84²


[...]

Natasha Torres
03:10h - no hospital

Já tínhamos chegado ao hospital à bastante tempo.....Vitor estava já no quarto há duas horas após uma longa cirurgia para tirar a bala que ainda estava em seu corpo. Estava na espinha.....bem no centro das costas, eu não queria acreditar em mais nada neste momento.....o que eu mais queria era que ele sobreviesse.

— Mamãe! Tenha calma. Ele vai sobreviver confia em nós.

— Eis ei que vai minha princesa. Eu sei.

— As crianças?

— Em casa......com as babás. — António veio ter ao nosso encontro.

— Tudo bem! Obrigada.

Thomas e outro médico não informou que ele sofreu um enorme sangramento eterno.......eles o conseguiram estancar, porém, talvez, todavia, meu irmão nunca mais andasse para toda a vida. Eu não queria saber de nada disso, eu só o queria connosco como sempre foi. Era isso que eu pedia.

Ele já tinha recebido a visita de todos que estavam cá.....desde a primeira pessoa que foi Rebecca a morena me avisou que eu era a última. Agora era a minha vez, adentei no quarto e lágrimas caíram sobre meu rosto, ele sorriu ligeiramente após me ver e logo fui ao seu encontro.

— Tudo bem agora? — me sentei na cama. —Vais ultrapassar isso. Confia em mim irmãozinho.

— Hum....eu.....eu....eu não.....eu não sei.

— Para não faças isso. Tu és forte, tu consegues! Lutaste contra tudo, lutaste contra a morte naquele autódromo.....vais conseguir lutar agora também.

— Não!

Seu olhar ficou vazio. Suspirou fundo e quando se queria mexer ele não o conseguiu.....ele já não sentia as pernas. Não mais. Ah Droga! Droga!! Droga!!!

— Eu te amo sim.

— Eu também.....eu também......também te amo...............hermanita. — sorriu.

— Vamos ultrapassar isto. Confia em mim!

— Desculpa por ter quebrado o teu coração!

— Não digas isso.......ei! Fizeste o teu melhor. Eu sei disso.

— Talvez eu tenha sido o problema. — suas últimas palavras partiram meu coração pro completo.

E num momento para o outro as máquinas começaram a apitar, ele entrou em choque e eu também. Eu não estava raciocinando direito o que eu via......enfermeiras e médicos entraram no quarto. Eu não queria sair, eu não iria, meu irmão iria sair desta. Eu sei que sim!

— A deixem estar. Agora....me dêem as pás para o reanimar. Enfermeira faça a massagem cardíaca. — Thomas falou alto e em bom som. —AGORA!!!

— Sim senhor!

Meus batimentos aceleraram enquanto eu via o ecrã que outrora estava a mostrar os do meu irmão sem nada......totalmente a zeros e não parava de apitar, o som era terrível. Tentaram e tentaram, eu notei que nada mais podiam fazer. Meu coração foi cortado, minha alma foi com ele e minha mente entrou em colapso emocional.

Thomas parou e olhou para mim..........seu olhar era vazio, uma vez estava feliz e agora estava acabado. Ele nunca tinha perdido um paciente, ele se sentiu impotente, ele se sentiu menos médico nesta hora.

— Eu sinto muito! Eu sinto muito mesmo tia. — ele chorou.

Nunca o tinha visto a chorar por nada. Nada neste mundo o fez mais chorar do que agora, isto tudo era um pesadelo sem fim.

Me deixaram ficar perto dele, me sentei na cama, agarrei sua mão e a acariciei. Sua boca estava a ficar roxa, sua pele encontrava-se de certo modo a ficar fria. O beijei e logo mais lágrimas desceram sobre meu rosto, olhei para a cara de meu irmão e uma pequena lágrima saiu de seu olho. Sua vida havia sido tirada como um comboio bala.

Merda!

Merda!!

Merda!!!

— Irmãozinho! Ei....por favor. Ressuscita faz qualquer coisa, vá. Tu consegues. Para de brincar comigo assim, eu não mereço......Rebecca não merece, Emma, Arthur Levi, Ella! Vá irmãozinho. Por favor.

Enfermeiras vieram perto dele e logo meu único meio foi sair dali. Retornei o meu olhar para ele e o vi sendo totalmente coberto pelos lençóis que uma vez o cobriam.

Sai do quarto e todos esperavam boas notícias, eu..........eu não as tinha. Acho que ninguém aqui esperava outra coisa de mim se não a verdadeira confirmação de que Vitor havia finalmente partido.

— Então....mamãe. — Ferran falou delicadamente.

Me afastei após ele colocar a sua mão sobre meu braço. Eu não queria o toque, eu não queria nada......o que apenas eu queria era meu irmão novamente comigo me enchendo a cabeça novamente, ele podia ser um chato e um insistente, mas era meu irmão, era sangue do meu sangue e agora fui a única que restou do que nosso pai deixou.

— Ele! Ele morreu....

Todos choraram. António vinha ter comigo...eu recuei, Rebecca correu para o quarto parou na porta e logo adentrou. Os gritos e o choro se fizeram sentir por ela, a morena de certa forma também estava em negação tal e qual como eu.

Me afastei de todos e andei pelos corredores até que os agentes aparecem. Eu não queria saber de nada, o que eu queria era paz, todavia vendo por outro primas Valverde não me daria nada disso......nem agora nem nunca.

— Queremos fazer algumas perguntas ao Vitor! Tem como?

— ...

— Natasha! Estamos falando contigo. — ergueu a voz para mim. —NATASHA!!!

— Não. — meu choro era persistente.

— Como não? Estás a brincar connosco porquê? Sabes muito bem que ele não se vai safar da prisão.

Eu estava em luto e agora tinha Valverde enchendo-me a cabeça para eu simplesmente falar com ele. Era algo terrível.

— Tenham calma por favor. — António veio ter connosco.

— Como assim? — Dean questionou amorosamente.

— Como assim nada Dean! Ela estava a ocultar um criminoso.....que eu sabia também dá direito a prisão fazeres isso Natasha.

— Meu irmão!! Meu irmão morreu seu estúpido. Agora o que achas? Vais prender-me também?!

Dean e Hector seguraram Valverde.

— Estás mais contente agora seu idiota?

— NATASHA!! — fala entre dentes. —Me larguem vocês os dois.

— O senhor vem connosco e não se fala mais nisso. Agora chefe. —Hector e Dean o tiraram à força.

...

No jardim do hospital

Eu andava por estes corredores com absolutamente um olhar vazio......as pessoas me cumprimentavam e eu não dava nada em resposta. Eu tentava encontrar Thomas a todo o custo, finalmente o encontrei, ele estava sentado perto do lago........ele estava a chorar.

Me acerquei dele e o deixei olhar na minha cara mais uma vez, não demorou nem trinta segundos para seu olhar visitar novamente o chão na sua frente. Me sentei perto dele e logo afastou sua perna quando eu o tentei acalmar.....é.....eu e ele estávamos com a mesma sensação de impotência.

— Eu não queria. Era para ele viver, eu não sei....eu não sei o que deu de mal lá! Ele ia ficar bem.

— Thomas!

— Eu sou um incompetente, eu não acredito que eu fui capaz de o deixar ir. Eu nunca perdi ninguém Natasha! Nunca....nunca deixei nenhum dos meus doentes morrerem e agora isto aconteceu.

— Não tens culpa. — ele me olhou confuso. —Eu também não queria que ele tivesse morrido, não queria.....mas tudo tem sempre uma explicação.

— Eles me disseram que eu fiz tudo bem na cirurgia....disseram que eu não errei, mas nem duas horas deu e eu o perdi. Eu perdi o teu irmão......eu perdi o único amor que sobrou do vosso pai. Ah merda!!!!

O abracei! Ele não tinha culpa e como ele disse os médicos o parabenizaram pelo excelente trabalho.....mas tudo acontece quando menos queremos. Todos estávamos destruídos por dentro. Ele ainda estava a tremer, eu também o estava....mas com nossos corpos assim de alguma forma eles se conseguiram acalmar pro sua vez.

Glória veio ao nosso encontro. Thomas se levantou, enxugou as suas lágrimas e logo eu coloquei-me em pé logo de seguida, eu sabia que ele era médico, todavia não parecia nada mal chorar em frente à sua superior ainda mais na frente da sua mãe.

— Aqui! — a morena nos mostrou o raio-x do tórax do meu irmão. —Foi por esta razão que ele morreu.

— Um vestígio de bala foi para a artéria do coração e a perfurou quando conseguiu? — ele a olhou confusa. —Nós não a vimos no raio-x principal.

— Estava escondida....muito bem eu diria, agora foi tirada outra para saber a causa da morte! Essa foi.

— Mas eu devia ter visto. Eu sou médico. Porra!

Ele estava relutante, não o incriminaria e muito menos o culparia pro fazer o que seu trabalho mandou. Tudo o que eu e ele precisava-mos só neste momento era de calma.....nosso coração e nossa mente de certa forma pediam isso.

— Queres ver a autópsia? — Glória o questionou. —Thomas!!

— Eu posso?

— Eras o médico principal dele, tens todo o direito disso.....iram começar daqui a pouco. Podes ir para lá comigo daqui a pouco.

— Me perdoa mais uma vez tia. — me abraçou. —Eu sinto muito mesmo.

— Não te sintas assim. Por favor! Não faças isso contigo mesmo.

Sua cara era pálida, mesmo de noite eu a conseguia identificar com as luzes brancas que estavam não postes do jardim. Suas mãos tremiam.

Vitor Viera Costa
( 01.02.1996 a 10.08.2025 )

• 1 dia depois •

Autora Narrando
10:12h - na esquadra

O luto ainda estava presente e Valverde insistiu para que Natasha desse depoimentos para que os culpados fossem pegos.....era terrível. Ela estava triste e mesmo assim não tinha um minuto de paz, neste momento a morena pensava em diversas coisas diferentes, morte, morte e mais morte.

Na cabeça dela era algo natural.....depois de seu pai e seu irmão morrerem ela não tinha absolutamente mais ninguém.

António estava com ela todo o tempo, S/n e Ferran também estavam presentes. Eles queriam por tudo assegurar-se que de forma alguma Natasha não faria nada que se viesse a arrepender.

— Natasha!! — António olhou para Valverde com desprezo.

Natasha deveria ser tratada como "Senhora Torres" desde o momento em que eles se casavam, porém o moreno não queria saber absolutamente nada disso, a qualidade mais extrema de Valverde era sem dúvida irritar ainda mais.

— Vamos! Quero o seu depoimento.

— Mamãe! Fica bem sim, estaremos aqui fora.

— Obrigada! — a voz da morena era fraca.

Samuel também tinha vindo e já estava na sala de interrogatórios. Estavam também presentes Dean e Hector para ajudar Valverde, ajudar não diria bem, mas o controlar era sem dúvida algo que ela fariam.

— Vais nos contar o que se passou?

— ...

— Minha cliente não tem nada o que falar!

— Sua cliente está a a ocultar criminosos, que digamos que também dá prisão.

— Chega Valverde! Não vês que ela está em luto. — Hector falou.

— Eu quero lá saber que ela está em luto, eu quero fazer o meu trabalho!!!

Natasha começou a ferver por dentro, ela era bastante calma.....todavia quando a sua paciência era testada ao limite era simplesmente terrível.

— Conta Natasha! — bateu com o punho na mesa.

— Não tenho nada a dizer.

— Natasha!!!

— O que queres que eu diga? Não tens as câmaras de vídeo-vigilância do Autódromo? Para quê que tu me queres aqui, hem? Me irritar? Ótimo, estás a fazer um excelente trabalho, eu estou em luto e tu começas a irritar-me cedo demais!

— Para! Me fala agora.

— Queres saber se meu irmão tinha uma arma é isso? — riu sarcasticamente. —Não vou dizer!!!

Um tapa foi dado, Valverde não mediu forças ao dá-lo na morena. A paciência dele estourou e Natasha estava ainda sem palavras para o que tinha acabado de acontece. Dean e Hector ficaram sem reação enquanto Samuel socorria de alguma forma a morena.

— Valverde chega! — Dean o sentou. —Não trabalhamos com violência quando interrogamos pessoas.

— Ela vai dizer-mo ou terei que te dar outro estalo? ME FALA MERDA!!!!

— NÃO! Ele não a tinha melhor assim.

Era a vez de Natasha chorar, não por dor do estalo mas sim pela dor de suportar a lembrança e a memória daquela terrível noite enquanto estava sendo interrogada.

Ela queria desaparecer, neste mundo ela sabia que não mais podia ser mais feliz. De alguma forma quando seu irmão morreu tirou a última esperança da sua alma se recompor. Em 2017 foi seu pai e agora em 2025 seu irmão, em um curto período de tempo era avassalador.

— Não deixa a sós Valverde!

— Tu aqui não mandas Dean? Quem faz as perguntas sou eu.

— Não! Quando resolveu invadir o espaço e o luto dela fazendo isto um dia depois de ele morrer o senhor rebaixou-se ao pior que o ser humano pode oferecer. Agora sai daqui! — Samuel falou entre dentes. —Vá!!!

Hector o levou para fora da sala. Natasha se tranquilizou e sentou-se novamente na cadeira, era difícil neste momento.....porém ela tinha que fazer um enorme esforço já que estava aqui.

— Desculpa por á pouco senhora Torres! Me conte, conte tudo o que viu.

— Não muito. Eu apareci dois minutos antes dele levar o tiro!! Não vi muito.

— Reconheceu algum deles? Por favor isso nos ajudará imenso na investigação.

— Um era loiro! É, um era loiro e o outro era moreno, cabelo quase preto!! Ambos tinham armas, meu irmão estava mais afastado deles....quando ele me viu virou-se para trás e seu olhar foi simplesmente de despedida.

— Como assim?

— Dean! — era Samuel.

— Precisamos saber Samuel! Sei que é doloroso, porém é necessário.

— Eu digo! Eu consegui. Meu irmão falou comigo....ele mandou-me sair de lá, ele disse para eu ir e eu não o obedeci. Eu entrei em pânico quando ouvi um disparo para o ar..........e de repente!

— De repente?

— O outro foi dado em meu irmão sem errar. Ele se ajoelhou e eu coloquei as mãos na sua espinha tentando de alguma forma tapar e estancar o sangue!! Eu não consegui. — e foi nesta hora que ela desabou.

Seu choro tornou-se mais persistente, juntou as suas mãos em volta da cabeça e um ataque de pânico foi gerado. Dean e Samuel chamaram António e seus filhos e de alguma forma a tentavam acalmar.

Natasha ainda não tinha sido preparada para relembrar tão cedo disto. Tudo foi um autêntico desastre.

QUARTO do PÂNICO!!!!!!!!

💄💋⚽️

António Torres
13:59h - em casa

Natasha estava simplesmente arrasada. Todos estávamos devo admitir......e desde que chegamos a casa à uma hora e meia atrás ela foi diretamente para o quarto. Eu em certo ponto entendia a dor dela, entendia que ela precisava do seu espaço.

Digamos que ela também estava como Thomas depois de tudo eu acho que ele não trabalharia pelo menos durante um mês para recuperar de tudo.

Todos precisávamos disso devo admitir, porém o mundo está constantemente a girar.....todos os dias aparece algo novo, todos os dias tem sempre um problema para resolver. Era difícil!

A morte de Vitor precisava de vingança, ele precisava ser vingado e a melhor maneira de o fazer era encontrar quem os matou....essa era a nossa melhor arma no momento. Já havia falado por alto com Lopez sobre esse assunto e ele iria vir com todos os seguranças para o escritório.

O pessoal estava de certa forma em suas casas a preparar as suas malas para passar uma temporada cá em casa. Depois de tudo eles acharam melhor dar todo o apoio possível neste TRÁGICO momento.

Digamos que todos os maioritários de todas as pessoas que eles protegiam vinham para cá. S/n ia estranhar Ryan não estar lá.....minha filha era bastante atenta ao pormenores devo admitir.

— Senhor! Podemos?! — Lopez logo bateu na porta.

— Claro!

A exceção era Franco e Miguel.....eles também cá estavam ainda mais por eles terem sido do antigo exército e digamos que conseguiam tratar dos ferimentos das outras pessoas. Eles eram excelentes nos seus trabalhos.

Meu pai cá não estava. Ele tinha ido resolver o pequeno, enorme problema democrático que Valverde arranjou hoje. Eu fiquei furioso quando soube que ele bateu em Natasha.....ainda bem que pela saúde do moreno que ele não estava lá na hora.

— Já informei por alto também o que o senhor queria.

— Ótimo! Bom....como sabem Vitor veio a falecer e os homens que o mataram ainda não foram achados. Bom........o assunto é o seguinte eu quero que descubram onde eles estão, telefonem para quem vos convém. Eles tem que ser encontrados.

— Quer vingança é isso senhor? — Ryan perguntou. —Irá tê-la!!!

— Ótimo. Quero o mais depressa este assunto resolvido. Eu quero encontrá-los e fazer com que eles sofram como Vitor sofreu e Natasha está a sofrer.

— Claro! — era Lopez. —A última morada deles é esta. Eles fugiram. No fim do expediente ontem eu e Enrique fomos lá. Nada encontramos!!!!

— Talvez a polícia também tenha ido lá à procura deles.

— Tem razão. Bem...... — me levantei por fim. —Caso os encontrarem já sabem onde os colocar. Não errem senhores!

— Nunca!

Eu sentia de certa forma a vingança a chegar o mais depressa possível.....no máximo eu queria uma semana para os achar, todavia talvez esse prazo até já fosse escasso para tal tarefa, eles podiam até já ter saído do país. Acho que nesta altura as polícias de todo o mundo estavam com a cara deles.

Eles não escapariam da prisão, porém se fosse por mim e Natasha eles não escapariam da morte.

A morena queria de certa forma que a morte do seu irmão fosse vingança......eu lá no fundo sabia que o seu coração precisava de uma derradeira vingança.

Três batidas na porta e logo a mesma foi aberta......era Natasha. Todos abaixaram as cabeças quando a viram, eles estavam em luto também e o respeito era mútuo. Era grande o poder que um LUTO podia gerar mas pessoas.

Tudo o que Vitor alguma vez deu se foi....todos os sonhos, todas as viagens que ele tinha ideia para ir, os filhos.....tudo se foi. Ele queria casar, ele queria a sua própria casa, ele queria a sua própria empresa. Tudo isso se foi......todos os sonhos morreram com ele.

Na sua última semana de vida ele havia comprado um Cane Corso para ele e para Rebecca.....o garoto estava triste, ele já se havia apegado muito a Vitor.

— Posso falar contigo? — sua voz era fraca.

— Bom......iremos deixá-los a sós! Terá o que quer senhor.

— Claro! Obrigado Lopez.........obrigado senhores.

Natasha se encostou ao armário até todos saírem e logo veio ter comigo quando por fim Lopez fechou a porta do escritório.

Logo a sentei na cadeira que antes eu me havia sentado. Sua cara estava apática, seus sonhos com seu irmão tinham ido embora. Tudo se FOI.

— Quero vingança!

— O quê? — fiquei surpreso.

Ela nunca quis algo deste tipo, mas depois de tudo acho que era até um pouco compreensível e a dor que neste momento ela estava a sentir era de certo modo DESASTROSA.

— Quero vingança. Quero achá-los e fazer com que eles sofram como fizeram com meu irmão.

— Amorzinho!

— Torres!!! — me olhou. —Por favor. Ele merece isso.

Ela estava certa.

— É!......Digamos que eu estava a tratar desse assunto agora mesmo com eles.

— Eles vão pagar pelo que fizeram.

— Vão! Vão sim!!

A puxei para perto de mim e logo a morena me abraçou......ela estava fraca, seu corpo tremia, neste momento ela deveria estar a pensar uma enorme quantidade de coisas para que vingasse a morte de Vitor. Ele de facto merecia isso.

— O que meu irmão queria era isto! Eu sei que sim.

— Ah amorzinho! Eu sei.....eu sei que sim!!!!!

S/n Torres
15:00h - da rua a casa do pai

Todos estávamos tristes. Digamos que ninguém imaginava que no fundo isto pudesse de certa forma acontecer. Levi estava bastante mal e até poderia de certa forma prejudicar a sua recuperação.......Ella havia ficado com ele em casa de meu pai. O sol estava forte e era até pecado trazê-lo para a rua ainda mais após uma cirurgia no cérebro.

Estávamos todos reunidos! Eu havia feito um grupo à parte para este momento......nós queríamos de alguma forma lembrar para sempre de Vitor e a melhor solução que tive foi fazermos ursinhos com a voz dele, teria três tipos de gravações em cada um e acho que a mais especial era o do ursinho de Natasha.

Compreendo de certa forma a dor deles.....em casa também tenho um ursinho com a voz da minha avó.......meu irmão havia-me dado. Eu chorei a primeira semana, a segunda, a terceira, porém com o tempo fui me habituando e quando me sinto triste eu até durmo com ele. É uma forma de conexão pela minha parte.

— Estão todos preparados? — intervi. —Ei estou falando com vocês.

— Ah sim! Estamos sim, mas uma pergunta aqui priminha......nós temos as gravações?

— Eu deixei essa parte com a Sira, Hannah! Espero que ela não as tenha perdido.

— Não! Estão guardados como uma relíquia no meu telemóvel.

— Bom....vamos lá! Vamos entrar.

Todos estávamos tristes devemos admitir, e quanto mais o tempo passava era notório que a vida pode ser por sua vez ser bastante injusta nesse requisito. Eu sempre fiquei mal quando pessoas boas morriam, Vitor não devia ter morrido.....foi uma enorme decepção.

Tinha vários ursinhos. Levi sempre amou ursinhos castanhos escuros, Rebecca os castanhos claros e Natasha os brancos. Era de certa forma algo bastante concreto na vida deles. Isto faria com que a memória e a lembrança de Vitor jamais morre-se.

— Dá para colocar três áudios em cada um? — perguntei discretamente à moça. —Seria bastante especial.

— Tentaremos....demorará algum tempo, todavia ficará pronto ainda hoje.

— Tudo bem! Obrigada.

— Nada.

Ficamos a ver o restante da loja....os meninos tinham ido comer algo ao restaurante da frente e nós ficamos por aqui mesmo. Sinceramente com tudo isto acho que não tínhamos mais nada para fazer........acho que durante alguns dias e até semanas não teríamos absolutamente nada.

Vitor tinha imensos sonhos e acho que todos estávamos a par disso e queríamos de alguma forma os concretizar. Seu sonho era ser cremado quando morre-se, quem sabe não visitássemos os países que ele mais queria junto dele de alguma forma.

Nesse aspecto teria que falar com meu pai e até com Natasha. Era uma forma de honrar tudo o que ele queria.......ele merecia isso.

Uma hora e meia se passou......e logo a moça me chamou ao balcão. Eles estavam feitos. Até com uma roupinha bonita eles estavam, não era para mim e até eu já estava a ficar emotiva. Isso sempre me deixava com lágrimas nos olhos. 

Vitor para sempre SERIA NOSSO.

— Aqui estão! É assim que os querem não é?

— É sim! Obrigada.

— Cartão ou dinheiro? — a moça me questionou.

A lembrança veio. Mais uma vez a moça me perguntou e logo Gabi capta a minha atenção para o mundo exterior novamente. Eu viajei por instantes em meus pensamentos pois quando eu vinha com Vitor passear ele sempre ficava indeciso com qual ele pagaria.

A lembrança por vezes MACHUCA demasiado.

— Cartão por favor.

Eu senti isto! Eu sentia de uma forma a lembrança perfurar meu coração e consecutivamente minha alma. Logo os rapazes chegaram e tanto Pedri quando meu irmão colocaram suas mãos sobre mim, eu precisava da CALMARIA neste mar PROFUNDO.

— Muito obrigada moça.

Ferran e Pedri pegaram nas sacas e as colocaram no carrinho de Matheus, de Safira e de Heloísa. Neste momento o que todos queríamos era ir para casa.....acho que meu pai por um aspeto até já podia estar a estranhar ainda não termos chegado todos a casa já que Ella e Levi já lá estavam.

Desde ontem que me lembre e por Ella me informar o pequeno Levi comeu bastante pouco.

O LUTO gerava isso, era até terrível. Nós precisava-mos comer para haver forças para não levantarmos e encarar o mundo, mas o mesmo já não se pode dizer de uma criança.

Não demorou muito e logo chegamos todos em segurança em casa. Meu pai me abraçou tanto a mim quanto a Ferran quanto nos viu.....acho que ultimamente isso irá acontecer todos os instantes e horas quando saíssemos de casa. Ele de alguma forma tinha medo que nós também partíssemos da beira dele.

Nós ÉRAMOS o MUNDO dele, era de nós quanto filhos que ele se aguentava nestes momentos.

Ele liberou um pequeno sorriso quando colocamos as três sacolas dos ursinhos no cimo da mesa de centro da sala de estar. Levi estava deitado no colo de Ella.....ele havia recusado a comida novamente.

— A mamãe e a Rebecca? — Ferran falou.

— Rebecca no quarto e a vossa mãe....bom.....a vossa mãe está no jardim.

— Temos uma surpresa! Podemos ir chamá-las? — questionou.

— Vai ser doloroso para elas e ele!!

— Nesse aspeto nós estamos cientes do risco que estávamos correndo. — Gavi se aproximou de Levi e o pegou ao colo. —Vem pequeno..........senta-te aqui á frente.

— Bem irei chamar a mamãe! Quem vai chamar a tia Rebecca? — perguntei virando trás.

— Nós vamos! — Gabi e Any se fizeram presentes.

— Bem então é isso! Eu já volto.

A pequena Sophia também tinha vindo connosco. Ela amou a nossa ideia e digamos que acho que ela não largaria de certa forma esse ursinhos....acho que para a frente também teria que fazer um para ela.

Vitor amava brincar aos aviões com ela, fazer castelos de areia, brincar na piscina, brincar com plasticinas, pintar.....tudo e mais alguma coisa ele amava fazer com ela.

Me dirigi para perto dela e logo me sentei no sofá onde ela estava. Ela não me dirigiu um só momento o olhar, ela consequentemente ainda estava em negação e eu por vezes até podia sentir a dor de ser a única pessoa que sobrou do amor que o pai lhe havia dado. Agora era apenas ela no mundo.

— Mamãe.........

— ...

— Entendo que não querias falar, tudo bem não irei te forçar a isso, mas eu e o pessoal queríamos  que fosses ali dentro por um pouco pelo menos.

— Não tenho vontade! — ela olhou finalmente para mim. —Por favor deixa-me sozinha.

— Mamãe! Vá. Aqui está calor, vais ficar pior.

— Eu estou bem! Eu estou bem ok.

Ela ficou chateada. Ela se levantou e deitou a travesseira ao chão.....fui atrás dela e logo entramos em casa novamente, ao subir as escadas Sophia captou sua atenção. Ela mostrou-lhe a sacola que havíamos comprado...............e foi nesse momento que vi os olhar da morena mudar.

Sua mente estava relutante, com o resto das forças que tinha caminhou para o sofá e logo se sentou perto de Levi. Nenhum dos três estava com vontade nenhuma de falar e nem de interagir.

— Bem....sei que não querem estar aqui, todavia depois de verem o que fizemos vocês irão de certa forma não agradecer.

— O que é isso titio Gavi? — Levi questionou.

— Bom....iremos dar por ordem como está na mesa. Primeiro mamãe, para a senhora, segundo para Levi e em terceiro para ti Rebecca. Espero que gostem.

Levi olhou para o ursinho e abraçou-o ainda mesmo com ele dentro da caixa. O pequeno de alguma forma amaria esse presente e não o largaria nunca.....disso de certa forma podia ter a certeza.

Passados dois minutos o som foi liberado, a voz de Vitor estavam presentes novamente nas nossas vidas e acho que o mais especial foi sem dúvida ele falar "hermanita" para Natasha......ele amava isso. Natasha o abraçou e logo lágrimas desceram pelos seus olhos.

— Eu avisei!!!!

O cão de Rebecca e de Vitor foi até á morena e colocou seu focinho na sua perna, a morena liberou novamente o último áudio e num determinado momento vimos o pequeno de certa forma aliviado. Ele o amou no menor tempo que alguém poderia amar, em uma semana Vitor tinha feito muito diferença em Tobias.

— Gostaram? — Ferran desta vez. —Nos repreendam façam o que quiserem, mas no final nos quisemos que vocês se sentissem melhores um pouco.

Levi não abraçou a todos e consecutivamente Rebeca o fez também. Eles amaram o presente......nossa mãe por sua vez ainda estava ouvindo a voz do seu irmão repetidamente, acho que isso era normal, eu também o fiz com o ursinho com a voz da avó.

— Vocês são todos os tolos! — Natasha não abraçou. —Muito obrigada pessoal.

— Ficarás melhor agora. — limpei suas lágrimas.

— Confia em nós......estaremos aqui para te ajudar.

Mais uma vez o abraço foi liberado.......eu amava isso, neste momento era o que ela mais precisava. Mason pegou em Levi ao colo e logo aproximei Rebecca para perto de nós novamente. Um abraço de CALOROSO de AMOR foi dado.

Ninguém aqui precisava agora de ser PRISIONEIRO das angústias e das culpas.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top