou Sky, soltando o lápis.
— Você pode tentar, mesmo assim — incentivou, pressionando-o. — Talvez também possa me contar sobre os rumores correndo soltos por aí.
— Que rumores?
Sky estava tentando não tocar naquele assunto — Viperine. Estava sendo uma missão quase impossível não falar ou mostrar que já a conhecia bem antes de Alfea. Infelizmente, Riven já descobrira isso a tempos.
O garoto de ouro suspirou, passando a mão pelos cabelos loiros e os bagunçando. Sempre estavam tão certinhos, mas agora parecia que um passarinho fizera de sua cabeça um ninho onde habitavam seus filhotes.
— Até parece que não sabe — bufou Riven. — Terra andou soltando por aí que a minha namorada é um Medusa. Que ridículo, Medusas nem existem mais.
— Viperine é uma Medusa!? — exclamou Sky, assustado.
— Tá, tudo bem que ela possa ser nervosa, ameaçadora e realmente pareça com uma cobra prestes a dar o bote, mas não é para tanto — defendeu ele. — Alfea mesmo, quando era militar, não disse ter se responsabilizado em conter todas as Medusas?
— Espere — pediu. — Por que Terra acha isso?
Riven deu de ombros.
Na verdade, ele estava mesmo só tentando negar algo para si mesmo. Na festa de boas-vindas, logo após trombar com Viperine sozinha naquele corredor escuro, fora quando ele achara a primeira estátua.
Era realmente suspeito... Mas não tinham provas de que fora ela! Até que se provasse o contrário, ele estaria do lado da primeira garota que gostara mesmo dele.
— Fada da Terra Morta — sibilou. — Pelo menos é o que dizem.
— Medusas e Fadas da Terra Morta sempre podem ser confundidas — suspirou Sky. — É o disfarce perfeito.
— Também podia me dizer logo o porquê de parecer que vocês dois já se conhecem há muito tempo.
Felizmente, o sinal tocou no mesmo instante. Sky nunca fora tão apressado em sair de uma sala de aula e caminhar para o vestiário dos especialistas... Mas aquele era o vestiário onde se desfizera nas mãos de Viperine.
Ah, merda!, pensou Sky ao sentir a dolorosa ereção que crescia dentro dos short e com todos os outros especialistas apressando-se para trocar de roupa... Ele tinha que dar um jeito naquilo primeiro.
◈
FADAS E ESPECIALISTAS treinando juntos. Esse era o grande diferencial da aula de hoje, ou das próximas, Viperine não tinha certeza. Ela estava até que animada com a ideia de chutar a bunda de algumas pessoas, mas algo parecia errado. Infelizmente, ela não sabia o que era.
No campo de treinamento, parados em cima do deque em cima do lago, Harvey, Verena e Silva chamavam a atenção dos alunos. Onde estava Dowling? Afinal, ela era a diretora de Alfea e ex-militar, certamente ela deveria estar ali presente.
— Como muitos de vocês já devem ter ouvido ou desconfiado, queimados estão rondando territórios próximos da escola — anunciou Verena, em alto e bom som.
Murmúrios de alunos cochichando entre si foram ouvidos. Viperine cruzou os braços, esperando para que continuassem. Ela jurava que nunca ouvira tantos "eu sabia" e "não só queimados" na vida.
Não só queimados. Aquela frase a pegou despreparada. Então, a tagarela terra realmente deveria ter espalhado por aí sobre a existência de uma Medusa na escola. Com qual intuito? Criar medo e discórdia? Ah, não, espere, era apenas para chamar atenção dos outros como uma garota chata e mimada, infeliz com a própria vida.
— Silêncio! — gritou Verena, Harvey dando um pequeno pulo devido ao susto. — A partir de hoje, até segunda ordem, fadas e especialistas treinarão lado a lado. Vocês vão aprender as verdadeiras técnicas de luta contra os queimados.
— Separamos vocês em duplas: uma fada e um especialista — explicou Silva, dando uma olhada ligeiramente estranha para Verena. — Quando chamarmos seus nomes, juntem-se e discutam sobre o que tem em comum e quais os seus pontos fracos. Lado a lado, a missão da fada é derrotar o queimado enquanto o especialista a protege.
Por que os adultos se entre olhavam tanto? Isso meio que já estava irritando Viperine, tanto que ela mal percebeu que já haviam chamado a maioria das duplas e só restava ela e mais três pessoas.
— Bloom e Sky. Viperine e Riven — finalizou Silva. — Discutam e deliberem. Nicolai estará aqui para tirar suas dúvidas.
Viperine virou-se para encarar Riven que a esperava mais atrás. Ela sorriu maliciosa, se aproximando dele e em passos firmes e bem calculados. Sky, mais ou fundo ainda, a observava. Ela notou a atenção que recebia, mas também ércebeu que Bloom estava falando alguma coisa.
Ah, coitada, zombou Viperine. Mal sabe que Sky já é meu.
— E aí, parceiro — perguntou Viperine, jogando seus braços pelos ombros de Riven e puxando-o para seus lábios. — Conte-me suas mais profundas fraquezas e te direi as minhas.
— Meu nome de verdade é Rivendell.
Viperine arregalou os olhos, congelando em meio caminho a beijá-lo. Ela balançou a cabeça, negando. Rivendell? Ele tinha que estar brincando, não é? Viperine jogou a cabeça para trás, soltando um pequeno riso e finalmente se inclinando até tê-lo beijado.
— Esse nome é horrível — murmurou ela, brincando.
— Ah, é? Viperine é o quê, então? — retrucou.
— É o diminutivo de Viperinae, na verdade — respondeu ela, falando a verdade. — Víboras venenosas, alguma coisa assim.
Riven assentiu. Atrás deles, Sky realmente não parada de encará-los. Ele queria aquilo, queria ser abraçado por Viperine, que ela o tocasse e beijasse... Ah, não, de novo não.
— Agora, falando sério, Viperine foi o nome que meu pai me deu — relevou, surpreendendo-o. — Meu primeiro nome é outro, minha mãe o escolheu.
— Qual é? — perguntou Riven. — Pior que o meu?
Viperine assentiu, rindo. Ela olhou ao redor, procurando os adultos. Onde estava Verena, Silva e Harvey? Simplesmente desapareceram?
— Calliope. Meu nome é Calliope.
◈
FARAH DOWLING nunca imaginou que ainda estaria viva para rever uma Medusa. Elas estavam extintas, a própria Alfea tomara conta em dar um fim à elas. Não foi uma ato de covardia, mas sim proteção.
Medusas eram agressivas, eram assassinas que se passavam por fadas e levavam caos e discórdia por onde passavam. Fora responsáveis por começarem guerra, petrificar líderes políticos e acasalar até criar uma nova ninhada de cobra... Medusas eram parte do mal libertado da caixa de Pandora.
Enquanto achavam que tinham acabado com todas, lá estava a que deveria ser a última de sua espécie. Viperine Górgona. Uma Medusa.
A porta do escritório de Silva foi aberta por Harvey, sendo seguido por mais especialistas. Verena e Saul já estavam ali, já haviam dividido as duplas de fadas e especialistas, ganharam tempo para fazer aquele teste.
— Eu não gosto disso — comentou Verena. — Isso está errado.
— Nós precisamos proteger nossos alunos — alegou Dowling.
— Beatrix e Viperine também são nossas alunas — retrucou ela. — Fizeram coisas erradas, mas ainda são duas meninas. Duas crianças que não sabem da verdade ou o que realmente aconteceu.
— Está defendendo duas assassinas, Verena? — instigou a diretora, a encarando de cima a baixo.
— Nós também somos, Dowling. E, pelo menos, elas nunca dizimaram uma vila inteira.
Ela parecia prestes a pular no pescoço uma da outra, mas Silva e Harvey se aproximaram, fazendo menção de impedi-las. A última coisa que precisavam era de uma briga inteira entre Dowling e Verena — por mais tentador que fosse.
— Vamos com isso? — sugeriu Harvey, levemente ansioso. — Você pegou?
Verena assentiu, tirando de trás de si a cobra tigre enrolada em seu braço. Anakin era fatal, mas nunca atacava sem que a ordem fosse dada por Viperine. Por mais que fosse real, ainda era uma cobra mágica. Infelizmente, nem mesmo os livros de história e mitologia eram capaz de explicar como ela se ligava a Viperine direito.
— Essa é a cobra que me estrangulou — disse Silva, soltando um suspiro.
— Anakin — comentou Verena. — É a cobra de Viperine.
— Achei que havíamos acabado com todas — resmungou Dowling. — Por anos, Luna conseguiu esconder a última Medusa viva de todo o mundo. Mas como?
Silva engoliu em seco. Ele conhecia Viperine desde pequena, cuidara dela durante aquelas semanas... Mas ela nunca se mostrou como um monstro mitológico e vingativo. Ela era apenas uma fada assustada e que precisava de ajuda!
— Não faz diferença — interviu Verena, cruzando os braços. — Vamos logo com isso?
Dowling a olhou dos pés a cabeça, julgando o atitude séria e fria dela. Qual era a de Verena? Ela lutava do lado deles, era confiável... Mas por que ainda sentia algo estranho quando estavam juntas num mesmo lugar?
Harvey esticou as mãos, fazendo menção de segurar o animal, um ato rápido demais. A língua se movendo em aviso. Anakin daria o bote. Ele se abriu para mordê-la, mas Verena a recolheu antes que o mordesse e provavelmente matasse.
— Não force demais, ou eu vou deixá-lo apertar seu pescoço — avisou ela. — Medusas são rancorosas. Viperine já tem um problema com a sua filha. Ver você machucar Anakin irá irritá-la ainda mais. Então, cuidado.
Nas mãos de Harvey, o professor não perdeu tempo em derrubar um líquido oleoso em cima de sua pele. Anakin se contorceu em sua mão, abrindo a boca sem emitir som e com as presas saindo para fora. Se ele pudesse gritar, seria o grito mais agudo e maléfico que já ouvira.
— Essa poção vai retardar o conexão dos dois por alguns minutos — explicou ele. — Temos que correr. Se chegarmos lá e Viperine estiver se contorcendo...
— Então ela é a Medusa — completou Silva.
Verena só conseguia rodar a pequena seringa com líquido dentro do bolso de seu casaco. Aquilo estava fugindo do plano, mas ela estava preparada para aquilo. Primeiro Beatrix fora presa e agora seria Viperine. Pelo menos, aquele inferno estava chegando ao fim.
◈
VIPERINE ESPEROU PELO momento perfeito para caminhar até Sky, parando na frente dele e o impedindo de andar até Bloom como um cachorrinho perdido. Ele abriu a boca para falar algo, mas a fechou em seguida quando nada conseguiu dizer.
Ela cruzou os braços, tomando noção que estava sendo observada por Bloom e as outras fadinhas. Bom, ela estava conseguindo despertar ciúmes e inveja na fada do fogo, assim como ela queria. Mas algo chamou atenção: por que Riven estava conversando com Terra?
Ele e Viperine acabaram de treinar contra o queimado falso que não passava de uma projeção. Tudo bem que Riven não tinha ido tão bem assim, mas isso ainda não era motivo para estar fadando com aquela garota.
— Ficou triste por eu não ser a sua dupla, bebezinho? — provocou ela, fazendo biquinho. — Ah, Sky, mas você sabe que é meu preferido, não é?
— Eu não faço ideia do que eu sinto por você, ou senti, mas...
— Acha que não vi você me encarando enquanto eu beijava o seu melhor amigo? Isso te deixou excitado? — cortou. — Ou vai dizer que a ereção que estava era para a Bloom?
— Qual delas?
Ah, merda, não era para ele ter falado aquilo em voz alta.
— Pensa muito em mim durante o dia, Sky? — sibilou ela. — Quando acorda, enquanto esta na aula, quando está se tocando no banho...
— Escuta! — pediu. — Isso aqui, entre eu e você, isso...
— Ah, realmente tem algo rolando entre vocês!
Riven. Aquela voz era de Riven.
Quando Sky se virou, ele os encarava de braços cruzados, fervilhando de raiva. Riven já era bem conhecido por ser explosivo e ciumento ao extremo — principalmente depois de Viperine. Poucos sabiam, mas ele já havia estrangulado e socado cada um dos especialistas novatos que ousaram falar algo sobre ela, fosse sobre o quanto ela era linda ou gostosa ou sexy. Não importava o que era, ele havia defendido-a em todas as vezes.
— Vamos, Sky! — exigiu, raivoso. — Fala essa porra logo de uma vez!
— Não é o que você está pensando — disse Sky, tremendo.
— É exatamente o que você está pensando, Riven — afirmou Viperine, deixando Sky sem palavras. — Sky está afim de mim, mas tem medo de magoar os sentimentos daquela fadinha do fogo.
O punho de Riven estava fechado com tanta força que chegava a rasgar a palma da mão. Eles e Sky brigaria feio, onde provavelmente acabariam com olhos roxos e narizes trincados.
O grito de Viperine reverberou pelo ar, agudo e excruciante. A dor do Inferno! Deuses, Viperine caiu de joelhos no chão, se contorcendo enquanto agarrava parte do seu corpo com raiva.
Manchas vermelhas e roxas se formavam por baixo de sua pele, como sangue coagulado em baixo dos tecidos... Anakin! Ele estava em seu quarto, seguro dentro do terrário. Que diabos estava acontecendo?
Nem Sky nem Riven sabiam o que fazer. Riven ainda estava com raiva, mas sua namorada era mais importante do que seu talarico melhor amigo. Ele se abaixou para tentar ajudá-la, mas foi impedido.
— Não toque nela, Riven — mandou Dowling, se aproximando rapidamente e sendo seguido. — A menos que queira ser petrificado.
— Riven — murmurou Viperine, lágrimas de dor descendo pelo seu rosto. — Me ajuda. Sky! Por favor.
Eles não puderam fazer nada, não quando Silva e Harvey a levantaram do chão, segurando-a com força quando Viperine mal tinha forças para se debater. Uma roda de fadas e especialistas foi formada ao redor deles.
— Viperine Górgona, está sendo presa pelos assassinatos por petrificamento em Alfea — decretou Dowling, severa.
— Eu falei que ela era a Medusa! — gritou Terra, logo atrás deles. — Eu falei! Eu sabia!
— Vaca desgraçada! — Viperine reuniu forças para gritar. — Vadia de merda!
Dowling fez menção de colocar as algemas rúnicas, as mesmas que usou em Beatrix, mas não conseguiu. Sem que pudesse fazer algo para impedir, Verena segurou Viperine pelo pescoço, injetando o líquido rosado da seringa na correndo sanguínea do pescoço de Viperine.
Com certeza a injeção fora dolorida, mas apagou a menina no mesmo instante. Verena fora misericordiosa em fazer aquilo, acabar com a dor que sentia por causa de Anakin. As marcas ainda ficariam por alguns dias, mas a dor já teria passado até que ela acordasse dentro da cela escura e pesada que a esperava na Ala Leste.
— As algemas não serão necessárias, Farah Dowling — afirmou Verena. — Daqui para frente, eu me encarrego de Viperine.
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28.11.21
𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:
Primeiramente, eu estou preparando um discurso de final de ano para vocês e sobre algumas coisas que vão mudar ano que vem.
Agora, uma curiosidade: há teorias de que o nome de Riven realmente seja Rivendell! E vamos, eu achei que combinou bastante com ele.
Peço desculpas pela demora do capítulo 14, eu acabei de sair de semana de provas e não tive tempo para escrever durante a semana, então mil perdões pelo atraso. Também peço perdão caso estranhem algo ou tenha alguma erro nas partes da Verena, já que eu tive a oportunidade de escrever certas partes do esquema dela essa semana, mas espero que tenham gostado.
E como pedido de desculpas, é com grande honra que eu e a Brina anunciamos os spin off de MEDUSA e MIND SOLDIER: contando as histórias antes de Alfea, ainda com Viperine e Verena, FAIRYTALE e NIGHTMARE.
Fiquem de olho que semana que vem vamos trazer as capas e as sinopses!
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