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• Atualmente •

Natasha Torres
13:55h - do psicólogo a casa

António estava triste, mas as suas expressões corporais indicavam que ele ficou aliviado em contar tudo o que aconteceu. Ninguém é obrigado a guardar toda esta mágoa para ele próprio, ninguém é obrigado a fazer isto......mas vendo por outro lado o moreno simplesmente não queria que ninguém soubesse de como realmente ele se sentia verdadeiramente.

Ele chorava, era normal. Reviver tudo isto era demais para ele, a morte de um familiar próximo a nós nunca é fácil.....o mesmo eu digo de meu pai. Sua morte precoce me matou por dentro em vários aspetos.

— Posso ir na casa de banho? — o moreno o questionou após suspirar. —Só por um momento.

— Claro!

Ele neste momento precisava de um minuto sozinho e eu precisava de apenas um minuto com o psicólogo para entender o que de verdade eu podia fazer agora.

— O que acontece agora?

— Ele deitou tudo para fora é normal que isso agora comece a acalmá-lo. Ele viveu vários anos em luto, ou apenas o deixou de lado e começou á pouco a fazê-lo. Neste momento temos que o deixar absorver tudo o que ele falou, ele irá aliviar-se.....o que ele precisa agora é espaço e um tempo para processar tudo o que aconteceu.

— Muito obrigada. Eu queria fazer outra questão!

— Claro!

— Bem...não sei se faz parte do processo, mas ver o túmulo dele fazer-lhe ia bem neste momento?

— Foi enterrado em Portugal correto?!

— Sim! Tem alguma forma de ele ir lá e se inteirar que ele está mesmo lá?

— O luto tem várias componentes, algumas pessoas precisam se libertar, outras ficar com os entes queridos um pouco sozinhos e outros as duas coisas.

— Para ele é os dois correto?

— Sim Natasha é sim!

Cruzei os braços. António logo saiu e bebeu um copo de água, suspirou novamente e logo colocou as suas mãos nos bolsos do casaco.

— Podemos ir visitá-lo? Amanhã fará vinte e oito anos que ele partiu, ele está em Portugal.

— Claro. Claro que sim se isso de alguma forma lhe fará melhor podemos ir sim.

— Ótimo! Esperaremos pelo senhor amanhã no angar pelas 07horas da manhã.

— Tudo bem! Obrigada. Bom...até mais.

— Muito obrigada!!

O cumprimentamos e logo saímos da sala. Arrumei o meu cabelo e logo o moreno me pede a mão, neste momento ele precisava de carinho e de absorver tudo o que tinha acontecido. Não era fácil falar em assuntos como este após anos, eu fiquei triste por ele, eu fiquei simplesmente acabada com tudo.

Entrou no carro e nem uma palavra disse, ele estava abalado. Olhei para ele, coloquei a minha mão sobre o seu ombro e logo dei partida no carro....o nosso caminho final seria em casa.

Vitor já devia estar a sentir saudades de nós os dois, o moreno conseguiu depois de muito esforço voltar a falar com o seu cunhado favorito. Eles os dois amavam-se demais era até um alivio que ambos tinham feito as pazes.

Coloquei uma música calma e não demorou muito para chegar. Estacionei o carro na garagem e logo o moreno saiu disparado para dentro da casa.

Não falou com absolutamente ninguém!

— Senhora! — Rute se dirigiu a mim. —Peço desculpa de trazer o meu filho para cá é que ele arrumou confusão na escola e não consigo deixá-lo em outro lugar.

— Não tem mal. Ele já foi ver as crianças?

— Obriguei-o a fazer os trabalhos de casa enquanto cozinhava.

— Pode fazê-los de tarde Rute sem problema. — me encostei na mesa. —Steve correto? Queres conhecer as crianças?

— Emma e Arthur? Minha mãe fala muito sobre eles e o quanto são comportados.

— Que ótimo! Irei tirá-lo por um pouco Rute. Vem! Vamos lá conhecer.

Acariciei o seu cabelo castanho e logo meu irmão se levantou e me abraçou, ele estando perto parecia que para ele demorava mil anos. Ele sempre foi muito grudento e sentimental comigo....eu amava o jeito que ele tratava as pessoas

— Ele falou sobre aquele assunto no psicólogo?

— Agora não. — murmurei. —Oi pequena! Como vais?

— Mamã!

— É pequena mamãe. Mamãe te ama e tem um novo amiguinho para te apresentar, a ti e ao Arthur para parece que ele está a dormir neste momento.

— Acabou de adormecer! — Rebecca responde.

— Pequena Emma que prazer conhecer-te.

Ele acariciou o seu cabelo e logo me pediu permissão para a colocar no seu colo, ele era um amor de pessoa....eu sei como são os adolescentes e digamos que Ferran já foi assim como ele a querer enfrentar todo o mundo e depois aparecia com suspensões da escola por mau comportamento.

A adolescência não era fácil, não o foi para mim e muito menos para Vitor se sempre arranjava um pretexto para brigar mesmo que a conversa não fosse com ele. Adolescentes eram complicados!

— Mamãe! — S/n entrou em casa ofegante. —Preciso do papai! Assunto urgente.

— O que se passa teu pai agora não pôde. — me acerquei dela. —Ei, ei, ei! Respira devagar vai.

— Temos um problema no CT! Pedri está a embirrar com o Luka, novamente. Já não sei mais o que fazer me ajuda.

— Vem vamos me leva até lá. — entrei apressadamente em seu carro. —Teu pai não pode saber.

— Agora eu sei disso, todavia eu estava tão desesperada que nem pensei nisso.

Pedri estava com uns ciúmes tremendo de S/n com Luka mesmo ela já lhe ter dito que eles eram apenas antigos e somente isso. Homens nunca entendiam isso e até levavam tudo ainda pior quando lhes passava imensas coisas pela cabeça.

...

14:15h - no CT do Barça

Chegamos e desde o estacionamento se ouvia eles brigando. Entramos rápido para o relvado e logo vi Pedri a ser segurado por Alex e Gavi enquanto Luka estava sendo segurado por Ferran e Mason. Bem....ninguém gostava de brigas e sinceramente nunca tinha visto Pedri assim por ciúmes.

As coisas mudam!

— Seu filho da mãe! Vais-te afastar dela não aviso novamente. — Pedri tentava-se soltar.

As meninas e os jogadores estavam confusos por eu não intervir, mas para que eu fizesse isso eu tinha que simplesmente entender o que aqui se estava a passar para acalmar os ânimos exaltados.

— Eu sou amigo dela cara qual o teu problema! Eu só interajo com ela, eu não a quero. Meu tipo é ruivas para quê todo esse escândalo.

— Como vou confiar que isso é verdade? Vais afastar-te dela, do Matheus, da nossa casa e especialmente daqui estamos entendidos?

Luka estava magoado na boca, Pedri havia-lhe acertado com um soco bem na cara. Pensando bem, acho que foram dois pois quando Luka virou o rosto para mim o outro lado estava ainda pior.

— Vamos parando chega deste teatro! Não se resolvem as coisas na violência, mas vendo por outro prima foste tu senhor Pedri que começaste. Nunca pensei que chegasses neste ponto.

— Ele vai roubar-me dela.....

— Droga Pedri! Caraca és mesmo surdo, ela não quer nada com ele são apenas amigos. — respondeu incrédulo Ferran. —Sê mais consciente!

— Também tu o defendes? Que amigos que eu tenho. — ele estava irredutível. —Me soltem.

Se soltou e logo desceu para o piso inferior, S/n foi atrás dele e logo os meninos largaram Luka. Depois de tudo um casal devia falar sozinho para que no fim eu o pudesse fazer, foi para essa razão que a morena me chamou.

— Nos deixem a sós.

— Mamãe! — Ferran acariciou o meu ombro. —Tem a certeza?

— Eu fico bem! Vai.

— Me conta o que aconteceu Luka. Preciso saber a verdade e se eu falar com algumas pessoas que estiveram aqui e me afirmarem outra coisa....

— Foi ele! — ele me interrompeu. —Eu estava interagindo com ela e com o Matheus e quando dei por mim só vi de relance Pedri me acertando com um soco na cara e foi aí que começamos a brigar.

— ...

— Ele afirmou que eu não valia nada para ela e que ela estava muito melhor com ele do que comigo. Ele está chateado só porque eu cheguei......eu não queria isso eu juro.

— Eu acredito em ti. — segurei levemente o seu braço. —Vem me espera lá em baixo terei que falar com outra pessoa agora.

— Claro. — retribuiu o sorriso.

Desci as escadas e perguntei a Ella onde S/n e Pedri estavam, a morena apontou para a cantina e então essa seria a minha próxima parada. Andei mais um pouco, abri a porta e logo dei de caras com S/n reconfortando o moreno. Não havia ninguém servindo nada e como a morena é ela havia dispensado para que ninguém tivesse a ouvir a conversa deles.

Me aproximei deles e logo Pedri estremeceu ao tocar nas suas costas, puxei a uma cadeira para perto dele e logo S/n saiu em direção aos sofás que ficavam perto da entrada da cantina.

— Pedri! Agiste mal.

— Eu sei me perdoe eu não queria, mas a minha raiva foi mais forte do que tudo.

— Me conta! Eu já falei com ele.....agora eu quero a tua versão da história.

— Estávamos bebendo água depois do treino e eu o vi de relance interagindo com ela e com Matheus! Eu passei-me e acertei-lhe com um soco e aí começamos a brigar. Eu juro! Eu juro que não queria Natasha!

Ele limpou as suas lágrimas.
Ele estava acabado.

— Não devias ter feito isso, as coisas não se resolvem em brigas e palavras grosseiras. Como achas que ela se sentiu vendo o pai do seu filho, o homem que ela ama sendo assim com outro homem que apenas quer amizade com ela hem?

Ele virou a sua cara e logo a viu mexendo no telemóvel. A cara dela era de tristeza e ele sabia que se ela não falasse normalmente com ela ele entendia isso. Pedri havia procedido muito mal.

— Eu duvidei dela quando eu prometi não duvidar, ela me ama e eu por uma coisa imbecil posso perder o amor dela. Ela é uma mulher fantástica e eu simplesmente posso ter estrago tudo que ouve entre nós.

— Que dramático Pedri! Não sejas assim tão pessimista, ela apenas precisa de pensar apenas isso.

— Eu tenho que pedir desculpas a imensas pessoas. Eu vou indo! — se levantou após colocar a sua mão na minha e logo abriu a porta disparado.

— Pedri! Espera...

A morena se preocupou e logo a travei dizendo que ele iria apenas pedir desculpas. Digamos que ela não se conformou e sei que o coração sempre dizia outra coisa, nunca era fácil lidar com isto.

Saímos, andamos um pouco pelo corredor e logo vimos as meninas na sala de Ella já prontas para ir para casa. Esta sala era vida com todas as letras, eu me sentia extremamente bem e Jonathan fazia de tudo para que ela se sentisse feliz ainda mais depois de tudo o que ela passou.

— Vocês estão bem? Estão muito sorridentes para o que acabou de acontecer. — S/n interveio. —Aconteceu algo?

— Não só estamos a rir do tombo que a Amy deu á pouco quando vínhamos para cá.

— Sério? Queria ter visto!

— Eu gravei. — Gabi falou. —Foi hilário.

— Vocês são terríveis meninas! — me sentei. —Pedri foi se desculpar.

— Fez bem. — Ella cruzou os braços. —Até a mim me admirou pois ele nunca foi assim. Não mesmo!!!

Elas estavam contentes e muito ainda mais depois da tragédia que aconteceu e conhecendo António ele saberia o que se tinha passado e tomaria uma providência em tanto. Pedri podia até ser suspenso dos jogos ou até pior........expulso do clube por conduta imprópria.

— Vocês estão tão contentes com um acidente do que com realmente pode ser expulso do clube. — falei e logo elas se calaram.

— A tia tem razão, isto foi grave e tem câmaras que apontam para a zona da briga e do campo. — Hannah falou. —Não foi nada legal isto.

— Nós não queremos que ele seja expulso!!

— Natasha tem razão. — Pedri apareceu com os rapazes. —Eu sei das asneiras e esperarei pela minha sentença. Agora.....agora podemos ir embora?

— Claro! Claro que sim. Vem vamos. Xau mamãe e obrigada por se dispor a vir cá.

— Nada fiquem bem vocês.

Me tranquilizei e logo encontrei Luka sentado nas escadas de acesso á garagem, talvez todos os tivessem visto e nada disseram. Depois de tudo eles não queriam mais confusões por hoje, isso seria catastrófico.

António desde que se tornou presidente colocou câmaras de vídeo vigilância em todos s lugares exceto os vestiários e os banheiro e enfermaria. Ele sabia que neste dois locais a prioridade era máxima, mas sempre tinha câmaras que apontavam para as portas desses dois locais. Era o mínimo.

— Queres que te deixe em algum lugar?

— Tinha uma coisa combinada com um amigo, mas posso pedir um Uber.

— O quê? Claro que não, vem eu levo-te....diz-me onde é e eu deixo-te lá.

— Parc da Cidadela. Marcamos lá só que eu me esqueci que mal conheço Barcelona inteiro.

— Normal vem entra no carro aqui está mais fresco.

Ele sempre foi um jovem bastante educado e o que mais me impressionou é que ele fazia aniversário no mesmo dia e no mesmo mês que Sebastian. Coincidência ou não, não podia tirar absolutamente nada de concreto. Até o ano era igual, nunca mais me esqueceria.....2003.

Não minto, ele e Sebastian era bastante parecidos fisicamente, mas eu não podia apenas pegar e fazer um teste de ADN sem o consentimento de ambos. Eu estava com um pé e outro á frente quando se tratava dessa situação, não sabia o que fazer para ser sincera.

💄💋⚽️
• 1 dia depois •

Natasha Torres
07:00h - no angar ao Algarve

António estava já dentro do jato e simplesmente ele tinha-me pedido que não queria falar com ninguém e muito menos que alguém falasse com ele se ele mesmo desejasse. Eu não queria imaginar a dor que ele estava sentindo neste momento, mas para ser sincera....quando eu perdi meu pai eu também entrei em negação como António fez à 28 anos atrás.

Tudo foi doloroso.

Estava fora do jato esperando o psicólogo. Ele disse que teve um imprevisto, mas já estava chegando, não me importava nisso pois eu tinha dito para todos que eu e António ficaríamos fora de zona por uma semana no mínimo.

Emma havia ficado com Hannah e Gavi. Eles queriam ensaiar com ela para quando a filha deles chegasse, meu irmão quase morria quando ouviu isso.

Ele ama a Emma e Emma o ama.

— Desculpe o atraso Natasha! Meus filhos hoje parece que quiseram acordar mais tarde que o habitual.

— Não tem mal Cristian! Entre, venha. Informou-me que ficará até amanhã correto?

— Sim! Isso mesmo, tenho que voltar ao trabalho.

— Trabalho é sempre doloroso. — o parei. —Meu marido me disse que não era para falar com ele, pelo menos até ele dar permissão para tal.

— Entendo. Poderei me sentar?

— Claro.

Vi António dormindo na poltrona. O moreno havia dormido extremamente mal esta noite, não parava de se remexer e eu acho que tudo vinha na sua memória novamente.....era terrível.

Ele estava quebrado, apenas nós o mantínhamos neste mundo porque se mais ninguém estivesse ele simplesmente morreria de desgosto.

Logo o jato levantou voo e quanto eu quanto Cristian, o psicólogo do moreno comemos um pouco. Eu ainda não tinha tomado o pequeno-almoço. Saímos muito cedo de casa nem meu irmão tinha acordado e com Arthur em casa ele só acordava perto das 10horas. Bebés não eram fáceis.

António infelizmente acabou por adormecer profundamente que nem quis realmente saber de comer e digamos que ele amava isso, ele amava cada fruta e cada aperitivo que o jato oferecia. Situações são dolorosas, mas mostra-nos a razão pela qual viemos ao mundo.

— O local do acidente! António sabe onde fica?!

— Deve saber sim, mas qualquer coisa perguntamos á Patrícia ela deve saber disso. Ela voltou a semana passada para Portugal novamente.

— Ótimo! Ótimo! Isso fará com que o processo de luto dele minimize e comprove para ele que realmente não se pode fazer mais nada.

— Verdade. Tem toda a razão.

Continuamos a comer e logo coloquei o meu portátil no cimo da mesa para continuar o trabalho, a empresa não parava e não era porque eu lá não estava que isso tinha que acontecer. Ultimamente a empresa estava com alguns problemas internos, mas nada que eu não pudesse resolver especialmente meu irmão que amava as fofocas das mulheres.

Cristian me perguntou onde era o banheiro e logo o indiquei, não demorou nem meio segundo para que António levanta-se enfim.

— Está tudo bem Torres?

— Vamos no cemitério primeiro?!

— Se assim o desejares, mas primeiro tenho que falar com o Cristian sobre isso.

— Tudo bem. — começou a comer a comida que tinha reservado para ele.

Ele estava a ser o mais delicado que podia hoje, ele estava com um ar apático e os olhos inchados ainda indicavam que ele não tinha dormido o suficiente, as orelhas ainda estavam presentes.

— Bom dia senhor Torres! Que prazer revê-lo.

— Bom dia Cristian, me desculpe não o receber é que na noite passado dormi muito mal.

— Não tem problema eu entendo o que o senhor está a sentir, tudo o que nos contou foi como se tivesse a acontecer connosco.

Assenti com a cabeça.
Fechei o computador! Parece que não iria trabalhar tão cedo, talvez amanhã eu o fizesse.

— Podemos visitar o local do acidente? Conhecendo a Patrícia ela também quererá vir connosco.

— Ambos eram chegados a ele é normal que os dois estejam juntos neste momento.

— Obrigada.

Continuamos a conversa e ser me aperceber logo chegamos ao Algarve, hoje estava a chover era terrível eu e António detestávamos a chuva, mas vendo por outro lado esta era mais uma das razões pela qual o "céu chorava".

Todos os anos neste dia 12 de fevereiro sempre chovia aqui na cidade, não sei se era simplesmente o destino ou algo angelical. O moreno devia estar neste momento a pensar que o avô dele estava com ele neste instante.

— Patrícia nos espera no angar. — Lopez indaguei-o. —Podemos sair agora senhor?

— Claro!

Sempre delicado e apreensivo António saiu do jato, me deu a mão e não a largou mais até chegarmos ao carro. Tinha uma enorme vontade de abraçar a morena, porém tirar a mão de António seria até um crime.

Aqui estava mais quente.

O caminho todo foi um autêntico silêncio. Lopez me informou que já haviam comprado as flores preferidas de Matheus, ele amava margaridas e granjas, seria um arranjo bastante bonito devo ressaltar.

— Pedri não me atendeu as chamadas ontem, ele sempre recusava, queria falar com ele sobre o presente da minha filha com ele e não me atendeu, mandei mensagens e nada. — ele tentou quebrar o clima. —A S/n disse que ele descansava, mas eu não acreditei isso.

— Tens que acreditar no que a diz, Pedri teve muito que fazer no treino!!!!

Tive que mentir e ir na lógica dele pois se ele soubesse o que de facto aconteceu ele era bem capaz de voltar para Barcelona e desprogramar tudo o que tinha sido planeado.

Lopez me olhou e logo retornei o olhar para António, talvez Ryan, segurança de S/n lhe tivesse dito. Eles eram obrigados a dizer tudo o que acontecia ao final do dia.

— Hum! — ele desconfiou. —Quando regressar quero falar com ele.

— Tudo bem Torres.

...

11:20h - do cemitério ao local do acidente

Vendo por outro prisma este era o cemitério mais rico. Foi aqui que foram enterrados duas das pessoas mais importantes de Portugal e da Espanha. Humberto e Matheus foram os grandes revolucionários da empresa automobilística, design e porcelana....acima de tudo gado e cortiça. Um enorme poder monetário gerava em torno desta cidade e desta região.

— António!

— Sim. — respondeu a Patrícia. —Comprei, eu sei o quanto ele amava.

— Obrigada! Vem, vem comigo.

— Posso?!

— Claro! Claro que sim Patrícia.

A pergunta da morena me surpreendeu bastante, nunca pensei que ela me questionasse com algo deste tipo, algo se passava e eu tinha realmente que descobrir o que era. Não podia ficar simplesmente sem saber o real motivo de tudo isto.

Andamos mais um pouco pelo cemitério e o jazigo que eles ficavam era o mais afastado de todos os outros, mesmo eles sendo ricos eles preferiram algo simples como um túmulo no chão e não um túmulo individual para cada um.

Vi António a agachar-se e logo a chuva deu tréguas. O moreno suspirou e logo colocou a sua mão sobre a foto de seu avô, num certo ponto esta parte do luto era algo até admirável. Nunca entendia ao certo como tudo isto.

— Estou morrendo de saudades tuas vovô, não tens noção do quanto eu queria estar ao teu lado neste momento......beijar-te e de me sentir novamente amado nos teus braços. Eu sinto muito. Eu....bem...eu consegui vovô, eu me tornei um homem como o senhor sempre sonhou que eu fosse, segui os seus passos e no fundo eu sei o quanto isso o alegra aí de cima.

— António! Tudo bem?!

— Sim! Tudo. — se senta por fim. —Sabe vovô.....minha mãe, Aurora o senhor sempre amou a sua comida, o seu jeitinho com as pessoas....ela agora está impressionando os anjos como o senhor. Ela está a fazer-lhe companhia. Eu acho que neste momento eu queria ser o vento e saber de como está aí em cima.

— Nunca deixaremos de te amar Matheus! Nós o amamos e sempre será assim, nunca duvidaremos nem um pouco das coisas que implantou no mundo enquanto estava vivo. Sabe......eu estou casada e tenho o marido dos sonhos, o tão marido que o senhor sempre desejou para mim. — era Patrícia. —Tenho três filhos, eles são perfeitos....Ava, Ariel e Gabriel....eu sempre falo de você como avô deles, o senhor sempre será um pai para mim.

As lágrimas vieram-me aos olhos.......eu sinceramente não fui preparada para este momento, mas eu sabia que isto era importante para ambos. Eles precisavam mais do que tudo neste mundo se libertar de tudo o que os prendia ao passado, mas eu nenhum momento isso só afastaria dele verdadeiramente.

— Ficaremos mais um pouco tudo bem? Demorem o tempo que precisarem aqui.

E o sol entre as nuvens se fez sentir entre as nuvens, um momento mágico e mais um sinal de que tudo o que eles diziam estava sendo ouvido. Tudo estava bastante tranquilo e para eu não chorar mais tive que me afastar um pouco. Eu estava morrendo por dentro de ver António neste estado.
Era horrível isso!

Atendi a chamada de meu irmão e ele estava desesperado, mas pelo ambiente ele estava na empresa. Era novamente briga entre Mia e Flor, elas não parariam nunca. Pedi para que ele chamasse S/n em meu lugar e as aclamasse com a sua ajuda, neste momento eu não podia fazer isto, ainda mais num cemitério.....me irritar era a pior coisa a fazer.

— Amorzinho! — António apareceu por trás de mim. —Tudo bem?! Ouvi que tem a ver com a empresa, tudo bem?

— Tudo sim, depois eu conto. Já acabaram?

— Sim! Já colocamos as flores novas e deitamos as velhas fora. Colávamos também nove velas, uma para cada membro da família vivo.

— Que lindo! Mas nove, não devia ser oito?

— Sim, tu fazes parte da família. Ele amaria o teu jeitinho se te conhecesse eu sei que sim. Agora vem, vamos a outro sítio.

— Claro!!!!

Saímos e passados trinta minutos já nos encontrávamos no local do acidente. Pelo caminho António avisou que os carros só podiam ir até á entrada da estrada, era tudo por causa do acidente.

— É na curva a 800 metros.

— Tudo bem vamos lá.

Andar por aqui tinha um ambiente bastante pesado, era como se algo tivesse a carregar o ar numa forma de o condicionar, algo desconhecido se avizinhava, eu acho isso pelo menos.

Não demorou e logo chegamos, o muro estava na mesma que António nos havia referido na saída do cemitério, havia cartas e flores recentemente postas. Eu me arrepiei devo admitir e ver o amor que as pessoas tinham por um empresário já falecido era outro nível. Matheus tinha mudado imensa coisa.

O moreno falava todos os pormenores de como tudo havia acontecido, era como se fosse com ele que estava a acontecer. Ainda existia algum vestígio de marca de pneus, devia ser de ambos os carros, mas também o de Patrícia.

António encostou a mão no muro e a chuva começa a ser gerada novamente. Era o destino com certeza, Matheus estava sempre o salvaguardando, a ele e a Patrícia.

— Não sei qual a razão disto, mas cada vez que eu coloco aqui a mão é como se uma paz viesse ter comigo a a culpa vá embora.....uma culpa que hoje em dia sei que não a tenho! Foi um erro não termos voltado para casa tão cedo.

— Á coisas na vida que são destinas a ser como são, nunca imaginamos algo deste género e eu tenho a. Certeza que nem mesmo Matheus esperava isto desde o momento em que acordou aquele dia!!

— Não mesmo Cristian.

— Á sempre coisas mal resolvidas que sempre voltam, mesmo não querendo isso. — é a morena.

— A maioria das flores é granjas e margaridas. As pessoas sabem realmente o que ele gostavam.

— Meu avô nunca escondeu, em tudo onde ele ia e na mesma onde ele comia em eventos existiam essas flores no centro delas.

— As levaremos para casa e as cartas também?!

— Claro.

Começamos a recolher e não demoraria nem trinta minutos para que António abrisse pelo menos uma, sei que isso fazia parte do processo, mas ser ele a ler e a digerir tudo acho que não era boa ideia.

— Cristian. - captei a sua atenção. —Acha essencial António fazer isso?

— Ler as cartas? De uma forma isso terá que lhe dar mais consciência e por certa forma o luto ser mais vivenciado.

— Cada um de nós tem uma caixa com um cadeado com alguns dos acessórios que Matheus tinha. Isso faz bem?

— Já alguma vez o abriram depois de muito tempo?!

— Eu a abro todos os anos nesta data.

— ...

— António?!

O moreno não respondeu á sua pergunta e vendo pela reação dele, António simplesmente tinha esquecido absolutamente da caixa ou até a deitado fora por engano. Eu o conheço e vendo o amor que ele tem pelo avô ele jamais, jamais faria a segunda opção.

— Já não tenho a caixa!

— Como assim? — Patrícia se indignou.

— Eu não sei dela desde três meses depois dele falecer.....eu a procurei pela casa toda mas não a encontro.

— Já tentou procurar no quarto em que ele ficava?

— Agora esse quarto é da minha filha mais velha, talvez eu o tenha colocando num compartimento secreto, todos os quartos tem um.

António sentia-se culpado por não a ter na sua vista, mas com toda a certeza quando ele chegasse em casa ele procuraria com toda a pressa a maior recordação que ele tem de seu avô. António era esquecido, mas jamais falhava a uma promessa na questão de lembrança.

Ele sempre me disse que guardava os fatos e as melhores camisolas de seu avô para que quando ele se sentisse pedido as vestisse ou até segurasse para conseguir enfrentar tudo.....tudo estava em Portugal e o tempo em que estivemos brigados em Barcelona isso não pôde acontecer.

Duarte ficou triste por ele, Duarte foi o único filho e com a partida de todos em sua volta o desmoronou ainda mais e mais....mas todas as crianças e até seus netos faziam questão de o amar para que ele não se sentisse seguro.

— Ninguém irá largar essa lembranças. — falei.

Todos precisamos de uma luz quando nos sentimos sozinhos, todos precisamos de carinho quando não sentimos perdidos. Todos precisamos de alguém quando outro alguém parte.

Os abraços eram a melhor forma de curar uma pessoa, mas neste momento tínhamos que deixar descansar todo luto mergulhado na mente de António. Eu faria esse trabalho muito bem. Eu tinha PROMETIDO!

Temos que nos deixar levar pela mente e pelo coração em conjunto.

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