- Capítulo X -




Sexta-feira, 03 de agosto de 2017

Manhã, 06h02

Edgar Jenkis estava de pé de frente para uma mesa metálica, na qual a foto de Clary Freemont repousava, fixa no centro, sendo circundada por diversas outras, menores, de todos aqueles que poderiam ser considerados próximos da garota...próximos o bastante para provocarem suspeitas.

Naquela manhã, a nova secretária da delegacia de polícia de Castle Combe trouxera uma xícara transbordando café, respingando seu líquido fumegante sob algumas fotos, apenas para arrancar gritos de Edgar, estressado e abatido por não conseguir conectar nenhuma das informações.

- Controle-se, detetive. – Pediu Gerald Humes, o delegado daquele lugar, de rosto quadrado e testa brilhante, que parecia não ter fim devido à sua falta de cabelo. Em seu uniforme, quase sempre havia um furo ou outro, que ele adorava se gabar de como ele fora formado. Uma vez, um furo no lado direito de sua bunda foi descoberto, o que o fez criar uma história, dizendo que aquilo acontecera porque, uma vez, ele tomara um tiro na bunda. Era mentira, mas como ele era o chefe, ninguém ousava discordar.

- Perdoe-me, senhor. – Edgar agitou suas mãos rapidamente, tentando retirar o café de sobre as fotografias antes que as manchassem, mas era tarde demais. Agora, o rosto de Emily Grenier ficaria para sempre com uma mancha de café maior do que seu nariz.

Gerald caminhou pela sala, arrastando a cadeira metálica e jogando seu peso sobre ela, fitando as fotos.

- Por acaso você teria alguma ideia de quem me ligou esta manhã, senhor Jenkis? – Indagou o delegado, os dedos entrelaçados sobre a barriga e as sobrancelhas unidas.

- Não...

- Não? Bom, permita-me que eu lhe diga que a senhora Freemont não está nada satisfeita com as ações de Harley Cleanwater em nosso caso.

Edgar franziu o cenho, engolindo em seco, os olhos castanhos temerosos ao chefe.

- Mas o que eu realmente gostaria de te perguntar, detetive, era: por que Harley Cleanwater está no nosso caso?

Nenhuma reposta.

- Edgar...

- Eu não sei. – Expeliu o homem, palavras rápidas e humilhantes.

- Ah...você não sabe. – Gerald assentiu apenas para rir logo em seguida. – Você não sabe! Você não sabe! – Berrou ele, levantando-se, a mão espalmada voando em direção às fotos, a mesa metálica repercutindo um som agudo e irritante com o impacto. – Então agora me diga: o que a porra dessa mulher tem a ver com tudo isso!?

- Eu não sei! – Respondeu Edgar, assustado. O rosto de Gerald tornou-se vermelho, quase como se ele fosse um tomate ambulante.

- Quem a contratou!?

- Eu não sei, senhor!

Gerald sentou-se novamente, sua banha sendo puxada pela gravidade, a careca lustrosa refletindo o brilho amarelado da luz daquela sala.

- Você não sabe... – Repetiu o delegado. – Mas que porra de detetive é você, afinal?

Edgar sentiu a pele ferver, mas não respondeu, palavras lhe faltando na boca seca.

- Dê-me um bom motivo para não demiti-lo, senhor Jenkis, e contratar Harley Cleanwater no seu lugar.

Um espasmo no lado direito do rosto fez seu nariz tremer. Edgar cerrou os punhos, suas unhas curtas tentando cortar a pele fina.

- Eu posso resolver esse caso. – Balbuciou o detetive como resposta.

- Não. Você não pode.

- Posso!

- Isso é o que você acredita, senhor Jenkis. Mas até agora não se provou um detetive.

- E o que quer que eu faça!? – Explodiu Edgar, erguendo-se, seu terno marrom ficando largo em seus ombros, a camisa social branca tinha respingos de café que ele não havia visto. – A garota morreu há poucos dias. A família ainda está de luto e ninguém nessa merda de cidade parece ter tido contato com essa garota!

Agora, Gerald se ergueu lentamente, os olhos fixos em Edgar, julgando-o, o tom caramelado de seus olhos escondendo-se por debaixo das sobrancelhas grossas.

- Quero que faça seu trabalho, senhor Jenkis. Interrogue. Suborne. Faça o que tiver de fazer, mas encontre o filho da puta que fez isso com aquela garota.

O homem virou-se, as costas largas dirigindo-se à porta antes de afirmar, um tanto taciturno, quase com uma decepção escondida por entre as palavras:

- Desde o caso de Trevor O'Brian, essa cidade parece ter perdido seu rumo. Quero que resolva esse caso para que as pessoas voltem a se sentir seguras.

- O que devo fazer a respeito de Harley Cleanwater, senhor? – Indagou Edgar, percebendo as gotas de café em sua camisa branca, passando seu dedo indicador sobre elas numa tentativa inútil de tirá-las.

Gerald virou-se, a barriga acompanhando o movimento.

- Ao invés de ficar aí, reclamando dela, desejando ser igual a ela...vá conversar com a mulher. Veja o que ela sabe.

- E se ela não souber de nada?

Gerald ergueu uma sobrancelha.

- Já olhou bem para aquela mulher? Até mesmo um condenado falaria todos os seus crimes se colocado de frente para ela.

- Ela sabe o segredo de todos, só por isso eles falariam! – Retrucou, o rosto esguio contraindo-se após ouvir a si mesmo.

- Não, senhor Jenkis. Harley Cleanwater não sabe de todos os segredos, mas ela certamente sabe como descobrí-los.

- Mas...e se realmente ela não souber? – Insistiu Edgar, uma esperança de que ele pudesse ser melhor. – E se...nesse caso...ela ainda não tiver informações?

- Bom...que informações temos?

- Clary foi vista pela última vez na manhã de sábado... pelo menos foi o que a mãe disse. Depois, ninguém mais parece tê-la visto até a manhã de domingo, no meio da rua, morta e sem as orelhas.

- Alguma chance de encontrar as orelhas?

- Creio que não.

- O que o legista disse?

- Ele enviou um relatório e, aparentemente, a garota morreu de hemorragia. O assassino a deixou ali, estatelada e inconsciente até que morresse.

- Isso é horrível! – Humes admitiu enquanto coçava o queixo miúdo. - Bom, ainda assim parecemos estar em vantagem à senhorita Cleanwater, se formos seguir o seu ponto de vista. Mas quer saber o que penso, senhor Jenkis?

- Mas é claro, senhor. – O homem parou de mexer em suas vestes, apoiando-se sob a mesa, os dedos engordurando as fotos, que os observavam com seus sorrisos patéticos, os dentes exibindo-se de forma cadavérica através dos lábios ressecados, enquanto os olhos refletiam um brilho que já não mais existia no corpo de Clary Freemont.

- Creio que você apenas esteja tentando ganhar tempo.

- Perdão? – Edgar engoliu as palavras, sentindo sua garganta arranhando.

- Você não quer falar com a mulher porque sabe que ela pode te comer vivo.

O detetive abaixou o olhar, fitando o chão tão cinza quanto sua vida.

- Quer provar seu valor, senhor Jenkis? Então resolva esse caso antes dela.



*Surpresaaaaaaaa!!!!! Vai ter capítulo duplo hoje? Sim! Por quê? Porque vocês, leitores, são incríveis!!! Em menos de 24 horas batemos a meta de 750 leituraaaaaas!!! Eu estou tão feliz que resolvi compartilhar o próximo capítulo com vocês. Então, aproximem-se, fiquem à vontade e cliquem na estrelinha se vocês gostaram!!!!! O próximo capítulo será postado às 17h00!

*Fotinho da Harley comemorando lá em cima ahahahahaha

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